02 - Mestrado - Letras
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Item O sol que nos atravessa: comunidades híbridas em Cheryl Savageau e Vinícius Lima(2003-12-15) Soares, Henrique de Paiva; Rodrigues, Ângela Lamas; Leite, Suely; Rosendo, Daniela; Silva, Jacicarla Souza daÉ comum encontrarmos na literatura obras que estabelecem relações binárias entre o animal humano e os outros seres. Essa dualidade centralizou o humano no papel do explorador, ou seja, daquele que conquista, usurpa e coloniza o ambiente em que vive em detrimento do outro, necessariamente passivo e explorado. Em contrapartida, há escritores fora do cânone, como Cheryl Savageau e Vinícius Lima, que propõem em suas escritas subverter estruturas especistas e antropocêntricas. Do contato com tais autores, a pesquisa objetiva buscar evidências da manifestação de comunidades híbridas, termo entendido por Lestel (2011) como um espaço onde há interações entre viventes, com características específicas, que não os definem como superiores ou inferiores. Ao contrário, ela acolhe suas diferenças, que proporciona relações em termos de complementariedade e não uma reconstrução da estrutura dicotômica. O corpus consiste nas obras Mother/Land (2006), da escritora canadense-Abenaki Cheryl Savageau, e Animais Floridos (2016), do londrinense Vinicius Lima. Consideradas as especificidades dos autores, suas poesias confluem para um espaço de saber e experiência que tem na relação não hierárquica entre viventes a sua tônica. Desenvolvida em três capítulos, a dissertação identifica a presença das comunidades híbridas e explora seus desdobramentos a cada análise. No primeiro capítulo, explica-se como as comunidades híbridas se manifestam e integram o humano e o além do humano através da corporalidade do ser. No segundo, recorro à desconstrução proposta por Jacques Derrida, bem como contribuições de Gilles Deleuze e Claire Parnet sobre o devir, para demonstrar a dissolução do “eu” dentro da comunidade híbrida. Após demonstrar o overturning do humano dentro de uma estrutura constelar exploro, no terceiro capítulo, a força dessas comunidades e as formas pelas quais ela subverte o especismo estrutural e o antropocentrismo. Em suas escritas, Lima e Savageau contam histórias de resistência e, a partir disso, ambos são capazes de expor a barbárie antropocêntrica, ao mesmo tempo em que revelam a vida de comunidades fora dessa estrutura.Item Esconder o olhar, reter o afeto: Roland Barthes e Dora Maar(2020-03-10) Teixeira, Daiane Barbosa; Marques, Bárbara Cristina; Brandini, Laura Taddei; Lima, Ricardo Augusto deFigura singular a flanar pelas ruas de Paris nos anos 1930, a fotógrafa francesa Dora Maar foi umas das raras mulheres a transitar com desenvoltura no meio surrealista, terreno no qual sua obra floresceu. Suas fotos, principalmente aquelas a mostrar cenas de rua, são resultado de um olhar perspicaz que fragmenta e captura a realidade de modo a suscitar uma série de provocações concernentes à problemática do olhar. As experimentações e a ironia impressa em muitas de suas fotos revelam a sensibilidade de uma artista que acabou por construir um interessante percurso imagético a ser revisitado. Cerca de quase cinquenta anos depois, Roland Barthes, escritor francês, publicou A câmara clara, fruto de sua busca pela essência da fotografia somado ao enlutamento pela morte de sua mãe. O que essas duas obras têm em comum para além da fotografia? Barthes, ao lidar, não sem dor, com os vestígios fotográficos da mãe, desenvolve dois conceitos, punctum e studium, que passam a figurar os ensaios teóricos de inúmeros estudiosos no século XX. Esta dissertação pretende discutir as fotografias de Dora Maar em consonância ao pensamento barthesiano quanto à teoria da imagem fotográfica. Em linhas mais gerais, a obra de Barthes, especialmente aquela a refletir sobre o caráter afetivo, estético e político da imagem, conduzirá nossa leitura da obra de Dora Maar.Item O apocalipse maldito do "Filho da Luz": estudo de As revelações do príncipe do fogo de Febrônio Índio do Brasil (1926)(2021-09-13) Mossambani, Giovane Sgarbossa; Silva, Marta Dantas da; Rio Doce, Cláudia Camardella; Cavalcanti, Jardel DiasEm 1926, no Rio de Janeiro, foi publicado um livro chamado As Revelações do Príncipe do Fogo. O volume, em suas 68 páginas, apresenta uma série de referências à Bíblia e versa sobre o conteúdo de experiências místicas vividas por quem o escreveu: Febrônio Índio do Brasil. Essa obra única de seu autor abre-se, na presente dissertação, a uma escuta poética de seu conteúdo. Intentou-se interpretar sob um viés simbólico – embasado nas leituras de obras de estudiosos dos simbolismos e das religiões, tais como Mircea Eliade, Gaston Bachelard e Joseph Campbell – essa escritura que se buscou apagar da história. A tentativa de apagamento decorre do fato de que Febrônio Índio do Brasil é considerado responsável por dois assassinatos de estranha natureza ocorridos em agosto de 1927. Ao menos quatro intelectuais importantes para o cenário cultural do Brasil na década de 1920 se interessaram por Febrônio, sua cosmovisão e seu livro, a saber: o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o crítico literário Prudente de Morais Neto, o escritor Mário de Andrade e o poeta suíço Blaise Cendrars. A recepção do livro e da história de seu autor por parte dessas personalidades também se mostrou relevante e foi