02 - Mestrado - Análise do Comportamento
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Item Uma análise comportamental dos protestos de junho de 2013 no Brasil(2022-06-21) Melo, Débora de Nez de; Gallo, Alex Eduardo; Lopes, Carlos Eduardo; Fernandes, Diego MansanoMilhares de pessoas ocuparam as ruas do Brasil, em junho 2013, em contestação a diversas problemáticas sociais. Algumas das pautas dos protestos reivindicavam qualidade nos serviços públicos básicos, denotavam repúdio aos gastos elevados com megaeventos esportivos e às denúncias de corrupção. Os protestos de junho de 2013 tiveram grandes proporções, impactando a dinâmica política brasileira, configurando um interessante objeto de estudo para a Análise do Comportamento. A partir da estrutura da contingência cultural de três termos, é possível estudar os protestos como uma prática cultural inter-relacionada com o ambiente social e físico e as consequências culturais produzidas. As práticas de protesto congregaram diferentes atores sociais, culminando em disputas de grupos integrantes da mobilização social e agências controladoras. Tendo em vista que esta pesquisa teve como objetivo analisar os protestos de junho 2013 a partir de uma perspectiva analítico-comportamental, foram articuladas as literaturas da Sociologia Política e da Análise do Comportamento, a fim de caracterizar o contexto sociopolítico e os atores sociais envolvidos, as relações de controle e contracontrole entre grupos em protesto e agências controladoras e as consequências culturais produzidas. A sistematização do material decorreu em três capítulos organizados a partir da estrutura da contingência cultural de três termos. O primeiro capítulo contempla a identificação de contingências culturais que criaram condições para a emergência de práticas culturais de protesto antecedentes as de junho de 2013. Entre os protestos assemelhados aos de 2013, estão os movimentos antiglobalização (1999) com elementos como a descentralização e ausência de lideranças formais e a presença de grupos Black Blocs. Os protestos das Diretas Já (1984) e Caras Pintadas/Fora Collor (1992) têm os símbolos nacionais (hino, bandeira e heróis) e a defesa pela ética na política (anticorrupção) como semelhança que reverberou em 2013. De modo geral, os protestos se caracterizam pela concentração de pessoas em espaços públicos, bloqueio de vias, uso de cartazes indicando a demanda e/ou denúncia do grupo, palavras de ordem entoadas e bandeiras hasteadas que identificam os grupos e/ou a posição político-ideológica. O segundo capítulo apresenta as contingências sociopolíticas as quais emergiram os protestos de junho de 2013, as frações socialista, autonomista e patriota que compuseram as mobilizações e as práticas de controle das agências controladoras governamental, econômica, midiática e policial nos protestos. A agência policial fez uso de controle coercitivo para dispersar os protestos, a agência midiática descrevia os integrantes a partir de valores morais reprovados socialmente, legitimando práticas repressivas da polícia e, nesse cenário, perspectivas político-ideológicas distintas intragrupos produziu conflitos entre integrantes. O terceiro capítulo contempla as consequências de longo prazo produzidas após os protestos de junho ocorrerem. Foram identificadas modificações institucionais relativas às demandas dos grupos, como a redução da tarifa de ônibus, e consequências legislativas elaboradas a partir de práticas de controle da agência governamental para restringir protestos. Conclui-se que as práticas de protesto de 2013 apresentaram variações que desafiaram o modo como as agências controladoras operavam negociações com integrantes de protestos nas últimas décadas e o ambiente social suprimiu o contracontrole de grupos que iam na contramão dos valores democráticos difundidos pelas agências, como o pacifismo, a lei e a ordemItem A plataforma Kahoot! como instrumento de ensino: uma proposta baseada no modelo da equivalência(2022-08-26) Castilho, Éllen Patrícia Alves; Haydu, Verônica Bender; Carmo, João dos Santos; Souza, Silvia Regina deEstratégias de ensino que envolvam tecnologias digitais e a gamificação podem facilitar o processo de aprendizagem podendo ser utilizadas como recursos de ensino. Esta dissertação apresenta dois estudos: um de revisão quase sistemática da literatura que embasou o planejamento do Estudo 2. O Estudo 1 visou a realizar uma revisão quase sistemática da literatura de estudos empíricos em que a Plataforma Kahoot! foi usada no ensino e na avaliação de repertórios acadêmicos. Os resultados indicaram que a bibliografia levantada expõe que o uso do Kahoot! proporciona melhora no desempenho dos participantes e foi identificado que os usos do Kahoot! foram majoritariamente como meio de avaliação ou revisão de conteúdos previamente ensinados. O Estudo 2 visou propor e avaliar um procedimento de ensino de multiplicação em contexto coletivo utilizando a Plataforma Kahoot!, baseado no modelo da equivalência de estímulos. Participou uma turma de estudantes de terceiro ano do ensino fundamental de uma escola particular da cidade de Londrina/PR. O ensino foi referente ao conceito de multiplicação entre dois números diferentes entre si, envolvendo a soma de agrupamentos de números iguais (adição) e a representação gráfica desses agrupamentos. Os participantes utilizaram dispositivos com conexão à internet para as atividades realizadas na Plataforma Kahoot!. Um caderno de respostas foi utilizado para a avaliação pré-intervenção, os testes de simetria, os testes de equivalência e a avaliação pós-intervenção. Verificou-se que houve a formação de classes de equivalência dos participantes que não haviam atingido o critério de acertos na avaliação pré-intervenção. Conclui-se que o presente estudo demonstrou ser viável uma tecnologia de ensino fundamentada no modelo da equivalência de estímulos, para ser usada em contexto coletivo de sala de aula, por meio de um recurso digital, a Plataforma Kahoot!Item Proposição de classes de comportamentos constituintes da classe geral "Gerenciar a Própria Vida Profissional"(2022-09-13) Damasceno, Thaís Andrade; Kienen, Nádia; Rosa, José Antônio; Panosso, Mariana GomideEm períodos de crise econômica, as pessoas se tornam mais preocupadas em planejar as próprias profissões e buscar orientações e estratégias que as auxiliem com esse planejamento. Até mesmo profissionais empregados que, em princípio, não estariam sofrendo com os efeitos de uma crise econômica, podem se beneficiar desse tipo de auxílio, uma vez que podem igualmente apresentar um repertório comportamental ocupacional deficitário, quando comparado às exigências para o desempenho de seu trabalho ou para uma dada mudança ou desenvolvimento da sua vida profissional. Ter clareza sobre os comportamentos requisitos para gerenciar a própria vida profissional e desenvolvê-los pode contribuir para que o indivíduo exerça autonomia sobre sua vida profissional, identificando as necessidades sociais que pode atender por meio de seus comportamentos profissionais. A presente pesquisa objetivou propor classes de comportamentos constituintes da classe geral “gerenciar a própria vida profissional”. Para isso, quatro capítulos da obra “Carreira: planejamento e gestão” (Rosa, 2013) foram utilizados como fonte de informação. Foi realizado um procedimento em nove etapas, com base na Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC) e considerando o conceito de comportamento como a interação entre ações (classes de respostas) de um organismo e aspectos do ambiente (classes de estímulos antecedentes e consequentes a essas ações). O procedimento envolveu a seleção de trechos da fonte de informação, a identificação e derivação de componentes de classes de comportamentos a partir dos trechos selecionados, além da proposição de nomenclaturas às classes de comportamentos. Na sequência, uma juíza avaliou a adequação das nomenclaturas com base em critérios relativos à objetividade, clareza, precisão e concisão. Como resultados, foram propostas 181 classes de comportamentos constituintes