02 - Mestrado - Letras
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Item O fim real e o fim futuro em Murilo Mendes : a poesia apocalíptica de As Metamorfoses(2023-06-05) Barroso, Rodolfo Lessa; Vieira, Miguel Heitor Braga; Rodrigues, Flavio Luis Freire; Dias, Ellen Mariany da SilvaUma família com máscaras contra gases mortíferos, um bailarino dançando no arco-íris e navios batendo palmas são alguns dos cenários apocalípticos construídos pela voz poética de As Metamorfoses. Se alguns críticos tendem a resumir a trajetória de Murilo Mendes (1901-1975) a somente um grande autor do surrealismo brasileiro, por outro lado é nítido o não pertencimento de sua poesia a alguma vanguarda específica. Embora o poeta demonstrasse interesse por vanguardas, nunca deixou que seus poemas estivessem presos em um único estilo ou rótulo, afinal, tratamos aqui de uma poesia livre, como mesmo sugere um de seus títulos, Poesia Liberdade (1947). A fim de compreender melhor a poética deste importante autor do século XX, analisa-se neste trabalho o livro de poemas intitulado As Metamorfoses, publicado em 1944. Dividido em duas partes, a análise do livro seguiu a partir de uma divisão por temáticas presentes em cada parte: primeiro, observa-se a grande influência dos cometas, principalmente o Halley; também a dança, trazida pelo bailarino Nijinski; e a guerra, especialmente a Segunda Guerra, sendo, inclusive, o contexto de produção da época. Já na segunda parte do livro, intitulado “O véu do tempo”, percebe-se a presença muito perceptível da figura feminina, a saber, as musas dos poemas, tal como os mitos, que se misturam entre cristianismo, mitologia grega e essencialismo – filosofia de vida herdada do amigo pessoal do poeta, Ismael Nery (1900-1934). Apesar das muitas temáticas, foi possível concluir que tanto a forma quanto o conteúdo dos poemas apontam sempre para um fim: seja um fim real, que já acontecera, ou um fim futuro, presente nas profecias e visões, ou, ainda, no apocalipse, exclusivamente o joanino, o qual muito influenciou a poesia de As Metamorfoses. O título, que pode sugerir, inclusive, uma referência à obra de Ovídio (8 d. C.), revela uma dualidade entre princípio e fim: para que o novo surja, o antigo precisa deixar de existir. Em uma ordem progressiva, o eu poético cria maneiras de trazer à tona o fim do mundo, seja com o absurdo das imagens surrealistas, ou mesmo com a presença feminina que, em si, já traz tais características. Assim, nos poemas, o universo é reduzido a nada, para que um “Novo Céu” e uma “Nova Terra” surjam, na esperança de que somente assim seria possível pôr um fim em um mundo em guerra, que vive sobre destroços das barbáries, e já sem solução. Deste modo, a poesia de As Metamorfoses se mostra como uma poesia de denúncia, mas também de esperança e de resistência, que encontra no fim do mundo um fascínio, já que somente após um turbulento apocalipse é que se é possível trazer o paraíso.Item Entre rasgos, rastros e fissuras : por uma poética do feminino em Adriana Varejão(2022-03-06) Strenske, Cleidi; Silva, Marta Dantas da; Rio Doce, Cláudia Camardella; Franzim, Mariana SilvaEsta dissertação trata da poética de Adriana Varejão e suas incursões na História do Brasil por meio de múltiplas fontes históricas, entre elas, a produção artística e literária referente ao período colonial, a saber, a literatura barroca de Manuel Botelho de Oliveira (1636 – 1711) e de Gregório de Matos (1636 - 1696), a pintura de Conde Clarac, (1819), de Nicolas-Antoine Taunay (1820) e de Frans Post (1637-1680), entre outras. Para isso, se fez necessário observar e isolar as unidades temáticas mínimas, no diálogo entre as duas modalidades artísticas, conforme Tomachevski (1976). Nossa hipótese consiste em observar a articulação de elementos femininos, feita por Varejão, e os desdobramentos do que se lê do passado, sob a perspectiva de construção de uma narrativa de contraconquista (LEZAMA LIMA, 1988). Por meio de fragmentos do passado, ora parodiados (HUTCHEON, 1991), ora submetidos ao procedimento estético da montagem (BÜGER, 1993), o corpus selecionado e investigado nesta dissertação cria novas narrativas acerca da nossa história e mostra seu avesso. A partir da constelação de fragmentos fontes históricas do passado que são aproximados, sobrepostos e recriados, a poética de Varejão faz ecoar a ideia de história não linear, constelar, sob o ponto de vista de Lezama Lima (1988) que, por sua vez, também é o procedimento metodológico desta dissertação. O cotejo interartes, então, permite provocar outras perspectivas, outras leituras, outros olhares para o nosso passado porque os recursos artísticos mobilizados pela artista plástica, tais como a montagem e a paródia, possibilitam a aproximação com a escrita literária e o que nela há dos discursos socioculturais do passado. Nesse sentido, ambas as manifestações artísticas, consideradas sob o ponto de vista dialógico (BAKHTIN, 2008), revelam um esclarecimento mútuo. Os novos/outros enredos que resultam desse processo suprimem leituras unilaterais que, antes, realçavam valores culturais, históricos e estéticos europeus, o que sugere o posicionamento decolonial do