abordada nesta pesquisa. Febrônio, em seu livro, apropria-se de trechos bíblicos e os ressignifica; destaca-se sua relação com o Apocalipse, intertextualidade aqui estudada. As investigações que resultaram nessa dissertação também apontam para o fato de que As Revelações do Príncipe do Fogo é uma composição mitopoética, uma teia de elementos simbólicos organizados de modo a apresentar uma espécie de mito individual do próprio autor.Item Entre rasgos, rastros e fissuras : por uma poética do feminino em Adriana Varejão(2022-03-06) Strenske, Cleidi; Silva, Marta Dantas da; Rio Doce, Cláudia Camardella; Franzim, Mariana SilvaEsta dissertação trata da poética de Adriana Varejão e suas incursões na História do Brasil por meio de múltiplas fontes históricas, entre elas, a produção artística e literária referente ao período colonial, a saber, a literatura barroca de Manuel Botelho de Oliveira (1636 – 1711) e de Gregório de Matos (1636 - 1696), a pintura de Conde Clarac, (1819), de Nicolas-Antoine Taunay (1820) e de Frans Post (1637-1680), entre outras. Para isso, se fez necessário observar e isolar as unidades temáticas mínimas, no diálogo entre as duas modalidades artísticas, conforme Tomachevski (1976). Nossa hipótese consiste em observar a articulação de elementos femininos, feita por Varejão, e os desdobramentos do que se lê do passado, sob a perspectiva de construção de uma narrativa de contraconquista (LEZAMA LIMA, 1988). Por meio de fragmentos do passado, ora parodiados (HUTCHEON, 1991), ora submetidos ao procedimento estético da montagem (BÜGER, 1993), o corpus selecionado e investigado nesta dissertação cria novas narrativas acerca da nossa história e mostra seu avesso. A partir da constelação de fragmentos fontes históricas do passado que são aproximados, sobrepostos e recriados, a poética de Varejão faz ecoar a ideia de história não linear, constelar, sob o ponto de vista de Lezama Lima (1988) que, por sua vez, também é o procedimento metodológico desta dissertação. O cotejo interartes, então, permite provocar outras perspectivas, outras leituras, outros olhares para o nosso passado porque os recursos artísticos mobilizados pela artista plástica, tais como a montagem e a paródia, possibilitam a aproximação com a escrita literária e o que nela há dos discursos socioculturais do passado. Nesse sentido, ambas as manifestações artísticas, consideradas sob o ponto de vista dialógico (BAKHTIN, 2008), revelam um esclarecimento mútuo. Os novos/outros enredos que resultam desse processo suprimem leituras unilaterais que, antes, realçavam valores culturais, históricos e estéticos europeus, o que sugere o posicionamento decolonial do corpus eleito. Além disso, ao alçar o feminino a uma posição de protagonista frente a estes valores, a obra de Varejão compõe uma espécie de alegoria (BENJAMIN, 1987, 226) que representaria as violências e apagamentos típicos dos processos da colonização portuguesa que aparecem fragmentados em ambas as manifestações artísticas.Item O Homem em Crise? um olhar feminino sobre uma suposta crise de masculinidades em meados do Séc XX(2022-03-24) Martins, Larissa Januário; Simon, Luiz Carlos Santos; Camargo, Fábio Figueiredo; Marques, Bárbara CristinaO presente estudo busca investigar uma suposta crise na masculinidade em meados do século XX a partir da análise de dois romances: Vento de Esperança, publicado em 1947 por Ondina Ferreira e A Vida Invisível de Eurídice Gusmão publicado em 2016 por Martha Batalha. Ambos os romances se passam majoritariamente nos anos 1940 e nos permitem ter um panorama bastante abrangente sobre masculinidades e a relação entre homens e mulheres na época. O comparativo entre uma autora de meados do séc. XX e uma autora contemporânea se debruçando sobre o mesmo período histórico permitirá que tenhamos uma perspectiva ainda mais rica sobre essa suposta crise para que possamos entender se a crise de masculinidade que julgamos ter existido nos anos 1940 de fato existiu e, se existiu, como se deu. A partir da discussão teórica sobre masculinidades e da análise dos textos literários buscamos compreender melhor e debater essas questões.Item A rede Cooperifa: Encontrando Sérgio Vaz, a poesia, a performance e as relações afetivas(Universidade Estadual de Londrina, 2022-08-31) Ramos, Andreza Pereira Dias; Fernandes, Frederico Garcia; Alencar, Claudiana Nogueira de; Godoy, Maria Carolina deResumo: Essa dissertação tem como principal objetivo demonstrar a existência de uma rede, pautada, principalmente, pelos afetos mobilizados pela Cooperifa (Cooperação Cultural da Periferia) e pelos poetas-produtores que a mantém. Nesse sentido, buscase observar de que modo esse agrupamento foi criado, quais afetos o compõem, qual a perspectiva interna dos sujeitos que integram essa rede e o que os produtos desse projeto coletivo podem nos revelar. A Cooperifa foi criada pelo escritor Sérgio Vaz, em 2001, e compreende, hoje, uma gama de atividades culturais que têm como centro a realização de um sarau de poesia em um bar da periferia de São Paulo. Ao observarmos esse projeto, notamos suas bases ancoradas em um desejo de transformação pela palavra, um desejo de afetar-se. Assim, as análises aqui presentes foram realizadas com o objetivo de investigar de que forma o afeto se interliga ao Sarau da Cooperifa e estabelece uma rede a partir das interações mantidas entre os fatores desse polissistema literário, provocações