02 - Mestrado - Análise do Comportamento
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Item Efeitos de consequências culturais imediatas e atrasadas sobre entrelaçamentos contendo informações falsas(2024-06-28) Silva, Bruno Teixeira; Neves Filho, Hernando Borges; Haydu, Verônica Bender; Vasconcelos Neto, Aécio de Borba; Soares, Pedro Felipe dos ReisCom o alcance da internet e das comunicações em tempo real, a fake news se tornou um ponto de interesse público em diversas áreas devido aos seus efeitos danosos para a sociedade. Partindo do pressuposto de que a fake news é um fenômeno composto pelo comportamento humano, sobretudo no nível da cultura, este trabalho tem por objetivo examinar os efeitos da imediaticidade (ou atraso) na produção de diferentes consequências culturais (CCs) na seleção de culturantes verdadeiros ou falsos em 4 microculturas de laboratório compostas por 3 participantes cada. Em cada microcultura, os participantes receberam 1 ficha e de forma coletiva tinham que resolver um problema. O produto do entrelaçamento configurava um culturante verdadeiro – Cult V – ou um falso – Cult F. Cult V produzia, como CCs, informações verdadeiras e Cult F produzia informações falsas. Foi dito que essas CCs produzidas seriam entregues para uma escola de forma imediata ou atrasada a depender da condição experimental vigente. Para o estudo foram propostas 4 condições experimentais: A (Cult V – verdadeiras atrasadas e Cult F – falsas atrasadas); B (Cult V – verdadeiras imediatas e Cult F – falsas atrasadas); C (Cult V – verdadeiras imediatas e Cult F – falsas imediatas) e; D (Cult V – verdadeiras atrasadas e Cult F – falsas imediatas). Foi utilizado um delineamento experimental análogo ao de sujeito único com reversão sob diferentes condições programadas para cada microcultura: M1 (ABCBA); M2 (CBABC); M3 (ADCDA) e; M4 (CDADC). Após a realização dos experimentos foi feita uma coleta de dados suplementares a fim de investigar eventos privados relatados pelos participantes experimentados durante as sessões. Antes da primeira condição de cada microcultura foi realizada uma fase de treino designada como Condição “Habituação” a fim de garantir que os participantes iniciassem a primeira condição do experimento sabendo a lógica da tarefa a ser desempenhada. Os resultados de uma forma geral indicaram uma seleção maior de Cult V em todas as condições de todas as microculturas. Excetuando M3, houve uma variação na seleção de Cult F correspondente à produção de CCs falsas imediatas ou atrasadas, ou seja, as condições em que Cult F produziu CCs falsas imediatas foram melhor suprimidas e as condições em que Cult F produziu CCs falsas atrasadas tiveram uma maior produção. Dados suplementares indicam o papel de outras variáveis no controle do comportamento de desinformar. A partir dos dados aqui propostos é possível supor que há uma necessidade de se investigar outras variáveis ambientais presentes na fake news a fim de se criar uma base empírica robusta, a partir da Análise do Comportamento, que possibilite o planejamento de estratégias mais efetivas de mitigação da fake news. A partir dessa base empírica, por fim, ensaia-se os primeiros passos da construção de um arcabouço epistemológico para uma Análise do Comportamento Aplicada à Desinformação.Item Análise curricular de cursos de pós-graduação brasileiros em análise do comportamento aplicada ao autismo(2024-07-19) Cristante, Giovana Regina da Silva; Freitas, Maria Clara de; Santos, Juliana Pinto dos; Murari, Silvia CristianeNas últimas décadas, houve um aumento exponencial no número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA), tornando este um transtorno altamente prevalente. Apesar desse crescimento significativo, nem toda a população autista tem acesso ao tratamento adequado. Estudos indicam que uma intervenção baseada em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) abrangente, intensiva e precoce resulta em melhorias significativas no desenvolvimento de autistas. Um critério preditor de uma intervenção efetiva é a qualidade da formação dos profissionais que atuam nas intervenções em ABA para TEA. Existem órgãos de certificação internacionais que credenciam esses profissionais, visando garantir o cumprimento de pré-requisitos para o exercício da função, como formação teórica, filiação em conselhos profissionais e prática supervisionada. As certificações têm sido um mecanismo eficaz para assegurar a qualidade no padrão de atuação. Em 2023, foi lançada uma proposta de certificação profissional brasileira, chamada CABA-BR, nos mesmos moldes dos órgãos internacionais. Com o aumento no número de diagnósticos, há também a necessidade de aumentar a oferta de cursos de pós-graduação que formam esses profissionais para atuar na área. No Brasil, os cursos de pós-graduação lato sensu em ABA têm se multiplicado nos últimos anos, sendo responsáveis, em grande parte, pela formação e especialização dos profissionais que trabalham na área que está em expansão. Como são esses cursos, seus currículos e índices de adequação e qualidade, bem como os impactos de tais aspectos tanto na formação do profissional analista do comportamento quanto na qualidade do atendimento realizado por ele junto a autistas ainda são perguntas que carecem de respostas. Com isso em vista, este trabalho teve por objetivo analisar as grades curriculares dos cursos de pós-graduação lato sensu em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo reconhecidos pelo MEC - Ministério da Educação, tendo como critério as recomendações de formação expressas no manual de certificação de prestadores de serviços de intervenções baseadas em ABA para TEA/Desenvolvimento Atípico (CABA-BR), do grupo IBES. Foram analisadas as grades curriculares de 15 cursos, e os resultados confirmam o aumento exponencial na abertura de cursos, além de apontarem para uma heterogeneidade nos conteúdos programáticos, sugerindo uma falta de padronização na formação profissional neste nível de ensino. Discute-se as implicações possíveis destes dados no serviço prestado pelo profissional formado e sugere-se caminhos futuros para ampliação dessa linha de avaliação. A presente pesquisa representa uma análise preliminar que poderá contribuir com a produção de conhecimento e favorecer o desenvolvimento da profissão e do ensino de análise do comportamento aplicada ao TEA no Brasil, com a garantia da oferta de um serviço de qualidade aos autistas e suas famílias.Item Negligência e comportamento criminoso na literatura analítico-comportamental: uma revisão integrativa(2024-07-10) Santos, Maria Cecília Bonfim dos; Gallo, Alex Eduardo; Santos, Walberto Silva dos; Filgueiras, Guilherme BracarenseRegras e normas de diversas sociedades pelo mundo estabeleceram uma relação da humanidade com o crime. A incidência criminal é um fenômeno que se configura como uma questão de dimensões expressivas e que apresenta grande impacto social e econômico. Teóricos de diversas áreas têm buscado identificar causas para o comportamento criminoso desde o século XVIII: na Economia, esforços nesse sentido se concentram na existência de uma possibilidade de escolha individual, livre de tendências ou propensões (Teoria da Racionalidade), e na tentativa de considerar o maior número possível de variáveis para explicar o comportamento criminoso (Economia Comportamental). No século XIX, a teoria de Cesare Lombroso, médico higienista, surgiu para atribuir às características físicas da pessoa o fato de que ela cometeria um crime (Teoria do Criminoso Nato). Na área do Direito Penal há a definição se o indivíduo cometeu um crime por meio de normas legais, apoiando-se em uma política punitiva de encarceramento em massa que sentencia jovens negros de baixa renda e com baixa escolaridade à exclusão e à opressão. Apesar disso, existe pouco consenso acerca do que pode estar relacionado às causas do ato criminal. A Análise do Comportamento (AC) coloca a necessidade de conhecer o maior número possível de variáveis que controlam o comportamento do indivíduo, assumindo a existência