01 - Doutorado - Letras
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Item O novo lugar do fenômeno fantástico em contos finalistas ao Prêmio Hugo entre 1990 e 2020(2022-07-22) Soares, Márcio Henrique de Almeida; Santos, Adilson dos; Volobuef, Karin; Pierini, Fábio Lucas; Vieira, Miguel Heitor Braga; Ferreira, Claúdia CristinaEste trabalho resulta, inicialmente, de uma pesquisa bibliográfica, na qual foram lidos 159 contos finalistas a um dos principais prêmios do mundo para literaturas de fantasia e ficção científica, o Hugo Awards, entre os anos de 1990 e 2020. A partir de uma análise preliminar, considerou-se que 45 narrativas desse total poderiam ser classificadas como pertencentes ao gênero fantástico, de forma integral ou híbrida, conforme perspectiva genológica apresentada por Chandler (1997). Em 11 desses contos, destacou-se uma abordagem inovadora: a narração da história a partir da perspectiva do fenômeno fantástico, tornando-se esse o foco do nosso estudo. Percebendo-se a relação das transformações nos procedimentos narrativos do fantástico com mudanças sociais e culturais inerentes ao contexto histórico contemporâneo, por alguns classificado como pós-moderno, estabeleceu-se uma metodologia para a análise desses contos com base na articulação entre algumas teorias do fantástico (TODOROV, 2004 [1970]; BESSIÈRE, 1974; FURTADO, 1980; MALRIEU, 1992) e o conceito de “inconsciente político”, proposto por Frederic Jameson (1992 [1981]). Desta maneira, em um primeiro capítulo teórico, temos um processo de apresentação do fantástico e de explicação acerca da metodologia empregada. Segue-se, a este, um outro capítulo no qual comentamos e levantamos alguns pontos chave para todos os 11 contos nos quais se identifica essa presença da perspectiva do fenômeno fantástico, sempre correlacionando diferentes narrativas. Por fim, temos 5 capítulos nos quais se realiza a análise detalhada de 5 desses 11 contos, de modo a verificar e compreender em maior profundidade o emprego dessa perspectiva e sua articulação com os contextos sócio-históricos e culturais em que esses textos se inserem. Nossas conclusões apontam para a comprovação de um novo lugar ocupado pelo fenômeno fantástico em alguns textos contemporâneos e que procede das transformações sociais e intelectuais ocorridas no ocidente a partir do pós-modernismo. Esses achados apontam um campo fértil para pesquisas futuras que visem compreender o texto fantástico na contemporaneidade.Item Ecos da tragédia shakespeariana em Macário E Noite na taverna, de Álvares de Azevedo(2024-01-30) Vale, Miréia Aparecida Alves do; Corrêa, Alamir Aquino; Cunha, Patrícia Josiane Tavares da; Figliolo, Gustavo Javier; Leite, Suely; Vieira, Miguel Heitor BragaUtilizar o estudo comparado como forma de relacionar autores pertencentes a diferentes épocas, é uma prática que tem sido utilizada com sucesso na busca pelo estabelecimento de possíveis aproximações entre obras pertencentes a diferentes épocas, gêneros e idiomas. A investigação, a partir da ideia de influência, torna-se objeto de pesquisa, tomando como base os ecos presentes em uma produção, a partir das leituras e compreensões das mesmas, feitas pelo autor de uma nova criação. Dentre os caminhos que conduzem à reflexão de temas, personagens e estilos, autores pertencentes ao grupo de imortais na Literatura universal merecem atenção pela forma como podem inspirar gerações futuras, ainda que com grande distanciamento no tempo e espaço. Harold Bloom, em Anatomia da influência (2013), aborda o modo como a obra de William Shakespeare serviria como impulso criativo para escritores ao longo dos séculos, pois, de acordo com o teórico, uma vez lidas as peças shakespearianas, o leitor não é mais o mesmo e as sutilezas recebidas em sua percepção do texto, irão ecoar em sua escrita. Nesse sentido, a presente pesquisa toma como ponto de partida a busca pelas nuanças do bardo inglês nas obras Macário (1855) e Noite na taverna (1855), de Álvares de Azevedo. Para direcionar a busca dos reflexos de Shakespeare na produção azevediana, foram escolhidas quatro das grandes tragédias do dramaturgo: Hamlet (1601), Otelo, o mouro de Veneza (1604), Rei Lear (1606) e Macbeth (1607). Os pontos de contato abordados, concentram-se nos temas e tipos de personagem, tendo como pano de fundo a presença do Mal e do diabólico em ambos os autores, bem como as relações existentes entre as heroínas frágeis ou desvairadas e os homens marcados pela maldade, elencando de que modo a experiência de Álvares de Azevedo, leitor, estaria presente em seu trabalho enquanto escritor.Item Para uma história do insólito na literatura brasileira : algumas contribuições(2024-08-20) Silva, Rhuan Felipe Scomação da; Corrêa, Alamir Aquino; Santos, Adilson dos; Souza, Gustavo Ramos de; Ferreira, Claudia Cristina; Brandini, Laura TaddeiEste trabalho tem como intenção central demonstrar a estruturação da literatura fantástica brasileira durante o século XX. Para alcançar esse objetivo, o organizei em quatro blocos. O primeiro bloco trabalha com as referências teóricas do gênero. No segundo, abordo a constituição da nossa literatura fantástica. O terceiro capítulo é dedicado aos autores do gênero no Brasil. O quarto capítulo traz um levantamento das obras publicadas no Brasil durante o século XX, as capas dessas narrativas, os suplementos literários que ajudaram a expandir o fantástico e, por fim, um aparato dos trabalhos acadêmicos sobre o gênero publicados durante o mesmo período. A partir desses levantamentos, construí quatro anexos: três quadros com os dados colhidos sobre as obras e sobre as pesquisas, e um anexo com todas as capas das primeiras edições dessas narrativas. Esses dados permitiram mapear um grande número de obras e autores brasileiros, além de localizar o lugar da crítica especializada, principalmente em suplementos literários e textos acadêmicos, como artigos, dissertações e teses. A pesquisa das capas também revelou uma fortuna paratextual do gênero, abrindo espaço para investigações futuras que possam utilizar esse material como referência. Por fim, acredito que esta pesquisa se mostrou próspera no resgate histórico do nosso fantástico, servindo como um ponto de partida para pesquisas futuras e para a contínua restauração do apagamento literário e histórico que nosso país sofreu durante a ditadura militar.Item Amores irregulares e o “homem de verdade” : homossexualidades e masculinidades no romance de 30(2024-04-17) Pellizzari, Thamiris Yuri Silveira; Simon, Luiz Carlos Santos; Camargo, Fábio Figueiredo; Godoy, Maria Carolina de; Lima, Ricardo Augusto de; Leite, SuelyO presente trabalho tem por objetivo analisar a maneira como as temáticas das masculinidades e das homossexualidades masculinas são exploradas no Romance de 30. Considerando as diversas expressões das masculinidades, isto é, tendo em vista a pluralidade desse conceito que reverbera e reflete na esfera da sexualidade, esta pesquisa encontra nos textos de Connell alicerce para discorrer a respeito de um ideal hegemônico de masculinidade em contraponto com o que a autora chama de masculinidades subordinadas. No que se refere ao aparato literário, a escolha do romance de 30 envolveu, sobretudo, a pressuposição de uma abordagem profícua e extensa das masculinidades subordinadas e das homossexualidades, seja por se tratar de um momento de inigualável produção e publicação romanesca, seja em razão da maior representação dos marginalizados e levando em consideração a atmosfera dos ideais modernistas. Mantendo diálogo com textos de teoria, crítica e história literária, tanto sobre o período quanto sobre o escopo temático em questão, como os de Luís Bueno, João Silvério Trevisan, Luciana Stegagno-Picchio, Sócrates Nolasco e Michel Foucault, esta tese desnuda as variadas expressões das masculinidades em obras de diversos autores, tais quais