02 - Mestrado - Filosofia
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Item O problema da consolação como pertencimento: sofrimento, linguagem e sociabilidade sob a metafísica da posse(2024-04-19) Chiaveli, Tiago Damasceno; Weber, José Fernandes; Pinezi, Gabriel; Pavão, Aguinaldo; Silva, Claudinei Aparecido de Freitas da; Nalli, Marcos Alexandre GomesA ideia de consolação ronda a filosofia desde o seu nascimento. Apesar de uma longeva relação que atravessa toda a história, a filosofia ainda não foi plenamente capaz de tomar a consolação como um legítimo sujeito filosófico, e defini-la em um modelo explicativo. Esse esforço foi recentemente retomado, e em uma época cuja cultura é por muitos caracterizada como coping culture e repleta de abordagens e estratégias dissonantes sobre a lida emocional ante os atuais desafios psicossociais. Nesse cenário, este trabalho se une ao atual esforço de caracterizar filosoficamente a consolação, no sentido de encontrar o modelo de linguagem que lhe seja peculiar. Este modelo, conforme a tradição retórica e da clínica psicológica atestam, repousa sobre a condicionalidade – visto que a função da consolação é relativizar, por meio de seus gestos, o estado fatalista em que um sujeito desolado se encontra. Sob esse pressuposto, nosso trabalho investiga com profundidade o que é pressuposto dessa “gramática do condicional”: a ideia de possibilidade, posse e pertencimento, não em seu sentido usual, meramente social, mas nas condições metafísicas dessa sociabilidade. O trabalho mergulha na metafísica aristotélica com esse olhar pragmático, na tentativa de estabelecer quais são os limites da relação entre os fatos absurdos que provocam-nos profundo pesar, e a recriação de possibilidades capazes de nos renovar e requalificar para a felicidade.Item Arthur Schopenhauer e o cristianismo : ascese, negação do mundo e sua relação com a ética(2024-02-20) Feliciano, Gabriel Pedrão; Pavão, Aguinaldo Antonio Cavalheiro; Weber, José Fernandes; Araldi, Clademir LuísEste projeto de pesquisa se propõe apresentar as duas diferentes perspectivas que Schopenhauer possui no que diz respeito ao cristianismo, principalmente no livro IV de O mundo como vontade e como representação, e o capítulo XVII do segundo tomo desta mesma obra, para assim, entender qual é a relação que Schopenhauer tem com a religião cristã: ela é imprescindível em sua filosofia ou não? Quando o assunto é o cristianismo, podemos notar dois lados opostos em seu pensamento: o cristão, que se relaciona com a religião, encontrado principalmente na ética, e o crítico, relacionado às alegorias e sua atuação. Perante a isso, nesta dissertação se buscará entender por qual motivo o filósofo considera sua filosofia cristã, defendendo uma diferenciação entre o cristianismo tradicional e o utilizado pelo autor. Desse modo, o entendimento de Schopenhauer sobre cristianismo é diferente do tradicional, e, quando se relaciona com a religião, o faz tendo base o verdadeiro cristianismo, aquele que sofre influência das religiões orientais, sediado no Novo Testamento, e quando critica, leva em conta o cristianismo com raízes judaicas. Por fim, com base nessa separação entre o verdadeiro cristianismo e o outro, é possível facilitar o entendimento sobre a verdade da ambivalência da religião cristã, e também, da não contradição de Schopenhauer, quando o assunto é o cristianismo.Item Psicanálise e fenomenologia nos dois eixos do pensamento de Gaston Bachelard: diurno-epistemológico e noturno-poético(2024-01-18) Fonseca, Pedro Olivieri; Santos, Eder Soares; Nalli, Marcos Alexandre Gomes; Rocha, Gabriel Kafure daDentro dessa pesquisa, foi adotado um recorte temático para que se pudesse trabalhar com os dois polos que marcam toda extensão filosófica das obras do autor Gaston Bachelard, e investigando a partir delas a possibilidade de uma interpretação da complementaridade entre os dois núcleos de produção do autor. Para isso, foram selecionados temas não só que estão presentes dentro das duas estruturas de produção do autor, como também elementos externos à filosofia dele, mas que pudessem nos ajudar a reunir estas duas partes constituintes do pensamento bachelardiano através da psicanálise e da fenomenologia. Portanto, a problemática está assentada, sobretudo, nessa dualitude de suas obras, mas também na procura das ligações existentes entre elas como complementares. Estes dois lados que compõem a completude do pensamento são formados por um pensamento diurno, claro e objetivo que é estipulado para a atividade científica e por isso caracteriza-se como epistemológico, e outro lado do pensamento noturno, onírico e imagético, que se destina a devanear sobre as imagens poéticas. A despeito da metodologia deste trabalho, foi elaborada uma dupla