Entre rasgos, rastros e fissuras : por uma poética do feminino em Adriana Varejão
Data
2022-03-06
Autores
Strenske, Cleidi
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Resumo
Esta dissertação trata da poética de Adriana Varejão e suas incursões na História do Brasil por meio de múltiplas fontes históricas, entre elas, a produção artística e literária referente ao período colonial, a saber, a literatura barroca de Manuel Botelho de Oliveira (1636 – 1711) e de Gregório de Matos (1636 - 1696), a pintura de Conde Clarac, (1819), de Nicolas-Antoine Taunay (1820) e de Frans Post (1637-1680), entre outras. Para isso, se fez necessário observar e isolar as unidades temáticas mínimas, no diálogo entre as duas modalidades artísticas, conforme Tomachevski (1976). Nossa hipótese consiste em observar a articulação de elementos femininos, feita por Varejão, e os desdobramentos do que se lê do passado, sob a perspectiva de construção de uma narrativa de contraconquista (LEZAMA LIMA, 1988). Por meio de fragmentos do passado, ora parodiados (HUTCHEON, 1991), ora submetidos ao procedimento estético da montagem (BÜGER, 1993), o corpus selecionado e investigado nesta dissertação cria novas narrativas acerca da nossa história e mostra seu avesso. A partir da constelação de fragmentos fontes históricas do passado que são aproximados, sobrepostos e recriados, a poética de Varejão faz ecoar a ideia de história não linear, constelar, sob o ponto de vista de Lezama Lima (1988) que, por sua vez, também é o procedimento metodológico desta dissertação. O cotejo interartes, então, permite provocar outras perspectivas, outras leituras, outros olhares para o nosso passado porque os recursos artísticos mobilizados pela artista plástica, tais como a montagem e a paródia, possibilitam a aproximação com a escrita literária e o que nela há dos discursos socioculturais do passado. Nesse sentido, ambas as manifestações artísticas, consideradas sob o ponto de vista dialógico (BAKHTIN, 2008), revelam um esclarecimento mútuo. Os novos/outros enredos que resultam desse processo suprimem leituras unilaterais que, antes, realçavam valores culturais, históricos e estéticos europeus, o que sugere o posicionamento decolonial do corpus eleito. Além disso, ao alçar o feminino a uma posição de protagonista frente a estes valores, a obra de Varejão compõe uma espécie de alegoria (BENJAMIN, 1987, 226) que representaria as violências e apagamentos típicos dos processos da colonização portuguesa que aparecem fragmentados em ambas as manifestações artísticas.
Descrição
Palavras-chave
Adriana Varejão, Narrativas de contraconquista, Barroco, Artes plásticas, Literatura brasileira, Artes plásticas - Brasil, Literatura barroca, Mulheres na literatura, Narrativas