Oswald de Andrade, José Lins do Rego, Jorge Amado e Octávio de Faria, com reflexões que chamam a atenção para a maneira como se dá a representação das homossexualidades masculinas em romances publicados ao longo da década de 1930. Nesse sentido, embora assuma uma perspectiva quantitativa, ao promover uma sistematização de obras que exploram as homossexualidades, este estudo não se abstém do viés analítico, mergulhando nas narrativas em que há território fértil para ponderações sobre masculinidades e homossexualidades, o que se dá de maneira mais concentrada ao longo do terceiro capítulo, voltado à análise dos romances Usina, de José Lins do Rego e Mundos mortos, de Octávio de Faria, sob os vieses das homossexualidades e do fracasso da masculinidade.Item Nas trilhas de Lobo Antunes : um estudo das cartas da guerra e seus romances iniciais(2024-06-25) Baccarin-Costa, Eduardo Luiz; Silva, Telma Maciel da; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Ferreira, Sandra Aparecida; Godoy, Maria Carolina de; Curanishi, Fernanda Tonholi SassoAinda que seja considerada por muitos como um “gênero menor” da literatura, as cartas podem ter um papel importante no sentido de descrever caminhos que percorreram a obra de arte e, por extensão, páginas literárias. Numa missiva, mesmo as de caráter íntimo, um artista ou autor pode acabar por revelar os meandros de um processo criativo em andamento ou mesmo submeter sua criação à análise crítica do destinatário. De 1961 a 1973, milhares de jovens portugueses foram à África defender o país contra os ideais libertários das suas colônias, e a experiência vivida foi, em boa parte traduzida em aerogramas, minúsculas formas de cartas, franqueadas pelo governo. Um desses jovens que foi a Angola cuidar dos feridos: António Lobo Antunes. Levava na bagagem não apenas a saudade, mas o desejo e um projeto de desenvolver sua escrita literária. As cartas, de conteúdo íntimo, que se transformaram no livro Deste viver aqui neste papel descripto, organizado pelas filhas de Lobo Antunes - Maria José e Joana - em 2005, e é um dos objetos da tese, relatam minuciosamente como a experiência da África o transformou no autor crítico do seu tempo. No prefácio da obra, informam que as cartas do pai à mãe podem ser lidas sob qualquer perspectiva, inclusive sob a ótica literária e histórica. Este é o recorte que pretendemos dar à nossa tese, e a partir dele responder às perguntas que se constituem o objetivo do trabalho: demonstrar como as cartas de guerra se estabelecem num importante documento literário e revelam o projeto de escrita que Lobo Antunes pretendia e desenvolveu a partir da experiência em Angola. Além disso, como essa partilha exposta nas cartas à companheira aparecem em seus romances, especialmente na trilogia inicial do autor que abarcam os romances Memória de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e Conhecimento do Inferno (1980). Ao final da tese espera-se contribuir com os estudos em torno não só da obra de Lobo Antunes como da literatura portuguesa contemporânea, descrevendo percursos percorridos pelo autor e apontando meandros para a compreensão da sua produção literária.Item Tendas nômades e máquinas de guerra : o RAP em tempo de golpes(2024-01-24) Carvalho, João Paulo Toledo de; Godoy, Maria Carolina de; Feldman, Alba Krishna Topan; Andrade, Lucas Toledo de; Chiari, Gisele Gemmi; Fernandes, Frederico GarciaEsta tese apresenta o mapeamento da mais recente produção audiovisual, disponível na plataforma virtual Youtube e em livro, de diversos artistas do movimento Hip-hop brasileiro, a fim de organizar o repertório apreciado em três eixos temáticos gerais, sugeridos por recortes pautados em três arcanos do Tarot de Marselha. Objetivou-se, por meio de uma pesquisa cartográfica, engendrar um texto/tese/máquina de guerra (utilizando o léxico deleuziano), e um texto/tese/TAZ (para dizer em uma linguagem de Hakin Bey), ativando-se, assim, um