corpus eleito. Além disso, ao alçar o feminino a uma posição de protagonista frente a estes valores, a obra de Varejão compõe uma espécie de alegoria (BENJAMIN, 1987, 226) que representaria as violências e apagamentos típicos dos processos da colonização portuguesa que aparecem fragmentados em ambas as manifestações artísticas.Item A paisagem em José María Arguedas: por uma heterogeneidade espacial(2022-12-22) Mendonça, Felipe da Silva; Alves, Regina Célia dos Santos; Maioli, Juliana Bevilacqua; Brito, LucianaEsta dissertação tem como objetivo analisar a paisagem em Os rios profundos (1958), de José María Arguedas. Para tanto, estabelecemos um diálogo entre Literatura e Geografia por meio do conceito de paisagem, o qual é compreendido como uma expressão humana informada por códigos culturais determinados, ou seja, a paisagem não é natureza, mas é o mundo humano inscrito na natureza ao percebê-la e transformá-la. Ao realizar uma análise espacial com base no referido conceito, precisamos olhar tanto para a materialidade do espaço, quanto para a sua percepção, isto é, examinamos a objetividade e a subjetividade espacial. José María Arguedas, conhecido por ocupar um entrelugar entre o espanhol e o quéchua, o indígena e o ocidental, foi um escritor cujas obras permitiram a parte da crítica refletir a respeito do encontro e conflito de culturas. Dentre as principais ideias resultantes da análise da produção de Arguedas, destacamos a de Antonio Cornejo Polar: a heterogeneidade, que está centrada na convergência conflitiva de universos socioculturais distintos, por isso o crítico peruano pontua que a visão de mundo arguediana não tenta ser totalizadora na direção da conciliação harmônica dos conflitos. Em Os rios profundos, a percepção espacial de Ernesto ao longo de seus deslocamentos por comunidades andinas e durante sua estadia no internato de Abancay é reveladora de sua construção identitária, daí o nosso interesse em investigar a relação do menino com o espaço em que está inserido e quais os sentimentos e significações que podem ser extraídos dessa vivência. Buscamos, portanto, verificar como a paisagem em Os rios profundos expressa uma heterogeneidade espacial, isto é, como a relação de Ernesto com as construções e lugares autóctones e espanhóis exprime o conflito de culturas e a sua condição migrante. Como base teórica nos pautamos em estudiosos cujas reflexões são direcionadas à nação e à identidade: Anderson (2008), Bauman (2005), García Canclini (2019), Hall (2006), Silva (2014); à literatura latino-americana e à produção arguediana: Bareiro Saguier (1979), Candido (1979), Cornejo Polar (1989, 1997, 2000, 2003), Moraña (1997, 1999, 2000), Moreiras (2001), Rama (2001, 2008), Santiago (2000), Uslar Pietri (2007); e ao conceito de paisagem: Alves (2013), Berque (2012, 2018), Bessa (2020), Besse (2014), Collot (2012, 2013), Dardel (2015), Tuan (2012, 2013). Ao final de nossa análise, verificamos como a heterogeneidade, oriunda do conflito de culturas, está presente tanto na materialidade quanto na percepção do espaço, bem como destacamos a importância do corpo e dos cinco sentidos, especialmente da audição, na relação que Ernesto estabelece com o espaço.Item O apocalipse maldito do "Filho da Luz": estudo de As revelações do príncipe do fogo de Febrônio Índio do Brasil (1926)(2021-09-13) Mossambani, Giovane Sgarbossa; Silva, Marta Dantas da; Rio Doce, Cláudia Camardella; Cavalcanti, Jardel DiasEm 1926, no Rio de Janeiro, foi publicado um livro chamado As Revelações do Príncipe do Fogo. O volume, em suas 68 páginas, apresenta uma série de referências à Bíblia e versa sobre o conteúdo de experiências místicas vividas por quem o escreveu: Febrônio Índio do Brasil. Essa obra única de seu autor abre-se, na presente dissertação, a uma escuta poética de seu conteúdo. Intentou-se interpretar sob um viés simbólico – embasado nas leituras de obras de estudiosos dos simbolismos e das religiões, tais como Mircea Eliade, Gaston Bachelard e Joseph Campbell – essa escritura que se buscou apagar da história. A tentativa de apagamento decorre do fato de que Febrônio Índio do Brasil é considerado responsável por dois assassinatos de estranha natureza ocorridos em agosto de 1927. Ao menos quatro intelectuais importantes para o cenário cultural do Brasil na década de 1920 se interessaram por Febrônio, sua cosmovisão e seu livro, a saber: o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o crítico literário Prudente de Morais Neto, o escritor Mário de Andrade e o poeta suíço Blaise Cendrars. A recepção do livro e da história de seu autor por parte dessas personalidades também se mostrou relevante e foi abordada nesta pesquisa. Febrônio, em seu livro, apropria-se de trechos bíblicos e os ressignifica; destaca-se sua relação com o Apocalipse, intertextualidade aqui estudada. As investigações que resultaram nessa dissertação também apontam para o fato de que As Revelações do Príncipe do Fogo é uma composição mitopoética, uma teia de elementos simbólicos organizados de modo a apresentar uma espécie de mito individual do próprio autor.Item Esconder o olhar, reter o afeto: Roland Barthes e Dora Maar(2020-03-10) Teixeira, Daiane