02 - Mestrado - Letras
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Item De afeto em afeto se faz pérola: o sarau e a performance como constituinte de redes afetivas e estratégia de inserção do texto literário na atualidade(2023-01-17) Silva, Ana Cristina Pereira; Fernandes, Frederico Garcia; Silva, Andrea Betânia da; Chiari, Gisele GemmiA dissertação em tela trata sobre os saraus e a performance enquanto estratégia de inserção do texto literário na atualidade e tem como objeto de pesquisa o “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e o “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, bem como as redes afetivas que se estabelecem a partir deles, levando em conta seus impactos no sistema literário. A pandemia afetou todos os âmbitos da sociedade e com o sarau, cujo cerne é a performance, e performance pressupõe presença e corpo, não poderia ter sido diferente, uma vez que nesse momento o isolamento físico se fez necessário. Mediante isso, pode-se afirmar que os estudos acerca da performance nunca se fez tão essencial quanto nesse momento que vivemos. O levantamento de dados foi realizado por meio da observação e participação nos saraus, antes da pandemia, de entrevistas realizadas com as produtoras do “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e do “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, com os artistas e escritores de Londrina e região frequentadores dos saraus e também com os participantes que não são escritores e artistas, durante a pandemia via Formulário Google. Foram levantados também documentos como, fotos, reportagens, entrevistas, vídeos e as atas do “Sarau Artístico e Literário de Cambé”. A metodologia dessa pesquisa está assentada no modelo teórico-analítico de Even-Zohar (1990), bem como nos estudos de Aguilar e Cámara (2017), Leone (2014), Zumthor (2007), Tennina (2013), Silva (2008), Fernandes (2017), Hollanda (2001), Bourdieu (1996) e Rancière (2009), dentre outros teóricos que contribuam para a proposta em tela. O sarau é um forte mecanismo de divulgação do texto literário, sobretudo para o estabelecimento de redes e o fortalecimento da literatura local, em que a performance atua como o principal meio para que isso aconteça, visto que permite que as relações se estabeleçam por meio do afeto gerado a partir da performance.Item Viagem, imagem, miragem em Besoin de mirages, de Gilles Lapouge(2023-05-29) Prestes, Michela Vieira; Brandini, Laura Taddei; Silva, Telma Maciel da; Fiúza, Adriana FigueiredoA Literatura de Viagem é um importante e abrangente vertente da Literatura que, pela extensão, ainda se faz de difícil definição. Pode-se pensar em relatos de viagem, em manuais, mas autores como o francês Gilles Lapouge, que também era jornalista, trazem uma expansão aos moldes do que se entende por Literatura de Viagem. A obra Besoin de Mirages, traduzida como Necessidade de Miragens, é o objeto principal deste trabalho, que visa analisar o texto ultrapassando a fronteira do relato de viagem, explorando as impressões do narrador e suas formas de expressar a viagem, que é o ponto de partida para a formação de imagens e de miragens, dentro de uma análise entre autor-leitor. Partindo da definição dos termos chave da dissertação, viagem-imagem-miragem, aliada a análises de trechos do romance fundamentadas teoricamente, este trabalho visa ponderar as imagens construídas pelo narrador dentro da obra até que se alcance a miragem, como misto de imagem e memória, muitas vezes afetiva, além de trazer um breve panorama do percurso da Literatura de Viagem no contexto histórico-literário.Item Augusto de Campos no século XXI: análise de (in/ou/ex)traduções(2023-09-29) Migotto, Matheus Willian; Vieira, Miguel Heitor Braga; Correa, Alamir Aquino; Contani, Miguel LuizAugusto de Campos é o único dos três poetas fundadores do concretismo brasileiro ainda vivo. Internacionalmente conhecido e estudado, já recebeu dois prêmios Jabuti, o prêmio Pablo Neruda, o Grande Prêmio de Poesia Janus Pannonius, a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural e o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Dada a relevância do escritor, sua extensa produção e contribuição à literatura brasileira, este trabalho objetiva investigar as “intraduções” mais recentes de Augusto de Campos e os diferentes processos de tradução intersemiótica nelas envolvidos. Tais trabalhos são recriações, reconfigurações, traduções criativas, ou como denominou Haroldo de Campos, “transcriações”, realizadas por Augusto de Campos a partir de diferentes sistemas sígnicos, podendo contar como textos-fonte, inclusive, obras artísticas não verbais. Assim, esta pesquisa pretende responder à seguinte