da classe geral “gerenciar a própria vida profissional”. Tais classes de comportamentos foram distribuídas, de acordo com sua função, em 21 categorias, que, por sua vez, foram organizadas em três conjuntos de repertórios comportamentais: 1) para obtenção de oportunidade profissional; 2) para manutenção da oportunidade profissional obtida e 3) para âmbito pessoal e profissional. Foram identificadas possíveis relações de pré-requisito entre classes de comportamentos de diferentes categorias de um mesmo repertório, além de entre classes de diferentes repertórios. As classes de comportamentos identificadas relacionam-se aos aspectos a serem geridos pelo profissional, tais como: o público que ele atende; o mercado ocupacional em que está inserido; sua comunidade, como clientes e colegas; os recursos de que dispõe; as resoluções que lhe são exigidas pelo cotidiano laboral, os projetos que pode desenvolver; as finanças; as metas e os resultados de seu trabalho. Esses resultados podem contribuir com o desenvolvimento do comportamento de “gerenciar a própria vida profissional” em indivíduos que precisam gerir as próprias ocupações, bem como à instrumentalização de profissionais e instituições que possam auxiliar esses indivíduos no desenvolvimento desse complexo comportamentoItem Empatia na literatura analítico-comportamental: uma revisão integrativa(2022-09-20) Souza, Guilherme Augusto Ascenscio Rosa de; Gon, Márcia Cristrina Caserta; Zazula, Robson; Soares, Maria Rita Zoéga; Grossi, Renata; Vila, Edmárcia ManfredinEntender o outro ou entender os sentimentos dos outros parece ser um requisito para o bom convívio social e, também, para boas práticas terapêuticas. Entre outros campos de estudo, o Behaviorismo Radical, como base filosófica, e a Análise do Comportamento, também tratam sobre a empatia. Mesmo que de maneira breve, Skinner menciona a empatia ao falar sobre eventos privados e ressalta a impossibilidade de sentirmos precisamente o que os outros sentem. Para além de Skinner, a Análise do Comportamento, em suas diferentes naturezas de trabalho (básica, aplicada e teórica), parece apresentar alguns aspectos sobre a empatia. Um desses aspectos é a concepção da empatia como um comportamento operante social que pode ser treinado e desenvolvido. Ao mesmo tempo, também aparecem concepções que trazem a empatia como uma Operação Estabelecedora (OE) e, assim, um evento que atua sobre comportamentos. Por mais que as concepções versem sobre um fenômeno, cada uma delas traz definições diferentes para um mesmo termo, havendo parecer pouco consenso sobre a empatia na literatura analítico-comportamental e considerando a clareza conceitual para a realização de estudo e instrumentos. Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa é sistematizar o conceito de empatia na literatura analítico-comportamental. Assim, foi feita uma revisão integrativa de literatura com base em artigos referenciados pela Análise do Comportamento e que tratem da empatia. O material foi buscado por meio da combinação de palavras-chaves específicas sobre a empatia e, também, sobre a produção científica da Análise do Comportamento. Foram utilizadas bases nacionais e internacionais para a realização da busca, alcançando um total de 2724 artigos, de maneira que 25 artigos que atenderam os critérios de inclusão e exclusão foram recuperados. Deste total, 18 artigos foram selecionados via busca nas bases de dados internacionais e sete de revistas nacionais. O material selecionado foi sistematizado em tabelas, nas quais foram compiladas informações sobre os dados bibliométricos e de natureza da pesquisa. As definições encontradas sugerem que a empatia é entendida como um elemento complexo do comportamento. Apesar de alguns autores entenderem o conceito como uma emoção ou operação motivacional, a maioria dos textos compreendem empatia como um comportamento social. A maior parte dos estudos encontrados visaram discutir a empatia como um comportamento desejável ao terapeuta atuante na clínica e não o conceito por si só, de maneira que poucos estudos conceituais e exclusivos sobre a empatia foram encontradosItem Gerenciar crises suicidas por telefone: classes de comportamentos a serem apresentadas por psicoterapeutas derivadas a partir da literatura sobre Terapia Comportamental Dialética(2022-09-23) Fernandes, Kellen Martins Escaraboto; Kienen, Nádia; Souza, Liane Dahás Jorge de; Amaral, Mariana; Moriyama, Josy de SouzaO suicídio é um fenômeno que necessita ser mais pesquisado. No que concerne ao tratamento de comportamentos que podem estar relacionados às crises suicidas, a Terapia Comportamental Dialética (DBT) constitui-se em um modelo de intervenção abrangente, que tem buscado respostas, fundamentadas em evidências científicas, sobre como ajudar essas pessoas a aprenderem comportamentos que sejam incompatíveis com o suicídio. O gerenciamento de crises suicidas é uma intervenção proposta pela DBT por meio de um modo de intervenção denominado de coaching por telefone. Porém, pouco se tem descrito quais comportamentos os psicoterapeutas devem apresentar para gerenciar uma crise suicida ao telefone. Da mesma forma, é necessário desenvolver estudos sobre como deve ser realizada a formação desses profissionais para que possam se comportar, realizando um gerenciamento que garanta a manutenção da vida. A Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC) é uma tecnologia derivada dos conhecimentos produzidos pela Análise Experimental do Comportamento que pode auxiliar na busca por respostas relacionadas a que comportamentos um terapeuta precisa apresentar para realizar o gerenciamento de crises suicidas por telefone. Esta pesquisa utilizou os procedimentos da PCDC para identificar as classes de comportamentos constituintes do gerenciamento de crises suicidas por telefone, tendo como referência a literatura produzida pela DBT. Para isso, foram selecionadas duas obras da literatura sobre DBT, das quais foi possível identificar classes de comportamentos constituintes desse fazer. O conceito de comportamento como um complexo sistema de relações entre classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos consequentes foi considerado como base para identificação dessas classes de comportamentos. O procedimento foi constituído por 9 etapas: seleção e registro dos trechos das fontes de informações que permitem identificar constituintes de classes de comportamento; análise e derivação, a partir dos trechos, de possíveis componentes de classes de comportamentos; proposição das classes de comportamentos, além da avaliação da linguagem utilizada, a nomenclatura e a coerência dos trechos e das informações deles derivadas. Por fim, as classes de comportamentos identificadas foram organizadas em uma lista e foram estabelecidas categorias para a organização delas. Os resultados permitiram a identificação de 381 classes de comportamentos que constituam a classe geral “gerenciar crises suicidas por telefone”, as quais foram organizadas em 19 categorias. Foi possível observar que a maior quantidade de classes de comportamentos está distribuída nas categorias “resolver o problema” 14,17% (N=54) e “formar um plano de ação para manejo de crises” 12,60% (N=48), seguidos das categorias “uso de habilidades” 5,25% (N=20), “manejar a crise utilizando recursos convencionais” 4,46% (N=17), “analisar variáveis precipitantes da crise” 4,72% (N=18), “comprometer o cliente com o gerenciamento da crise” 7,61% (N=29), “remover meios letais” 4,72% (N=18), “validar o comportamento do cliente” 6,30% (N=24), “avaliar riscos de suicídio” 8,40% (N=32), “direcionar a atenção às emoções” 4,99% (N=19) e “comportamentos gerais” 7,61% (N=29). As categorias em que foram identificadas as menores quantidades de classes de comportamentos foram “limites do psicoterapeuta” 3,15% (N=12), “avaliar o procedimento de gerenciamento” 2,36% (N=9), “follow up após a crise” 3,41% (N=13), “promover flexibilidade comportamental” 0,79% (N=3), “orientar de forma diretiva” 2,36% (N=9), “fortalecer o vínculo” 2,62% (N=10), “promover respostas de esperança” 2,89% (N=11) e “atender ligações de crise suicida” 1,57% (N=6). A quantidade e diversidade de classes de comportamentos que constituem cada uma das categorias do gerenciamento de crises suicida por telefone evidencia a complexidade do procedimento de intervenção e sinaliza lacunas a serem preenchidas, tais como especificações e melhores descrições sobre algumas classes de comportamentos, além de uma análise mais aprofundada dos componentes das classes de comportamentos com uma nomeação mais precisa das classes a partir da sua função. Essa identificação das classes de comportamentos representa um primeiro passo para se ter mais clareza sobre os comportamentos que constituem a atuação de psicoterapeutas que gerenciam crises suicidas por telefone, podendo ser utilizados para a elaboração de programas de capacitação para psicoterapeutas que diariamente enfrentam o desafio de diminuir as estatísticas sobre suicídioItem Interseções em análise comportamental da cultura: o contato com antropologia simbólica e construção de nicho cultural(2023-05-22) Maciel, Miguel Abdala Paiva; Neves Filho, Hernando Borges; Vasconcelos Neto, Aécio de Borba; Cardoso, Raphael MouraCultura, antiga palavra de origem no latim, começa a ser sistematicamente analisada como um objeto de estudo da antropologia no final do século XIX, com diversas definições e formas de ser trabalhada ao longo de todo século XX. Concomitantemente, a Biologia também desenvolve pesquisas e definições sobre o conceito de cultura, principalmente a partir da década de 1970. Após algumas tentativas de diálogo falharem, as duas áreas das ciências sociais e naturais desenvolvem-se em paralelo. Enquanto isso, a Análise do Comportamento também inicia suas pesquisas sobre o fenômeno cultural, a partir da década de 1950. Nesse sentido, este trabalho objetiva destrinchar pontos de contato entre as reflexões e debates da Análise do Comportamento com essas duas outras áreas, almejando assim uma compreensão sintética do fenômeno cultural que consiga adequar contribuições dessas áreas. Para isso, duas publicações foram elaboradas, sendo o primeiro para desenvolver contatos com a antropologia simbólica de Clifford Geertz e o segundo para discutir as proximidades com o conceito de construção de nicho cultural. A partir disso, uma discussão entre esses trabalhos será feita. Encontra-se, nesse sentido, a possibilidade da Análise do Comportamento em dialogar com essas áreas diversas, usufruindo dos dados encontrados e contribuindo com análises comportamentais minuciosas. Desse modo, a Análise do Comportamento serviria como uma ferramenta conceitual e científica que possibilitaria a interseção de áreas, como antropologia e Biologia Evolutiva, mas com possibilidade para diversas outrasItem Design de um programa psicoterapêutico para o desenvolvimento de resolução de problemas em crianças(2023-06-23) Santos, Amanda Viana dos; Neves Filho, Hernando Borges; Regra, Jaide Aparecida Gomes; Conte, Fatima Cristina de SouzaConsiderando a possibilidade de realizar uma síntese de diferentes processos comportamentais para a construção do repertório de resolução de problemas; a ausência na literatura de um programa amplo ou um modelo psicoterapêutico de resolução de problemas para crianças, o objetivo do presente trabalho foi realizar o design de um Programa Psicoterapêutico (PP) para a construção do repertório de resolução de problemas em crianças, na perspectiva da análise não-linear das contingências, no contexto de psicoterapia individual brasileiro. Trata-se de uma pesquisa de Tecnologia Comportamental, visando o desenvolvimento de um PP que integra as etapas (a) contato inicial com a criança, (b) identificação do problema, (c) análise funcional das (possíveis) interações envolvidas na situação-problema, (d) identificação e desenvolvimento dos repertórios pré-requisitos para a tentativa de solucionar o problema, (e) exposição à situação-problema e tentativa de resolução. A este PP, foi dado o nome “Programa Psicoterapêutico para Resolução de Problemas em Crianças” (PPRP) e é constituído de: um roteiro com módulos com itens norteadores a serem trabalhados em sessão com a criança; um guia ao psicoterapeuta (“Guia do Terapeuta”) com diretrizes para facilitar a avaliação e intervenção quanto a evolução do seu próprio repertório enquanto psicoterapeuta e dos repertórios da criança e de seus cuidadores; e fichas de registro de comportamentos da criança e de seus cuidadores. Em última instância, a avaliação da construção e da aplicação do PPRP poderá culminar no avanço científico e social, uma vez que exigências experimentais podem ser desmembradas de modo que o procedimento inédito seja realmente efetivo ou evitar com que ele seja ineficaz para os objetivos do Programa e para as necessidades dos clientes. Espera-se que o design proposto possa contribuir com a produção científica na área da terapia analítico-comportamental infantil e de resolução de problemas, especialmente ao suscitar novos possíveis dados e procedimentos advindos da pesquisa básica e conceitual. Por fim, o trabalho pretende colaborar com uma antiga questão sobre se é possível ou não a complementaridade e a interdependência entre a prestação de serviços (como a clínica) e a pesquisa básica. Discute-se para futuras pesquisas, a versão do design que compõe o contato e orientação aos cuidadores da criança; sistematizar estratégias lúdicas menos verbais em comparação a um adulto e um maior espaço para o treino de respostas intermediárias à solução no Roteiro; aplicar piloto do PPRP; produzir evidências para avaliação do ProgramaItem Aderir ao tratamento antirretroviral: contribuições da análise do comportamento(2023-06-30) Santos, Emersson Augusto Paixão dos; Freitas, Maria Clara de; Kienen, Nádia; Lopes, Gilselena Kerbauy; Seidl, Eliane Maria FleuryOs avanços tecnológicos observados nas últimas décadas promoveram mudanças significativas no perfil das pessoas que vivem com HIV/aids. Devido às medicações de última geração, a infecção que era associada à morte passou a configurar uma condição crônica de saúde. Pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) podem viver sem adoecer ou transmitir o vírus ao atingirem a supressão viral. Esse desfecho é resultado da adesão a medicamentos antirretrovirais. Contudo, qualquer falha nesse processo pode limitar os efeitos do tratamento. Diante disso, intervenções voltadas para a adesão ao tratamento antirretroviral em pessoas que vivem com HIV (PVHIV) vêm se tornando estratégias para maximizar a qualidade de vida, e prevenir a ocorrência de infecções oportunistas. Esta pesquisa foi organizada em dois estudos. No Estudo 1, o objetivo foi identificar e analisar comportamentalmente as variáveis que contribuem para a efetividade de programas de adesão à terapia antirretroviral por meio de revisão sistemática de literatura. Foram realizadas buscas em um portal de periódicos que indexa bases de dados nacionais e internacionais, sendo selecionados sete estudos, que foram analisados segundo categorias previamente estabelecidas. Os resultados indicaram que os estudos que empregaram princípios de teorias comportamentais obtiveram melhores resultados em termos de promoção e manutenção da adesão ao tratamento antirretroviral. Ademais, quatro dos sete estudos não apresentaram uma definição operacional ou descritiva sobre o comportamento de adesão, enquanto os textos que definiram o conceito o fizeram a partir de uma perspectiva biomédica, como: “tomar a quantidade adequada da medicação diariamente, no horário correto”, o que indica que a definição deste conceito em termos de comportamentos não foi base para os estudos que compuseram a base de dados. No Estudo 2 o objetivo foi propor comportamentos que compõem a classe de comportamentos de aderir ao tratamento antirretroviral por PVHIV. O método de investigação utilizado foi baseado na Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC). As fontes de informação foram selecionadas e lidas a partir da prévia revisão sistemática da literatura (o Estudo 1), de modo a identificar comportamentos ou componentes de