que foram facilitadas pelas leituras de teorias a respeito do polissistema literário (EVEN-ZOHAR, 1990), performance (AGUILAR; CÁMARA, 2017), (ZUMTHOR, 1993, 1997, 2018), oralidade (ZUMTHOR, 1993) e a literatura como dispositivo de afeto (DI LEONE, 2014), realizadas a partir do projeto de pesquisa “Festivais Literários: redes afetivas e sistema literário”. Essa pesquisa, portanto, destaca a atuação heterogênea e não hierárquica da produção de Sérgio Vaz, demonstrando a existência de pontos de interdependência entre Vaz e os demais integrantes desse polissistema, pontos estes que são responsáveis pela criação de uma rede marcada pelo “fazer junto”, ou seja, pelo afeto (DI LEONE, 2014), (SPINOZA, 2020).Item O nada risível: sobre o riso e o absurdo em Glória (2012), de Victor Heringer(2022-11-21) Gulicz, Igor da Rocha; Simon, Luiz Carlos Santos; Salgueiro, Maria Amélia Dalvi; Vieira, Miguel Heitor BragaNo ponto exato em que o riso e o absurdo da vida se chocam, tem sua gênese a obra Glória (2012), de Victor Heringer. Trata-se de um romance sobre o desgosto, sobre o riso e, como o título sugere, sobre a glória. Esta dissertação, então, surge como uma reflexão a respeito desses mesmos três pontos, partindo, principalmente, da pesquisa do riso e de suas funções, passando por Bergson (2018), Weems (2016), La Taille (2014), Minois (2003), Eagleton (2020), entre outros autores de áreas como literatura, sociologia, filosofia, psicologia, neurologia e história, para poder observar tal fenômeno tanto na narrativa quanto em certos aspectos da vida real. Por outro lado, temos o desgosto, uma espécie de metáfora que oscila entre o suicídio e a melancolia e que é analisada a partir de uma perspectiva pautada principalmente na filosofia do absurdo teorizada por Camus (2010), mas também com o auxílio de Kierkegaard (1979) e Solomon (2014). A partir disso, temos a análise da glória, que, além de conceituada em seus sentidos e implicações na realidade, sendo observada à luz do riso e do absurdo, também é metaforizada no espaço, por meio do bairro da Glória no Rio de Janeiro, onde se passa grande parte da narrativa. Por fim, esses três pilares da dissertação são investigados, a partir dos estudos de Booth (1980) e de Heringer (2014), na voz do narrador, por se tratarem de elementos norteadores, materializando o conteúdo da obra em sua própria estrutura e influenciando nossa percepção acerca deles. Tendo em vista a profundidade com que a obra aborda os assuntos mencionados, discutindo-os em diferentes camadas, imergindo seus personagens nos temas, fazendo-os discutir sobre isso, narrando as situações de modo ora cômico, ora reflexivo e, inclusive, metaforizando tudo isso de diferentes maneiras, pareceu-nos acertado e justificado lançar sobre Glória a luz dos estudos acadêmicos para, não apenas explicar a sua filosofia, mas aprender com ela.Item A paisagem em José María Arguedas: por uma heterogeneidade espacial(2022-12-22) Mendonça, Felipe da Silva; Alves, Regina Célia dos Santos; Maioli, Juliana Bevilacqua; Brito, LucianaEsta dissertação tem como objetivo analisar a paisagem em Os rios profundos (1958), de José María Arguedas. Para tanto, estabelecemos um diálogo entre Literatura e Geografia por meio do conceito de paisagem, o qual é compreendido como uma expressão humana informada por códigos culturais determinados, ou seja, a paisagem não é natureza, mas é o mundo humano inscrito na natureza ao percebê-la e transformá-la. Ao realizar uma análise espacial com base no referido conceito, precisamos olhar tanto para a materialidade do espaço, quanto para a sua percepção, isto é, examinamos a objetividade e a subjetividade espacial. José María Arguedas, conhecido por ocupar um entrelugar entre o espanhol e o quéchua, o indígena e o ocidental, foi um escritor cujas obras permitiram a parte da crítica refletir a respeito do encontro e conflito de culturas. Dentre as principais ideias resultantes da análise da produção de Arguedas, destacamos a de Antonio Cornejo Polar: a heterogeneidade, que está centrada na convergência conflitiva de universos socioculturais distintos, por isso o crítico peruano pontua que a visão de mundo arguediana não tenta ser totalizadora na direção da conciliação harmônica dos conflitos. Em Os rios profundos, a percepção espacial de Ernesto ao longo de seus deslocamentos por comunidades andinas e durante sua estadia no internato de Abancay é reveladora de sua construção identitária, daí o nosso interesse em investigar a relação do menino com o espaço em que está inserido e quais os sentimentos e significações que podem ser extraídos dessa vivência. Buscamos, portanto, verificar como a paisagem em Os rios profundos expressa uma heterogeneidade espacial, isto é, como a relação de Ernesto com as construções e lugares autóctones e espanhóis exprime o conflito de culturas e a sua condição migrante. Como base teórica nos pautamos em estudiosos cujas reflexões são direcionadas à nação e à identidade: Anderson (2008), Bauman (2005), García Canclini (2019), Hall (2006), Silva (2014); à literatura latino-americana e à produção arguediana: Bareiro Saguier (1979), Candido (1979), Cornejo Polar (1989, 1997, 2000, 2003), Moraña (1997, 1999, 2000), Moreiras (2001), Rama (2001, 2008), Santiago (2000), Uslar Pietri (2007); e ao conceito de paisagem: Alves (2013), Berque (2012, 2018), Bessa (2020), Besse (2014), Collot (2012, 