de uma relação entre organismo e ambiente. Entender aspectos sociais, econômicos e de saúde faz parte do processo de elencar fatores de risco e de prevenção para a ocorrência da conduta infracional. Entende-se que a família atua como agência de controle ao promover a socialização de seus membros em uma noção mais ampla de sociedade e a inserção destes em outras agências de controle, sendo a negligência apontada como um fator de risco para o comportamento criminoso. Desta forma, considerando que pais e cuidadores são capazes de evitar comportamentos tidos como indesejáveis, mapear o uso do termo “negligência” nos estudos analítico-comportamentais que mencionam comportamento criminoso e/ou crime faz-se necessário como um passo inicial a fim de viabilizar diferentes estratégias de intervenções. Com este objetivo, realizou-se um estudo de natureza bibliográfica integrativa, dividida em seis etapas: delimitação de palavras-chave, definição dos critérios de seleção dos textos, busca e armazenamento dos artigos, seleção dos materiais, leitura e sistematização dos materiais e análise bibliométrica dos dados. Utilizou-se combinações específicas de palavras-chave relacionadas à negligência, ao crime/comportamento criminoso, e à produção específica de Análise do Comportamento. Uma busca em bases de dados nacionais e internacionais foi realizada, resultando em um total de 804 referências identificadas. Dentre essas, 25 artigos que atendem aos critérios de inclusão e de exclusão foram selecionados, sendo todos apenas em bases de dados internacionais, o que aponta a ausência de estudos publicados nas bases de dados e nos periódicos nacionais. Os artigos analisados foram organizados em tabelas que compilaram informações sobre dados bibliométricos e sobre natureza das pesquisas. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para as discussões que endossem o progresso de uma Análise do Comportamento que esteja compromissada com questões sociaisItem Uma caracterização do behaviorismo de B. F. Skinner em sua própria obra(2024-08-30) Nobuhara, Marcos Muryan; Lopes, Carlos Eduardo; Azoubel, Marcos Spector; Laurenti, CarolinaSkinner mencionou pela primeira vez a expressão Radical behaviorism em 1945. No entanto, isso não implica que um Behaviorismo skinneriano já não estivesse em desenvolvimento antes dessa data. Embora já exitam propostas para rastrear a origem do significado da expressão Radical behaviorism, ainda falta uma análise sistemática das obras de Skinner e considerar outras expressões para além da expressão Radical behaviorism. Por conta disso, o objetivo da pesquisa é elaborar uma definição do Behaviorismo skinneriano a partir das obras de Skinner. Para atingir esse objetivo, foi feita uma pesquisa de natureza teórico-conceitual, executada em três passos. A primeira etapa buscou contabilizar e analisar as menções de expressões nas obras selecionadas. A segunda etapa teve o objetivo de analisar os usos de expressões em determinados trechos das obras, descrevendo o(s) uso(s) das expressões e outras informações relevantes. A terceira etapa produziu diferentes tipos de categorias de uso que ajudaram a responder perguntas norteadoras previamente confeccionadas. Essas perguntas foram respondidas por meio de dois tipos de análises dos usos das expressões: cronologia do emprego da(s) expressão(ões) e caracterização do Behaviorismo skinneriano. Com base nessas análises, constatou-se que Skinner já vinha desenvolvendo seu Behaviorismo antes de 1945, como uma filosofia que defende a autonomia epistêmica do comportamento. Embora esse significado tenha surgido no início de sua carreira, ele se manteve presente até seus últimos textos. A autonomia epistêmica é central para uma definição do Behaviorismo, pois ela: i) foi necessária para o desenvolvimento de outras características do Behaviorismo; ii) promove a compreensão e interpretação do comportamento humano; e iii) permite uma investigação científica e eficaz do comportamento humano. No fim, uma definição compreensiva e sucinta do Behaviorismo skinneriano foi elaborada a partir das análisesItem A discussão de questões sociais em encontros da ABPMC no período 2005-2020(2024-08-26) Jardim, Letícia de Assis Pereira; Lopes, Carlos Eduardo; Laurenti, Carolina; Pompermaier, Henrique MesquitaA análise do comportamento tem sido historicamente criticada por, supostamente, não se envolver com questões sociais ou por dispor de um conhecimento que serviria apenas às classes dominantes. Críticos sugerem que a análise do comportamento seria reacionária, antidemocrática e desumanizante. Ainda que muitas argumentações sejam infundadas, considerar a literatura crítica é importante para o avanço da ciência do comportamento. Nesse sentido, autores da própria área desenvolveram trabalhos críticos quanto ao pouco envolvimento de analistas do comportamento com questões sociais apesar da compatibilidade teórica. O presente trabalho se propôs a investigar o quanto de fato esse envolvimento com questões sociais tem sido exercitado pelos analistas do comportamento brasileiros. Enquanto pesquisas anteriores buscaram analisar publicações realizadas em periódicos, esta pesquisa teve como objetivo analisar os trabalhos sobre questões sociais apresentados nos encontros da Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC). Para cumprir o objetivo foi empregado o método de pesquisa documental, tendo como fonte de dados os Anais e cadernos de programação dos encontros da Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC) de 2005 a 2020. Os Planos Plurianuais (PPA’s) do Governo Federal relativos ao mesmo período serviram de base para o levantamento das principais questões sociais brasileiras e as correspondentes palavras-chave. A análise dos dados foi realizada de forma quantitativa a partir de algumas perguntas norteadoras: a) Quanto? (Número de publicações relativas à questões sociais); b) Quem? (Identificar os autores com maior número de apresentações sobre questões sociais) e c) Qual o prestígio? (Nível de prestígio a partir da categoria da apresentação - Curso/Conferência/Palestra; Simpósio, mesa-redonda, primeiros-passos; Comunicação oral e Painel). Como resultado foi possível observar que apenas 10,95% dos trabalhos apresentados em encontros da ABPMC no período 2005-2020 correspondiam a questões sociais sendo que, dentro desse total, os eixos com maior porcentagem de apresentações foram Desigualdade Social, Educação e Segurança Pública, enquanto os eixos com menor representatividade foram Cidadania, Agricultura familiar e Desenvolvimento urbano. Quanto aos autores em destaque pela apresentação de trabalhos sobre questões sociais foi identificado que em sua maioria estavam relacionados ao contexto acadêmico (na docência ou cursando a pós-graduação) e eram mulheres. Em relação ao prestígio, os trabalhos se concentraram em maior porcentagem nas modalidades tidas como de menor nível de prestígio acadêmico, naquelas em que há submissão espontânea, compartilhamento do período de fala e submissão independente da necessidade de títulos, sendo o Relato de Experiência a modalidade com maior porcentagem de apresentações. A partir dos resultados foi possível problematizar algumas questões quanto ao envolvimento dos analistas do comportamento brasileiros com questões sociais e das políticas científicas propostas pela ABPMC. Entre as problematizações destaca-se a existência de algumas lacunas temáticas que têm sido pouco exploradas entre os analistas do comportamento, a necessidade de novos autores que dêem sequência nas linhas de pesquisa desenvolvidas por docentes renomados e que já se encontram próximo da aposentadoria e a importância das questões sociais ocuparem modalidades de prestígio para que seja possível ampliar as discussões e o número de analistas do comportamento envolvidos com o temaItem Análise culturo-comportamental das paradas do orgulho LGBT+ de São Paulo(2024-08-21) Ferrari, Andressa Chrischner; Melo, Camila Muchon de; Mizael, Táhcita Medrado; Vasconcelos Neto, Aécio de Borba; Baia, Fábio