comportamentos que compõem a classe “aderir ao tratamento antirretroviral”. Com isso, foram identificadas vinte e duas classes de comportamentos que compõem a classe geral de “aderir ao tratamento antirretroviral” que foram distribuídas em três níveis de abrangência. Espera-se, com tal sistematização, oferecer para a área um modelo útil, baseado na Análise do Comportamento, que possa ser utilizado na criação, implementação e avaliação de programas para adesão ao tratamento antirretroviral em PVHIV. A regionalidade e o baixo número de artigos selecionados (n=3) pode configurar um limite do presente estudo. Estudos futuros desta natureza podem ampliar as classes de comportamentos propostas por meio do exame de fontes de informações nacionais, como protocolos dos serviços de cuidado à PVHIV disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e do relato de pacientesItem Uma sistematização das discussões sobre a temática da religião em B. F. Skinner(2023-07-26) Donicht, Roberto Salbego; Lopes, Carlos Eduardo; Laurenti, Carolina; Dittrich, AlexandreA temática da religião é um tema complexo que está presente na humanidade como um todo, influenciando as decisões de inúmeros indivíduos e grupos sociais, sejam eles religiosos praticantes ou não. Devido a sua relevância, a temática da religião vem sendo discutida por analistas do comportamento há algumas décadas, porém, há razoável consenso na literatura científica de que a área não apresenta definições conceituais adequadas sobre a terminologia empregada (e.g., comportamento religioso, fenômeno religioso, espiritualidade) para analisar a temática da religião. Além disso, a área possui uma diversidade de interpretações que enfatizam dimensões de análises sobre a temática da religião, por vezes divergentes, havendo assim uma fragmentação analítico-conceitual sobre o tema. Uma das consequências disso é a ausência de um consenso sobre definições terminológicas adotadas e a dificuldade de análises integrativas, algo que possibilita o surgimento de confusões teórico-conceituais. Portanto, esta pesquisa se propôs retornar a uma fonte em comum, os textos de B. F. Skinner, buscando indagar em que medida as discussões skinnerianas podem ofertar um aporte teórico-conceitual capaz de integrar essa fragmentação de análises analítico-comportamentais sobre a temática da religião. Desse modo, a pesquisa apresenta uma sistematização das discussões skinnerianas sobre a temática da religião. Sendo uma pesquisa de natureza teórica-conceitual, o método adotado foi o de buscar as citações do radical relig nos textos de Burrhus Frederic Skinner. Tais textos foram lidos, analisados e então interpretados por meio da construção de tabelas interpretativas, as quais permitiram os seguintes produtos: comentários interpretativos e teses skinnerianas sobre a temática da religião. A partir dos produtos das tabelas, foi possível realizar uma descrição, por um viés skinneriano, sobre como comportamentos religiosos são emitidos, estabelecidos e, consequentemente, utilizados por agências controladoras religiosas. Também foi possível descrever as vantagens e desvantagens da existência de uma agência controladora religiosa, assim como modos para lidar com as problemáticas advindas do poder dessas agências religiosas. Outra implicação da pesquisa foi uma proposta inicial de um vocabulário terminológico conceitual: 1) Comportamento Religioso: comportamentos controlados por contingências raras ou acidentais, com atribuição causal sobrenatural; 2) Controle Religioso: uso de atribuição causal sobrenatural para explicar a ocorrência de eventos raros ou acidentais, com o intuito de controle social; 3) Agência Controladora Religiosa: uma instituição especializada no uso de controle religioso; 4) Religiosidade: qualquer comportamento religioso cujo controle não é explicitamente institucional. A aplicação dessa terminologia às discussões analítico-comportamentais da temática da religião permite concluir que há diferentes dimensões de análise, indicando que uma rede terminológica conceitual é necessária para representar todas essas dimensões. Por fim, a sistematização das discussões skinnerianas sobre a temática da religião é capaz de integrar os diferentes níveis de análise (filogenéticos, ontogenético, culturais) sobre o tema, indicando que as divergências encontradas na literatura ocorrem devido a fragmentações e especializações em determinada dimensão de análise da temática da religião.Item Contraste comportamental positivo é função da redução da taxa de reforços ou da taxa de respostas?(2023-09-19) Teixeira, Luan Mendes; Costa, Carlos Eduardo; Neves Filho, Hernando Borges; Alo, Raquel MoreiraContraste comportamental positivo ocorre quando, em um programa de reforço múltiplo, observa-se o aumento na taxa de respostas em um componente com as contingências inalteradas em função da diminuição na taxa de reforços em outro componente. Alguns trabalhos têm questionado se o efeito de contraste ocorre pela alteração da taxa de reforços em um componente ou se ocorre porque a taxa de respostas no componente alterado muda quando a taxa de reforços é alterada. O objetivo dessa pesquisa foi (1) replicar, com humanos adultos, o procedimento mais comum para observar o efeito de contraste comportamental (i.e., múltiplo VI VI na Linha de Base e múltiplo VI EXT no teste) – Experimento 1 (usando a pressão ao botão do mouse de um computador como operandum) e Experimento 2 (usando botões de mola como operanda); (2) avaliar a ocorrência do contraste comportamental aumentando a força exigida para responder (mantendo-se a taxa de reforço constante) em um dos componentes de um programa múltiplo VI VI com botões de mola como operandum – Experimento 3. De modo geral, os resultados sugerem que contraste comportamental ocorreu para a maioria dos participantes em pelo menos um dos testes em todos os experimentos. Os dados dos Experimentos 1 e 2 replicaram os principais achados da literatura e o Experimento 3 mostrou que é possível obter contraste comportamental sem alterações relevantes na taxa de reforço do componente alterado. Apesar das condições do componente alterado terem piorado durante os testes (Extinção ou aumento da exigência da força para responder), a redução da taxa de respostas neste componente não ocorreu para todos os participantes que apresentaram contraste comportamental, o que pode lançar dúvidas sobre quais variáveis são responsáveis pelo contrasteItem Contingências envolvidas no estudo do feminismo por analistas do comportamento brasileiras: uma investigação exploratória com as autoras do livro Debates sobre Feminismo e Análise do Comportamento(2023-09-25) Linhares, Yana; Laurenti, Carolina; Tatmatsu, Daniely Ildegardes Brito; Elias, Liana RosaA partir da primeira década dos anos 2000, estudos com orientação feminista têm sido produzidos na Análise do Comportamento brasileira. Uma obra que se destacou no contexto dessa visada feminista é o livro Debates sobre Feminismo e Análise do Comportamento. Nesse livro, diferentes temas da agenda feminista, como patriarcado, interseccionalidade, participação de mulheres na ciência, relacionamentos abusivos, violência de gênero, dentre tantos outros, foram abordados em dez capítulos. Dada a relevância dessa obra para a difusão de questões feministas na Análise do Comportamento, o objetivo deste trabalho foi apresentar um panorama das contingências envolvidas no estudo do Feminismo por pesquisadoras brasileiras que figuraram como autoras dos capítulos de Debates. Para tanto, foi realizada uma pesquisa empírico-exploratória com todas as 14 autoras do livro. As informações foram obtidas por meio de um roteiro de entrevista semiestruturada, que abordou questões a respeito de como se deu o contato das participantes com o movimento feminista, quais foram os temas investigados e se ainda os estudam, os obstáculos enfrentados, a importância do Feminismo para a Análise do Comportamento e as possibilidades de ampliar essa interface. As entrevistas foram realizadas e gravadas pelo Skype e transcritas na íntegra. As informações foram agrupadas em