2013), Dardel (2015), Tuan (2012, 2013). Ao final de nossa análise, verificamos como a heterogeneidade, oriunda do conflito de culturas, está presente tanto na materialidade quanto na percepção do espaço, bem como destacamos a importância do corpo e dos cinco sentidos, especialmente da audição, na relação que Ernesto estabelece com o espaço.Item De afeto em afeto se faz pérola: o sarau e a performance como constituinte de redes afetivas e estratégia de inserção do texto literário na atualidade(2023-01-17) Silva, Ana Cristina Pereira; Fernandes, Frederico Garcia; Silva, Andrea Betânia da; Chiari, Gisele GemmiA dissertação em tela trata sobre os saraus e a performance enquanto estratégia de inserção do texto literário na atualidade e tem como objeto de pesquisa o “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e o “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, bem como as redes afetivas que se estabelecem a partir deles, levando em conta seus impactos no sistema literário. A pandemia afetou todos os âmbitos da sociedade e com o sarau, cujo cerne é a performance, e performance pressupõe presença e corpo, não poderia ter sido diferente, uma vez que nesse momento o isolamento físico se fez necessário. Mediante isso, pode-se afirmar que os estudos acerca da performance nunca se fez tão essencial quanto nesse momento que vivemos. O levantamento de dados foi realizado por meio da observação e participação nos saraus, antes da pandemia, de entrevistas realizadas com as produtoras do “Sarau Artístico e Literário de Cambé” e do “Sarau: prosa, poesia e outras delícias”, com os artistas e escritores de Londrina e região frequentadores dos saraus e também com os participantes que não são escritores e artistas, durante a pandemia via Formulário Google. Foram levantados também documentos como, fotos, reportagens, entrevistas, vídeos e as atas do “Sarau Artístico e Literário de Cambé”. A metodologia dessa pesquisa está assentada no modelo teórico-analítico de Even-Zohar (1990), bem como nos estudos de Aguilar e Cámara (2017), Leone (2014), Zumthor (2007), Tennina (2013), Silva (2008), Fernandes (2017), Hollanda (2001), Bourdieu (1996) e Rancière (2009), dentre outros teóricos que contribuam para a proposta em tela. O sarau é um forte mecanismo de divulgação do texto literário, sobretudo para o estabelecimento de redes e o fortalecimento da literatura local, em que a performance atua como o principal meio para que isso aconteça, visto que permite que as relações se estabeleçam por meio do afeto gerado a partir da performance.Item Travessia e movimento: a paisagem em contos de Marina Colasanti(2023-02-28) Souza, Luísa Negrão de; Alves, Regina Célia dos Santos; Godoy, Maria Carolina de; Pinheiro, AndréO presente trabalho dedica-se ao estudo dos elementos da paisagem horizonte, vento e água e suas relações com os temas travessia e movimento em alguns contos de Marina Colasanti. Para tanto, são levados em consideração não somente os aspectos físicos e a percepção da paisagem, mas seus elementos enquanto geradores de interação entre sujeito e o espaço no qual ele está posto e com o qual ele se relaciona. O corpus selecionado são contos maravilhosos de Marina Colasanti, reunidos na obra Mais de 100 histórias maravilhosas (2015), que foram agrupados de acordo com a reincidência dos elementos levados em conta: o horizonte, o vento e a água. Assim, é fundamental a ideia de Michel Collot (2013) de que os componentes da paisagem na literatura constroem uma imagem do mundo e do eu, isto é, constroem a paisagem de um autor. Portanto, importa mostrar que a constituição da paisagem em um conjunto de contos maravilhosos de Marina Colasanti, desenhada de diferentes maneiras em cada um deles, é dinamizada por elementos recorrentes da materialidade da paisagem representada, os quais, por sua vez, fundamentam uma imagem e um sentido mais profundos da paisagem na escrita da autora, alicerçados na ideia de travessia e movimento. Defende-se, pois, que a travessia e o movimento – que são elementos da constituição semântica e formal do texto – se ligariam a valores subjetivos, éticos e estéticos da autora. Os contos que constituem o objeto de estudo deste trabalho são: “A moça tecelã”, “A mulher ramada”, “Sem asas, porém”, “Doze reis e a moça no labirinto do vento”, “O último rei”, “Tomando-o do mar” e “Um cantar de mar e vento”, fortemente marcados pela subjetividade e relação visceral das personagens com a paisagem. Por fim, importa justificar que os elementos horizonte, vento e água parecem ser indicadores de um movimento de travessia das personagens não apenas de um espaço para outro, mas de visões de mundo, de experiências, de confissões, ou seja, são percursos marcados pela travessia de espaços concretos e também simbólicos, isto é, de espaços, como bem afirma Jean-Marc Besse (2014), marcados pela experiência sensível.Item A identidade feminina nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana(2023-05-17) Ennes, Viviane Dias; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Santos, Adilson dos; Oliva, Alfredo dos SantosNeste trabalho, adotou-se como corpus as narrativas sobre o feminino nos textos de Ester, de Rute - no Antigo Testamento bíblico - e a passagem do capítulo quatro do evangelho de João, no Novo Testamento, que trata da mulher samaritana e seu encontro com Jesus à beira de um poço. Investigou-se o ethos feminino referenciado