Registros do futuro: escrita íntima em Nós e Future Home of the Living God

Data

2023-10-23

Autores

Garcia, Xarxel

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Resumo

A distopia é caracterizada pela imaginação de uma sociedade, normalmente localizada no futuro, significativamente pior do que a realidade de quem lê. O contraste é feito para servir como um aviso, um recado premonitório de onde se pode chegar caso não dermos a devida atenção aos problemas políticos de nossa comunidade. Nesse sentido, é curiosa a proeminência das escritas íntimas em obras desse gênero, datando influências desde a Utopia de Thomas More, livro no qual são encontradas cartas trocadas entre os idealizadores desse projeto como paratexto. Assim, essa pesquisa pretende unir as duas áreas do conhecimento, a fim de elucidar como a escrita íntima, com suas especificidades, contribui para a construção de mundo e personagem em histórias distópicas. As obras selecionadas para esse fim serão Nós de Iêvgueni Zamiátin e Future Home of the Living God de Louise Erdrich. Sendo essas obras com contextos bastante diferentes, será possível explorar vários aspectos da relação aqui ressaltada. Para isso será feita uma exposição das funções do gênero diário como escrita real, bem como os processos pelos quais esses documentos passam quando arquivados. Além disso, também será dedicado um espaço para discutir sobre os distanciamentos e aproximações da transposição do gênero diário para a ficção. Para abordar a distopia, serão desenhados os caminhos percorridos por esse gênero, realçando suas influências como a utopia, antiutopia e ficção científica. Também se pretende expor possíveis objetos de estudo com inscrições distópicas como caminhos possíveis que se acredita renderem interessantes pesquisas. Por fim, a análise abordará todos os assuntos expostos, revelando as instigantes interações da distopia com a escrita íntima, como a individualização do sujeito em meio a uma sociedade que tenta homogeneizá-lo; o ímpeto de criar registros pessoais em momentos de caos político e social; o repreendimento dessa forma de expressão, desincentivado e caçado pelo poder regente; o autoconhecimento gerado pela visão alcançada através da escrita; o endereçamento da escrita para outrem, ainda que seja íntima; e a confissão dos segredos íntimos como forma de dividir o peso do desvio da norma instaurada.

Descrição

Palavras-chave

Distopia, Diário, Escrita íntima, Arquivo

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