categorias temáticas, construídas com base em trechos representativos dos assuntos abordados nas entrevistas. Os resultados coligidos nessas categorias foram cotejados com a literatura especializada, o que permitiu evidenciar que o estudo de temas feministas pelas entrevistadas foi perpassado por aspectos que se assemelham aos indicados por pesquisas afins de outras áreas de conhecimento. Os resultados demonstraram que as entrevistadas tiveram de enfrentar diferentes contingências aversivas para estudar o tema, inclusive a crítica de que uma perspectiva feminista traria um viés para uma ciência que deveria ser neutra. O enfrentamento de eventos aversivos pelas entrevistadas se deu, sobretudo, com o apoio do Coletivo Marias e Amélias, o qual se tornou um contexto fomentador de contingências sororas, criando um sistema de reforçamento social para a realização de atividades acadêmicas voltadas à discussão analítico-comportamental de temas feministas. As entrevistadas também mencionaram como a explicitação de contingências desiguais entre os gêneros, em diferentes esferas sociais, foi promovida, ou adensada, com o exame de temáticas feministas, e como isso afetou as suas vidas pessoal e profissional. As entrevistadas também enfatizaram a importância da continuidade dos estudos sobre Feminismo na área, dentre outros motivos, por auxiliar a Análise do Comportamento a produzir uma ciência mais preocupada com a identificação dos valores e vieses de gênero. Da mesma forma, elas ressaltaram que o campo feminista poderia se utilizar as ferramentas analítico-comportamentais para promover uma sociedade mais justa e igualitária. A despeito da interface virtuosa entre Análise do Comportamento e Feminismo, descrita pelas participantes, foi possível concluir que os estudos feministas analítico-comportamentais se deram especialmente por uma iniciativa individual das entrevistadas, e não pela institucionalização de uma política científica encorajadora de pesquisas sobre essas questões na área. Em vista disso, a continuidade desses estudos na Análise do Comportamento brasileira pode ficar ameaçadaItem Manejo de contingências e redução de danos: aplicações e implicações(2023-12-14) Silva, Carolina Pedroza Barros da; Gallo, Alex Eduardo; Aranha, Alan Souza; Filgueiras, Guilherme Bracarense; Tatmatsu, Daniely Ildegardes BritoA relação da humanidade com substâncias psicoativas (SPAs) é longa e documentada em diversas localidades. A despeito disso, as políticas sobre drogas mundialmente adotadas priorizam um modelo repressivo de redução da oferta e criminalização de usuários, compreendendo o uso como um problema moral e/ou patológico, causando consequências deletérias para uma parcela da população. A Redução de Danos (RD) surgiu em contestação a esse paradigma, sendo um conjunto de práticas objetivando a diminuição de consequências aversivas do uso de SPAs, sem necessariamente eliminá-lo. A Análise do Comportamento (AC) também possui modelos explicativos sobre o consumo de SPAs, como os da economia e da farmacologia comportamental. Baseado nesses modelos, o Manejo de Contingências (MC) é uma das intervenções mais respaldadas na literatura para o tratamento do uso de substâncias, embora também seja alvo de críticas. O objetivo deste trabalho foi analisar criticamente intervenções com MC e com RD por meio de categorias norteadoras inspiradas no trabalho de James G. Holland. Para isso, foi realizada uma análise interpretativa e comparativa dividida em três etapas: 1) revisão de literatura de intervenções com MC, 2) revisão de literatura de intervenções com RD, 3) elaboração de categorias e análise dos textos. Os textos foram analisados em função das categorias: 1) variáveis explicativas, 2) comportamento-alvo da intervenção, 3) procedimentos, 4) papel do usuário e 5) resultados relatados. Nos 12 trabalhos com MC predominou uma análise molecular do consumo, 91% objetivaram a abstinência do usuário verificando-a por meio de marcadores biológicos, 41% apresentaram possibilidade de feedback dos usuários, mas nenhum relatou contribuição de usuários de drogas na elaboração ou condução da intervenção, 58% apresentaram resultados significativos da intervenção, 41% conduziram follow-up e um deles apresentou resultado favorável após o término da intervenção. Nos 16 estudos com RD, prevaleceu uma análise molar do consumo, foram rastreados onze objetivos distintos, foi usado majoritariamente autorrelato, 56% apresentaram possibilidade de feedback e três relataram a participação do usuário na elaboração ou condução da intervenção, 75% apresentaram resultados significativos, 50% realizaram follow-up e seis deles apresentaram resultado favorável. Intervenções com MC têm privilegiado a influência de antecedentes e consequentes diretos do uso, circunscrevendo suas análises e práticas à instalação de abstinência do usuário, mantendo-se impermeáveis às contribuições desse público e demonstrando pouco impacto à longo prazo. Já intervenções com RD têm destacado diversas contingências relevantes para o entendimento do uso de SPAs, objetivado a mudança de outros comportamentos além do uso por meio de estratégias diversas e apresentado maior interesse na contribuição do usuário na elaboração das intervenções. Questiona-se a efetividade do MC, que opera um recorte do fenômeno descolando-o de condicionantes históricos e sociais, priorizando uma análise e intervenção molecular. A invariabilidade de objetivos, que prioriza abstinência, aproxima essa intervenção da perspectiva proibicionista. Intervenções com RD mostraram-se mais inclusivas, ampliando a compreensão sobre o fenômeno do uso de SPAs, alinhando-se aos próprios princípios e às práticas contraculturais que analistas do comportamento têm enfatizadoItem Uma análise das declarações de B. F. Skinner sobre a ciência(2023-12-18) Dias, Eduardo Benetelli; Laurenti, Carolina; Lopes, Carlos Eduardo; Pompermaier, Henrique MesquitaO comportamentalismo radical foi definido por B. F. Skinner como a filosofia da ciência do comportamento. Como uma filosofia da ciência, o comportamentalismo aborda, dentre outros temas, questões que vão desde a definição do que é conhecimento científico até discussões sobre aspectos metodológicos de uma disciplina. Na história do comportamentalismo radical, uma das principais preocupações de Skinner estava relacionada à elaboração de uma epistemologia que fundamentasse uma psicologia científica pautada no estudo do comportamento. Contudo, as propostas de Skinner para a construção dessa ciência sofreram alterações ao longo dos anos. Nesse sentido, esta pesquisa teórico-conceitual buscou avaliar as declarações de Skinner sobre ciência ao longo das décadas de produção acadêmica do autor. Para isso, foi realizada uma investigação conduzida em três etapas. Na primeira, foram identificadas e descritas declarações skinnerianas sobre ciência em textos que compreenderam seis décadas da produção intelectual do autor (de 1930 a 1980). Foram selecionados 27 capítulos oriundos de 11 livros de Skinner, cujos índices remissivos indicam a existência de conteúdos relacionados ao tema da ciência. Na segunda etapa, as declarações de Skinner sobre ciência foram categorizadas e sintetizadas. Na terceira, foram comparadas, por décadas, a fim de encontrar semelhanças e diferenças entre elas. Em seguida, foram separadas entre declarações referentes à lógica interna da ciência e à prática científica, com discussões sobre algumas implicações epistemológicas. É possível afirmar que Skinner mantém parte de suas posições sobre ciência ao longo dos anos, como a adoção do método indutivo, a busca por regularidades no fenômeno comportamental e as críticas às hipóteses dedutivistas. Por outro lado, também pode-se observar a existência de mudanças no discurso skinneriano sobre ciência, que vai de uma discussão inicialmente focada em declarações sobre a lógica interna da ciência (e.g., métodos indutivo e hipotético-dedutivo) para abarcar também a própria prática científica (e.g., a relação entre ciência e sociedade, entre cientista e comunidade verbal, entre ciência e cultura). Mais