O fim real e o fim futuro em Murilo Mendes : a poesia apocalíptica de As Metamorfoses
Data
2023-06-05
Autores
Barroso, Rodolfo Lessa
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Resumo
Uma família com máscaras contra gases mortíferos, um bailarino dançando no arco-íris e navios batendo palmas são alguns dos cenários apocalípticos construídos pela voz poética de As Metamorfoses. Se alguns críticos tendem a resumir a trajetória de Murilo Mendes (1901-1975) a somente um grande autor do surrealismo brasileiro, por outro lado é nítido o não pertencimento de sua poesia a alguma vanguarda específica. Embora o poeta demonstrasse interesse por vanguardas, nunca deixou que seus poemas estivessem presos em um único estilo ou rótulo, afinal, tratamos aqui de uma poesia livre, como mesmo sugere um de seus títulos, Poesia Liberdade (1947). A fim de compreender melhor a poética deste importante autor do século XX, analisa-se neste trabalho o livro de poemas intitulado As Metamorfoses, publicado em 1944. Dividido em duas partes, a análise do livro seguiu a partir de uma divisão por temáticas presentes em cada parte: primeiro, observa-se a grande influência dos cometas, principalmente o Halley; também a dança, trazida pelo bailarino Nijinski; e a guerra, especialmente a Segunda Guerra, sendo, inclusive, o contexto de produção da época. Já na segunda parte do livro, intitulado “O véu do tempo”, percebe-se a presença muito perceptível da figura feminina, a saber, as musas dos poemas, tal como os mitos, que se misturam entre cristianismo, mitologia grega e essencialismo – filosofia de vida herdada do amigo pessoal do poeta, Ismael Nery (1900-1934). Apesar das muitas temáticas, foi possível concluir que tanto a forma quanto o conteúdo dos poemas apontam sempre para um fim: seja um fim real, que já acontecera, ou um fim futuro, presente nas profecias e visões, ou, ainda, no apocalipse, exclusivamente o joanino, o qual muito influenciou a poesia de As Metamorfoses. O título, que pode sugerir, inclusive, uma referência à obra de Ovídio (8 d. C.), revela uma dualidade entre princípio e fim: para que o novo surja, o antigo precisa deixar de existir. Em uma ordem progressiva, o eu poético cria maneiras de trazer à tona o fim do mundo, seja com o absurdo das imagens surrealistas, ou mesmo com a presença feminina que, em si, já traz tais características. Assim, nos poemas, o universo é reduzido a nada, para que um “Novo Céu” e uma “Nova Terra” surjam, na esperança de que somente assim seria possível pôr um fim em um mundo em guerra, que vive sobre destroços das barbáries, e já sem solução. Deste modo, a poesia de As Metamorfoses se mostra como uma poesia de denúncia, mas também de esperança e de resistência, que encontra no fim do mundo um fascínio, já que somente após um turbulento apocalipse é que se é possível trazer o paraíso.
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Palavras-chave
Murilo Mendes, Poesia, Apocalipse, Fim do mundo, Poesia brasileira, Família, Identidade, Máscaras