O isolamento social como um mal-estar: uma análise por meio da fenomenologia da enfermidade.
Data
2025-04-01
Autores
Gianvecchio, Pedro Henrique Percinio
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Resumo
A presente dissertação tem como escopo principal explorar a experiência de viver uma enfermidade em isolamento, destacando a vulnerabilidade humana e a interconexão entre consciência e corpo no contexto da pandemia do coronavírus, ocorrida entre janeiro de 2020 e maio de 2023. A privação da convivência social entre pessoas, associada à disseminação de uma doença até então desconhecida e incurável, caracterizou-se como um mal-estar pandêmico, quando analisada sob a perspectiva fenomenológica da enfermidade. A filosofia aborda o problema da enfermidade de modo diferente da medicina, revelando que médicos e pacientes experimentam a enfermidade de formas distintas. O estudo fenomenológico da enfermidade destina-se ao conhecimento da existência humana em situações diversas, como saúde, doença e enfermidade, valendo-se da fenomenologia. A investigação do mal-estar vivenciado no isolamento social pandêmico parte da noção fenomenológica, abordando conceitos como intencionalidade, facticidade e transcendência para compreender o fenômeno da enfermidade. A fenomenologia da enfermidade revela a experiência subjetiva durante o isolamento social, contribuindo para a compreensão de como os seres humanos sentem e vivenciam o mundo quando estão solitários e enfermos. A pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 impôs o isolamento social a todos, e esse acontecimento foi um inegável mal-estar, observado em um contexto no qual os seres humanos, que naturalmente buscam o próprio bem-estar, subitamente se veem confinados e, além disso, gravemente enfermos. O mundo familiar conhecido vai desmoronando, cedendo lugar a uma nova condição de estranhamento. A enfermidade, o isolamento, o sofrimento e as perdas podem ser vistos como reflexos da pandemia causada por uma doença devastadora. A situação de isolamento vivenciada na experiência de enfermidade, do ponto de vista ontológico, afeta o modo de ser em sua constituição e cria uma condição contrária ao ser-no-mundo corporificado. Há uma experiência do sofrimento na enfermidade que considera, em cada caso, a maneira pela qual os sintomas adquirem significado para aquele que sofre. Isso ocorre porque cada pessoa é um composto intrincado de experiências passadas, esperanças futuras, papéis sociais, deveres e relacionamentos socioculturais e políticos. Por essa razão, sofrer envolve uma perda do senso de si associada a um afeto negativo. A pandemia interrompeu nossas possibilidades existenciais nas relações cotidianas face a face. Em certa medida, a interação intencional com outros molda sentimentos, pensamentos e atividades de diversas maneiras. A enfermidade grave – assim como todas as experiências ou circunstâncias vivenciadas pelos seres humanos – é altamente instável e está em constante fluxo dinâmico. A pandemia da COVID-19 passou por um ciclo com começo, meio e fim; isso revelou a impermanência de todas as situações da vida. A impermanência é uma característica inerente a cada circunstância ou situação que os seres humanos podem enfrentar ao longo da existência
Descrição
Palavras-chave
isolamento social, pandemia, fenomenológica da enfermidade, sofrimento