precisamente, a discussões sobre a relação entre ciência e questões sociais é iniciada a partir da década de 1940; a ênfase no caráter prático da ciência se inicia na década de 1950 e ganha mais força nas décadas seguintes e o debate entre ciência e planejamento cultural ganham ênfase nas décadas de 1970 e 1980. Esse movimento aproxima Skinner da pragmática da investigação científica e de uma tendência naturalista na epistemologia. Contudo, por mais que Skinner tenha adotado a perspectiva naturalista selecionista para tratar da espécie, do comportamento e de práticas culturais, não foram identificadas evidências robustas da extensão dessa interpretação (i.e., em termos de variação, seleção e retenção) para própria ciência, seja de seu funcionamento ou de seu modo de evolução. Não obstante esse aspecto, este estudo sugere que a extensão de uma concepção selecionista para a compreensão da ciência, ainda por ser feita no comportamentalismo, não só é consistente com as mudanças identificadas nas declarações skinnerianas, mas seria um passo importante de ser dado em direção a uma epistemologia evolutiva de ciênciaItem Autoconhecimento e agências controladoras : uma investigação da influência do ambiente social sobre o conhecimento de si mesmo(2024-02-07) Trintim, Lucas Tobias; Filgueiras, Guilherme Bracarense; Laurenti, Carolina; Dittrich, AlexandreO autoconhecimento pode ser compreendido como um repertório verbal de descrição de respostas públicas e/ou privadas do indivíduo, bem como das variáveis que controlam essas respostas. Enquanto um repertório verbal, o autoconhecimento é desenvolvido nas relações sociais e tem grande utilidade para o indivíduo e a comunidade. A principal utilidade é que o autoconhecimento se configura como precursor de outros comportamentos, como o autocontrole. Por serem amplas as possibilidades de controle social, diferentes tipos de autoconhecimento podem ser selecionados na relação do indivíduo com seu ambiente. As agências controladoras se configuram como segmentos importantes desse ambiente social, portanto, questiona-se de que modo sua atuação impacta especificamente o repertório de autoconhecimento dos indivíduos. Para responder essa questão, foi proposta uma pesquisa de natureza bibliográfica do tipo integrativa, que buscou investigar como uma amostra da literatura analítico-comportamental tem abordado a relação entre autoconhecimento e seu desenvolvimento pelas agências de controle. Foram acessados todos os artigos de periódicos especializados em Análise do Comportamento ainda em atividade que publicam em Português. Todos aqueles artigos que traziam em seu corpo textual menções simultâneas ao autoconhecimento e às agências controladoras foram inicialmente selecionados para análise. Nenhum material que apresentasse uma relação direta entre autoconhecimento e agências controladoras foi encontrado. No entanto, a literatura analisada apresentou subsídios teóricos e fragmentos discursivos que permitiram a elaboração de uma análise sobre esses dois conceitos. Em relação ao autoconhecimento, avaliou-se que tal conceito foi apresentado de maneira coerente com a proposta skinneriana e foi evidenciado o papel do ambiente no desenvolvimento deste comportamento. Fundamentado nos diferentes enfoques que foram dados ao termo, cinco tipos de autoconhecimento foram propostos: autoconhecimento deficiente; autoconhecimento das condições corporais; autoconhecimento das variáveis culturais; autoconhecimento das regras e autorregras e autoconhecimento do controle coercitivo. Em relação às agências controladoras, o material analisado reconhece-as como importantes segmentos do ambiente social que influenciam o repertório comportamental dos indivíduos. Maiores detalhes foram apresentados sobre a agência educacional familiar, indústria biomédica e psicoterapia. Em relação a essa última, foi enfatizado o seu papel político, já que a atuação da psicoterapia pode ter fins diversos, como a manutenção da própria agência e não necessariamente o benefício do indivíduo. A prática psicoterápica embasada em análise funcional foi indicada como uma alternativa que permite que essa agência promova mais benefícios ao indivíduo. Essa forma de atuação, por sua vez, favorece o desenvolvimento de alguns tipos específicos de autoconhecimento que estão mais próximos ao autocontrole e ao contracontrole. Além disso, foi apontado que o uso de práticas coercitivas e o controle punitivo das agências pode favorecer formas de autoconhecimento que ocultam o reconhecimento de importantes variáveis que atuam sobre o comportamento e não favorecem repertórios de autocontrole e contracontrole.Item Intervenção sobre processos de luto prolongado por morte em adultos: comportamentos requeridos do psicólogo(2024-02-26) Krueger, Thayná; Kienen, Nádia; Silva, Silvia Aparecida Fornazari da; Gil, Silvia Regina de Souza ArrabalO luto é um processo natural que faz parte da experiência humana. Contudo, esse processo pode se revelar uma vivência intensamente dolorosa, levando os enlutados a buscarem auxílio psicológico para enfrentar as consequências provenientes das contingências relacionadas ao luto. Os psicólogos podem se deparar com a necessidade de prestar atendimento a pessoas enlutadas nos mais diversos contextos em sua prática profissional. No entanto, para que o psicólogo possa fornecer suporte psicológico adequado, é necessário que ele tenha sido devidamente capacitado e possua uma compreensão clara e objetiva dos comportamentos necessários para intervir em processos de luto por morte em pessoas adultas. Porém, existem lacunas na formação quanto aos comportamentos que o psicólogo deve apresentar para realizarem esse tipo de intervenção. O objetivo da presente pesquisa foi propor classes de comportamentos constituintes da classe geral "intervir junto a pessoas adultas em processos de luto por morte", a serem apresentadas por psicólogos em sua atuação profissional. Para a pesquisa, o artigo “Complicated grief therapy for clinicians: An evidence-based protocol for mental health practice” foi utilizado para derivar e propor as classes de comportamento constituintes da intervenção do psicólogo em processos de luto por morte. O estudo utilizou os procedimentos da Programação de Condições para o Desenvolvimento de Comportamentos (PCDC), que é uma tecnologia derivada dos conhecimentos produzidos pela Análise Experimental do Comportamento que pode auxiliar na proposição de classes de comportamentos. O procedimento foi constituído por 9 etapas: identificação e seleção de trechos que contivessem componentes comportamentais; registro e destaques desses trechos; registro dos trechos nas colunas correspondentes; derivação dos componentes comportamentais não especificados; proposição de nomes para as classes de comportamentos; avaliação da linguagem; adequação da linguagem; organização e categorização das classes de comportamento. Os resultados permitiram a proposição de 221 classes de comportamentos que constituem a classe geral “intervir junto a pessoas adultas em processos de luto prolongado por morte”, as quais foram organizadas em cinco categorias. A categoria com maior quantidade de classes de comportamentos foi justamente a “Intervenção sobre as variáveis do processo de luto” que apresenta os comportamentos do psicólogo para intervir nas dificuldades vivenciadas pelo enlutado e auxiliá-los a aceitar e integrar o seu luto a uma nova vida após a perda. Estas intervenções incluem a psicoeducação, o manejo das emoções, a elaboração de planos para o futuro, a construção de novos relacionamentos, a promoção do contato com as memórias do falecido e construção de um novo relacionamento com as memórias do falecido. Outras categorias relevantes, são: “Solicitação de relato”, “Avaliação do caso”, “Promoção de um ambiente terapêutico acolhedor” e “Cuidados ético-profissionais”, que são categorias necessárias a todos os atendimentos psicológicos e que dão suporte a uma intervenção eficiente em processos de luto. Essa proposição das classes de comportamentos pode contribuir para a elaboração de programas