circuito de links e videoclipes na web, para contar parte da recente história do Rap. Apresenta-se uma máquina, organizada em três Tendas – nove Varais e vinte e um Folhetos – e um pós-escrito, que propõem um ritual de imersão, escuta e reflexão, tanto sobre a linguagem no RAP em meios virtuais, quanto sobre o sentido histórico do tempo no qual estas obras foram produzidas, esse tempo de golpes, sons e imagens. O resultado de tal aventura – poética, alquímica, mágica, científica e de guerrilha – quando se observa as produções que foram sendo lançadas pelos artistas mapeados, durante o período da pesquisa, e a confluência destas obras com as sugestões dos arcanos escolhidos, bem como das leituras teóricas de apoio, foi o registro privilegiado de obras de arte que são, sobretudo, documentos históricos riquíssimos que guardam a memória de um dos períodos mais complexos e delicados da história social do país.Item Experiência(s) na contramão da colonialidade: as performances de Flávio de Carvalho em diálogo com escritas insurgentes(2024-09-27) Ribeiro, Ana Carolina; Silva, Marta Dantas da; Ponge, Robert Charles; Gomes, Adriane Maciel; Doce, Claudia Camardella Rio; Fernandes, Frederico GarciaEste é um estudo sobre as performances Experiência nº2, o Teatro da Experiência e a Experiência nº3, que foram realizadas pelo artista brasileiro Flávio de Carvalho (1899-1973). Ao investigar os registros de escritas e imagens dessa tríade de trabalhos, considerando o seu contexto, os modernismos, na primeira metade do século XX, e as influências de ideias do surrealismo e da antropofagia nas propostas do artista, compreendi que, em Flávio de Carvalho, a detecção da colonialidade e a tentativa de combatê-la permeiam suas ações, proposições e enfrentamentos. Este combate também se relaciona ao trânsito entre territórios expressivos, que borra seus limites, e à transversalidade, pois perpassa os campos da arte, da filosofia, da psicologia, da história e da sociologia, fundindo a arte e a vida ao ponto de que essa possa ser observada como um grande experimento, como um amplo território de possibilidades. As Experiências são, aqui, entendidas como acontecimentos de relevância em seu caráter experimental e de exercício de crítica contra as forças coloniais. A atualidade dessa crítica está no fato de que as ações por ele propostas são como experiências de um fim não havido, uma vez que elas permanecem reverberando e o combate à colonialidade continua sendo necessário e urgente.Item Diálogos com o gótico: uma análise de produções brasileiras do século XIX(2022-07-26) Tarran, Fernanda Martinez; Santos, Adilson dos; Pereira, Julio Cesar França; Markendorf, Marcio; Silva, Telma Maciel da; Ferreira, Cláudia CristinaApós a publicação de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, várias narrativas similares foram produzidas pelo território nacional. Por suas características, esse conjunto de textos pode ser considerado o auge da literatura da perversidade e da transgressão no Brasil oitocentista. Em cinco contos, publicados em periódicos entre os anos de 1852 e 1862, encontramos bandidos sanguinários, patriarcas terríveis e vilões hediondos. Suas ações ora encontram guarida em um passado árduo, ora são justificadas pelas condições sócio-econômicas – e ora pelas convenções culturais do período, que buscavam atender à demanda por uma literatura macabra que dialogasse com os heróis-vilões recém-chegados do continente europeu em traduções do inglês e do francês. Buscando os antepassados desses personagens, encontramos uma longa linhagem de nobres fora da lei, anjos caídos e monstros impiedosos, cujas trajetórias buscamos examinar para, então, melhor compreendermos os caminhos percorridos por seus sucessores brasileirosItem De Abdias à cena negra contemporânea: semelhanças e peculiaridades do teatro negro das regiões nordeste e sul do Brasil(2022-08-02) Oliveira, Maria Júlia Werneck