questão: nos textos analisados, quais os elementos semióticos e as relações estabelecidas entre eles que permitem transladar signos e interpretantes de uma obra para outra, e que correspondência subsiste, em maior ou menor grau, entre ambas? Para tanto, são utilizados, principalmente, os conceitos de semiótica de Charles Sanders Peirce [1931;1935]/(2010), de tradução intersemiótica de Julio Plaza [1987]/(2010) e de transposição intersemiótica e intermidialidade explorados por Clüver [1989]/(2006). Para a consecução dos objetivos propostos, este trabalho se divide em três capítulos. No primeiro, é abordada a trajetória de Augusto de Campos, suas premiações e uma fortuna crítica da obra mais recente do autor. No segundo, apresentam-se as teorias de tradução, semiótica americana e intermidialidade que embasam a investigação dos textos que compõem o corpus desta pesquisa. No terceiro, realizam-se a discussão e a análise dos referidos textos. Por fim, são sugeridos alguns caminhos de continuidade para esta pesquisa tanto no sentido de aprofundamento do corpus quanto no uso de outras abordagens para estudo de uma poemática que, ao longo de toda sua história, não se deixa conter por nenhum formato, mas que se apropria das mídias e tecnologias emergentes, sempre atualizando suas formas de expressão e criando novos signos e inter-relações.Item As paisagens diarísticas de jonas mekas: exílio, memória e a busca de um lar(2023-06-28) Ferreira, Carla Caroline; Marques, Bárbara Cristina; Lima, Sheila Oliveira; Beretta, Laysa Louise SilvaEsta dissertação investiga a relação entre paisagem, exílio e memória em duas obras do cineasta e escritor lituano Jonas Mekas – I had nowhere to go. Diary of a displaced person, diário escrito entre 1944 a 1955, publicado em 1991, e o filme-diário Reminiscences of a journey to Lithuania (1972). Embora a filmografia de Mekas ocupe um lugar importante nos estudos de cinema no Brasil, sua produção literária é pouco conhecida, inclusive sem tradução em língua portuguesa. Mekas, que faleceu em janeiro de 2019, aos 97 anos, produziu uma obra extensa e bastante diversa incluindo inúmeros filmes, poemas, cadernos de desenhos, diários, crítica de cinema e das artes em geral. Seu diário escrito compreende um período importante de sua trajetória enquanto sujeito desterrado, desde sua ida aos campos de trabalho forçado, na Segunda Guerra, até os primeiros anos de sua chegada em Nova Iorque, lugar onde se manteve até sua morte. Toda obra de Mekas é tocada pelo exílio e pelo sentimento de não pertencimento. No entanto, I had nowhere to go. Diary of a displaced person pode ser tomado como objeto fundante de um gesto político-estético que, de saída, marca sua produção no limiar do fragmento da memória, na compreensão do ser exilado e desterrado e na insistência pelas formas diarísticas. Diante disso, essa dissertação propõe-se a analisar como o exílio se manifesta na obra de Mekas e de que forma as imagens paisagísticas são construídas e se relacionam com sua memória e com a busca por pertencimento.Item A identidade feminina nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana(2023-05-17) Ennes, Viviane Dias; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Santos, Adilson dos; Oliva, Alfredo dos SantosNeste trabalho, adotou-se como corpus as narrativas sobre o feminino nos textos de Ester, de Rute - no Antigo Testamento bíblico - e a passagem do capítulo quatro do evangelho de João, no Novo Testamento, que trata da mulher samaritana e seu encontro com Jesus à beira de um poço. Investigou-se o ethos feminino referenciado pelos textos bíblicos. Como ponto de partida, foram analisados seus contextos históricos e percursos narrativos para um estudo de suas representações. No primeiro capítulo, foi explorada a teoria necessária à análise da representatividade feminina da Literatura e as incursões teóricas sobre a identidade feminina. No segundo capítulo, foram apresentadas incursões teóricas para fundamentar as análises discursivas. No terceiro capítulo, foram feitas as análises dos textos bíblicos indicados no corpus da pesquisa, isto é, nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana, a partir da teoria apresentada, demonstrando a costura enunciativa entre os livros escriturísticos e seus símbolos no que diz respeito à feminilidade. A questão levantada para essa análise foi diferenciar, ou aproximar, a mulher apresentada pela Bíblia como aquela que agrada a Deus daquela apresentada como reprovada e que desagrada a Deus. Foi analisado, nos textos propostos, se existe uma única identidade feminina nas passagens analisadas; se há uma configuração discursiva da mulher traçada pelo narrador; se