investigação bibliográfica que pudessem respeitar as idiossincrasias de cada um dos eixos temáticos de produção do autor, respeitando as particularidades específicas de cada área dentro de nossa reconstrução teórica dos pontos principais que decidimos abordar tanto no período diurno como também no noturno. Mas, não deixando obstante nossa busca em reunir aspectos que se entrecruzam dentro de uma dinâmica de alternância para com a variação das atividades dos dois períodos, e que se conectam numa interligação que atravessa os dois eixos por algum vínculo temático filosófico que, em nossa opinião, provoca uma espécie de retroalimentação entre os polos, em sentido de fomentar, enriquecer e ampliar uma mútua influência entre os lados da ciência e da poesia e constituir a noção antropológica do homem das 24 horasItem Estado em ideia: uma perspectiva crítica do direito kantiano(2024-06-17) Riveline, Guilherme Augusto; Scherer, Fábio César; Pavão, Aguinaldo Antônio Cavalheiro; Hahn, Alexandre; Cunha, Bruno LeonardoO tema desta pesquisa é a concepção de Estado de Kant em Primeiros princípios metafísicos da doutrina do direito, de 1797 (RL). Visa explicitar os seus fundamentos críticos. A partir da distinção entre respublica noumenon e respublica phaenomenon, presente no item oitavo da segunda seção do escrito Conflito das faculdades, e subjacente ao parágrafo 51 da doutrina do direito de 1797, investiga-se a teoria do Estado na RL. Assume-se que essa distinção fornece a estrutura arquitetônica-sistemática do direito do Estado em 1797, na qual o “Estado em ideia”, juntamente com a divisão dos poderes, é tratado nos parágrafos 45 a 49, e as diferentes formas, nas quais o poder do Estado aparece enquanto “pessoa física”, são expostas nos parágrafos 51 e 52. Seguindo uma outra indicação sobre essa distinção no direito do Estado, feita por Kant no final do prefácio da RL, implícita nas duas razões apontadas para o menor detalhamento das seções finais (concernentes ao direito público), pretende-se explicitar a concepção de “Estado em ideia” a partir do direito privado, bem como, endereçar a alegação de Kant de que há muitas discussões abertas à parte que tratam das formas do Estado, a doutrina da respublica phaenomenon. Adicionalmente, apontaremos que os conceitos críticos da concepção de Estado de 1797, já estão presentes no escrito À paz perpétua (1795), mas ainda não organizados sistematicamente sob essa distinção arquitetônica. Defende-se que essa distinção elementar, introduzida de forma sistemática em 1797, mas explicitada em sua forma crítica um ano depois, no Conflito das faculdades, é o critério-chave para a reconstrução argumentativa do direito do Estado em RL.Item A crítica de MacIntyre aos direitos humanos e a tradição tomista contemporânea(2024-04-08) Silva, Luís Henrique Toniolo Serediuk; Faggion, Andréa Luisa Bucchile; Feldhaus, Charles; Silva, Frederico Augusto BonaldoO trabalho cobre a crítica de MacIntyre sobre os direitos humanos, que é uma parte de sua crítica mais ampla à racionalidade moderna e ao inquérito moral moderno, e isso tendo como pano de fundo o tomismo contemporâneo. Pois diferentes tomistas ofereceram explicações diversas sobre como os direitos humanos surgiram na filosofia e prática ocidentais, o que resultou em respostas conflitantes para a "crise epistemológica" que veio com esse novo conceito de racionalidade prática. Alguns argumentaram em seu favor, vendo-o seja como produto direto de um contexto cristão e, mais especificamente, tomista (relação genética), seja ao menos como um conceito amistoso, compatível com um contexto tomista (relação complementar). Outros, dentre os quais, MacIntyre, enxergaram os direitos como um conceito completamente disruptivo que estorva a racionalidade tradicional (relação dialética) e leva apenas à incomensurabilidade e dissenso moral. Porém, o objetivo geral desta pesquisa não é apenas explicar a crítica de MacIntyre em sua relação com outros ramos do tomismo contemporâneo, mas ir além do próprio MacIntyre, considerando que ele aderiu a uma explicação tomista da lei natural várias décadas atrás. Um dos resultados aqui alcançados é que é possível falar de direitos (direitos-na-tradição, não o que comumente se entende por direitos humanos) que surgem de uma explicação tomista da lei natural, mesmo na teoria de MacIntyre, partindo de uma racionalidade ancorada numa tradição e em práticas, e numa explicação teleológico-essencialista da natureza humana, contra a explicação nominalista-mecanicista na qual vicejam os direitos humanos. Portanto, de uma análise da cultura moderna informada por tais princípios nominalistas-mecanicistas da razão prática, e indo além do ceticismo de MacIntyre quanto a direitos em geral, foi possível chegar a uma solução para