de; Godoy, Maria Carolina de; Crispim, Amanda; Cerqueira, Gustavo Melo; Franceschini, Marcele Aires; Fernandes, Frederico GarciaEsta tese busca traçar um olhar para o teatro ritualístico negro contemporâneo, a partir de Abdias Nascimento e de seu Teatro Experimental do Negro (TEN). Abdias foi o primeiro autor que comecei a ler e a conhecer, sua trajetória na arte, na militância e na vida política muito me interessaram. E se inicio a tese a partir dele, de sua vida, do TEN e da trajetória política é porque vejo o quanto isso reverbera nos grupos contemporâneos, em especial, nos grupos que selecionei para este doutoramento. A presença de pessoas negras na arte foi ignorada e estereotipada por muito tempo (e infelizmente ainda é recorrente nos espaços de poder). Somos um país diverso em cores e cultura, mas noto o quanto o padrão branco europeu se mantém ainda forte e atua de forma perversa na tentativa de excluir pessoas negras ou utilizá-las somente quando for conveniente. Apesar da realidade se mostrar tão dura, muito tem se transformado na arte negra neste país, e vejo boas perspectivas. A partir dessas considerações, meu objetivo geral é traçar um olhar para o teatro ritualístico negro contemporâneo, a partir de Abdias Nascimento e de seu Teatro Experimental do Negro (TEN). Como objetivo específico pretendo, a partir das análises das peças do TEN, verificar em que medida as semelhanças e peculiaridades dos teatros negros do nordeste e sul do país dialogam com as ideias propostas no TEN. O delineamento das regiões nordeste e sul como foco de análise da cena negra atual, que proponho para estudo, dá-se em virtude do ineditismo de se elaborar uma análise que busque observar como regiões distantes geograficamente produzem suas cenas negras de forma resistente, diversa e também com correspondências.Item Materialidades do cinema na literaturaSouza, Gustavo Ramos de; Simon, Luiz Carlos Santos [Orientador]; Marques, Bárbara Cristina; Pereira, Volmir Cardoso; Machado, Rosemeri Passos Baltazar; Martoni, Alex SandroResumo: Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as relações entre cinema e literatura sob a perspectiva das materialidades das mídias Tal aproximação teórica permite repensar tanto os meios de transmissão quanto a especificidade midiática A tese que proponho é que essa materialidade se baseia nas relações, isto é, trata-se de uma materialidade relacional Em vez de analisar a literatura no cinema, como sói nas pesquisas entre essas duas mídias, opto pelo caminho inverso: são analisados dois romances do escritor norte-americano Paul Auster: The Book of Illusions e Man in the Dark, a fim de verificar de que maneira as materialidades do cinema se atualizam no objeto literário Com o intuito de comprovar essa hipótese, divido este trabalho em três momentos: no momento teórico, baseando-me sobretudo na obra de Hans Ulrich Gumbrecht, apresento os estudos das materialidades em oposição ao modelo hermenêutico que impera nos estudos literários; em seguida, a partir de Jacques Derrida e Gilles Deleuze, procedo a uma crítica ao conceito de presença gumbrechtiano e intento uma reconfiguração do campo das materialidades, pensando-o não a partir da presença, mas segundo a relação No momento crítico, primeiramente realizo uma revisão do estado da arte dos estudos sobre literatura e cinema, enfatizando as contribuições de Sergei Eisenstein, Walter Benjamin, Claude Edmonde-Magny, entre outros; depois, empreendo uma discussão sobre o específico fílmico, desde a teoria da montagem dos soviéticos até os debates mais recentes em torno do dispositivo Por fim, no momento analítico, observo as diversas formas que o cinema assume nos dois romances de Auster – porém, sempre considerando que não existe uma definição única de cinema, isto é, as relações que caracterizam os muitos cinemas possíveis variam não só de um romance ao outro, mas também dentro de cada romanceItem Ao belo cabe prender o