a mulher que aparece no Antigo Testamento é igual à retratada no Novo Testamento. Nas considerações finais, abordou-se o arquétipo - ou os arquétipos - feminino construído pelos fragmentos selecionados do cânon judaico-cristão a respeito da figura feminina.Item Metrópolis: literatura e cinema a partir dos estudos de intermidialidade(2023-10-24) Carvalho, Marcio Luiz; Marques, Bárbara Cristina; Corrêa, Alamir Aquino; Klein, Alberto Carlos AugustoOs Estudos Literários têm absorvido, desde o início do século XXI, cada vez mais, pesquisas margeadas pelo conceito de Intermidialidade e pelas relações intermidiáticas entre objetos literários e outras mídias, especialmente aquelas cujo entrecruzamento entre escrita/palavra e imagens técnicas. Desde os Estudos Interartes, o diálogo entre literatura e cinema representa um caminho importante para o alargamento das noções do literário tanto quanto para os fenômenos estéticos que conjugam diferentes mídias em diversos processos. Essa dissertação pretende analisar as obras Metrópolis – filme de Fritz Lang (1927) e o livro-roteiro de Thea Von Harbou (1926) – tendo em vista os estudos teóricos em torno do conceito de Intermidialidade e das relações intermidiáticas comportadas no filme de Fritz Lang (1927) e em seu roteiro, publicado como livro por Thea Von Harbou, em 1926. Como agenda epistemológica para o campo das Artes e da Humanidades, as pesquisas sobre as relações intermidiáticas, sob as quais se encontram perspectivas como as Materialidades da comunicação, têm trazido um aporte teórico bastante profícuo à análise de fenômenos literários, fílmicos e comunicacionais em virtude de seu caráter transdisciplinar, bem como a relevância com que os media e as tecnologias ritualizam os efeitos de sentido em obras e sua recepção. Para além do território das adaptações, a compreensão do entrecruzamento de mídias distintas é sustentada na abrangência da dimensão material das obras (seja na palavra ou na imagem) de modo a propiciar debates mais alargados dos atos hermenêuticos na produção de sentido. Isso pressupõe avaliar de que maneira os aparatos técnicos e as condições materiais dos dispositivos são agenciadores de percepções implicadas diretamente na matéria sensível das obras tanto quanto no corpo do receptor. Embora Metrópolis seja um filme fundante para a cinematografia, portanto objeto de inúmeros trabalhos de pesquisa e de crítica, a relação com o roteiro/livro, de Thea Von Harbou, pensada a partir desse escopo teórico, pode representar um interessante estudo no campo das Letras, para o qual, ainda, as teorias acerca da Intermidialidade ocupam um lugar tímido.Item O Homem em Crise? um olhar feminino sobre uma suposta crise de masculinidades em meados do Séc XX(2022-03-24) Martins, Larissa Januário; Simon, Luiz Carlos Santos; Camargo, Fábio Figueiredo; Marques, Bárbara CristinaO presente estudo busca investigar uma suposta crise na masculinidade em meados do século XX a partir da análise de dois romances: Vento de Esperança, publicado em 1947 por Ondina Ferreira e A Vida Invisível de Eurídice Gusmão publicado em 2016 por Martha Batalha. Ambos os romances se passam majoritariamente nos anos 1940 e nos permitem ter um panorama bastante abrangente sobre masculinidades e a relação entre homens e mulheres na época. O comparativo entre uma autora de meados do séc. XX e uma autora contemporânea se debruçando sobre o mesmo período histórico permitirá que tenhamos uma perspectiva ainda mais rica sobre essa suposta crise para que possamos entender se a crise de masculinidade que julgamos ter existido nos anos 1940 de fato existiu e, se existiu, como se deu. A partir da discussão teórica sobre masculinidades e da análise dos textos literários buscamos compreender melhor e debater essas questões.Item Travessia e movimento: a paisagem em contos de Marina Colasanti(2023-02-28) Souza, Luísa Negrão de; Alves, Regina Célia dos Santos; Godoy, Maria Carolina de; Pinheiro, AndréO presente trabalho dedica-se ao estudo dos elementos da paisagem horizonte, vento e água e suas relações com os temas travessia e movimento em alguns contos de Marina Colasanti. Para tanto, são levados em consideração não somente os aspectos físicos e a percepção da paisagem, mas seus elementos enquanto geradores de interação entre sujeito e o espaço no qual ele está posto e com o qual ele se relaciona. O corpus selecionado são contos maravilhosos de Marina Colasanti, reunidos na obra Mais de 100 histórias maravilhosas (2015), que foram agrupados de acordo com a reincidência dos elementos levados em conta: o horizonte, o vento e a água. Assim, é fundamental a ideia de Michel Collot (2013) de que os componentes da paisagem