HenriqueO movimento social de minorias sexuais e de gênero no Brasil surge na década de 70 e em 1997 ocorre a primeira Parada do Orgulho LGBT+ da cidade de São Paulo. A Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ é um fenômeno social que surge como instrumento de visibilidade e luta política das minorias sexuais e de gênero e ocorre em várias cidades do país. Em 2004, a Parada da cidade de São Paulo atingiu recorde de público, reuniu aproximadamente 1,8 milhões de pessoas e foi considerada a maior do mundo. Fenômenos culturais como os movimentos sociais e seus eventos podem ser estudados por analistas do comportamento por meio de ferramentas conceituais como a metacontingência. Não foi encontrado na literatura da Ciência Culturo-comportamental estudos referentes às minorias sexuais e de gênero. O objetivo geral do presente estudo foi realizar uma análise culturo-comportamental das Paradas do Orgulho LGBT+ de São Paulo. Os objetivos específicos foram: caracterizar a Parada do Orgulho LBGT+ da cidade de São Paulo; descrever as práticas culturais relacionadas às Paradas, a partir dos conceitos da Ciência Culturo-comportamental, por meio da sistematização e categorização de reportagens da Folha de São Paulo; identificar as possíveis relações entre as práticas culturais relacionadas às paradas e o contexto sócio-histórico vigente (cultural milieu); identificar as possíveis relações entre as paradas e avanços em direitos humanos para LGBTQIAPN+. Trata-se de uma pesquisa de natureza documental em que as fontes são: sites oficiais da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT) e reportagens publicadas no jornal Folha de São Paulo, entre 1997 e 2021, que noticiam práticas culturais referentes ao evento. Para tratamento e análise dos dados, as reportagens foram sistematizadas e categorizadas em: Evento, Outros Eventos, Agências de Controle, Práticas LGBTfóbicas e Práticas pró-LGBTQIAPN+. A mesma reportagem poderia se enquadrar em mais de uma categoria. A partir de alguns dados foi possível construir gráficos ou tabelas (e.g., quantidade de público, dados de policiamento, entre outros). Para descrição das práticas a partir dos conceitos da Ciência culturo-comportamental foram elaboradas representações gráficas das contingências comportamentais entrelaçadas, produto agregado e eventos ambientais selecionadores. O cultural milieu também foi uma variável considerada e representada na maioria das figuras. Os dados referentes a quantidade de reportagens foram analisados por meio de gráficos. Resultados mostram que o período de 2005 a 2013 concentra o maior número de publicações e ocorre um declínio considerável a partir de 2015. Na maioria dos anos, o número de publicações foi maior no dia do evento, com poucas exceções. Práticas culturais de financiamento mudaram no período analisado. As agências governamental e religiosa participaram das paradas. O Governo esteve presente por meio de organizações municipais (trânsito e segurança), estaduais e federais (secretarias: cultural, turismo). A agência religiosa foi contexto para escolha de temas e para críticas nas manifestações. Há uma rede complexa de metacontingências que gera as paradas como produto agregado. Mudanças no cultural milieu, como a pandemia de Covid-19 em 2020 e 2021, exigiram adaptações significativas na organização desses eventosItem A presença de aspectos feministas nos estudos analítico-comportamentais nacionais com termos relativos a gênero e sexo femininos(2024-08-02) Backschat, Letícia de Paula Von; Laurenti, Carolina; Melo, Camila Muchon de; Clemente, Cláudia Kami Bastos OshiroO comportamento feminino tem sido objeto de investigação sistemática em dois campos de estudo na psicologia, sendo eles a psicologia da mulher e a psicologia feminista. Embora ambos tenham surgido nos anos de 1970 nos Estados Unidos, a psicologia da mulher se propõe a investigar comportamentos específicos das mulheres, porém sem necessariamente pautar suas discussões nas relações de poder e opressão que afetam homens e mulheres de diferentes maneiras em contextos sociais e históricos patriarcais, como a psicologia feminista se dispõe. Considerar uma perspectiva feminista de gênero possibilitaria compreender o comportamento feminino como resultado de uma história pessoal entrelaçada com contextos de desigualdade de gênero, permitindo também questionar e buscar alterações em práticas e teorias psicológicas, tornando a psicologia mais justa e igualitária. Os primeiros artigos analítico-comportamentais nacionais que exploraram relações entre feminismo e Análise do Comportamento datam de 2014, 2016 e 2017. Tendo em vista que já se passou quase uma década da primeira publicação de um artigo nacional sobre feminismo e Análise do Comportamento, o que tem mudado nas discussões sobre comportamento feminino nos estudos analítico-comportamentais? Pensando nisso, o objetivo desta pesquisa foi apresentar um panorama a respeito de quando e como aspectos feministas tornaram-se presentes nos estudos analítico-comportamentais brasileiros com termos sobre gênero e sexo femininos. Para isso, inicialmente, foi realizado o download de todos os volumes e números dos principais periódicos nacionais especializados em Análise do Comportamento, sendo eles: Revista Brasileira de Análise do Comportamento; Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva; Perspectivas em Análise do Comportamento, mais a Acta Comportamentalia. Por meio do mecanismo Ctrl+F foi buscado o conjunto de palavras-chave: mulher, feminino e fêmea e seus respectivos plurais. Os critérios de inclusão foram artigos publicados a partir de 2003, que consistissem em pesquisa teórica, básica ou aplicada, que utilizassem a orientação analítico-comportamental e que apresentassem ao menos três ocorrências de alguma das palavras-chave mencionadas anteriormente no corpo do texto, repetidas ou não. Os artigos foram divididos em dois períodos de publicação diferentes, sendo eles de 2003 a 2013 e de 2014 a 2023. Essa separação visou quantificar as publicações selecionadas apresentadas antes e depois das primeiras publicações feministas analítico-comportamentais nacionais. A análise quantitativa apresentou a catalogação das 1591 publicações coletadas em periódicos nacionais no período de 2003 a 2023. Dentre todos os artigos selecionados, 142 (8,9%) foram escritos em português, baseados no comportamentalismo radical e apresentaram ao menos três ocorrências de uma ou mais palavras-chave mencionadas anteriormente dos quais 42 (29,5%) apresentaram aspectos feministas em suas discussões. Com base na análise realizada, foi possível constatar que, embora a Análise do Comportamento tenha se proposto a discutir questões femininas, a aproximação com o feminismo ainda é escassa. No entanto, 90% dos textos com aspectos feministas selecionados correspondem ao segundo período (2014-2023), o que sugere uma influência significativa das primeiras publicações nacionais feministas na maneira como a área tem estudado o comportamento feminino. Esse aumento indica que, apesar de as discussões em periódicos nacionais especializados ainda majoritariamente não abordarem aspectos feministas, esse cenário está mudando. Observa-se uma tendência crescente de integração de perspectivas feministas, o que pode enriquecer e diversificar as abordagens na Análise do Comportamento, promovendo uma compreensão mais completa e crítica das experiências das mulheresItem Avaliação do Jogo Kahala para Ensino de Comportamentos Pré-requisito do Empatizar a Crianças(2024-06-26) Sanches, Poliana Fernandes Mesquita; Gil, Silvia Regina de Souza Arrabal; Perkoski, Izadora Ribeiro; Faleiros, Pedro BordiniEmpatizar é um comportamento constituído por diferentes comportamentos pré-requisito passíveis de ensino por meio do arranjo de contingências. Seu ensino contribui para um melhor desempenho acadêmico e desenvolvimento de outros comportamentos sociais. O ensino de comportamentos – tais como manejo de situações de bullying, comportamentos sociais acadêmicos, reconhecimento de emoções e o responder