a "crise epistemológica" com respeito ao tomismo e direitos humanos, com o que se pode chamar de "relação genética qualificada": direitos atribuíveis aos seres humanos só podem funcionar propriamente num contexto de razão prática informado por uma tradição de inquérito moral, e têm suas raízes, especificamente, na racionalidade cristã e pré-moderna. Uma vez retirado desse contexto, assim como outros conceitos que MacIntyre chama de "tabus", está fadada a falharItem Responsabilidade moral em David Hume: uma leitura naturalista(2024-04-26) Silva, Karlos Kened Pontes da; Pavão, Aguinaldo Antônio Cavalheiro; Conte, Jaimir; Feldhaus, CharlesEntre outros assuntos, David Hume trata em seus escritos sobre a questão da liberdade e necessidade. Esta questão diz respeito a saber se as ações voluntárias são necessárias tal como as operações da matéria, bem como em que sentido podemos compreendê-las enquanto ações livres. O filósofo conclui que as ações voluntárias são tão necessárias quanto as operações da matéria e, consequentemente, a liberdade compreendida enquanto ausência de necessidade não deve existir. Sendo assim, é possível que o agente seja responsabilizado por ações voluntárias? É denominada naturalista a interpretação segundo a qual a abordagem de Hume ao problema da responsabilidade moral passa pela compreensão da natureza e condições do sentimento moral, uma vez que em sua filosofia responsabilizar moralmente um agente é torná-lo objeto do sentimento moral de alguém. Tendo a interpretação naturalista como hipótese de trabalho, a pesquisa tem por objetivo investigar as condições e a natureza da responsabilidade moral na filosofia de Hume. Para tanto, buscamos analisar em que consiste o problema da responsabilidade moral frente ao determinismo das ações, em que medida a filosofia de Hume pode ser compreendida enquanto um naturalismo, e, qual é o papel que o sentimento moral ocupa na filosofia de Hume frente ao problema da responsabilidade moralItem Animalidade humana na crítica ao antropocentrismo em Friedrich Nietzsche(2024-01-25) Dias, Matheus Becari; Weber, José Fernandes; Oliveira, Jelson Roberto de; Pitta, Maurício FernandoEsta dissertação pretende investigar a problemática da animalidade humana enquanto elemento central na crítica de Friedrich Nietzsche ao antropocentrismo, conforme delineado em seus escritos do primeiro e segundo período de sua obra. A pesquisa parte da hipótese de que a questão da animalidade humana não apenas se apresenta como pano de fundo de algumas das grandes críticas de Nietzsche à verdade, à moral e à metafísica, mas também se configura como uma ferramenta teórica essencial para questionar as bases do antropocentrismo predominante na tradição filosófica. O primeiro capítulo dedica-se à análise da caracterização da animalidade humana nos textos do jovem Nietzsche (1870-1876), examinando o embate estabelecido pelo filósofo com a tradição filosófica preponderante no Ocidente desde Sócrates. Esta tradição constituiu os alicerces do antropocentrismo a partir do estabelecimento da dualidade entre instinto e razão, mundo material e imaterial, ser humano e animal, assim como a superioridade atribuída ao intelecto sobre outros elementos da existência. Ao rejeitar o dualismo arraigado ao pensamento Ocidental, a crítica de Nietzsche se desdobra em uma crítica ao antropocentrismo, oferecendo uma visão alternativa da existência, onde a humanidade é concebida não como algo separado e superior, mas como parte integrante da animalidade. No segundo capítulo, a pesquisa avança para o período intermediário (1876-1882), examinando a evolução da compreensão nietzscheana sobre a natureza humana. A análise de aforismos selecionados destaca a relevância da animalidade na argumentação do filósofo, elucidando os aspectos conceituais incorporados à sua visão do ser humano e a articulação de sua contrariedade ao antropocentrismo. As variações na abordagem da animalidade nos dois primeiros períodos do pensamento de Nietzsche evidenciam a ligação intrínseca dessa temática com a resistência filosófica do autor ao antropocentrismo e sua defesa de uma interpretação da humanidade que a concebe como inseparável de seus impulsos instintivos e animalescosItem A constituição do Eu em Hannah Arendt(2024-01-23) Ribeiro-Cantu, Aline Maria; Müller, Maria Cristina; Schio, Sônia Maria; Santos, Eder SoaresEsta pesquisa analisa a constituição do Eu em Hannah Arendt, concentrando-se em dois momentos centrais de seus escritos: a abordagem da solidão como experiência existencial radical de perda do Eu e a dualidade da identidade na atividade do pensar, em que um Eu se transforma em dois, metaforizando o diálogo interno do pensar. Pergunta-se pela constituição do Eu em Hannah Arendt, de modo que o objetivo central é