pelos textos bíblicos. Como ponto de partida, foram analisados seus contextos históricos e percursos narrativos para um estudo de suas representações. No primeiro capítulo, foi explorada a teoria necessária à análise da representatividade feminina da Literatura e as incursões teóricas sobre a identidade feminina. No segundo capítulo, foram apresentadas incursões teóricas para fundamentar as análises discursivas. No terceiro capítulo, foram feitas as análises dos textos bíblicos indicados no corpus da pesquisa, isto é, nos textos bíblicos de Ester, de Rute e da mulher samaritana, a partir da teoria apresentada, demonstrando a costura enunciativa entre os livros escriturísticos e seus símbolos no que diz respeito à feminilidade. A questão levantada para essa análise foi diferenciar, ou aproximar, a mulher apresentada pela Bíblia como aquela que agrada a Deus daquela apresentada como reprovada e que desagrada a Deus. Foi analisado, nos textos propostos, se existe uma única identidade feminina nas passagens analisadas; se há uma configuração discursiva da mulher traçada pelo narrador; se a mulher que aparece no Antigo Testamento é igual à retratada no Novo Testamento. Nas considerações finais, abordou-se o arquétipo - ou os arquétipos - feminino construído pelos fragmentos selecionados do cânon judaico-cristão a respeito da figura feminina.Item Viagem, imagem, miragem em Besoin de mirages, de Gilles Lapouge(2023-05-29) Prestes, Michela Vieira; Brandini, Laura Taddei; Silva, Telma Maciel da; Fiúza, Adriana FigueiredoA Literatura de Viagem é um importante e abrangente vertente da Literatura que, pela extensão, ainda se faz de difícil definição. Pode-se pensar em relatos de viagem, em manuais, mas autores como o francês Gilles Lapouge, que também era jornalista, trazem uma expansão aos moldes do que se entende por Literatura de Viagem. A obra Besoin de Mirages, traduzida como Necessidade de Miragens, é o objeto principal deste trabalho, que visa analisar o texto ultrapassando a fronteira do relato de viagem, explorando as impressões do narrador e suas formas de expressar a viagem, que é o ponto de partida para a formação de imagens e de miragens, dentro de uma análise entre autor-leitor. Partindo da definição dos termos chave da dissertação, viagem-imagem-miragem, aliada a análises de trechos do romance fundamentadas teoricamente, este trabalho visa ponderar as imagens construídas pelo narrador dentro da obra até que se alcance a miragem, como misto de imagem e memória, muitas vezes afetiva, além de trazer um breve panorama do percurso da Literatura de Viagem no contexto histórico-literário.Item O fim real e o fim futuro em Murilo Mendes : a poesia apocalíptica de As Metamorfoses(2023-06-05) Barroso, Rodolfo Lessa; Vieira, Miguel Heitor Braga; Rodrigues, Flavio Luis Freire; Dias, Ellen Mariany da SilvaUma família com máscaras contra gases mortíferos, um bailarino dançando no arco-íris e navios batendo palmas são alguns dos cenários apocalípticos construídos pela voz poética de As Metamorfoses. Se alguns críticos tendem a resumir a trajetória de Murilo Mendes (1901-1975) a somente um grande autor do surrealismo brasileiro, por outro lado é nítido o não pertencimento de sua poesia a alguma vanguarda específica. Embora o poeta demonstrasse interesse por vanguardas, nunca deixou que seus poemas estivessem presos em um único estilo ou rótulo, afinal, tratamos aqui de uma poesia livre, como mesmo sugere um de seus títulos, Poesia Liberdade (1947). A fim de compreender melhor a poética deste importante autor do século XX, analisa-se neste trabalho o livro de poemas intitulado As Metamorfoses, publicado em 1944. Dividido em duas partes, a análise do livro seguiu a partir de uma divisão por temáticas presentes em cada parte: primeiro, observa-se a grande influência dos cometas, principalmente o Halley; também a dança, trazida pelo bailarino Nijinski; e a guerra, especialmente a Segunda Guerra, sendo, inclusive, o contexto de produção da época. Já na segunda parte do livro, intitulado “O véu do tempo”, percebe-se a presença muito perceptível da figura feminina, a saber, as musas dos poemas, tal como os mitos, que se misturam entre cristianismo, mitologia grega e essencialismo – filosofia de vida herdada do amigo pessoal do poeta, Ismael Nery (1900-1934). Apesar das muitas temáticas, foi possível concluir que tanto a forma quanto o conteúdo dos poemas apontam sempre para um fim: seja um fim real, que já acontecera, ou um fim futuro, presente nas profecias e visões, ou, ainda, no apocalipse, exclusivamente o joanino, o qual muito influenciou a poesia de As Metamorfoses. O título, que pode sugerir, inclusive, uma referência à obra de Ovídio (8 d. C.), revela uma dualidade entre princípio e fim: para que o novo surja, o antigo precisa deixar de existir. Em uma ordem progressiva, o eu poético cria maneiras de trazer à tona o fim do mundo, seja com o absurdo das imagens surrealistas, ou mesmo com a presença feminina que, em si, já traz tais características. Assim, nos poemas, o universo é reduzido a nada, para que um “Novo Céu” e uma “Nova Terra” surjam, na esperança de que somente assim seria possível pôr um fim em um mundo em guerra, que vive sobre destroços das barbáries, e já sem solução. Deste modo, a poesia de As Metamorfoses se mostra como uma poesia de denúncia, mas também de esperança e de resistência, que encontra no fim do mundo um