às necessidades do outro – têm sido realizados por meio de jogos educativos, o que sugere a viabilidade de seu uso para o ensino do empatizar. O objetivo do presente estudo foi avaliar o jogo educativo Kahala quanto aos aspectos de usabilidade, engajamento e ensino da classe de comportamento “responder às necessidades do outro de acordo com a situação vivenciada” a crianças. O jogo Kahala é um jogo analógico desenvolvido para ensinar os comportamentos pré-requisito do empatizar: (a) identificar as necessidades do outro; (b) identificar recursos disponíveis que poderiam ser compartilhados com o outro de acordo com a situação vivenciada; (c) responder às necessidades do outro de acordo com a situação vivenciada. Destaca-se que os comportamentos referentes aos Itens a e b são pré-requisitos para a classe geral de comportamento referente ao Item c.. O enredo do jogo se passa em um contexto pós-apocalíptico, em que o personagem do jogador precisa ajudar os demais personagens fornecendo os recursos de que eles necessitam. Participaram do estudo quatro crianças na faixa etária de 8 a 9 anos. Foi utilizado um delineamento de linha de base múltipla entre participantes. Na fase de Pré-teste (duas primeiras sessões) foi aplicado o questionário QACEC (Questionnaire to Assess Affective and Cognitive Empathy in Children), a Situação Avaliativa e (c) o Jogo “Caçador de Arco-Íris”. Na fase de Intervenção (terceira à sexta sessão), foi usado o jogo Kahala. A fase de Pós-teste (duas últimas sessões) foi equivalente à de Pré-teste. Para avaliação da aprendizagem dos comportamentos-objetivo do jogo comparou-se o desempenho dos participantes no Pré e Pós-teste e durante as sessões. Em relação aos resultados obtidos por meio do QACEC, a maioria dos participantes apresentou um aumento na pontuação dos questionários aplicados no pós-teste em comparação aos do pré-teste. Tanto no jogo “Caçadores de Arco-Íris” quanto no Kahala, os participantes apresentaram alta porcentagem de acerto. Observou-se uma diminuição progressiva na dificuldade dos participantes com o jogo ao longo da intervenção, sugerindo uma boa usabilidade do Kahala. A alta frequência de comentários positivos, predominantes na maioria das sessões para todos os participantes, indica um engajamento positivo com o jogo. Por fim, os resultados dessa pesquisa além de demonstrarem a possibilidade de aplicação do Jogo Kahala para o seu público-alvo, indicam que ele pode ser usado para o ensino de comportamentos pré-requisito do empatizar. Apesar das mudanças no sentido da melhora para alguns comportamentos pré-requisito do empatizar, ainda são necessários mais estudos que aprimorem o jogo e o avaliem com uma amostra maior de participantes.Item Intervenção sobre processos de luto prolongado por morte em adultos: comportamentos requeridos do psicólogo(2024-02-26) Krueger, Thayná; Kienen, Nádia; Silva, Silvia Aparecida Fornazari da; Gil, Silvia Regina de Souza ArrabalO luto é um processo natural que faz parte da experiência humana. Contudo, esse processo pode se revelar uma vivência intensamente dolorosa, levando os enlutados a buscarem auxílio psicológico para enfrentar as consequências provenientes das contingências relacionadas ao luto. Os psicólogos podem se deparar com a necessidade de prestar atendimento a pessoas enlutadas nos mais diversos contextos em sua prática profissional. No entanto, para que o psicólogo possa fornecer suporte psicológico adequado, é necessário que ele tenha sido devidamente capacitado e possua uma compreensão clara e objetiva dos comportamentos necessários para intervir em processos de luto por morte em pessoas adultas. Porém, existem lacunas na formação quanto aos comportamentos que o psicólogo deve apresentar para realizarem esse tipo de intervenção. O objetivo da presente pesquisa foi propor classes de comportamentos constituintes da classe geral "intervir junto a pessoas adultas em processos de luto por morte", a serem apresentadas por psicólogos em sua atuação profissional. Para a pesquisa, o artigo “Complicated grief therapy for clinicians: An evidence-based protocol for mental health practice” foi utilizado para derivar e propor as classes de comportamento constituintes da intervenção do psicólogo em processos de luto por morte. O estudo utilizou os procedimentos da Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC), que é uma tecnologia derivada dos conhecimentos produzidos pela Análise Experimental do Comportamento que pode auxiliar na proposição de classes de comportamentos. O procedimento foi constituído por 9 etapas: identificação e seleção de trechos que contivessem componentes comportamentais; registro e destaques desses trechos; registro dos trechos nas colunas correspondentes; derivação dos componentes comportamentais não especificados; proposição de nomes para as classes de comportamentos; avaliação da linguagem; adequação da linguagem; organização e categorização das classes de comportamento. Os resultados permitiram a proposição de 221 classes de comportamentos que constituem a classe geral “intervir junto a pessoas adultas em processos de luto prolongado por morte”, as quais foram organizadas em cinco categorias. A categoria com maior quantidade de classes de comportamentos foi justamente a “Intervenção sobre as variáveis do processo de luto” que apresenta os comportamentos do psicólogo para intervir nas dificuldades vivenciadas pelo enlutado e auxiliá-los a aceitar e integrar o seu luto a uma nova vida após a perda. Estas intervenções incluem a psicoeducação, o manejo das emoções, a elaboração de planos para o futuro, a construção de novos relacionamentos, a promoção do contato com as memórias do falecido e construção de um novo relacionamento com as memórias do falecido. Outras categorias relevantes, são: “Solicitação de relato”, “Avaliação do caso”, “Promoção de um ambiente terapêutico acolhedor” e “Cuidados ético-profissionais”, que são categorias necessárias a todos os atendimentos psicológicos e que dão suporte a uma intervenção eficiente em processos de luto. Essa proposição das classes de comportamentos pode contribuir para a elaboração de programas de capacitação para os psicólogos que são requeridos a intervir em processos de luto prolongado.Item Criatividade em B. F. Skinner: interface entre ontogênese e cultura(2024-07-19) Gomes, Laryssa Rodrigues; Neves Filho, Hernando Borges; Carvalhal, Cassiana Sterza Versoza; Leite, Emerson Ferreira da CostaA criatividade é um fenômeno natural e passível de investigação científica, sendo possível localizá-la no âmbito do estudo sistemático do comportamento humano. A Análise do Comportamento, ciência proposta por B. F. Skinner, tem como objeto de estudo o comportamento. Para essa teoria, a criatividade está intimamente relacionada à novidade, mas sua compreensão deve estar pautada em uma visão histórica, relacional, funcionalista e selecionista do comportamento. Apesar das contribuições dessa área de estudo nas discussões sobre criatividade e cultura, a Análise do Comportamento tem sido alvo de críticas que questionavam sua capacidade de abordar adequadamente o fenômeno criativo. Essas críticas destacavam a dificuldade da abordagem analítico-comportamental em integrar discussões sobre criatividade e cultura de maneira satisfatória. Assim, o objetivo deste estudo foi propor, por meio de uma pesquisa teórico-conceitual, uma discussão interpretativa da criatividade nos textos de Skinner e suas possíveis vinculações e desdobramentos no nível ontogenético e cultural. Para tanto, a metodologia adotada foi a aplicação do Procedimento de Interpretação Conceitual de Texto (PICT) em textos fundamentais de B. F. Skinner. Os livros foram consultados em formato digital e o recurso de busca eletrônica no interior do texto foi utilizado para viabilizar uma busca direta do radical “creativ”. Com base nos resultados obtidos, foram criadas três categorias de análises, sendo elas: (i) Criatividade e Behaviorismo Radical; (ii) Criatividade e ontogênese; (iii) Criatividade e cultura. Na primeira categoria, foram