O feminino multifacetado: uma leitura comparativa entre as obras de Edvard Munch e de Hilda Hilst

Data

2025-01-24

Autores

Monte, Ana Laura Lemes

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Resumo

A ideia desta dissertação baseia-se em uma organização não convencional, pois propõe um diálogo não-linear entre dois universos narrativos com modalidades e contextos de produção considerados distantes: a pintura simbolista/expressionista do norueguês Edvard Munch (1863-1944) e a poética da autora brasileira Hilda Hilst (1930-2004). A comparação interartes se faz possível ao observarmos o modo como ambos os artistas representam o feminino, uma vez que tanto Munch, na Europa do final do século XIX, quanto Hilst, no Brasil do século XX, flagram estética e historicamente a ascensão de três principais visões burguesas sobre as mulheres e as traduzem em suas obras: a mulher idealizadamente pura, destinada ao casamento; a mulher erotizada, mas vista como um perigo à família burguesa; e a mulher decadente, que não possui uma função definida dentro da sociedade burguesa e, portanto, torna-se ineficiente para ela. Nesse contexto, por meio do cotejo entre as obras selecionadas, evidencia-se uma oposição na intencionalidade de ambos os artistas, visto que Edvard Munch limita-se em figurar os diferentes atributos burgueses ligados ao feminino, enquanto Hilda Hilst interroga a permanência destas feminilidades ao propor uma lírica dos avessos (Sobrinho, 2013), por meio do resgate e reinversão de formas fixas clássicas – soneto, elegia, trovas e balada. Desse modo, ao reproduzir os moldes clássicos a partir de um eu lírico feminino, a temática ganha uma nova abordagem na poética de Hilst, contrapondo-se ao propósito de Munch e demonstrando a persistência temporal e intrínseca na sociedade ocidental sobre estes modelos de feminilidade, visto que a tradição constitui um processo conflituoso, de idas e vindas (Carvalhal, 2006). Assim, nosso cotejo entre obras de semelhança temática e, certa medida, formal, em contextos de produções tão distintos, considerando a linguagem poética e pictórica como um sistema dialógico (Bakhtin, 1981), permite-nos tecer os caminhos interpretativos a partir de uma leitura constelar que, tal como o fazer poético de Hilst, rompe com a linearidade das obras selecionadas, de seus sentidos e de seus discursos, inclusive reverberando nas manifestações da atualidade. Quando observamos, cotejamos e interligamos os elementos como uma constelação, surge a hipótese de que, sob o ponto de vista do masculino, os discursos que carregam os modelos burgueses de feminilidade são multifacetados e atemporais. Em outras palavras, consideramos que a idealização, a erotização e a decadência feminina sejam atributos contidos, ao mesmo tempo, em uma só mulher e em todas, de acordo com as necessidades de manutenção das sociedades regidas por discursos e práticas empreendidos por seguimentos dominantes, o que restringe ainda mais a possibilidade feminina de possuir uma plena identidade social (Kehl, 2016). Acreditamos, portanto, que este feminino multifacetado deve ser compreendido por uma metodologia não linear, de maneira a permitir que o observemos por outras perspectivas, outras leituras, outros olhares de modo a percebermos em que medida suas representações estão contidas em nosso passado e o modo como elas são refletidas no momento presente. Isto nos possibilita, ainda mais, questioná-las.

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Palavras-chave

Edvard Munch, Hilda Hilst, Feminilidades, Literatura comparada, Feminilidade na arte, Feminilidade na literatura, Diálogo

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