fascínio, já que somente após um turbulento apocalipse é que se é possível trazer o paraíso.Item As paisagens diarísticas de jonas mekas: exílio, memória e a busca de um lar(2023-06-28) Ferreira, Carla Caroline; Marques, Bárbara Cristina; Lima, Sheila Oliveira; Beretta, Laysa Louise SilvaEsta dissertação investiga a relação entre paisagem, exílio e memória em duas obras do cineasta e escritor lituano Jonas Mekas – I had nowhere to go. Diary of a displaced person, diário escrito entre 1944 a 1955, publicado em 1991, e o filme-diário Reminiscences of a journey to Lithuania (1972). Embora a filmografia de Mekas ocupe um lugar importante nos estudos de cinema no Brasil, sua produção literária é pouco conhecida, inclusive sem tradução em língua portuguesa. Mekas, que faleceu em janeiro de 2019, aos 97 anos, produziu uma obra extensa e bastante diversa incluindo inúmeros filmes, poemas, cadernos de desenhos, diários, crítica de cinema e das artes em geral. Seu diário escrito compreende um período importante de sua trajetória enquanto sujeito desterrado, desde sua ida aos campos de trabalho forçado, na Segunda Guerra, até os primeiros anos de sua chegada em Nova Iorque, lugar onde se manteve até sua morte. Toda obra de Mekas é tocada pelo exílio e pelo sentimento de não pertencimento. No entanto, I had nowhere to go. Diary of a displaced person pode ser tomado como objeto fundante de um gesto político-estético que, de saída, marca sua produção no limiar do fragmento da memória, na compreensão do ser exilado e desterrado e na insistência pelas formas diarísticas. Diante disso, essa dissertação propõe-se a analisar como o exílio se manifesta na obra de Mekas e de que forma as imagens paisagísticas são construídas e se relacionam com sua memória e com a busca por pertencimento.Item Da sagacidade no olhar à engenhosidade da escrita: as masculinidades negras suicidas tensionadas nas escrevivências contísticas de Olhos D’água, de Conceição Evaristo(Universidade Estadual de Londrina, 2023-07-18) Santos, Jhenifer Emanuely Rodrigues dos; Leite, Suely; Ferreira, Amanda Crispim; Godoy, Maria Carolina deResumo: O objetivo desta pesquisa é analisar nos contos inéditos da obra Olhos D’água, ou seja, que não foram publicados anteriormente nos Cadernos Negros, o suicídio e a forma como este se entrelaça às masculinidades dos personagens negros evaristianos. Assim, para o estudo do gênero literário, traremos as discussões de Cortázar (2006), Bosi (2006), Piglia (2004) que tratam das estratégias do conto, por notarmos que Conceição Evaristo as utilizam para criar uma tensão entre vida e morte em suas narrativas. Os três contos selecionados para análises foram: “Os amores de Kimbá”, “Ei, Ardoca” e “A gente combinamos de não morrer”. No que se refere as discussões contemporâneas sobre masculinidades negras, utilizamos teóricos como: Osmundo Pinho (2004), Henrique Restier e Souza (2019), Gabriely Menegheti Bertoni (2022), que tratam dos homens negros na obra de Conceição Evaristo, e leituras indispensáveis como Franz Fanon (2008), Stuart Hall (2016), bell hooks (2019; 2022), Helena Theodoro (1996), entre outros. Já na querela do suicídio, contamos com Grada Kilomba (2019), Gabriel Pinezi (2020), Willian André et. al (2020) Danielle Santos Rodrigues (2015; 2017; 2022) e Henrique Silva de Oliveira e Fabiane Cristine Rodrigues (2016), e sobre as expressões contemporâneas, Beatriz Resende (2008). Os teóricos citados condicionam fundamentação para o enveredamento da pesquisa, pois para chegar a esse tema mais específico partimos das acontecências da contística afro/negra-brasileira até as andanças nas escrevivências evaristianas com o intuito de destacar a autoria e as características sagazes do olhar na produção evaristiana que entrelaça as suas escritas engenhosas, como é possível identificar na obra Olhos D’água (2016) e seu projeto, com ênfase em seu papel como contista no presente, ressignificando e invocando a figura da Mãe Preta, atenta à relação com a história do povo negro e também à vida e à morte dessa população, sobretudo dos homens negros. Considerando o entrelaçamento do conto e do suicídio, é possível perceber não só uma certa relação, mas também uma veiculação do suicídio dos personagens negros na contística evaristiana, que além de carregar características ímpares, apresenta a crise do homem negro em viver com a masculinidade hegemônica, como ideia unidimensional do homem, e o “não-lugar”, quando se considera raça (HOOKS, 2022). Portanto, salientamos que ao passo que desenha uma alteridade entre leitor e personagem construída no enredo, como literatura de libertação e por ser escrita por uma mulher negra que busca em sua figura ancestral contadora de histórias escrever um chamado a discussão sobre as mortes dos irmãos de cor, Conceição Evaristo descortina um lugar interseccional de falar com eles: homens negros (HOOKS, 2022).Item Augusto de Campos no século XXI: análise de (in/ou/ex)traduções(2023-09-29) Migotto, Matheus Willian; Vieira, Miguel Heitor Braga; Correa, Alamir Aquino; Contani, Miguel LuizAugusto de Campos é o único dos três poetas fundadores do concretismo brasileiro ainda vivo. Internacionalmente conhecido e estudado, já recebeu dois prêmios Jabuti, o prêmio Pablo Neruda, o Grande Prêmio de Poesia Janus Pannonius, a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural e o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Dada