Barbosa; Marques, Bárbara Cristina; Brandini, Laura Taddei; Lima, Ricardo Augusto deFigura singular a flanar pelas ruas de Paris nos anos 1930, a fotógrafa francesa Dora Maar foi umas das raras mulheres a transitar com desenvoltura no meio surrealista, terreno no qual sua obra floresceu. Suas fotos, principalmente aquelas a mostrar cenas de rua, são resultado de um olhar perspicaz que fragmenta e captura a realidade de modo a suscitar uma série de provocações concernentes à problemática do olhar. As experimentações e a ironia impressa em muitas de suas fotos revelam a sensibilidade de uma artista que acabou por construir um interessante percurso imagético a ser revisitado. Cerca de quase cinquenta anos depois, Roland Barthes, escritor francês, publicou A câmara clara, fruto de sua busca pela essência da fotografia somado ao enlutamento pela morte de sua mãe. O que essas duas obras têm em comum para além da fotografia? Barthes, ao lidar, não sem dor, com os vestígios fotográficos da mãe, desenvolve dois conceitos, punctum e studium, que passam a figurar os ensaios teóricos de inúmeros estudiosos no século XX. Esta dissertação pretende discutir as fotografias de Dora Maar em consonância ao pensamento barthesiano quanto à teoria da imagem fotográfica. Em linhas mais gerais, a obra de Barthes, especialmente aquela a refletir sobre o caráter afetivo, estético e político da imagem, conduzirá nossa leitura da obra de Dora Maar.Item O Diabo veste Benoiton : a sobrevida de uma personagem-tipo na moda brasileira da segunda metade do século XIX(2024-06-28) Silva, Pamela Manoela Velozo da; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Brandini, Laura Taddei; Monteleone, Joana de Moraes; Rio Doce, Cláudia Camardella; Cruz, Carlos Eduardo Soares daNo século XIX, a ascensão da burguesia como classe dominante impôs à sociedade padrões familiares, nos quais a mulher era retratada como um adorno passivo. A moda desempenhou um papel crucial ao moldar a imagem da "mulher-objeto", associada à frivolidade e à busca por atenção. A efemeridade das tendências exigia uma dedicação intensa das mulheres, desviando sua atenção de questões políticas e intelectuais. Alguns jornais, sensíveis à necessidade de libertar as mulheres dessas restrições estéticas, buscavam desafiar o status quo, enquanto outros perpetuavam estereótipos. A presente pesquisa busca destacar a importância da moda na representação feminina e como alguns textos literários refletiam a influência da moda na sociedade do século XIX. O tipo Benoiton, inspirado nas personagens da peça La Famille Benoiton, de Victorien Sardou (1831-1908), sobreviverá em refigurações literárias e extraliterárias tanto em Portugal como no Brasil, onde permanecerá por mais de trinta anos como importante influência na moda da segunda metade do século XIX. A importância dessa sobrevida, sobretudo na moda, nos levou a uma pesquisa profunda em diversos periódicos portugueses e brasileiros da época, buscando compreender a relação entre moda, temperamento e identidade social nas sociedades portuguesa e brasileira. A conclusão a que chegamos é que se vestir à “benoiton” representava uma forma de resistência e de afirmação da identidade para as mulheres, tendo em vista o contexto restritivo do século XIX.Item Casas e corpos em chamas : a repetição em Diários 1970-1986, Nostalgia e O sacrifício, de Andrei Tarkovski(2024-05-23) Rios, Anderson Negretti; Marques, Bárbara Cristina; Klein, Alberto Carlos Augusto; Beretta, Laysa Louise SilvaNossa pesquisa parte das repetições no livro Diários 1970 – 1986 (2012) do cineasta russo Andrei Tarkovski, bem como de seus últimos dois filmes planejados e filmados no exílio: Nostalgia (1983) e O Sacrifício (1986). Neste percurso, analisamos repetições, como as casas que retornam em seus filmes e em seus diários, além da recorrência do fogo e seus simbolismos. Diante do exílio, dos boicotes sofridos pela censura e dos sacrifícios que ele fez para continuar produzindo sua arte, esses elementos formaram alegorias na narrativa de ficção. Observamos as repetições da casa, como aquela onde passou a infância em Miasnoye; a casa que tentou construir por anos e que, ao fim da vida, nunca pôde habitar em Yureviet; e as casas que simbolizam toda a sua obra, mencionadas em seus diários. Além disso, examinamos como as anotações que se repetem assemelham-se às cenas de casas e ao corpo em chamas. Na busca por essas repetições, unimos as recorrências fílmicas com trechos do livro Diários 1970 – 1986 (2012), que nos proporcionou pensamentos, insights, vontades e medos do diretor, em paralelo às repetições presentes na obra fílmica e nos sacrifícios do autor, que em partes são representados por seus personagens e nas cenas analisadas. Para esta pesquisa, apoiamo-nos em teóricos como Deleuze, com o livro Diferença e Repetição (2018), e Bachelard, com os livros Psicanálise do fogo (1994), A Poética do Espaço (1978) e A Chama da Vela (1989).Item A viagem na obra baudelairiana(2024-07-26) Reis, Amanda Martins; Brandini, Laura Taddei; Ferreira, Cláudia Cristina; Callipo, Daniela MantarroO presente estudo pretende analisar alguns poemas que compõem as obras As Flores do