na literatura constroem uma imagem do mundo e do eu, isto é, constroem a paisagem de um autor. Portanto, importa mostrar que a constituição da paisagem em um conjunto de contos maravilhosos de Marina Colasanti, desenhada de diferentes maneiras em cada um deles, é dinamizada por elementos recorrentes da materialidade da paisagem representada, os quais, por sua vez, fundamentam uma imagem e um sentido mais profundos da paisagem na escrita da autora, alicerçados na ideia de travessia e movimento. Defende-se, pois, que a travessia e o movimento – que são elementos da constituição semântica e formal do texto – se ligariam a valores subjetivos, éticos e estéticos da autora. Os contos que constituem o objeto de estudo deste trabalho são: “A moça tecelã”, “A mulher ramada”, “Sem asas, porém”, “Doze reis e a moça no labirinto do vento”, “O último rei”, “Tomando-o do mar” e “Um cantar de mar e vento”, fortemente marcados pela subjetividade e relação visceral das personagens com a paisagem. Por fim, importa justificar que os elementos horizonte, vento e água parecem ser indicadores de um movimento de travessia das personagens não apenas de um espaço para outro, mas de visões de mundo, de experiências, de confissões, ou seja, são percursos marcados pela travessia de espaços concretos e também simbólicos, isto é, de espaços, como bem afirma Jean-Marc Besse (2014), marcados pela experiência sensível.Item O sol que nos atravessa: comunidades híbridas em Cheryl Savageau e Vinícius Lima(2003-12-15) Soares, Henrique de Paiva; Rodrigues, Ângela Lamas; Leite, Suely; Rosendo, Daniela; Silva, Jacicarla Souza daÉ comum encontrarmos na literatura obras que estabelecem relações binárias entre o animal humano e os outros seres. Essa dualidade centralizou o humano no papel do explorador, ou seja, daquele que conquista, usurpa e coloniza o ambiente em que vive em detrimento do outro, necessariamente passivo e explorado. Em contrapartida, há escritores fora do cânone, como Cheryl Savageau e Vinícius Lima, que propõem em suas escritas subverter estruturas especistas e antropocêntricas. Do contato com tais autores, a pesquisa objetiva buscar evidências da manifestação de comunidades híbridas, termo entendido por Lestel (2011) como um espaço onde há interações entre viventes, com características específicas, que não os definem como superiores ou inferiores. Ao contrário, ela acolhe suas diferenças, que proporciona relações em termos de complementariedade e não uma reconstrução da estrutura dicotômica. O corpus consiste nas obras Mother/Land (2006), da escritora canadense-Abenaki Cheryl Savageau, e Animais Floridos (2016), do londrinense Vinicius Lima. Consideradas as especificidades dos autores, suas poesias confluem para um espaço de saber e experiência que tem na relação não hierárquica entre viventes a sua tônica. Desenvolvida em três capítulos, a dissertação identifica a presença das comunidades híbridas e explora seus desdobramentos a cada análise. No primeiro capítulo, explica-se como as comunidades híbridas se manifestam e integram o humano e o além do humano através da corporalidade do ser. No segundo, recorro à desconstrução proposta por Jacques Derrida, bem como contribuições de Gilles Deleuze e Claire Parnet sobre o devir, para demonstrar a dissolução do “eu” dentro da comunidade híbrida. Após demonstrar o overturning do humano dentro de uma estrutura constelar exploro, no terceiro capítulo, a força dessas comunidades e as formas pelas quais ela subverte o especismo estrutural e o antropocentrismo. Em suas escritas, Lima e Savageau contam histórias de resistência e, a partir disso, ambos são capazes de expor a barbárie antropocêntrica, ao mesmo tempo em que revelam a vida de comunidades fora dessa estrutura.Item Registros do futuro: escrita íntima em Nós e Future Home of the Living God(2023-10-23) Garcia, Xarxel; Silva, Telma Maciel da; Simon, Luiz Carlos Santos; Cavalvanti, Ildney de Fátima SouzaA distopia é caracterizada pela imaginação de uma sociedade, normalmente localizada no futuro, significativamente pior do que a realidade de quem lê. O contraste é feito para servir como um aviso, um recado premonitório de onde se pode chegar caso não dermos a devida atenção aos problemas políticos de nossa comunidade. Nesse sentido, é curiosa a proeminência das escritas íntimas em obras desse gênero, datando influências desde a Utopia de Thomas More, livro no qual são encontradas cartas trocadas entre os idealizadores desse projeto como paratexto. Assim, essa pesquisa pretende unir as duas áreas do conhecimento, a fim de elucidar como a escrita íntima, com suas especificidades, contribui para a construção de mundo e personagem em histórias