a relevância do escritor, sua extensa produção e contribuição à literatura brasileira, este trabalho objetiva investigar as “intraduções” mais recentes de Augusto de Campos e os diferentes processos de tradução intersemiótica nelas envolvidos. Tais trabalhos são recriações, reconfigurações, traduções criativas, ou como denominou Haroldo de Campos, “transcriações”, realizadas por Augusto de Campos a partir de diferentes sistemas sígnicos, podendo contar como textos-fonte, inclusive, obras artísticas não verbais. Assim, esta pesquisa pretende responder à seguinte questão: nos textos analisados, quais os elementos semióticos e as relações estabelecidas entre eles que permitem transladar signos e interpretantes de uma obra para outra, e que correspondência subsiste, em maior ou menor grau, entre ambas? Para tanto, são utilizados, principalmente, os conceitos de semiótica de Charles Sanders Peirce [1931;1935]/(2010), de tradução intersemiótica de Julio Plaza [1987]/(2010) e de transposição intersemiótica e intermidialidade explorados por Clüver [1989]/(2006). Para a consecução dos objetivos propostos, este trabalho se divide em três capítulos. No primeiro, é abordada a trajetória de Augusto de Campos, suas premiações e uma fortuna crítica da obra mais recente do autor. No segundo, apresentam-se as teorias de tradução, semiótica americana e intermidialidade que embasam a investigação dos textos que compõem o corpus desta pesquisa. No terceiro, realizam-se a discussão e a análise dos referidos textos. Por fim, são sugeridos alguns caminhos de continuidade para esta pesquisa tanto no sentido de aprofundamento do corpus quanto no uso de outras abordagens para estudo de uma poemática que, ao longo de toda sua história, não se deixa conter por nenhum formato, mas que se apropria das mídias e tecnologias emergentes, sempre atualizando suas formas de expressão e criando novos signos e inter-relações.Item Registros do futuro: escrita íntima em Nós e Future Home of the Living God(2023-10-23) Garcia, Xarxel; Silva, Telma Maciel da; Simon, Luiz Carlos Santos; Cavalvanti, Ildney de Fátima SouzaA distopia é caracterizada pela imaginação de uma sociedade, normalmente localizada no futuro, significativamente pior do que a realidade de quem lê. O contraste é feito para servir como um aviso, um recado premonitório de onde se pode chegar caso não dermos a devida atenção aos problemas políticos de nossa comunidade. Nesse sentido, é curiosa a proeminência das escritas íntimas em obras desse gênero, datando influências desde a Utopia de Thomas More, livro no qual são encontradas cartas trocadas entre os idealizadores desse projeto como paratexto. Assim, essa pesquisa pretende unir as duas áreas do conhecimento, a fim de elucidar como a escrita íntima, com suas especificidades, contribui para a construção de mundo e personagem em histórias distópicas. As obras selecionadas para esse fim serão Nós de Iêvgueni Zamiátin e Future Home of the Living God de Louise Erdrich. Sendo essas obras com contextos bastante diferentes, será possível explorar vários aspectos da relação aqui ressaltada. Para isso será feita uma exposição das funções do gênero diário como escrita real, bem como os processos pelos quais esses documentos passam quando arquivados. Além disso, também será dedicado um espaço para discutir sobre os distanciamentos e aproximações da transposição do gênero diário para a ficção. Para abordar a distopia, serão desenhados os caminhos percorridos por esse gênero, realçando suas influências como a utopia, antiutopia e ficção científica. Também se pretende expor possíveis objetos de estudo com inscrições distópicas como caminhos possíveis que se acredita renderem interessantes pesquisas. Por fim, a análise abordará todos os assuntos expostos, revelando as instigantes interações da distopia com a escrita íntima, como a individualização do sujeito em meio a uma sociedade que tenta homogeneizá-lo; o ímpeto de criar registros pessoais em momentos de caos político e social; o repreendimento dessa forma de expressão, desincentivado e caçado pelo poder regente; o autoconhecimento gerado pela visão alcançada através da escrita; o endereçamento da escrita para outrem, ainda que seja íntima; e a confissão dos segredos íntimos como forma de dividir o peso do desvio da norma instaurada.Item Metrópolis: literatura e cinema a partir dos estudos de intermidialidade(2023-10-24) Carvalho, Marcio Luiz; Marques, Bárbara Cristina; Corrêa, Alamir Aquino; Klein, Alberto Carlos AugustoOs Estudos Literários têm absorvido, desde o início do século XXI, cada vez mais, pesquisas margeadas pelo conceito de Intermidialidade e pelas relações intermidiáticas entre objetos literários e outras mídias, especialmente aquelas cujo entrecruzamento entre escrita/palavra e imagens técnicas. Desde os Estudos Interartes, o diálogo entre literatura e cinema representa um caminho importante para o alargamento das noções do literário tanto quanto para os fenômenos estéticos que conjugam diferentes mídias em diversos processos. Essa dissertação pretende analisar as obras Metrópolis – filme de Fritz Lang (1927) e o livro-roteiro de Thea Von Harbou (1926) – tendo em vista os estudos teóricos em torno do conceito de Intermidialidade e das relações intermidiáticas comportadas no filme de Fritz Lang (1927) e em seu roteiro, publicado como livro por Thea Von Harbou, em 1926. Como agenda