Mal (1857) e Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa (1869) do francês Charles Baudelaire a fim de nos mostrar que a viagem pode ocorrer num espaço poético, imaginário e sensorial. Dito isso, esta pesquisa constrói uma cartografia própria de seus poemas relacionados à nossa temática principal: a viagem, o que nos possibilita relatar uma espécie de aventura viática experimentada pelo sujeito lírico de forma que cada poema se relacione com o outro como ilhas formando um vasto arquipélago. Com base nas nossas leituras a respeito da história da viagem, bem como da relação entre viagem e literatura, compreendemos que desde os primórdios, o ser humano parte em busca de alimento ou para sobreviver às adversidades, todavia, os motivos pelos quais o indivíduo viaja evoluíram ao longo do tempo. Para adentrarmos o universo viático, nós nos embasaremos na leitura Da Literatura Comparada à Teoria da Literatura (1988), de Álvaro Manuel Machado e Daniel-Henri Pageaux, bem como o ensaio “Literaturas de viagem: viagens na literatura” (2010), publicado numa coletânea sob o mesmo título, de Antonio R. Esteves e Sérgio Augusto Zanoto. Sob a perspectiva do poeta, as razões permeiam as nuances do spleen e do ideal, conceitos centrais em sua obra. Percebemos, então, que a viagem baudelairiana aponta para temas correlatos, sendo eles o exotismo, a figura feminina, o estrangeiro e a viagem imaginária. Entretanto, pretendemos explorar os dois últimos num estudo posterior, pois, esta pesquisa se concentra apenas na análise da viagem e do exotismo que é inerente a figura feminina. Logo, além de compreender como a viagem surge na obra de Baudelaire, sobretudo através da representação do espaço marítimo, observamos o exotismo característico do século XIX, dado que o poeta era um homem do seu tempo. Contudo, o olhar segaleniano nos propõe a pensar acerca do exotismo para além dos estereótipos e noções clássicas em Ensaio sobre o exotismo (1918). Portanto, apontamos em nossa leitura sobre as paisagens femininas descritas nos poemas um exotismo idealizado, o que nos permite questionar a forma como vemos o outro, sobretudo, o corpo feminino. Diante disso, os “cenários corporais” se revelam verdadeiras “pinturas” sensoriais, uma vez que Baudelaire foi um dos primeiros a fazer uso da sinestesia para a criação de uma poesia moderna que inspiraria os poetas simbolistas. Embora os estudos baudelairianos sejam abundantes, este trabalho evita justificar os poemas através de fatos e especulações sobre a vida do autor. Por fim, ressaltamos a correspondência entre a paisagem e o corpo feminino que, ao se fundirem, constroem um novo espaço: um território idílico. Lá, o indivíduo é capaz de se anestesiar e, portanto, evadir-se da sua realidade. No entanto, assimilamos a figura feminina como outro espaço a ser conquistado e explorado. Por isso, a leitura segaleniana nos permite questionar a forma como o corpo da mulher é retratado nos poemas de Baudelaire.Item Plangentes ressonâncias : a literatura e a música das Serestas(2024-09-25) Recaman, Felipe Ziliotto; Simon, Luiz Carlos Santos; Vieira, Miguel Heitor Braga; Felix, Idemburgo Pereira FrazãoApesar de ter configurado um importante elemento da história da cultura popular brasileira, a Seresta, uma forma de canção popular sentimentalmente afetada, sofreu de um profundo apagamento nas Academias e nos ouvidos. Mesmo sendo, na Era de Ouro do rádio brasileiro, uma das formas mais populares de canção urbana, pouco após seu apogeu, foi deixada de lado pelas massas e pelos pesquisadores da canção. Por isso, esta dissertação busca retomar esse fenômeno, contextualizá-lo historicamente no panorama da cultura popular brasileira, explicitar o modo como se realiza musicalmente (a partir dos discos mais representativos do gênero), analisar seu conteúdo e seus procedimentos literários, bem como analisar como algumas propostas de retomada da Seresta ocorrem no século XXI. Para isso, foram consultados autores ligados à historiografia da cultura popular (como Tinhorão e Didier), principalmente da Música, foram feitas análises e transcrições musicais de algumas faixas dos discos selecionados, e, por fim, descrições e análises das letras dessas canções, ligando-as a vertentes literárias temática e temporalmente próximas. Assim, foi possível identificar que a música das Serestas está profundamente ligada ao gênero instrumental Choro e que seu texto verbal apresenta influências do Romantismo, do Parnasianismo e do Penumbrismo literários.Item (In)visível a olho nu : as faces da violência contra a mulher no conto A sauna de Lygia Fagundes Telles(2024-07-26) Ferreira, Beatriz Souza; Leite, Suely; Ferreira, Cláudia Cristina; Gomes, Carlos Magno SantosNeste trabalho investigam-se as diversas manifestações de violência contra a mulher no conto A sauna, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles. Em primeira instância, observa-se como os fatos históricos, políticos e sociais colocaram a mulher em posição subalternizada em relação aos homens, abrindo margens para que as violências contra o gênero feminino fossem naturalizadas. Depois, investiga-se quais os tipos de violência contra a mulher são