compreender como tal constituição se apresenta ao mundo. Utilizando a revisão bibliográfica como metodologia, foram examinados os textos Que é filosofia da existência, Origens do Totalitarismo, A Condição Humana e A Vida do Espírito, bem como Eichmann em Jerusalém, Karl Jaspers: uma laudatio e Karl Jaspers: Cidadão do Mundo. A análise permitiu localizar momentos específicos em que Arendt aborda a noção do Eu e discute temas relacionados, como a questão do ser, do pensamento, da identidade, da pessoa e da personalidade que emerge no mundo por meio de atos e palavras. Verificou-se que, em Arendt, o Eu é formado por meio de relações com os outros, com o mundo e consigo mesmo, caracterizado pela pluralidade do diálogo interior e do diálogo exterior. O Eu é concebido como plural, relacional e livre. Em contextos sociais fragilizados, a falta de responsabilidade pelo mundo resulta em indiferença e individualismo, culminando na busca de refúgio em um mundo lógico e coerente. Conclui-se que o Eu, se privado de relações, torna-se cindido, apresentando uma falta que fragiliza sua posição no mundo. Esse Eu fragilizado pode escolher não se responsabilizar pelo mundo em que vive, gerando uma disposição generalizada de indiferença em relação às demais perspectivas.Item Da paridade de participação como paradigma normativo na concepção de justiça de Nancy Fraser(2024-01-24) Prestupa, Pamela Pereira; Feldhaus, Charles; Britto, Evandro Oliveira de; Scherer, Fábio CésarPartindo da teoria crítica de Nancy Fraser, sob a discussão redistribuição-reconhecimento como foco inicial, o presente trabalho almeja examinar o princípio da paridade de participação como fundamento normativo de sua concepção de justiça. Para tal fim, é necessário pontuar as divergências e convergências entre as esferas de redistribuição e reconhecimento, bem como tratar dos comentários e críticas da autora às teorias monistas, de modo a examinar seus efeitos práticos nas reivindicações sociais. Para tanto, faz-se necessário explorar conceitos básicos de formação da estrutura social contemporânea e o diagnóstico das injustiças decorrentes desta de modo que se compreenda a sociedade contemporânea como uma ordem institucional multifacetada, na qual coexistem diversos eixos de subordinação e de opressão, que se entrecruzam e se reforçam mutuamente em uma sociedade transnacional. Como conclusão, pretende-se defender o princípio da paridade de participação como paradigma normativo central na concepção de justiça de Nancy Fraser demonstrando a sua efetividade para a métrica das demandas sociais na atualidade, que requerem uma análise integrada: redistribuição, reconhecimento e representação.Item O compromisso com a equidade : um estudo sobre os mecanismos de justificação em Rawls, seus críticos e uma possibilidade de aplicação(2023-07-27) Souza, Rafaela Ferreira de; Feldhaus, Charles; Faggion, Andréa Luisa Bucchile; Dutra, Delamar José VolpatoEste estudo visa a reconstruir os principais elementos das estratégias de justificação da concepção de justiça de Rawls, especialmente em suas obras Uma teoria da justiça e Liberalismo político. Rawls fundamenta-se nos valores compartilhados de liberdade e igualdade nas sociedades contemporâneas, criando um conjunto de conceitos, tais como a posição original, equilíbrio reflexivo, consenso sobreposto e o ideal de razão pública, para identificar e justificar princípios de justiça. Nesse estudo, buscamos compreender como Rawls desenvolve sua estratégia argumentativa nessas obras e aplicar os princípios estabelecidos a questões concretas, embora reconheçamos algumas dificuldades práticas e culturais que essa aplicação pode enfrentar. Também abordaremos as críticas aos mecanismos de justificação feitas por Habermas e Dworkin. Um aspecto fundamental da teoria de Rawls destacado neste estudo é a importância da equidade, argumentando que a justiça requer tratamento igualitário para todos os cidadãos, garantindo que as desigualdades sociais sejam justificadas e que aqueles em posições menos privilegiadas tenham oportunidades justas de alcançar uma vida digna. Além disso, examinaremos como a razão pública pode auxiliar na resolução de questões religiosas em sociedades pluralistas, onde a laicidade do Estado é um princípio importante. Compreendendo as estratégias de justificação da concepção política de justiça de Rawls, esperamos contribuir para o debate sobre o papel da filosofia política na construção de sociedades mais justas e equitativas, além de compreender as possibilidades e limitações da aplicação de seus princípios em sociedades reais. Ao analisar os diferentes mecanismos de justificação de Rawls, é possível entender as diversas abordagens para justificar princípios de justiça e avaliar qual deles é mais adequado para