epistemológica para o campo das Artes e da Humanidades, as pesquisas sobre as relações intermidiáticas, sob as quais se encontram perspectivas como as Materialidades da comunicação, têm trazido um aporte teórico bastante profícuo à análise de fenômenos literários, fílmicos e comunicacionais em virtude de seu caráter transdisciplinar, bem como a relevância com que os media e as tecnologias ritualizam os efeitos de sentido em obras e sua recepção. Para além do território das adaptações, a compreensão do entrecruzamento de mídias distintas é sustentada na abrangência da dimensão material das obras (seja na palavra ou na imagem) de modo a propiciar debates mais alargados dos atos hermenêuticos na produção de sentido. Isso pressupõe avaliar de que maneira os aparatos técnicos e as condições materiais dos dispositivos são agenciadores de percepções implicadas diretamente na matéria sensível das obras tanto quanto no corpo do receptor. Embora Metrópolis seja um filme fundante para a cinematografia, portanto objeto de inúmeros trabalhos de pesquisa e de crítica, a relação com o roteiro/livro, de Thea Von Harbou, pensada a partir desse escopo teórico, pode representar um interessante estudo no campo das Letras, para o qual, ainda, as teorias acerca da Intermidialidade ocupam um lugar tímido.Item O “novo flâneur ” na trilogia de António Carlos Cortez(2024-01-22) Reis, Ana Cléa dos; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Silva, Telma Maciel da; Maffei, LuisA literatura contemporânea trata das especificidades de seu tempo, retratando sujeitos comuns com problemas e questionamentos que fazem parte do contexto sócio-histórico atual. Tais características da literatura contemporânea podem ser vistas nos poemas de António Carlos Cortez, poeta e crítico literário português. O escritor, por meio da sua trilogia poética, Animais Feridos, Corvos Cobras Chacais e Jaguar, construiu um universo carregado de subjetividade ao retratar um eu lírico com uma perspectiva intimista, um sujeito em crise que questiona constantemente o seu lugar no mundo. Esse estudo analisou os poemas do referido poeta pela perspectiva do flâneur de Charles Baudelaire. No entanto, buscamos ressaltar os afastamentos para confirmar uma nova configuração do flâneur construído por Cortez no decorrer das três obras. Dessa maneira, esta pesquisa propôs-se a realizar um estudo comparativo dos poemas, com o intuito de investigar como é realizada a construção e o desenvolvimento do eu lírico ao longo de toda a trilogia, resultando na constituição de uma nova flânerie, voltada para introspecção do flâneur, e culminando numa estratégia discursiva mais figurativa, através da persona “Jaguar”, elemento este originado a partir da fragmentação da identidade e do descentramento do sujeito lírico da obra homônima, pautados pelas modificações do mundo moderno, o qual afeta tal sujeito em suas singularidades. Para a análise dos poemas, abordaremos Charles Baudelaire e Walter Benjamin, visando compreender o conceito de flâneur e a sua nova relação com a cidade. Para compreender o desenvolvimento novo flâneur por meio da experiência partilhada, partiremos dos estudos de Rosa Maria Martelo e das ideias de descentramento do sujeito e identidade, tal como estas são apresentadas, respectivamente, por Stuart Hall, Fredric Jameson e Zygmunt Bauman. Em nosso entender, tais ideias caracterizam as interfaces sociais do novo flâneur, ou seja, são traços que afirmam a adaptação e a evolução de uma nova configuração do flâneur, conforme podemos constatar na poesia de Cortez, por meio das personas Jaguar e Humatan, o que nos leva ao flâneur híbrido.Item O papel do luto, do trauma e da memória em Todos os Santos (2019), de Adriana Lisboa(2024-03-19) Costa, Jeniffer Thalia do Prado da; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Santos, Adilson dos; Coqueiro, Wilma dos SantosO presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo da obra Todos os Santos (2019), de Adriana Lisboa, com ênfase nas temáticas do luto, do trauma e da memória. Para tanto, esta pesquisa divide-se em três partes. Na primeira, buscou-se levantar aspectos relacionados à fortuna crítica de Adriana Lisboa, bem como a recepção crítica do romance estudado, considerando os temas abordados. Na segunda parte, foi realizado um apanhado teórico acerca das temáticas, no intuito de compreender a construção da identidade dos personagens-principais, sobretudo da narradora-personagem, no que concerne à memória vinculada aos processos do luto e do trauma. A memória, como o pilar de toda a narrativa do romance, instaura um passado no tempo presente. É por meio desse plano narrativo que os personagens são apresentados. A consequência da rememoração empenhada pela personagem-principal é a aniquilação da sua própria personalidade, em decorrência do luto e do trauma pela morte do irmão, e o rompimento da estrutura familiar à qual estava vinculada. Na última parte, traçou-se a análise do romance, em relação à manifestação do trauma, do luto e da memória nos personagens centrais, Vanessa, André e os demais envolvidos no enredo, as consequências da ausência devido aos processos de luto, além de compreender de que forma isso corrobora a aniquilação da personalidade da narradora. A partir dos estudos empreendidos, compreende-se que a memória constrói a identidade do sujeito e que esse é mais pertencente ao passado do que ao presente.