hoje dessa forma caracterizados e reconhecidos socialmente, especialmente por meio da legislação da área, além de uma breve apresentação da temática na literatura de autoria feminina e de apontamentos de trabalhos acerca do assunto na obra lygiana. Por fim, expõem-se e se discutem as faces diversas da violência contra o gênero feminino no conto selecionado. Em relação ao aporte teórico, conta-se com as proposições de autores, entre os quais: Amelinha Teles (1999), Gerda Lerner (2019), Heleieth Saffioti (2001, 2004), Yves Michaud (1989). Entende-se que, apesar de ser a literatura uma forma de representação artística e, portanto, uma criação independente dos fatos da realidade, o texto literário possibilita refletir, discutir, reconhecer, investigar e combater a violência contra o gênero feminino ainda tão presente e arraigada nos dias atuais.Item O espaço em Mira Schendel : entrelaçando poéticas literárias e visuais(2024-08-20) Castilho, Vinícius Bardi; Corrêa, Alamir Aquino; Rio Doce, Cláudia Camardella; Santana, Elke Pereira CoelhoA presente dissertação aborda a obra da artista Mira Schendel, destacando sua contribuição à arte contemporânea e sua abordagem delicada de questões da modernidade, filosofia e experiência artística. O trabalho enfoca as obras em que a artista entrelaça as artes plásticas e as palavras e estabelece conexões com poetas experimentais modernos, formando uma constelação de obras que desafiam percepções tradicionais e buscam o sensível, individual e subjetivo por meio de diversas técnicas de impressão. As análises exploram o modo como poetas experimentais influentes aprofundaram a percepção do leitor moderno por meio do trabalho com diferentes linguagens. Poetas como Mallarmé, Apollinaire, Cummings, Ferreira Gullar e artistas da poesia visual — como o grupo de poesia concreta paulista — foram escolhidos devido à sua elaboração perante o espaço, principal elemento conceitual aqui analisado. A busca deste trabalho é, portanto, apontar aproximações e distinções entre o trabalho de Schendel e os dos poetas experimentais supracitados, por meio de um referencial teórico centrado no campo das poéticas hibridas e experimentais das artes interrelacionais.Item O negro em romances brasileiros menos canônicos de 1880 e 1890(2024-07-30) Alcantara, André Henrique de; Simon, Luiz Carlos Santos; Rocha, Fernando de Sousa; Godoy, Maria Carolina de; Alves, Regina Célia dos SantosA partir dos romances menos canônicos O Marido da Adúltera, de Lúcio de Mendonça (1882), Rosaura, a enjeitada, de Bernardo Guimarães (1883), Hóspede, de Pardal Mallet (1887), A carne, de Júlio Ribeiro (1888), Dona Guidinha do Poço, de Manuel de Oliveira Paiva (1892), Tentação, de Adolfo Caminha (1896), A Viúva Simões, de Júlia Lopes de Almeida (1897) e A Rainha do ignoto, de Emília Freitas (1899), além dos romances canônicos O Mulato, de Aluísio Azevedo (1881) e O Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha (1895), busca-se nessa dissertação deslindar como o negro aparece nos romances das décadas de 1880 e 1890, tendo-se em vista que são anos que antecedem e sucedem a abolição da escravização no Brasil, ocorrida em 1888, com a sanção da Lei Áurea pela princesa Isabel. Ademais, esse período é marcado pela forte influência de um ideário cientificista advindo da Europa, que teorizava o racismo, dando-lhe um aspecto científico. Ou seja, o deslindamento desses romances torna-se assaz importante, pois auxiliam a compreender como o processo da abolição foi sendo concretizado e a construção da imagem da pessoa negra na sociedade brasileira. Em outras palavras, por meio da análise dessas obras, é possível identificar explanações de problemas que não foram sanados até o tempo presente, visto que o racismo permanece enraigado na sociedade brasileira do século XXI. A pesquisa é feita majoritariamente a partir de romances menos canônicos, pelo fato de que há diversos trabalhos realizados com obras canônicas. Por isso, além de impedir que esses romances sejam olvidados ou permaneçam ignorados, o escrutínio dessas obras permite observar se há distinções em como o negro é representado nos romances menos canônicos e nos canônicos. A determinação do que é canônico ou não está de acordo com o que afirma Márcia Abreu. Em síntese, a classificação de canônico ou não canônico se dá não somente pelo que está escrito, mas pelo veredito das “instâncias de legitimação”, que são compostas pelos historiógrafos literários, pela crítica literária, pelos universitários e pelos professores que escolhem as obras literárias que estarão nos materiais didáticos. Por conseguinte, o que não é reconhecido por essas instâncias, não integra o cânone, o qual, segundo Roberto Acízelo de Souza é a junção de todas as obras consideradas modelo, exemplar. Portanto, por meio de romances, sendo oito menos canônicos e dois canônicos, dos últimos vinte anos do século XIX, é deslindado como as mudanças sociais ocorridas durante esse período influíram na maneira como o negro é representado nas publicações dessas décadas. Isso porque é um momento histórico em que o pensamento cientificista importado do continente europeu inspirava romancistas naturalistas, bem como