distópicas. As obras selecionadas para esse fim serão Nós de Iêvgueni Zamiátin e Future Home of the Living God de Louise Erdrich. Sendo essas obras com contextos bastante diferentes, será possível explorar vários aspectos da relação aqui ressaltada. Para isso será feita uma exposição das funções do gênero diário como escrita real, bem como os processos pelos quais esses documentos passam quando arquivados. Além disso, também será dedicado um espaço para discutir sobre os distanciamentos e aproximações da transposição do gênero diário para a ficção. Para abordar a distopia, serão desenhados os caminhos percorridos por esse gênero, realçando suas influências como a utopia, antiutopia e ficção científica. Também se pretende expor possíveis objetos de estudo com inscrições distópicas como caminhos possíveis que se acredita renderem interessantes pesquisas. Por fim, a análise abordará todos os assuntos expostos, revelando as instigantes interações da distopia com a escrita íntima, como a individualização do sujeito em meio a uma sociedade que tenta homogeneizá-lo; o ímpeto de criar registros pessoais em momentos de caos político e social; o repreendimento dessa forma de expressão, desincentivado e caçado pelo poder regente; o autoconhecimento gerado pela visão alcançada através da escrita; o endereçamento da escrita para outrem, ainda que seja íntima; e a confissão dos segredos íntimos como forma de dividir o peso do desvio da norma instaurada.Item O nada risível: sobre o riso e o absurdo em Glória (2012), de Victor Heringer(2022-11-21) Gulicz, Igor da Rocha; Simon, Luiz Carlos Santos; Salgueiro, Maria Amélia Dalvi; Vieira, Miguel Heitor BragaNo ponto exato em que o riso e o absurdo da vida se chocam, tem sua gênese a obra Glória (2012), de Victor Heringer. Trata-se de um romance sobre o desgosto, sobre o riso e, como o título sugere, sobre a glória. Esta dissertação, então, surge como uma reflexão a respeito desses mesmos três pontos, partindo, principalmente, da pesquisa do riso e de suas funções, passando por Bergson (2018), Weems (2016), La Taille (2014), Minois (2003), Eagleton (2020), entre outros autores de áreas como literatura, sociologia, filosofia, psicologia, neurologia e história, para poder observar tal fenômeno tanto na narrativa quanto em certos aspectos da vida real. Por outro lado, temos o desgosto, uma espécie de metáfora que oscila entre o suicídio e a melancolia e que é analisada a partir de uma perspectiva pautada principalmente na filosofia do absurdo teorizada por Camus (2010), mas também com o auxílio de Kierkegaard (1979) e Solomon (2014). A partir disso, temos a análise da glória, que, além de conceituada em seus sentidos e implicações na realidade, sendo observada à luz do riso e do absurdo, também é metaforizada no espaço, por meio do bairro da Glória no Rio de Janeiro, onde se passa grande parte da narrativa. Por fim, esses três pilares da dissertação são investigados, a partir dos estudos de Booth (1980) e de Heringer (2014), na voz do narrador, por se tratarem de elementos norteadores, materializando o conteúdo da obra em sua própria estrutura e influenciando nossa percepção acerca deles. Tendo em vista a profundidade com que a obra aborda os assuntos mencionados, discutindo-os em diferentes camadas, imergindo seus personagens nos temas, fazendo-os discutir sobre isso, narrando as situações de modo ora cômico, ora reflexivo e, inclusive, metaforizando tudo isso de diferentes maneiras, pareceu-nos acertado e justificado lançar sobre Glória a luz dos estudos acadêmicos para, não apenas explicar a sua filosofia, mas aprender com ela.Item O conflito entre a ética protestante e o tradicionalismo laboral em Post office e Factotum, de Charles BukowskiVelasco, Samuel; Silva, Marta Dantas da [Orientador]; Vieira, Miguel Heitor Braga; Ivano, RogérioResumo: A presente Dissertação trata das relações de trabalho nos dois primeiros romances autobiográficos de Charles Bukowski, Factotum (22a) e Post Office (22b), com foco no antagonismo do protagonista à ética protestante do trabalho, e em como sua estratégia de resistência se desenrola no mundo ficcional construído por Bukowski Primeiramente, nos propusemos a fazer um levantamento da fortuna crítica e condensar as leituras prévias dos críticos Ao longo da revisão da fortuna crítica, concluímos que Bukowski era um outsider literário, e ainda que ele seja comumente associado aos beats, compartilhava com eles apenas interseções eventuais Bukowski compôs dois romances cujas narrativas se centram no questionamento do caráter libertador do trabalho cronometrado, representado como hostil à autorrealização humana e como um dreno de vitalidade libidinal A