uma determinada sociedade. Ademais, ao estudar esses mecanismos, podemos identificar limitações e desafios à aplicação da razão pública em sociedades concretas, buscando encontrar soluções úteis e eficazes para promover a justiça em cada contexto.Item Modificações de kant na sua concepção de direito dos estados e cosmopolitismo : um estudo das exposições de 1784 e 1795(2023-07-31) Costa, Angélica Godinho da; Scherer, Fábio César; Cunha, Bruno; Feldhaus, CharlesO presente trabalho trata do cosmopolitismo e, por aderência, do direito dos Estados, dado que aquele por vezes está atrelado com esse, em duas das suas principais exposições em Kant, a saber, nos escritos Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita (1784) e À paz perpétua (1795). Recentes estudos apontam mudanças na visão kantiana do cosmopolitismo — e de conceitos a ele vinculados — entre as décadas de 1780 e 1790 (Pauline Kleingeld, Joel Thiago Klein, Georg Cavallar, Claudio Corradetti e Martha C. Nussbaum, entre outros intérpretes kantianos) que, por muitos anos, teriam sido negligenciadas. Neste contexto se insere a nossa pesquisa, que pretende investigar se houve de fato alterações nestas concepções, bem como indicar como elas devem ser interpretadas no escopo kantiano: enquanto desenvolvimento linear, em que há explicitação de características de uma mesma concepção originalmente posta, ou na esteira de uma nova proposta, marcada pela reconfiguração das características legislativas e executórias no direito dos Estados, e pelo novo status e função do cosmopolitismo no corpus jurídico kantiano. Iniciamos a análise de cada uma das exposições kantianas com a apresentação dos pressupostos e do arcabouço teórico em que os tópicos em questão se encontram inseridos e, em seguida, buscamos identificar as suas notas típicas, visando a posterior investigação se houve alterações significativas entre as exposições e onde elas ocorreram de forma mais acentuada. Ao final do trabalho, a título de anexo, apresentamos a tradução (de minha autoria) do artigo On Dealing with Kant’s Sexism and Racism de Pauline Kleingeld, visando enriquecer a discussão sobre alguns aspectos que intersectam com a concepção kantiana de direito dos povos e cosmopolitismo e, sobretudo ilustrar o perfil flexível do pesquisador Kant que busca adequar as suas visões aos princípios da sua filosofia, tal como faz ao remodelar a sua visão sobre a hierarquia das raças, a superioridade branca, o colonialismo e a escravidão a partir da metade da década de 90 com a introdução do “direito cosmopolita” enquanto uma esfera própria do direito público.Item O método de Wittgenstein e a alternativa ao nativismo: a gramática como objeto de investigação gramatical(2024-01-24) Soares, Thauan Santos; Donat, Mirian; El-Jaick, Ana Paula Grillo; Peruzzo Júnior, LéoO propósito desta dissertação é conduzir uma investigação sobre a aquisição da linguagem e da gramática, explorando o embate entre a Teoria da Linguagem como Instinto, aqui personificada por Steven Pinker e fundamentada em Noam Chomsky, e a tradição da Teoria da Aquisição da Linguagem Baseada no Uso, encabeçada por Michael Tomasello e enraizada na filosofia de Ludwig Wittgenstein. Nossa meta é sustentar, a partir de uma perspectiva Wittgensteiniana, que as explicações propostas pelas teorias nativistas não contribuem efetivamente para o entendimento dos fenômenos que buscam esclarecer. Em vez disso, ao fundamentar suas explicações no idealismo e no mentalismo, essas teorias tendem a obscurecer ainda mais a compreensão dos processos linguísticos. Assim, ao contrapor o nativismo à abordagem baseada no uso, nosso objetivo principal é demonstrar a viabilidade de desenvolver abordagens alternativas para a compreensão da gramática, especialmente no que concerne às diversas práticas que conferem sentido a ela. Para alcançar nossos objetivos delineados, examinaremos os principais componentes do método de investigação gramatical concebido por Wittgenstein, a fim de destacar as ferramentas metodológicas que possam se revelar benéficas tanto para desafiar o nativismo como para construir uma teoria da aquisição da linguagem ancorada no uso. Posteriormente, nossa abordagem incluirá uma análise do contraste entre Pinker e Tomasello sob duas óticas distintas. A primeira perspectiva engloba uma avaliação comparativa das origens da linguagem e dos fatores biológicos, sociais e ontogenéticos que facilitam a aquisição e o desenvolvimento linguístico. A segunda perspectiva se concentra nos próprios processos de aquisição da linguagem.Item Consciência da morte e indestrutibilidade do ser: uma conexão entre os capítulos 17 e 41 do tomo II de o mundo como vontade e representação de Arthur Schopenhauer(2023-06-23) Gomes Weber, Camila; Pavão, Aguinaldo; Rodrigues, Eli