discutidos os aspectos ontológicos e epistemológicos do Behaviorismo Radical que amparam o estudo da criatividade nesta abordagem. Na segunda categoria, foram elencados dois tipos principais de criatividade mencionadas pelo autor no nível ontogenético, sendo eles: a criatividade artística, a qual o problema a ser resolvido é menos explícito e a dificuldade seria a própria variação; e a criatividade do aluno criativo, que possui uma finalidade específica pautada na resolução de problemas mais explícito. Por fim, a terceira categoria de análise discutiu a criatividade como um valor secundário a ser adotado no planejamento cultural, uma vez que ela se constitui como uma ferramenta capaz de promover a sobrevivência da cultura e promover repertórios de contracontrole em relação aos poderes hegemônicos. Pautando-se nessas discussões, espera-se que esta pesquisa constitua uma base teórica para trabalhos futuros que visem aprofundar os debates sobre a interface entre ontogênese e cultura a partir do âmbito da criatividade.Item Uma revisão sistemática de artigos experimentais acerca da variabilidade comportamental: definições, procedimentos e medidas(2024-02-29) Morais, Lorena Ribeiro de; Neves Filho, Hernando Borges; Knaus, Yulla Christoffersen; Fonseca Júnior, Amilcar RodriguesA variabilidade é um conceito debatido na filosofia da ciência e, similarmente, a Análise do Comportamento tem se debruçado sobre as suas interpretações e implicações. A despeito das discussões teórico-filosóficas acerca da sua origem e natureza, os analistas do comportamento parecem concordar que ela está presente mesmo nas condições experimentais mais bem controladas, pois sempre há diferenças entre duas instâncias comportamentais. Estudos demonstraram que níveis de variabilidade comportamental podem ser postos sob controle das contingências sob as quais ocorrem. Alguns autores afirmam que esse controle, ao menos em parte, é exercido pelas consequências, ou seja, defendem que níveis de variabilidade podem ser reforçados. Existem, porém, outros autores que interpretam os dados sobre a variabilidade operante afirmando que ela não está sendo reforçada, mas apenas induzida, ou eliciada, pelas contingências. Ademais, apesar da alta replicabilidade dos estudos realizados quanto a variabilidade comportamental, existem considerações pertinentes a serem feitas. A primeira e possivelmente a maior delas, está na dificuldade em definir o que é variação ou, em outros termos, em estabelecer um critério consistente para avaliar níveis de variabilidade. Os procedimentos utilizados para engendrar níveis maiores de variabilidade são diversos, e há também uma variedade nas respostas e propriedades estudadas. Além disso, autores utilizam diferentes medidas para calcular e avaliar níveis de variabilidade. Assim, a despeito da literatura acerca da variabilidade comportamental ser extensa, conclusões acerca do fenômeno – se a variabilidade pode ser reforçada ou apenas induzida, por exemplo – são dificultadas pela diversidade de definições, procedimentos e medidas adotadas para o seu estudo. De modo à contribuir com essa problemática, o presente trabalho se propunha a compilar, categorizar e analisar comparativamente definições de variação, procedimentos para o estabelecimento de um critério de reforçamento e medidas de níveis de variabilidade utilizados por analistas do comportamento em artigos experimentais publicados entre 2012 e 2022, nacionais e internacionais, que tenham a variabilidade comportamental como tema central. O procedimento para coleta e análise dos dados foi inspirado pelo protocolo PRISMA, com adaptações Após a leitura e análise dos artigos foi realizada uma discussão acerca das definições utilizadas pelos autores, bem como os procedimentos e medidas adotados. Verificou-se que a maior parte dos autores adotou uma definição de variabilidade como equiprobabilidade e utilizou procedimentos de Lag n ou limiar de frequência relativa. O método de calculo mais utilizado foi o da frequência de emissão e valor U. Espera-se que o presente trabalho tenha auxiliado a elucidar o estado atual das pesquisas experimentais acerca da variabilidade comportamentalItem Contraste comportamental positivo é função da redução da taxa de reforços ou da taxa de respostas?(2023-09-19) Teixeira, Luan Mendes; Costa, Carlos Eduardo; Neves Filho, Hernando Borges; Alo, Raquel MoreiraContraste comportamental positivo ocorre quando, em um programa de reforço múltiplo, observa-se o aumento na taxa de respostas em um componente com as contingências inalteradas em função da diminuição na taxa de reforços em outro componente. Alguns trabalhos têm questionado se o efeito de contraste ocorre pela alteração da taxa de reforços em um componente ou se ocorre porque a taxa de respostas no componente alterado muda quando a taxa de reforços é alterada. O objetivo dessa pesquisa foi (1) replicar, com humanos adultos, o procedimento mais comum para observar o efeito de contraste comportamental (i.e., múltiplo VI VI na Linha de Base e múltiplo VI EXT no teste) – Experimento 1 (usando a pressão ao botão do mouse de um computador como operandum) e Experimento 2 (usando botões de mola como operanda); (2) avaliar a ocorrência do contraste comportamental aumentando a força exigida para responder (mantendo-se a taxa de reforço constante) em um dos componentes de um programa múltiplo VI VI com botões de mola como operandum – Experimento 3. De modo geral, os resultados sugerem que contraste comportamental ocorreu para a maioria dos participantes em pelo menos um dos testes em todos os experimentos. Os dados dos Experimentos 1 e 2 replicaram os principais achados da literatura e o Experimento 3 mostrou que é possível obter contraste comportamental sem alterações relevantes na taxa de reforço do componente alterado. Apesar das condições do componente alterado terem piorado durante os testes (Extinção ou aumento da exigência da força para responder), a redução da taxa de respostas neste componente não ocorreu para todos os participantes que apresentaram contraste comportamental, o que pode lançar dúvidas sobre quais variáveis são responsáveis pelo contrasteItem Manejo de contingências e redução de danos: aplicações e implicações(2023-12-14) Silva, Carolina Pedroza Barros da; Gallo, Alex Eduardo; Aranha, Alan Souza; Filgueiras, Guilherme Bracarense; Tatmatsu, Daniely Ildegardes BritoA relação da humanidade com substâncias psicoativas (SPAs) é longa e documentada em diversas localidades. A despeito disso, as políticas sobre drogas mundialmente adotadas priorizam um modelo repressivo de redução da oferta e criminalização de usuários, compreendendo o uso como um problema moral e/ou patológico, causando consequências deletérias para uma parcela da população. A Redução de Danos (RD) surgiu em contestação a esse paradigma, sendo um conjunto de práticas objetivando a diminuição de consequências aversivas do uso de SPAs, sem necessariamente eliminá-lo. A Análise do Comportamento (AC) também possui modelos explicativos sobre o consumo de SPAs, como os da economia e da farmacologia comportamental. Baseado nesses modelos, o Manejo de Contingências (MC) é uma das intervenções mais respaldadas na literatura para o tratamento do uso de substâncias, embora também seja alvo de críticas. O objetivo deste trabalho foi analisar criticamente intervenções com MC e com RD por meio de categorias norteadoras inspiradas no trabalho de James G. Holland. Para isso, foi realizada uma análise interpretativa e comparativa dividida em três etapas: 1) revisão de literatura de intervenções com MC, 2) revisão de literatura de intervenções com RD, 3) elaboração de categorias e análise dos textos. Os textos foram analisados em função das categorias: 1) variáveis explicativas, 2) comportamento-alvo da intervenção, 3) procedimentos, 4) papel do usuário e 5) resultados relatados. Nos 12 trabalhos com MC predominou uma análise molecular do consumo, 91% objetivaram a abstinência do usuário verificando-a por meio de marcadores biológicos, 41% apresentaram