o movimento abolicionista ganhava cada vez mais força, até o cessar da escravização em território brasileiro.Item O “novo flâneur ” na trilogia de António Carlos Cortez(2024-01-22) Reis, Ana Cléa dos; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Silva, Telma Maciel da; Maffei, LuisA literatura contemporânea trata das especificidades de seu tempo, retratando sujeitos comuns com problemas e questionamentos que fazem parte do contexto sócio-histórico atual. Tais características da literatura contemporânea podem ser vistas nos poemas de António Carlos Cortez, poeta e crítico literário português. O escritor, por meio da sua trilogia poética, Animais Feridos, Corvos Cobras Chacais e Jaguar, construiu um universo carregado de subjetividade ao retratar um eu lírico com uma perspectiva intimista, um sujeito em crise que questiona constantemente o seu lugar no mundo. Esse estudo analisou os poemas do referido poeta pela perspectiva do flâneur de Charles Baudelaire. No entanto, buscamos ressaltar os afastamentos para confirmar uma nova configuração do flâneur construído por Cortez no decorrer das três obras. Dessa maneira, esta pesquisa propôs-se a realizar um estudo comparativo dos poemas, com o intuito de investigar como é realizada a construção e o desenvolvimento do eu lírico ao longo de toda a trilogia, resultando na constituição de uma nova flânerie, voltada para introspecção do flâneur, e culminando numa estratégia discursiva mais figurativa, através da persona “Jaguar”, elemento este originado a partir da fragmentação da identidade e do descentramento do sujeito lírico da obra homônima, pautados pelas modificações do mundo moderno, o qual afeta tal sujeito em suas singularidades. Para a análise dos poemas, abordaremos Charles Baudelaire e Walter Benjamin, visando compreender o conceito de flâneur e a sua nova relação com a cidade. Para compreender o desenvolvimento novo flâneur por meio da experiência partilhada, partiremos dos estudos de Rosa Maria Martelo e das ideias de descentramento do sujeito e identidade, tal como estas são apresentadas, respectivamente, por Stuart Hall, Fredric Jameson e Zygmunt Bauman. Em nosso entender, tais ideias caracterizam as interfaces sociais do novo flâneur, ou seja, são traços que afirmam a adaptação e a evolução de uma nova configuração do flâneur, conforme podemos constatar na poesia de Cortez, por meio das personas Jaguar e Humatan, o que nos leva ao flâneur híbrido.Item A temática pré-cabralina na literatura brasileira: uma análise comparativa de Ubirajara e O Karaíba(2024-08-09) Mateus, Fernando Leite; Rio Doce, Cláudia Camardella; Leite, Suely; Santos, Adilson dosEsta dissertação analisa Ubirajara (1874), de José de Alencar, e O Karaíba (2010), de Daniel Munduruku, obras separadas por mais de um século, mas que compartilham a ambientação em contextos pré-cabralinos, anteriores à invasão europeia no território que viria a ser conhecido como Brasil. A partir das noções de identidade brasileira e das investigações sobre os períodos e estilos literários dessas obras, busca-se compreender as motivações para a construção de ficções que exploram culturas indígenas negligenciadas pela história oficial, escrita predominantemente pelos colonizadores, como evidenciado na Carta de Pero Vaz de Caminha. Os autores, ao criar ou reconstruir uma ideia mítica de um passado a partir de uma perspectiva contemporânea, utilizam documentos etnográficos, antropológicos e literários disponíveis, investigando costumes, ritos, línguas e cosmologias das nações indígenas que habitavam essas terras. Por meio dessas narrativas, constroem-se personagens que destacam a importância dos povos originários na formação da identidade brasileira e na história da nação. A análise das obras será conduzida por meio de revisões historiográficas e estudos críticos sobre a literatura brasileira, focando no período romântico e em José de Alencar, bem como na literatura indígena contemporânea representada por Daniel Munduruku. Esta abordagem visa revelar as convergências e divergências entre os textos, contextualizando-os dentro de uma tradição literária que reconhece a relevância contínua das culturas indígenas no cenário literário e cultural brasileiro.Item O papel do luto, do trauma e da memória em Todos os Santos (2019), de Adriana Lisboa(2024-03-19) Costa, Jeniffer Thalia do Prado da; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Santos, Adilson dos; Coqueiro, Wilma dos SantosO presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo da obra Todos os Santos (2019), de Adriana Lisboa, com ênfase nas temáticas do luto, do trauma e da memória. Para tanto, esta pesquisa divide-se em três partes. Na primeira, buscou-se levantar aspectos relacionados à fortuna crítica de Adriana Lisboa, bem como a recepção crítica do romance estudado, considerando os temas abordados. Na segunda parte, foi realizado um apanhado teórico acerca das temáticas, no intuito de compreender a construção da identidade dos personagens-principais, sobretudo da narradora-personagem, no que concerne à memória vinculada aos processos do luto e do trauma. A memória, como o pilar de toda a narrativa do romance, instaura um passado