partir das reflexões de Ricoeur sobre o tempo e a narrativa, o objeto literário foi abordado como possuidor de um passado histórico próprio (diegético), distinto do passado da História (extradiegético) A superposição de períodos históricos foi explorada pelo autor em ambos os romances, o que sugere que Bukowski “inventava” muito mais em seus escritos do que a maioria dos críticos lhe dá crédito, manifestando que o universo imaginado tinha precedência sobre o critério de verossimilhança Propõe-se nesta Dissertação que o personagem Chinaski, embora seja um “substituto do autor”, é um tanto distinto do escritor, e, talvez, em parte baseado no Bartleby de Herman Melville Também é proposto que a resistência desorganizada e individualista de Chinaski à subsunção pelo trabalho sob o capitalismo encontra sua força no questionamento do trabalho-cronometrado, fazendo um argumento subjacente em prol do trabalho orientado por tarefas (task-oriented), centrado em necessidades humanas, nas quais o valor de uso tem precedência sobre valor de troca, ie, o qualitativo sobre o quantitativo Essa visão pré-moderna de compasso de trabalho, justaposta ao cenário urbano de Los Angeles, causa a impressão que um anti-herói contracultural “pós-moderno” surgiu com o personagem Chinaski; questionamos essa noção, e propomos que a crítica de Chinaski implica na valorização dos ritmos de vida do passado, recorrendo aos valores do tradicionalismo laboral para buscar por sua liberdade sob o capitalismo industrial, o que ele aparentemente consegue ao se tornar escritor em tempo integral, trabalhando de modo parecido ao VerlagssystemItem Novo mundo, mundo velho : espaço e identidade em Ana em VenezaAranha, Cinthia Torres; Brito, Luciana [Orientador]; Carreri, Márcio Luiz; Marques, Bárbara CristinaResumo: Esta Dissertação se propõe a analisar a relação entre os espaços e as identidades representados no romance brasileiro de João Silvério Trevisan, Ana em Veneza (1994), sob um viés analítico histórico-sociológico Procura-se analisar o espaço não apenas como o pano de fundo em que se passa a ação, e sim enquanto processo social e cultural criado e modificado pelo homem, e que com este forma relações de interdependência Para pensar as relações entre tempo, memória, identidade e diáspora utiliza-se Agostinho de Hipona, Norbert Elias, Jacques Le Goff, Stuart Hall, Tzvetan Todorov, Marc Ferro, Benedict Anderson; para analisar a condição de estrangeiro e o exotismo do qual o indivíduo exilado é vítima utiliza-se Daniel Henri-Pageaux e Julia Kristeva; em um segundo momento da Dissertação a discussão acerca dos espaços presentes na obra perpassam teóricos como Michel Foucault, Sérgio Buarque de Holanda, Jean Delumeau e Gaston Bachelard Para pensar o próprio lugar desta pesquisa no âmbito da academia utiliza-se as valiosas contribuições de Roger Chartier e Carlo GinzburgItem A homossexualidade masculina em contos brasileiros da década de 1980Pellizzari, Thamiris Yuri Silveira; Simon, Luiz Carlos Santos [Orientador]; Marques, Bárbara Cristina; Lima, Ricardo Augusto deResumo: Esta Dissertação trata da abordagem da homossexualidade masculina na literatura cuidando, mais especificamente, da contística brasileira da década de 198 de maneira a observar e refletir acerca da presença/ausência dessa orientação sexual nas obras de conto publicadas durante a década prevista A determinação do recorte temporal diz respeito aos acontecimentos históricos relativos à homossexualidade Deste modo levamos em consideração os avanços médicos, legais e religiosos sobre essa sexualidade que passa a ser considerada como orientação sexual somente após intensos estudos e debates em curso nesse período, discussão desenvolvida logo no primeiro capítulo, o qual explora, também, uma perspectiva teórica relativa às masculinidades e à heteronormatividade Momento que nos compete buscar respaldo em teóricos como: Raewyn Connel, Elisabeth Badinter, Michel Foucault, James N Green, Sócrates Nolasco, João Silvério Trevisan, entre outros O segundo capítulo compreende as conquistas do movimento homossexual colaborando para o alavancar da teoria Queer, no Brasil, além do levantamento de 29 obras de contos da década de 198 com referências à homossexualidade, momento chave desta pesquisa Por fim, visando um aprofundamento do assunto, bem como do levantamento, dedicamos o terceiro capítulo à análise de quatro contos que focalizam centralmente a temática, dois de autoria de Caio Fernando Abreu: “Aqueles dois”, presente na obra Morangos Mofados (1982) e “Pequeno monstro”, oriundo da obra Os dragões não conhecem o paraíso (1988); outros dois de Autran Dourado: “Retrato de Vítor Macedônio” e “O triste