possibilidade de feedback dos usuários, mas nenhum relatou contribuição de usuários de drogas na elaboração ou condução da intervenção, 58% apresentaram resultados significativos da intervenção, 41% conduziram follow-up e um deles apresentou resultado favorável após o término da intervenção. Nos 16 estudos com RD, prevaleceu uma análise molar do consumo, foram rastreados onze objetivos distintos, foi usado majoritariamente autorrelato, 56% apresentaram possibilidade de feedback e três relataram a participação do usuário na elaboração ou condução da intervenção, 75% apresentaram resultados significativos, 50% realizaram follow-up e seis deles apresentaram resultado favorável. Intervenções com MC têm privilegiado a influência de antecedentes e consequentes diretos do uso, circunscrevendo suas análises e práticas à instalação de abstinência do usuário, mantendo-se impermeáveis às contribuições desse público e demonstrando pouco impacto à longo prazo. Já intervenções com RD têm destacado diversas contingências relevantes para o entendimento do uso de SPAs, objetivado a mudança de outros comportamentos além do uso por meio de estratégias diversas e apresentado maior interesse na contribuição do usuário na elaboração das intervenções. Questiona-se a efetividade do MC, que opera um recorte do fenômeno descolando-o de condicionantes históricos e sociais, priorizando uma análise e intervenção molecular. A invariabilidade de objetivos, que prioriza abstinência, aproxima essa intervenção da perspectiva proibicionista. Intervenções com RD mostraram-se mais inclusivas, ampliando a compreensão sobre o fenômeno do uso de SPAs, alinhando-se aos próprios princípios e às práticas contraculturais que analistas do comportamento têm enfatizadoItem Contingências envolvidas no estudo do feminismo por analistas do comportamento brasileiras: uma investigação exploratória com as autoras do livro Debates sobre Feminismo e Análise do Comportamento(2023-09-25) Linhares, Yana; Laurenti, Carolina; Tatmatsu, Daniely Ildegardes Brito; Elias, Liana RosaA partir da primeira década dos anos 2000, estudos com orientação feminista têm sido produzidos na Análise do Comportamento brasileira. Uma obra que se destacou no contexto dessa visada feminista é o livro Debates sobre Feminismo e Análise do Comportamento. Nesse livro, diferentes temas da agenda feminista, como patriarcado, interseccionalidade, participação de mulheres na ciência, relacionamentos abusivos, violência de gênero, dentre tantos outros, foram abordados em dez capítulos. Dada a relevância dessa obra para a difusão de questões feministas na Análise do Comportamento, o objetivo deste trabalho foi apresentar um panorama das contingências envolvidas no estudo do Feminismo por pesquisadoras brasileiras que figuraram como autoras dos capítulos de Debates. Para tanto, foi realizada uma pesquisa empírico-exploratória com todas as 14 autoras do livro. As informações foram obtidas por meio de um roteiro de entrevista semiestruturada, que abordou questões a respeito de como se deu o contato das participantes com o movimento feminista, quais foram os temas investigados e se ainda os estudam, os obstáculos enfrentados, a importância do Feminismo para a Análise do Comportamento e as possibilidades de ampliar essa interface. As entrevistas foram realizadas e gravadas pelo Skype e transcritas na íntegra. As informações foram agrupadas em categorias temáticas, construídas com base em trechos representativos dos assuntos abordados nas entrevistas. Os resultados coligidos nessas categorias foram cotejados com a literatura especializada, o que permitiu evidenciar que o estudo de temas feministas pelas entrevistadas foi perpassado por aspectos que se assemelham aos indicados por pesquisas afins de outras áreas de conhecimento. Os resultados demonstraram que as entrevistadas tiveram de enfrentar diferentes contingências aversivas para estudar o tema, inclusive a crítica de que uma perspectiva feminista traria um viés para uma ciência que deveria ser neutra. O enfrentamento de eventos aversivos pelas entrevistadas se deu, sobretudo, com o apoio do Coletivo Marias e Amélias, o qual se tornou um contexto fomentador de contingências sororas, criando um sistema de reforçamento social para a realização de atividades acadêmicas voltadas à discussão analítico-comportamental de temas feministas. As entrevistadas também mencionaram como a explicitação de contingências desiguais entre os gêneros, em diferentes esferas sociais, foi promovida, ou adensada, com o exame de temáticas feministas, e como isso afetou as suas vidas pessoal e profissional. As entrevistadas também enfatizaram a importância da continuidade dos estudos sobre Feminismo na área, dentre outros motivos, por auxiliar a Análise do Comportamento a produzir uma ciência mais preocupada com a identificação dos valores e vieses de gênero. Da mesma forma, elas ressaltaram que o campo feminista poderia se utilizar as ferramentas analítico-comportamentais para promover uma sociedade mais justa e igualitária. A despeito da interface virtuosa entre Análise do Comportamento e Feminismo, descrita pelas participantes, foi possível concluir que os estudos feministas analítico-comportamentais se deram especialmente por uma iniciativa individual das entrevistadas, e não pela institucionalização de uma política científica encorajadora de pesquisas sobre essas questões na área. Em vista disso, a continuidade desses estudos na Análise do Comportamento brasileira pode ficar ameaçadaItem Uma análise das declarações de B. F. Skinner sobre a ciência(2023-12-18) Dias, Eduardo Benetelli; Laurenti, Carolina; Lopes, Carlos Eduardo; Pompermaier, Henrique MesquitaO comportamentalismo radical foi definido por B. F. Skinner como a filosofia da ciência do comportamento. Como uma filosofia da ciência, o comportamentalismo aborda, dentre outros temas, questões que vão desde a definição do que é conhecimento científico até discussões sobre aspectos metodológicos de uma disciplina. Na história do comportamentalismo radical, uma das principais preocupações de Skinner estava relacionada à elaboração de uma epistemologia que fundamentasse uma psicologia científica pautada no estudo do comportamento. Contudo, as propostas de Skinner para a construção dessa ciência sofreram alterações ao longo dos anos. Nesse sentido, esta pesquisa teórico-conceitual buscou avaliar as declarações de Skinner sobre ciência ao longo das décadas de produção acadêmica do autor. Para isso, foi realizada uma investigação conduzida em três etapas. Na primeira, foram identificadas e descritas declarações skinnerianas sobre ciência em textos que compreenderam seis décadas da produção intelectual do autor (de 1930 a 1980). Foram selecionados 27 capítulos oriundos de 11 livros de Skinner, cujos índices remissivos indicam a existência de conteúdos relacionados ao tema da ciência. Na segunda etapa, as declarações de Skinner sobre ciência foram categorizadas e sintetizadas. Na terceira, foram comparadas, por décadas, a fim de encontrar semelhanças e diferenças entre elas. Em seguida, foram separadas entre declarações referentes à lógica interna da ciência e à prática científica, com discussões sobre algumas implicações epistemológicas. É possível afirmar que Skinner mantém parte de suas posições sobre ciência ao longo dos anos, como a adoção do método indutivo, a busca por regularidades no fenômeno comportamental e as críticas às hipóteses dedutivistas. Por outro lado, também pode-se observar a existência de mudanças no discurso skinneriano sobre ciência, que vai de uma discussão inicialmente focada em declarações sobre a lógica interna da ciência (e.g., métodos indutivo e hipotético-dedutivo) para abarcar também a própria prática científica (e.g., a relação entre ciência e sociedade, entre cientista e comunidade verbal, entre ciência e cultura). Mais precisamente, a discussões sobre a relação entre ciência e questões sociais é iniciada a partir da década de 1940; a ênfase no caráter prático da ciência se inicia na década de 