Vagner Francisco; Feldhaus, CharlesEste trabalho consiste em sustentar que a compreensão schopenhaueriana dos vínculos entre a disposição metafísica do humano e o problema da morte, considerações de Schopenhauer apresentadas no capítulo 17 dos Suplementos aos quatro livros do primeiro tomo de O mundo como vontade e como representação, intitulado Sobre a necessidade metafísica do ser humano, adquire alcance e profundidade plenos quando complementadas com as reflexões expressas no capítulo 41 dos mesmos Suplementos, intitulado Sobre a morte e sua relação com a indestrutibilidade de nosso ser em si, acerca do que É a morte e o que é ATINGIDO por meio dela. Assim, para que o objetivo seja alcançado, serão apresentados os principais componentes da filosofia de Schopenhauer sobre a morte presentes em ambos os capítulos supracitados, quais sejam: 1. O temor da morte como manifestação da Vontade de vida no indivíduo; 2. A especificidade das compreensões filosóficas e religiosas da necessidade metafísica do ser humano; 3. A teoria da Ideia e Espécie como superação dos condicionantes individuais; 4. A distinção entre Vontade e Intelecto para a compreensão da indestrutibilidade da verdadeira essência; e, por fim, 5. A Vontade como o núcleo indestrutível de nosso ser que a morte não afeta, visto que ela é apenas uma ação sobre a dimensão representativa do humano. A partir disso, será mostrado que os capítulos 17 e 41 do Tomo II d'O Mundo são complementares de forma indispensável para a compreensão da metafísica da morte em Schopenhauer, já apresentada inicialmente no parágrafo 54 do Tomo I d’O Mundo.Item J.-J. Rousseau: do cuidado com a natureza e o viver em harmonia(2023-04-13) Santos, Fábio José dos; Espíndola, Arlei de; Moscateli, Renato; Scherer, Fábio CésarO trabalho enfatiza a compreensão de Jean-Jacques Rousseau sobre os elementos que compõem a interioridade do homem e dos diferentes ambientes naturais em que este se insere, bem como as relações entre essas duas esferas. A natureza é fator preponderante e estruturante para a construção das ideias do genebrino, de modo que, ela percorre toda a sua obra. Assim, o trabalho busca evidenciar, em várias de suas obras, a formação do ambiente natural construído a partir do conceito de natureza proposto pelo genebrino. No primeiro capítulo tratamos sobre o estado de natureza, com destaque ao ambiente natural que envolvia o bom selvagem e, posteriormente, o desenvolvimento do jovem Emílio, utilizando como referências a primeira parte do Segundo Discurso e os Livros I, II e III do Emílio. No segundo capítulo dissertamos sobre a ordem da natureza e o ambiente natural que se têm na relação entre o homem e a sua natureza, de maneira mais espiritual, religiosa e sentimental. Para esse fim utilizamos como referências a Profissão de fé do vigário saboiano (presente no Livro IV de Emílio) e a Sétima Caminhada dos Devaneios. Já o terceiro capítulo aborda as aproximações do homem, já corrompido pela sociedade, com a natureza, de forma a criar um ambiente natural nesses espaços. Aqui utilizamos como referências o Livro V do Emílio, a Quinta Caminhada dos Devaneios e as Cartas XI (Quarta Parte) e II (Quinta Parte) de Júlia ou A Nova Heloísa. Tem-se como resultado que o ambiente natural, mesmo que não seja diretamente mencionado pelo pensador, apresenta-se como um elemento externo na relação do homem com tudo o que o cerca, de modo a evidenciar um ordenamento em que o homem possa, mesmo em determinados espaços de tempo, viver harmoniosamente numa reconciliação de sua natureza com a cultura.Item Política moral em Kant(2023-03-28) Santos, Cleiton Marcolino Isidoro dos; Scherer, Fábio César; Pavão, Aguinaldo Antônio Cavalheiro; Perez, Daniel Omar; Hahn, Alexandre; Feldhaus, CharlesEsta dissertação tem como objetivo apresentar os pressupostos jurídicos e morais da política em Kant, a fim de evidenciar que, além dos estritos elementos jurídicos que abarcam o conceito de política, há também elementos morais que fundamentam o agir público. Isto posto, a questão central desta pesquisa configura na demonstração de pressupostos morais que permeiam a ação política. Para isso, se fará necessário identificar os pressupostos jurídicos de fundamentação da política apontados na Doutrina do direito apresentada por Kant na Metafísica dos costumes, além de definir o caráter exercitante da política como aplicação da doutrina do direito. Por conseguinte, iniciará o questionamento quanto aos pressupostos morais que circundam a política. Nessa perspectiva, se apresentará a relação entre o direito e a moral sob a discussão se há elementos morais na fundamentação do direito e; a relação entre a política e a moral sob a apresentação de circunstâncias onde o agir político harmoniza-se com o