destino de Emílio Amorim”, ambos da obra As Imaginações Pecaminosas (1981) Neste capítulo buscamos não somente o desenvolvimento de análises profundas, como também o estabelecimento de um diálogo com as reflexões teóricas do primeiro capítulo e entre os contos, a partir das concepções analíticasItem O fantástico do século XIX em Feriado de mim mesmo, de Santiago NazarianSoares, Márcio Henrique de Almeida; Santos, Adilson dos [Orientador]; Vieira, Miguel Heitor Braga; Ferreira, Claudia CristinaResumo: Este trabalho tem o objetivo de investigar a presença do fantástico tradicional, em seu modelo expoente no século XIX, no romance contemporâeno Feriado de mim mesmo, do autor brasileiro Santiago Nazarian Para tanto, dividimos nosso estudo em duas partes Na primeira parte, valemo-nos, inicialmente, de uma revisão bibliográfica em que levantamos o pensamento de alguns proeminentes estudiosos do fantástico, sendo eles Tzvetan Todorov (197), Irène Bessière (1974), Filipe Furtado (198), Remo Ceserani (1996) e Joël Malrieu (1992) A partir das conclusões retiradas desse levantamento, estabelecemos uma metodologia de análise do fantástico, a qual se pauta na investigação de uma série de procedimentos formais e, especificamente, da personagem, do fenômeno e do espaço-tempo fantásticos Passamos, então, à segunda parte do trabalho, na qual realizamos um estudo comparativo, analisando Feriado de mim mesmo paralelamente a diversos textos canônicos do fantástico, de modo a delinear uma percepção direta das semelhanças e distinções entre o romance e o modelo recorrente do cânone Ao longo dessa análise, destacamos algumas relações entre o fantástico e a pós-modernidade, apontando essas características no romance, a fim de indicar possíveis explicações para a aplicação desse tipo de narrativa em obras contemporâneas Com isso, esperamos contribuir para uma melhor compreensão do fantástico, bem como ampliar o entendimento da obra de Nazarian, especialmente em sua representação do mundo atualItem Representações da solidão em Até o dia em que o cão morreu, de Daniel GaleraRodovalho, Caroline; Vieira, Miguel Heitor Braga [Orientador]; Silva, Telma Maciel da; Brandileone, Ana Paula Franco NobileResumo: Até o dia em que o cão morreu, primeiro romance do escritor Daniel Galera, foi lançado inicialmente pela editora independente Livros do mal em 23 e, posteriormente, editado pela Companhia das Letras, em 27 A obra é narrada em primeira pessoa a partir da visão do personagem central, um jovem recém-graduado em Letras, desempregado e sustentado pelos pais Vivendo sozinho em um pequeno apartamento alugado no centro de Porto Alegre e afundado em uma realidade sem perspectivas, o personagem se isola cada vez mais dos amigos e da família, tendo como companhias apenas um cão vira-lata e uma jovem modelo em início de carreira, com quem mantém um relacionamento sem nenhuma pretensão de compromisso As situações de solidão e a evidência de uma visão individualista em relação a si mesmo e aos outros, experimentadas pelo personagem, são explicitadas em diversos trechos do romance Nosso objetivo neste estudo é investigar como se dá a representação da solidão no romance de Galera, considerando seus indícios estético-discursivosItem A quien corresponda : a produção epistolar do Subcomandante MarcosTeixeira, Lucas Rodrigues; Maciel, Telma [Orientador]; Machado, Eliel Ribeiro; Leite, SuelyResumo: O propósito desta Dissertação é analisar como se constrói o discurso zapatista dentro da produção epistolar do Subcomandante Marcos, do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) Para tanto, tratamos do formato escolhido pelo guerrilheiro para disseminar suas ideias e sua luta, que é a carta e, neste primeiro momento, é traçado um panorama e uma análise deste gênero fronteiriço do qual Marcos se aproveita para conquistar interlocutores Cuidamos também das questões relativas à estrutura narrativa (tempo, espaço, personagem, narrador) e de como estas são exploradas no escritos do Sup Então, por fim, é analisado o discurso do ideário zapatista, este que é produto do hibridismo entre a cultura ancestral indígena maia e o cânone literário ocidental, tendo por base as teorias relacionadas à Análise de Discurso francesaItem As crônicas de Eliane Brum e as masculinidades na vida (extra)ordináriaBonomo, Letícia Ueno; Simon, Luiz Carlos Santos [Orientador]; Weinhardt, Marilene; Leite, SuelyResumo: Este trabalho tem por objetivo evidenciar as representações de masculinidades que aparecem nas crônicas de Eliane Brum e refletir de que maneira elas são construídas e como dialogam com estudos de masculinidades Para isso, foram analisadas quatro crônicas da referida autora, todas