1950 e ganha mais força nas décadas seguintes e o debate entre ciência e planejamento cultural ganham ênfase nas décadas de 1970 e 1980. Esse movimento aproxima Skinner da pragmática da investigação científica e de uma tendência naturalista na epistemologia. Contudo, por mais que Skinner tenha adotado a perspectiva naturalista selecionista para tratar da espécie, do comportamento e de práticas culturais, não foram identificadas evidências robustas da extensão dessa interpretação (i.e., em termos de variação, seleção e retenção) para própria ciência, seja de seu funcionamento ou de seu modo de evolução. Não obstante esse aspecto, este estudo sugere que a extensão de uma concepção selecionista para a compreensão da ciência, ainda por ser feita no comportamentalismo, não só é consistente com as mudanças identificadas nas declarações skinnerianas, mas seria um passo importante de ser dado em direção a uma epistemologia evolutiva de ciênciaItem Autoconhecimento e agências controladoras : uma investigação da influência do ambiente social sobre o conhecimento de si mesmo(2024-02-07) Trintim, Lucas Tobias; Filgueiras, Guilherme Bracarense; Laurenti, Carolina; Dittrich, AlexandreO autoconhecimento pode ser compreendido como um repertório verbal de descrição de respostas públicas e/ou privadas do indivíduo, bem como das variáveis que controlam essas respostas. Enquanto um repertório verbal, o autoconhecimento é desenvolvido nas relações sociais e tem grande utilidade para o indivíduo e a comunidade. A principal utilidade é que o autoconhecimento se configura como precursor de outros comportamentos, como o autocontrole. Por serem amplas as possibilidades de controle social, diferentes tipos de autoconhecimento podem ser selecionados na relação do indivíduo com seu ambiente. As agências controladoras se configuram como segmentos importantes desse ambiente social, portanto, questiona-se de que modo sua atuação impacta especificamente o repertório de autoconhecimento dos indivíduos. Para responder essa questão, foi proposta uma pesquisa de natureza bibliográfica do tipo integrativa, que buscou investigar como uma amostra da literatura analítico-comportamental tem abordado a relação entre autoconhecimento e seu desenvolvimento pelas agências de controle. Foram acessados todos os artigos de periódicos especializados em Análise do Comportamento ainda em atividade que publicam em Português. Todos aqueles artigos que traziam em seu corpo textual menções simultâneas ao autoconhecimento e às agências controladoras foram inicialmente selecionados para análise. Nenhum material que apresentasse uma relação direta entre autoconhecimento e agências controladoras foi encontrado. No entanto, a literatura analisada apresentou subsídios teóricos e fragmentos discursivos que permitiram a elaboração de uma análise sobre esses dois conceitos. Em relação ao autoconhecimento, avaliou-se que tal conceito foi apresentado de maneira coerente com a proposta skinneriana e foi evidenciado o papel do ambiente no desenvolvimento deste comportamento. Fundamentado nos diferentes enfoques que foram dados ao termo, cinco tipos de autoconhecimento foram propostos: autoconhecimento deficiente; autoconhecimento das condições corporais; autoconhecimento das variáveis culturais; autoconhecimento das regras e autorregras e autoconhecimento do controle coercitivo. Em relação às agências controladoras, o material analisado reconhece-as como importantes segmentos do ambiente social que influenciam o repertório comportamental dos indivíduos. Maiores detalhes foram apresentados sobre a agência educacional familiar, indústria biomédica e psicoterapia. Em relação a essa última, foi enfatizado o seu papel político, já que a atuação da psicoterapia pode ter fins diversos, como a manutenção da própria agência e não necessariamente o benefício do indivíduo. A prática psicoterápica embasada em análise funcional foi indicada como uma alternativa que permite que essa agência promova mais benefícios ao indivíduo. Essa forma de atuação, por sua vez, favorece o desenvolvimento de alguns tipos específicos de autoconhecimento que estão mais próximos ao autocontrole e ao contracontrole. Além disso, foi apontado que o uso de práticas coercitivas e o controle punitivo das agências pode favorecer formas de autoconhecimento que ocultam o reconhecimento de importantes variáveis que atuam sobre o comportamento e não favorecem repertórios de autocontrole e contracontrole.Item Uma sistematização das discussões sobre a temática da religião em B. F. Skinner(2023-07-26) Donicht, Roberto Salbego; Lopes, Carlos Eduardo; Laurenti, Carolina; Dittrich, AlexandreA temática da religião é um tema complexo que está presente na humanidade como um todo, influenciando as decisões de inúmeros indivíduos e grupos sociais, sejam eles religiosos praticantes ou não. Devido a sua relevância, a temática da religião vem sendo discutida por analistas do comportamento há algumas décadas, porém, há razoável consenso na literatura científica de que a área não apresenta definições conceituais adequadas sobre a terminologia empregada (e.g., comportamento religioso, fenômeno religioso, espiritualidade) para analisar a temática da religião. Além disso, a área possui uma diversidade de interpretações que enfatizam dimensões de análises sobre a temática da religião, por vezes divergentes, havendo assim uma fragmentação analítico-conceitual sobre o tema. Uma das consequências disso é a ausência de um consenso sobre definições terminológicas adotadas e a dificuldade de análises integrativas, algo que possibilita o surgimento de confusões teórico-conceituais. Portanto, esta pesquisa se propôs retornar a uma fonte em comum, os textos de B. F. Skinner, buscando indagar em que medida as discussões skinnerianas podem ofertar um aporte teórico-conceitual capaz de integrar essa fragmentação de análises analítico-comportamentais sobre a temática da religião. Desse modo, a pesquisa apresenta uma sistematização das discussões skinnerianas sobre a temática da religião. Sendo uma pesquisa de natureza teórica-conceitual, o método adotado foi o de buscar as citações do radical relig nos textos de Burrhus Frederic Skinner. Tais textos foram lidos, analisados e então interpretados por meio da construção de tabelas interpretativas, as quais permitiram os seguintes produtos: comentários interpretativos e teses skinnerianas sobre a temática da religião. A partir dos produtos das tabelas, foi possível realizar uma descrição, por um viés skinneriano, sobre como comportamentos religiosos são emitidos, estabelecidos e, consequentemente, utilizados por agências controladoras religiosas. Também foi possível descrever as vantagens e desvantagens da existência de uma agência controladora religiosa, assim como modos para lidar com as problemáticas advindas do poder dessas agências religiosas. Outra implicação da pesquisa foi uma proposta inicial de um vocabulário terminológico conceitual: 1) Comportamento Religioso: comportamentos controlados por contingências raras ou acidentais, com atribuição causal sobrenatural; 2) Controle Religioso: uso de atribuição causal sobrenatural para explicar a ocorrência de eventos raros ou acidentais, com o intuito de controle social; 3) Agência Controladora Religiosa: uma instituição especializada no uso de controle religioso; 4) Religiosidade: qualquer comportamento religioso cujo controle não é explicitamente institucional. A aplicação dessa terminologia às discussões analítico-comportamentais da temática da religião permite concluir que há diferentes dimensões de análise, indicando que uma rede terminológica conceitual é necessária para representar todas essas dimensões. Por fim, a sistematização das discussões skinnerianas sobre a temática da religião é capaz de integrar os diferentes níveis de análise (filogenéticos, ontogenético, culturais) sobre o tema, indicando que as divergências encontradas na literatura ocorrem devido a fragmentações e especializações em determinada dimensão de análise da temática da religião.Item