mandamento moral. Feito tais apontamentos, esta pesquisa pretende clarificar os elementos jurídicos e morais que consubstanciam o agir político na sociedade civil, apresentando como ponto fulcral o papel da moral em tal proceder.Item “Self-ownership” e propriedade privada: o conflito normativo sobre direitos de propriedade privada e a justiça distributiva no libertarianismo de direita e de esquerda(2023-04-04) Motta, Caio; Faggion, Andréa Luisa Bucchile; Vita, Álvaro de; Feldhaus, CharlesNo debate contemporâneo sobre filosofia política e justiça distributiva, o conceito de self-ownership aparece, especialmente no libertarianismo, como um importante elemento do argumento moral que justifica tanto os direitos que os indivíduos têm sobre o próprio corpo, como direitos de propriedade privada em recursos externos. Nesse sentido, nosso problema de pesquisa diz respeito à possibilidade de se conciliar self-ownership e uma distribuição igualitária de recursos externos, ou se a self-ownership somente nos confere o direito de não providenciar recursos e serviços a outros indivíduos, legitimando uma distribuição desigual de recursos externos. Desse modo, essa pesquisa tem como objetivo analisar, por meio da comparação dos argumentos normativos utilizados nas duas vertentes da teoria libertariana, como o libertarianismo de direita (representado, nessa pesquisa, por Eric Mack e Jan Narveson) e o libertarianismo de esquerda (representado por Hillel Steiner e John Christman) pensam a natureza da self-ownership como justificativa de direitos de propriedade privada e legitima moralmente distribuições igualitárias ou desiguais de recursos externos. A partir dessa discordância, propomos entender como ambas as visões pensam consequências distintas e contraditórias para a self-ownership no campo da justiça distributiva. No final, concluímos que self-ownership não pode ser conciliada com uma distribuição igualitária de recursos externos.Item A função crítica do ócio: a educação no período intermediário de Nietzsche(2023-04-14) Mazamboni, Gabriel; Weber, José Fernandes; Pitta, Maurício Fernando; Hardt, Lucia SchneiderAo abandonar os ideais de Schopenhauer e Wagner, sobretudo por identificar neles a reproducao de aspectos nocivos da Modernidade, Nietzsche escreve Humano, Demasiado Humano e inaugura uma nova fase em sua filosofia, que pode se caracterizar como uma reconciliacao com a ciencia a fim de combater a influencia moral, religiosa e metafisica para a construcao de uma cultura superior que toma a Grecia Antiga como aspiracao. Em um aforismo intitulado Em favor dos ociosos, Nietzsche expoe a decadencia dos eruditos e dos chamados “homens ativos” e a incapacidade destes de fruir uma vida contemplativa. A partir da valorizacao que o filosofo concebe ao ocio e a contemplacao, intende-se mapear suas concepcoes de modo a inseri-las no problema da educacao oriunda da Modernidade, questionar sua relevancia no Cultivo de Si, discutir a figura do espirito livre neste ambito, e identificar a ambiguidade da ciencia no periodo intermediario de sua producao tomando o perspectivismo como parametro.Item Keiji Nishitani e o esvaziar-se: sunyata (vacuidade) como alternativa à consciência(2023-03-01) Fávaro, Eduardo Gomes; Santos, Eder Soares; Weber, José Fernandes; Tsai, Plínio MarcosEsse trabalho tem como objetivo geral compreender a análise de Keiji Nishitani acerca da consciência e sua proposta de intervenção a esse modelo de existência que levou o homem a sentir-se desconectado do mundo e dos outros seres. Para isso, parte-se da leitura das obras Religion and Nothingness e On Buddhism, bem como de seus principais comentadores. Diante disso, abordam-se os seguintes tópicos: a importância da religião para o Nishitani, a construção das bases filosóficas ocidentais a partir de Descartes, a análise do niilismo e seus desdobramentos, a proposta de Nishitani que parte do conceito de sunyata derivado do budismo e a consequência desse modelo de existência. Com isso, compreendem-se alguns pontos relevantes da contribuição Nishitani ao pensamento universal e sua crítica social. Dentre elas, tem-se a descrição do autor sobre o fato do progresso realizado no O cidente ter levado o homem a um sentimento de solidão cósmica. Isso ocorreu devido às relações com a natureza e com Deus, que davam sentido e significado a existência, terem sido rompidas, ocasionando o niilismo. Deste derivaram-se duas formas, o criptoniilismo, marcado por um movimento não percebido pelas massas, que deslocam suas atenções a atividades que buscam justificar as próprias vidas, e também um niilismo consciente, mas que ainda se percebe e sente-se como um estrangeiro no mundo. Como proposta, Nishitani resgata os valores da religião primitiva ao buscar uma possibilidade de