presentes na compilação A menina quebrada (213) Enxergar a temática de masculinidades em textos que não a trazem de forma tão óbvia – exceto por um deles – é um aspecto que considero bastante relevante nas crônicas selecionadas Anteriormente às análises, procuro reunir teorias e críticas que permitem compreender o que são os estudos de masculinidades, a que(m) se prestam e por que são relevantes O percurso de (des)identidades desenvolvido pela cronista permite investigar olhares que condicionam e outros que possibilitam essas masculinidades Consciente de que estou lidando com um gênero ainda polêmico quanto à literariedade, em primeiro lugar, analisarei as aproximações e os afastamentos entre literatura e jornalismoItem Os tempos da LavouraBello, Juliana da Silva; Vieira, Miguel Heitor Braga [Orientador]; Weber, José Fernandes; Simon, Luiz Carlos SantosResumo: Este trabalho propõe uma leitura crítica da obra Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar, sob a ótica do Tempo A Dissertação organiza-se a partir de três eixos considerados primordiais para este estudo Inicia-se pelo tempo enquanto categoria narrativa, depois, analisar-se-á o tempo no contexto religioso, para, por fim, deter-se nele enquanto perspectiva filosófica Esta composição torna-se necessária para, no primeiro momento, compreender a versátil ordem do tempo na narrativa que, por sua vez, é acionada pelo processo da memória do narrador-personagem de modo não linear, atrelada à linguagem poética Considera-se, além disso, o tempo na esfera do mito, tendo em vista a força cíclica da narrativa fundamentada em conceitos religiosos que a permeiam Ao final, volta-se para o tempo conjecturando-o no contexto filosófico que estreita no romance uma profunda reflexão sobre o tema Neste sentido, verifica-se que o Tempo, na obra, atinge o estatuto de personagem, pois presume uma narrativa a seu respeito ao marcar uma consciência e consideração, tornando-o visível Selecionou-se como fundamental suporte teórico Gérard Genette (1995), Benedito Nunes (1995), Mircea Eliade (1992), Santo Agostinho (21), Paul Ricoeur (1995), Jean Pouillon (1974), dentre outrosItem O fracasso como diálogo poético interartes : Iberê Camargo e Carlos Drummond de AndradeTokairin, Tania Yumi; Silva, Telma Maciel da [Orientador]; Tofalini, Luzia Aparecida Berloffa; Silva, Marta Dantas daResumo: A presente Dissertação propõe um diálogo poético interartes entre o pintor e escritor gaúcho Iberê Camargo e o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade a partir do tema do fracasso Alguns trabalhos desses Autores são analisados, inicialmente, a fim de exemplificar e verificar que neles encontram-se elementos compositivos e características relacionadas ao fracasso como uma condição inerente à existência humana: no caso de Iberê, analisa-se o conto “O relógio”, de 1959, onde o sentimento de fracasso é construído a partir de uma escrita expressionista; e, em Drummond, os poemas “A sombra do homem que sorriu”, “Como se eu fosse um poeta resignado” e “Boneca de Panno”, todos de 1924, nos quais a escrita do jovem Poeta já apresenta seu ceticismo característico em relação aos limites da sua poesia e a sua relação com o fracasso Através de fundamentos teóricos e críticos provenientes da literatura, das artes visuais e da filosofia, verificaremos, por conseguinte, como os procedimentos de composição artístico-literários e os seus efeitos expressivos dialogam nas poéticas iberiana e drummondiana O aporte teórico-crítico na análise da obra de Iberê Camargo pauta-se, entre outros autores, nos estudos de Sônia Salzstein, Luiz Camillo Osorio e Paulo Venancio Filho; em Carlos Drummond de Andrade, utilizamos os estudos de Davi Arrigucci Jr, Affonso Romano de Sant’Anna Gilberto Mendonça Teles, entre outros No campo filosófico, o respaldo teórico se dá através do pensamento de Arthur Schopenhauer, Jean-Paul Sartre e Gaston Bachelard, este último especialmente na análise da poesia drummondiana A metodologia desta pesquisa propõe uma análise comparativa no sentido de destacar tanto as semelhanças quanto as diferenças entre os objetos do corpus, com o objetivo de deslindar a poética do fracasso que permeia o sentimento de proximidade da morte, propondo, desse modo, o aprofundamento do diálogo poético interartes entre as obras dos Autores Para tanto, analisamos um objeto específico de cada um deles através da perspectiva do gênero artístico conhecido como “natureza-morta”, respectivamente: o poema minimalista “Cerâmica” (Antologia Poética e Lição de Coisas, 1962), de Drummond, e a série de pinturas expressionistas em grandes dimensões “Tudo te é falso e inútil” (1992-1993), de Iberê Camargo