Aderir ao tratamento antirretroviral: contribuições da análise do comportamento(2023-06-30) Santos, Emersson Augusto Paixão dos; Freitas, Maria Clara de; Kienen, Nádia; Lopes, Gilselena Kerbauy; Seidl, Eliane Maria FleuryOs avanços tecnológicos observados nas últimas décadas promoveram mudanças significativas no perfil das pessoas que vivem com HIV/aids. Devido às medicações de última geração, a infecção que era associada à morte passou a configurar uma condição crônica de saúde. Pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) podem viver sem adoecer ou transmitir o vírus ao atingirem a supressão viral. Esse desfecho é resultado da adesão a medicamentos antirretrovirais. Contudo, qualquer falha nesse processo pode limitar os efeitos do tratamento. Diante disso, intervenções voltadas para a adesão ao tratamento antirretroviral em pessoas que vivem com HIV (PVHIV) vêm se tornando estratégias para maximizar a qualidade de vida, e prevenir a ocorrência de infecções oportunistas. Esta pesquisa foi organizada em dois estudos. No Estudo 1, o objetivo foi identificar e analisar comportamentalmente as variáveis que contribuem para a efetividade de programas de adesão à terapia antirretroviral por meio de revisão sistemática de literatura. Foram realizadas buscas em um portal de periódicos que indexa bases de dados nacionais e internacionais, sendo selecionados sete estudos, que foram analisados segundo categorias previamente estabelecidas. Os resultados indicaram que os estudos que empregaram princípios de teorias comportamentais obtiveram melhores resultados em termos de promoção e manutenção da adesão ao tratamento antirretroviral. Ademais, quatro dos sete estudos não apresentaram uma definição operacional ou descritiva sobre o comportamento de adesão, enquanto os textos que definiram o conceito o fizeram a partir de uma perspectiva biomédica, como: “tomar a quantidade adequada da medicação diariamente, no horário correto”, o que indica que a definição deste conceito em termos de comportamentos não foi base para os estudos que compuseram a base de dados. No Estudo 2 o objetivo foi propor comportamentos que compõem a classe de comportamentos de aderir ao tratamento antirretroviral por PVHIV. O método de investigação utilizado foi baseado na Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC). As fontes de informação foram selecionadas e lidas a partir da prévia revisão sistemática da literatura (o Estudo 1), de modo a identificar comportamentos ou componentes de comportamentos que compõem a classe “aderir ao tratamento antirretroviral”. Com isso, foram identificadas vinte e duas classes de comportamentos que compõem a classe geral de “aderir ao tratamento antirretroviral” que foram distribuídas em três níveis de abrangência. Espera-se, com tal sistematização, oferecer para a área um modelo útil, baseado na Análise do Comportamento, que possa ser utilizado na criação, implementação e avaliação de programas para adesão ao tratamento antirretroviral em PVHIV. A regionalidade e o baixo número de artigos selecionados (n=3) pode configurar um limite do presente estudo. Estudos futuros desta natureza podem ampliar as classes de comportamentos propostas por meio do exame de fontes de informações nacionais, como protocolos dos serviços de cuidado à PVHIV disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e do relato de pacientesItem Design de um programa psicoterapêutico para o desenvolvimento de resolução de problemas em crianças(2023-06-23) Santos, Amanda Viana dos; Neves Filho, Hernando Borges; Regra, Jaide Aparecida Gomes; Conte, Fatima Cristina de SouzaConsiderando a possibilidade de realizar uma síntese de diferentes processos comportamentais para a construção do repertório de resolução de problemas; a ausência na literatura de um programa amplo ou um modelo psicoterapêutico de resolução de problemas para crianças, o objetivo do presente trabalho foi realizar o design de um Programa Psicoterapêutico (PP) para a construção do repertório de resolução de problemas em crianças, na perspectiva da análise não-linear das contingências, no contexto de psicoterapia individual brasileiro. Trata-se de uma pesquisa de Tecnologia Comportamental, visando o desenvolvimento de um PP que integra as etapas (a) contato inicial com a criança, (b) identificação do problema, (c) análise funcional das (possíveis) interações envolvidas na situação-problema, (d) identificação e desenvolvimento dos repertórios pré-requisitos para a tentativa de solucionar o problema, (e) exposição à situação-problema e tentativa de resolução. A este PP, foi dado o nome “Programa Psicoterapêutico para Resolução de Problemas em Crianças” (PPRP) e é constituído de: um roteiro com módulos com itens norteadores a serem trabalhados em sessão com a criança; um guia ao psicoterapeuta (“Guia do Terapeuta”) com diretrizes para facilitar a avaliação e intervenção quanto a evolução do seu próprio repertório enquanto psicoterapeuta e dos repertórios da criança e de seus cuidadores; e fichas de registro de comportamentos da criança e de seus cuidadores. Em última instância, a avaliação da construção e da aplicação do PPRP poderá culminar no avanço científico e social, uma vez que exigências experimentais podem ser desmembradas de modo que o procedimento inédito seja realmente efetivo ou evitar com que ele seja ineficaz para os objetivos do Programa e para as necessidades dos clientes. Espera-se que o design proposto possa contribuir com a produção científica na área da terapia analítico-comportamental infantil e de resolução de problemas, especialmente ao suscitar novos possíveis dados e procedimentos advindos da pesquisa básica e conceitual. Por fim, o trabalho pretende colaborar com uma antiga questão sobre se é possível ou não a complementaridade e a interdependência entre a prestação de serviços (como a clínica) e a pesquisa básica. Discute-se para futuras pesquisas, a versão do design que compõe o contato e orientação aos cuidadores da criança; sistematizar estratégias lúdicas menos verbais em comparação a um adulto e um maior espaço para o treino de respostas intermediárias à solução no Roteiro; aplicar piloto do PPRP; produzir evidências para avaliação do ProgramaItem Interseções em análise comportamental da cultura: o contato com antropologia simbólica e construção de nicho cultural(2023-05-22) Maciel, Miguel Abdala Paiva; Neves Filho, Hernando Borges; Vasconcelos Neto, Aécio de Borba; Cardoso, Raphael MouraCultura, antiga palavra de origem no latim, começa a ser sistematicamente analisada como um objeto de estudo da antropologia no final do século XIX, com diversas definições e formas de ser trabalhada ao longo de todo século XX. Concomitantemente, a Biologia também desenvolve pesquisas e definições sobre o conceito de cultura, principalmente a partir da década de 1970. Após algumas tentativas de diálogo falharem, as duas áreas das ciências sociais e naturais desenvolvem-se em paralelo. Enquanto isso, a Análise do Comportamento também inicia suas pesquisas sobre o fenômeno cultural, a partir da década de 1950. Nesse sentido, este trabalho objetiva destrinchar pontos de contato entre as reflexões e debates da Análise do Comportamento com essas duas outras áreas, almejando assim uma compreensão sintética do fenômeno cultural que consiga adequar contribuições dessas áreas. Para isso, duas publicações foram elaboradas, sendo o primeiro para desenvolver contatos com a antropologia simbólica de Clifford Geertz e o segundo para discutir as proximidades com o conceito de construção de nicho cultural. A partir disso, uma discussão entre esses trabalhos será feita. Encontra-se, nesse sentido, a possibilidade da Análise do Comportamento em dialogar com essas áreas diversas, usufruindo dos dados encontrados e contribuindo com análises comportamentais minuciosas. Desse modo, a Análise do Comportamento serviria como uma ferramenta conceitual e científica que possibilitaria a interseção de áreas, como antropologia e Biologia Evolutiva, mas com possibilidade para diversas outras