de capacitação para os psicólogos que são requeridos a intervir em processos de luto prolongado.Item Uma revisão sistemática de artigos experimentais acerca da variabilidade comportamental: definições, procedimentos e medidas(2024-02-29) Morais, Lorena Ribeiro de; Neves Filho, Hernando Borges; Knaus, Yulla Christoffersen; Fonseca Júnior, Amilcar RodriguesA variabilidade é um conceito debatido na filosofia da ciência e, similarmente, a Análise do Comportamento tem se debruçado sobre as suas interpretações e implicações. A despeito das discussões teórico-filosóficas acerca da sua origem e natureza, os analistas do comportamento parecem concordar que ela está presente mesmo nas condições experimentais mais bem controladas, pois sempre há diferenças entre duas instâncias comportamentais. Estudos demonstraram que níveis de variabilidade comportamental podem ser postos sob controle das contingências sob as quais ocorrem. Alguns autores afirmam que esse controle, ao menos em parte, é exercido pelas consequências, ou seja, defendem que níveis de variabilidade podem ser reforçados. Existem, porém, outros autores que interpretam os dados sobre a variabilidade operante afirmando que ela não está sendo reforçada, mas apenas induzida, ou eliciada, pelas contingências. Ademais, apesar da alta replicabilidade dos estudos realizados quanto a variabilidade comportamental, existem considerações pertinentes a serem feitas. A primeira e possivelmente a maior delas, está na dificuldade em definir o que é variação ou, em outros termos, em estabelecer um critério consistente para avaliar níveis de variabilidade. Os procedimentos utilizados para engendrar níveis maiores de variabilidade são diversos, e há também uma variedade nas respostas e propriedades estudadas. Além disso, autores utilizam diferentes medidas para calcular e avaliar níveis de variabilidade. Assim, a despeito da literatura acerca da variabilidade comportamental ser extensa, conclusões acerca do fenômeno – se a variabilidade pode ser reforçada ou apenas induzida, por exemplo – são dificultadas pela diversidade de definições, procedimentos e medidas adotadas para o seu estudo. De modo à contribuir com essa problemática, o presente trabalho se propunha a compilar, categorizar e analisar comparativamente definições de variação, procedimentos para o estabelecimento de um critério de reforçamento e medidas de níveis de variabilidade utilizados por analistas do comportamento em artigos experimentais publicados entre 2012 e 2022, nacionais e internacionais, que tenham a variabilidade comportamental como tema central. O procedimento para coleta e análise dos dados foi inspirado pelo protocolo PRISMA, com adaptações Após a leitura e análise dos artigos foi realizada uma discussão acerca das definições utilizadas pelos autores, bem como os procedimentos e medidas adotados. Verificou-se que a maior parte dos autores adotou uma definição de variabilidade como equiprobabilidade e utilizou procedimentos de Lag n ou limiar de frequência relativa. O método de calculo mais utilizado foi o da frequência de emissão e valor U. Espera-se que o presente trabalho tenha auxiliado a elucidar o estado atual das pesquisas experimentais acerca da variabilidade comportamentalItem Avaliação do Jogo Kahala para Ensino de Comportamentos Pré-requisito do Empatizar a Crianças(2024-06-26) Sanches, Poliana Fernandes Mesquita; Gil, Silvia Regina de Souza Arrabal; Perkoski, Izadora Ribeiro; Faleiros, Pedro BordiniEmpatizar é um comportamento constituído por diferentes comportamentos pré-requisito passíveis de ensino por meio do arranjo de contingências. Seu ensino contribui para um melhor desempenho acadêmico e desenvolvimento de outros comportamentos sociais. O ensino de comportamentos – tais como manejo de situações de bullying, comportamentos sociais acadêmicos, reconhecimento de emoções e o responder às necessidades do outro – têm sido realizados por meio de jogos educativos, o que sugere a viabilidade de seu uso para o ensino do empatizar. O objetivo do presente estudo foi avaliar o jogo educativo Kahala quanto aos aspectos de usabilidade, engajamento e ensino da classe de comportamento “responder às necessidades do outro de acordo com a situação vivenciada” a crianças. O jogo Kahala é um jogo analógico desenvolvido para ensinar os comportamentos pré-requisito do empatizar: (a) identificar as necessidades do outro; (b) identificar recursos disponíveis que poderiam ser compartilhados com o outro de acordo com a situação vivenciada; (c) responder às necessidades do outro de acordo com a situação vivenciada. Destaca-se que os comportamentos referentes aos Itens a e b são pré-requisitos para a classe geral de comportamento referente ao Item c.. O enredo do jogo se passa em um contexto pós-apocalíptico, em que o personagem do jogador precisa ajudar os demais personagens fornecendo os recursos de que eles necessitam. Participaram do estudo quatro crianças na faixa etária de 8 a 9 anos. Foi utilizado um delineamento de linha de base múltipla entre participantes. Na fase de Pré-teste (duas primeiras sessões) foi aplicado o questionário QACEC (Questionnaire to Assess Affective and Cognitive Empathy in Children), a Situação Avaliativa e (c) o Jogo “Caçador de Arco-Íris”. Na fase de Intervenção (terceira à sexta sessão), foi usado o jogo Kahala. A fase de Pós-teste (duas últimas sessões) foi equivalente à de Pré-teste. Para avaliação da aprendizagem dos comportamentos-objetivo do jogo comparou-se o desempenho dos participantes no Pré e Pós-teste e durante as sessões. Em relação aos resultados obtidos por meio do QACEC, a maioria dos participantes apresentou um aumento na pontuação dos questionários aplicados no pós-teste em comparação aos do pré-teste. Tanto no jogo “Caçadores de Arco-Íris” quanto no Kahala, os participantes apresentaram alta porcentagem de acerto. Observou-se uma diminuição progressiva na dificuldade dos participantes com o jogo ao longo da intervenção, sugerindo uma boa usabilidade do Kahala. A alta frequência de comentários positivos, predominantes na maioria das sessões para todos os participantes, indica um engajamento positivo com o jogo. Por fim, os resultados dessa pesquisa além de demonstrarem a possibilidade de aplicação do Jogo Kahala para o seu público-alvo, indicam que ele pode ser usado para o ensino de comportamentos pré-requisito do empatizar. Apesar das mudanças no sentido da melhora para alguns comportamentos pré-requisito do empatizar, ainda são necessários mais estudos que aprimorem o jogo e o avaliem com uma amostra maior de participantes.Item Efeitos de consequências culturais imediatas e atrasadas sobre entrelaçamentos contendo informações falsas(2024-06-28) Silva, Bruno Teixeira; Neves Filho, Hernando Borges; Haydu, Verônica Bender; Vasconcelos Neto, Aécio de Borba; Soares, Pedro Felipe dos ReisCom o alcance da internet e das comunicações em tempo real, a fake news se tornou um ponto de interesse público em diversas áreas devido aos seus efeitos danosos para a sociedade. Partindo do pressuposto de que a fake news é um fenômeno composto pelo comportamento humano, sobretudo no nível da cultura, este trabalho tem por objetivo examinar os efeitos da imediaticidade (ou atraso) na produção de diferentes consequências culturais (CCs) na seleção de culturantes verdadeiros ou falsos em 4 microculturas de laboratório compostas por 3 participantes cada. Em cada microcultura, os participantes receberam 1 ficha e de forma coletiva tinham que resolver um problema. O produto do entrelaçamento configurava um culturante verdadeiro – Cult V – ou um falso – Cult F. Cult V produzia, como CCs, informações verdadeiras e Cult F produzia informações falsas. Foi dito que essas CCs produzidas seriam entregues para uma escola de forma imediata ou atrasada a depender da condição experimental vigente. Para o estudo foram propostas 4 condições experimentais: A (Cult V – verdadeiras atrasadas e Cult F – falsas atrasadas); B (Cult V – verdadeiras imediatas e Cult F – falsas atrasadas); C (Cult V – verdadeiras imediatas e Cult F – falsas imediatas) e; D (Cult V – verdadeiras atrasadas e Cult F – falsas imediatas). Foi utilizado um delineamento experimental análogo ao de sujeito único com reversão sob diferentes condições programadas para cada microcultura: M1 (ABCBA); M2 (CBABC); M3 (ADCDA) e; M4 (CDADC). Após a realização dos experimentos foi feita uma coleta de dados suplementares a fim de investigar eventos privados relatados pelos participantes experimentados durante as sessões. Antes da primeira condição de cada microcultura foi realizada uma fase de treino designada como Condição “Habituação” a fim de garantir que os participantes iniciassem a primeira condição do experimento sabendo a lógica da tarefa a ser desempenhada. Os resultados de uma forma geral indicaram uma seleção maior de Cult V em todas as condições de todas as microculturas. Excetuando M3, houve uma variação na seleção de Cult F correspondente à produção de CCs falsas imediatas ou atrasadas, ou seja, as condições em que Cult F produziu CCs falsas imediatas foram melhor suprimidas e as condições em que Cult F produziu CCs falsas atrasadas tiveram uma maior produção. Dados suplementares indicam o papel de outras variáveis no controle do comportamento de desinformar. A partir dos dados aqui propostos é possível supor que há uma necessidade de se investigar outras variáveis ambientais presentes na fake news a fim de se criar uma base empírica robusta, a partir da Análise do Comportamento, que possibilite o planejamento de estratégias mais efetivas de mitigação da fake news. A partir dessa base empírica, por fim, ensaia-se os primeiros passos da construção de um arcabouço epistemológico para uma Análise do Comportamento Aplicada à Desinformação.Item Negligência e comportamento criminoso na literatura analítico-comportamental: uma revisão integrativa(2024-07-10) Santos, Maria Cecília Bonfim dos; Gallo, Alex Eduardo; Santos, Walberto Silva dos; Filgueiras, Guilherme BracarenseRegras e normas de diversas sociedades pelo mundo estabeleceram uma relação da humanidade com o crime. A incidência criminal é um fenômeno que se configura como uma questão de dimensões expressivas e que apresenta grande impacto social e econômico. Teóricos de diversas áreas têm buscado identificar causas para o comportamento criminoso desde o século XVIII: na Economia, esforços nesse sentido se concentram na existência de uma possibilidade de escolha individual, livre de tendências ou propensões (Teoria da Racionalidade), e na tentativa de considerar o maior número possível de variáveis para explicar o comportamento criminoso (Economia Comportamental). No século XIX, a teoria de Cesare Lombroso, médico higienista, surgiu para atribuir às características físicas da pessoa o fato de que ela cometeria um crime (Teoria do Criminoso Nato). Na área do Direito Penal há a definição se o indivíduo cometeu um crime por meio de normas legais, apoiando-se em uma política punitiva de encarceramento em massa que sentencia jovens negros de baixa renda e com baixa escolaridade à exclusão e à opressão. Apesar disso, existe pouco consenso acerca do que pode estar relacionado às causas do ato criminal. A Análise do Comportamento (AC) coloca a necessidade de conhecer o maior número possível de variáveis que controlam o comportamento do indivíduo, assumindo a existência de uma relação entre organismo e ambiente. Entender aspectos sociais, econômicos e de saúde faz parte do processo de elencar fatores de risco e de prevenção para a ocorrência da conduta infracional. Entende-se que a família atua como agência de controle ao promover a socialização de seus membros em uma noção mais ampla de sociedade e a inserção destes em outras agências de controle, sendo a negligência apontada como um fator de risco para o comportamento criminoso. Desta forma, considerando que pais e cuidadores são capazes de evitar comportamentos tidos como indesejáveis, mapear o uso do termo “negligência” nos estudos analítico-comportamentais que mencionam comportamento criminoso e/ou crime faz-se necessário como um passo inicial a fim de viabilizar diferentes estratégias de intervenções. Com este objetivo, realizou-se um estudo de natureza bibliográfica integrativa, dividida em seis etapas: delimitação de palavras-chave, definição dos critérios de seleção dos textos, busca e armazenamento dos artigos, seleção dos materiais, leitura e sistematização dos materiais e análise bibliométrica dos dados. Utilizou-se combinações específicas de palavras-chave relacionadas à negligência, ao crime/comportamento criminoso, e à produção específica de Análise do Comportamento. Uma busca em bases de dados nacionais e internacionais foi realizada, resultando em um total de 804 referências identificadas. Dentre essas, 25 artigos que atendem aos critérios de inclusão e de exclusão foram selecionados, sendo todos apenas em bases de dados internacionais, o que aponta a ausência de estudos publicados nas bases de dados e nos periódicos nacionais. Os artigos analisados foram organizados em tabelas que compilaram informações sobre dados bibliométricos e sobre natureza das pesquisas. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para as discussões que endossem o progresso de uma Análise do Comportamento que esteja compromissada com questões sociaisItem Criatividade em B. F. Skinner: interface entre ontogênese e cultura(2024-07-19) Gomes, Laryssa Rodrigues; Neves Filho, Hernando Borges; Carvalhal, Cassiana Sterza Versoza; Leite, Emerson Ferreira da CostaA criatividade é um fenômeno natural e passível de investigação científica, sendo possível localizá-la no âmbito do estudo sistemático do comportamento humano. A Análise do Comportamento, ciência proposta por B. F. Skinner, tem como objeto de estudo o comportamento. Para essa teoria, a criatividade está intimamente relacionada à novidade, mas sua compreensão deve estar pautada em uma visão histórica, relacional, funcionalista e selecionista do comportamento. Apesar das contribuições dessa área de estudo nas discussões sobre criatividade e cultura, a Análise do Comportamento tem sido alvo de críticas que questionavam sua capacidade de abordar adequadamente o fenômeno criativo. Essas críticas destacavam a dificuldade da abordagem analítico-comportamental em integrar discussões sobre criatividade e cultura de maneira satisfatória. Assim, o objetivo deste estudo foi propor, por meio de uma pesquisa teórico-conceitual, uma discussão interpretativa da criatividade nos textos de Skinner e suas possíveis vinculações e desdobramentos no nível ontogenético e cultural. Para tanto, a metodologia adotada foi a aplicação do Procedimento de Interpretação Conceitual de Texto (PICT) em textos fundamentais de B. F. Skinner. Os livros foram consultados em formato digital e o recurso de busca eletrônica no interior do texto foi utilizado para viabilizar uma busca direta do radical “creativ”. Com base nos resultados obtidos, foram criadas três categorias de análises, sendo elas: (i) Criatividade e Behaviorismo Radical; (ii) Criatividade e ontogênese; (iii) Criatividade e cultura. Na primeira categoria, foram discutidos os aspectos ontológicos e epistemológicos do Behaviorismo Radical que amparam o estudo da criatividade nesta abordagem. Na segunda categoria, foram elencados dois tipos principais de criatividade mencionadas pelo autor no nível ontogenético, sendo eles: a criatividade artística, a qual o problema a ser resolvido é menos explícito e a dificuldade seria a própria variação; e a criatividade do aluno criativo, que possui uma finalidade específica pautada na resolução de problemas mais explícito. Por fim, a terceira categoria de análise discutiu a criatividade como um valor secundário a ser adotado no planejamento cultural, uma vez que ela se constitui como uma ferramenta capaz de promover a sobrevivência da cultura e promover repertórios de contracontrole em relação aos poderes hegemônicos. Pautando-se nessas discussões, espera-se que esta pesquisa constitua uma base teórica para trabalhos futuros que visem aprofundar os debates sobre a interface entre ontogênese e cultura a partir do âmbito da criatividade.