intervenção através de uma análise budista, na qual a racionalidade mal direcionada e o ego são evidenciados como obstáculos à vacuidade (Sunyata). Sunyata possibilita ao indivíduo não só entrar em contato profundo com a realidade, natureza e outros seres, mas também tornar-se realidade, natureza e outros seres em uma visão cosmo-ética que remodela toda a forma de existência e relação com o mundo, que até então se baseavam principalmente no cogito cartesiano. Portanto, a grande contribuição de Nishitani, se dá a partir da ideia de que podemos caminhar pela vida sem fugir para outras transcendências, reconhecendo a vacuidade. Esta possibilita um existir profundo no aqui e agora que tem como base o esvaziar-se do “eu” desvelando a talidade de si e do todo.Item Hannah Arendt e a questão da ideologia(2023-03-29) Cruz, Robson José Valentino; Müller, Maria Cristina; Correia, Adriano; Nalli, Marcos Alexandre GomesO tema da presente pesquisa é a concepção de ideologia apresentada por Hannah Arendt. Questionam-se o que é ideologia para Arendt e como a modernidade contribui para o seu uso como dominação. A pesquisa justifica-se por considerar que a ideologia na concepção de Arendt é um fenômeno da era moderna. A ideologia, como lógica de uma ideia, se configura como força que controla e guia o pensamento das pessoas e suas ações, vindo a substituir o senso comum. O senso comum, o “sexto sentido”, que possibilita o juízo reflexivo, é substituído pela ideologia transformando-se em força material da psicologia das massas. Arendt assevera que os movimentos totalitários modernos fazem uso da ideologia para controlar externa e internamente as pessoas; a linguagem, a história, o racismo e a religião assumem papel preponderante, contribuindo para a dominação da ideologia. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo analisar como a ideologia é realizada materialmente na sociedade no que diz respeito à linguagem, a história, ao racismo e a religião. A pesquisa preocupa-se também em debater fenômenos que exemplificam como as ideologias funcionam para a fundamentação e propagação do racismo, como estopins para guerras civis, fundamento para o nacionalismo e para os movimentos étnicos e de classe, bem como para fundar e manter regimes totalitários comuns na Europa do Século XX. A hipótese aponta que a recusa ao pensar livremente é um aspecto importante das ideologias, uma recusa ativa de abertura ao mundo que destrói o poder de julgar e de compreender. Mais importante do que o conteúdo teórico, bem como a doutrina que a ideologia professa, é a cegueira que ela causa, em virtude da recusa ao mundo real e da falta de qualquer espaço para a pluralidade; recusa aos elementos que propiciam o exercício do julgamento e da autonomia de julgamento. A pesquisa é bibliográfica e concentra-se principalmente na obra de Hannah Arendt Origens do totalitarismo. Conclui-se que os regimes totalitários e os Estados Nacionais fizeram uso das ideologias — em seu aspecto político e racial — para alcançar o objetivo de dominação total de maneira a culminar não apenas no isolamento político, que está ligado à vida pública dos cidadãos, mas também na destruição interna da capacidade das pessoas refletirem e estabelecerem juízos acertados.Item A liberdade intelectual em Schopenhauer(2022-12-16) Pereira Junior, Antonio Alves; Pavão, Aguinaldo Antonio Cavalheiro; Durante, Felipe dos Santos; Weber, José FernandesO objetivo principal da presente dissertação é a investigação sobre a formação e significação do conceito de liberdade intelectual que surge em Schopenhauer na obra Sobre a liberdade da vontade e aparece vez ou outra de modo direto ou indireto em outras de suas obras. No entanto, muitos conceitos importantes das discussões filosóficas schopenhauerianas também são trabalhados e abordados sob a perspectiva de aumentar a compreensão e de fornecer um detalhado e pormenorizado estudo da liberdade. São esses conceitos principalmente a responsabilidade moral, a justiça eterna, as formas de causalidade, a negação da vontade, o fatalismo e a loucura, que dão como que o intervalo tonal e compõem o campo harmônico para vez ou outra, recorrer de novo à tonalidade principal, ou seja, à liberdade intelectual. Uma importante reflexão levantada ao final da dissertação e que se configura como uma das suas principais contribuições para a comunidade filosófica schopenhaueriana especializada se trata da hipótese de pensar a loucura, no âmbito da filosofia e do entendimento de Schopenhauer, como que deslocada da estética para a ética, de modo a entendê-la não apenas como rompimento do fio da memória, mas também como estando nos santos e negadores da vontade como loucura divinatória, nas palavras de Sócrates e expostas por Platão, tal como busquei mostrar.