no tempo presente. É por meio desse plano narrativo que os personagens são apresentados. A consequência da rememoração empenhada pela personagem-principal é a aniquilação da sua própria personalidade, em decorrência do luto e do trauma pela morte do irmão, e o rompimento da estrutura familiar à qual estava vinculada. Na última parte, traçou-se a análise do romance, em relação à manifestação do trauma, do luto e da memória nos personagens centrais, Vanessa, André e os demais envolvidos no enredo, as consequências da ausência devido aos processos de luto, além de compreender de que forma isso corrobora a aniquilação da personalidade da narradora. A partir dos estudos empreendidos, compreende-se que a memória constrói a identidade do sujeito e que esse é mais pertencente ao passado do que ao presente.Item De afeto em afeto se faz pérola: o sarau e a performance como constituinte de redes afetivas e estratégia de inserção do texto literário na atualidade(2023-01-17) Silva, Ana Cristina Pereira; Fernandes, Frederico Garcia; Silva, Andrea Betânia da; Chiari, Gisele GemmiA dissertação em tela trata sobre os saraus e a performance enquanto estratégia de inserção do texto literário na atualidade e tem como objeto de pesquisa o “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e o “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, bem como as redes afetivas que se estabelecem a partir deles, levando em conta seus impactos no sistema literário. A pandemia afetou todos os âmbitos da sociedade e com o sarau, cujo cerne é a performance, e performance pressupõe presença e corpo, não poderia ter sido diferente, uma vez que nesse momento o isolamento físico se fez necessário. Mediante isso, pode-se afirmar que os estudos acerca da performance nunca se fez tão essencial quanto nesse momento que vivemos. O levantamento de dados foi realizado por meio da observação e participação nos saraus, antes da pandemia, de entrevistas realizadas com as produtoras do “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e do “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, com os artistas e escritores de Londrina e região frequentadores dos saraus e também com os participantes que não são escritores e artistas, durante a pandemia via Formulário Google. Foram levantados também documentos como, fotos, reportagens, entrevistas, vídeos e as atas do “Sarau Artístico e Literário de Cambé”. A metodologia dessa pesquisa está assentada no modelo teórico-analítico de Even-Zohar (1990), bem como nos estudos de Aguilar e Cámara (2017), Leone (2014), Zumthor (2007), Tennina (2013), Silva (2008), Fernandes (2017), Hollanda (2001), Bourdieu (1996) e Rancière (2009), dentre outros teóricos que contribuam para a proposta em tela. O sarau é um forte mecanismo de divulgação do texto literário, sobretudo para o estabelecimento de redes e o fortalecimento da literatura local, em que a performance atua como o principal meio para que isso aconteça, visto que permite que as relações se estabeleçam por meio do afeto gerado a partir da performance.Item Viagem, imagem, miragem em Besoin de mirages, de Gilles Lapouge(2023-05-29) Prestes, Michela Vieira; Brandini, Laura Taddei; Silva, Telma Maciel da; Fiúza, Adriana FigueiredoA Literatura de Viagem é um importante e abrangente vertente da Literatura que, pela extensão, ainda se faz de difícil definição. Pode-se pensar em relatos de viagem, em manuais, mas autores como o francês Gilles Lapouge, que também era jornalista, trazem uma expansão aos moldes do que se entende por Literatura de Viagem. A obra Besoin de Mirages, traduzida como Necessidade de Miragens, é o objeto principal deste trabalho, que visa analisar o texto ultrapassando a fronteira do relato de viagem, explorando as impressões do narrador e suas formas de expressar a viagem, que é o ponto de partida para a formação de imagens e de miragens, dentro de uma análise entre autor-leitor. Partindo da definição dos termos chave da dissertação, viagem-imagem-miragem, aliada a análises de trechos do romance fundamentadas teoricamente, este trabalho visa ponderar as imagens construídas pelo narrador dentro da obra até que se alcance a miragem, como misto de imagem e memória, muitas vezes afetiva, além de trazer um breve panorama do percurso da Literatura de Viagem no contexto histórico-literário.Item Augusto de Campos no século XXI: análise de (in/ou/ex)traduções(2023-09-29) Migotto, Matheus Willian; Vieira, Miguel Heitor Braga; Correa, Alamir Aquino; Contani, Miguel LuizAugusto de Campos é o único dos três poetas fundadores do concretismo brasileiro ainda vivo. Internacionalmente conhecido e estudado, já recebeu dois prêmios Jabuti, o prêmio Pablo Neruda, o Grande Prêmio de Poesia Janus Pannonius, a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural e o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Dada a relevância do escritor, sua extensa produção e contribuição à literatura brasileira, este trabalho objetiva investigar as “intraduções” mais recentes de Augusto de Campos e os diferentes processos de tradução intersemiótica nelas envolvidos. Tais trabalhos são recriações, reconfigurações, traduções criativas, ou como denominou Haroldo de Campos, “transcriações”, realizadas por Augusto de Campos a partir de diferentes sistemas sígnicos, podendo contar como textos-fonte, inclusive, obras artísticas não verbais. Assim, esta pesquisa pretende responder à seguinte questão: nos textos analisados, quais os elementos semióticos e as relações estabelecidas entre eles que permitem transladar signos e interpretantes de uma obra para outra, e que correspondência subsiste, em maior ou menor grau, entre ambas? Para tanto, são utilizados, principalmente, os conceitos de semiótica de Charles Sanders Peirce [1931;1935]/(2010), de tradução intersemiótica de Julio Plaza [1987]/(2010) e de transposição intersemiótica e intermidialidade explorados por Clüver [1989]/(2006). Para a consecução dos objetivos propostos, este trabalho se divide em três capítulos. No primeiro, é abordada a trajetória de Augusto de Campos, suas premiações e uma fortuna crítica da obra mais recente do autor. No segundo, apresentam-se as teorias de tradução, semiótica americana e intermidialidade que embasam a investigação dos textos que compõem o corpus desta pesquisa. No terceiro, realizam-se a discussão e a análise dos referidos textos. Por fim, são sugeridos alguns caminhos de continuidade para esta pesquisa tanto no sentido de aprofundamento do corpus quanto no uso de outras abordagens para estudo de uma poemática que, ao longo de toda sua história, não se deixa conter por nenhum formato, mas que se apropria das mídias e tecnologias emergentes, sempre atualizando suas formas de expressão e criando novos signos e inter-relações.Item As paisagens diarísticas de jonas mekas: exílio, memória e a busca de um lar(2023-06-28) Ferreira, Carla Caroline; Marques, Bárbara Cristina; Lima, Sheila Oliveira; Beretta, Laysa Louise SilvaEsta dissertação investiga a relação entre paisagem, exílio e memória em duas obras do cineasta e escritor lituano Jonas Mekas – I had nowhere to go. Diary of a displaced person, diário escrito entre 1944 a 1955, publicado em 1991, e o filme-diário Reminiscences of a journey to Lithuania (1972). Embora a filmografia de Mekas ocupe um lugar importante nos estudos de cinema no Brasil, sua produção literária é pouco conhecida, inclusive sem tradução em língua portuguesa. Mekas, que faleceu em janeiro de 2019, aos 97 anos, produziu uma obra extensa e bastante diversa incluindo inúmeros filmes, poemas, cadernos de desenhos, diários, crítica de cinema e das artes em geral. Seu diário escrito compreende um período importante de sua trajetória enquanto sujeito desterrado, desde sua ida aos campos de trabalho forçado, na Segunda Guerra, até os primeiros anos de sua chegada em Nova Iorque, lugar onde se manteve até sua morte. Toda obra de Mekas é tocada pelo exílio e pelo sentimento de não pertencimento. No entanto, I had nowhere to go. Diary of a displaced person pode ser tomado como objeto fundante de um gesto político-estético que, de saída, marca sua produção no limiar do fragmento da memória, na compreensão do ser exilado e desterrado e na insistência pelas formas diarísticas. Diante disso, essa dissertação propõe-se a analisar como o exílio se manifesta na obra de Mekas e de que forma as imagens paisagísticas são construídas e se relacionam com sua memória e com a busca por pertencimento.Item A identidade feminina nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana(2023-05-17) Ennes, Viviane Dias; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Santos, Adilson dos; Oliva, Alfredo dos SantosNeste trabalho, adotou-se como corpus as narrativas sobre o feminino nos textos de Ester, de Rute - no Antigo Testamento bíblico - e a passagem do capítulo quatro do evangelho de João, no Novo Testamento, que trata da mulher samaritana e seu encontro com Jesus à beira de um poço. Investigou-se o ethos feminino referenciado pelos textos bíblicos. Como ponto de partida, foram analisados seus contextos históricos e percursos narrativos para um estudo de suas representações. No primeiro capítulo, foi explorada a teoria necessária à análise da representatividade feminina da Literatura e as incursões teóricas sobre a identidade feminina. No segundo capítulo, foram apresentadas incursões teóricas para fundamentar as análises discursivas. No terceiro capítulo, foram feitas as análises dos textos bíblicos indicados no corpus da pesquisa, isto é, nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana, a partir da teoria apresentada, demonstrando a costura enunciativa entre os livros escriturísticos e seus símbolos no que diz respeito à feminilidade. A questão levantada para essa análise foi diferenciar, ou aproximar, a mulher apresentada pela Bíblia como aquela que agrada a Deus daquela apresentada como reprovada e que desagrada a Deus. Foi analisado, nos textos propostos, se existe uma única identidade feminina nas passagens analisadas; se há uma configuração discursiva da mulher traçada pelo narrador; se a mulher que aparece no Antigo Testamento é igual à retratada no Novo Testamento. Nas considerações finais, abordou-se o arquétipo - ou os arquétipos - feminino construído pelos fragmentos selecionados do cânon judaico-cristão a respeito da figura feminina.