cisco : a cronista perceptora na parresía de Clarice LispectorAlves, Joyce; Corrêa, Alamir Aquino [Orientador]; Limberti, Rita de Cássia Aparecida Pacheco; Godoy, Maria Carolina de; Nolasco, Edgar Cézar; Silva, Telma Maciel daResumo: Essa tese caracteriza Clarice Lispector como cronista perceptora, a partir do estudo e da análise de suas crônicas reunidas na coletânea A descoberta do mundo (1981) Observo de modo particular as crônicas cujos temas estão relacionados à fome, à miséria, ao lugar da mulher pobre na sociedade carioca, entre outros assuntos de ordem social e que me permitem apontar na proposta da cronista certo engajamento no que tangem as causas sociais Nesse sentido, apresento o momento histórico no qual as crônicas foram produzidas com o intuito de entender o que é que se havia de perceber naqueles tempos Chamo a atenção, sobretudo, para a evidente desigualdade social que acometia especialmente a cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 196 e 197, período no qual as crônicas foram escritas Na época, o Brasil sofria com a ditadura militar e com as ações opressoras por meio da censura que limitava as manifestações artísticas, o que não intimidou Clarice Lispector A ousadia tímida da cronista transforma-se em parresía literária graças ao caráter denunciativo de seus textos Baseio-me, ainda, em arcabouço teórico que gira em torno da crônica enquanto gênero literário de origem jornalística, bem como nas teorias que me permitem explicar a apurada percepção da cronista Michel Foucault, em O governo de si e dos outros (21), e Gilles Deleuze e Félix Guattari, em Kafka por uma literatura menor (215), são autores essenciais para a concatenação deste raciocínio a que me proponho Entretanto, Walter Mignolo, em Histórias locais/Projetos globais (23), constitui um dos principais fios condutores da presente tese, sobretudo no que diz respeito ao que o autor chama de pensamento liminar A perceptora Clarice Lispector promove rupturas com as propostas do projeto cultural moderno conduzindo o leitor a uma mudança de lugar epistêmico A percepção da cronista volta-se para o marginal e a partir daí o leitor é direcionado sem, no entanto, fixar-se num único ponto de vista, o que denota a liminaridade do pensamentoItem Intersecções entre autoficção cênica e metateatro no teatro contemporâneo : zonas crepuscularesLima, Ricardo Augusto de; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Monteiro, Gabriela Lírio; Flory, Alexandre; Gimenéz, Diego; Simon, Luiz Carlos SantosResumo: Meu objetivo neste estudo é analisar a produção teatral contemporânea sob um dos aspectos que, a meu ver, são mais frequentes: a autoficção Utilizo-me desse termo e não de autobiografia devido à impossibilidade de um teatro autobiográfico nos moldes de Philippe Lejeune (28), conforme escreve Patrice Pavis (28, p 375), em seu Dicionário de teatro, visto tratar-se de uma ficção presente assumida por personagens imaginários Desta forma, recorro ao conceito de Serge Doubrovsky (1977) para verificar em qual medida, na realização cênica, o hibridismo de ficção e realidade na criação alcança outros níveis de significação e representatibilidade que não seriam percebidos na ficção em prosa É, portanto, justamente o mesmo ponto que impossibilita o teatro autobiográfico que será a manifestação dessa ambiguidade: o corpo, a voz e o espaço cênico como instâncias sempre duplas no teatro, parte ficção e parte referencial, que multiplicam os níveis de enunciação e promovem novas leituras e estruturas críticas para o teatro e sua relação com a realidade e, portanto, com ele mesmo Por isso, o reconhecimento ou sinalização da autoficção no texto dramático promove no espectador um rompimento da ilusão teatral similar a outros recursos metadramáticos, como quebra da quarta parede, teatro dentro do teatro, intertextualidade e personagens com consciência dramática A partir do momento em que a ambiguidade é instaurada, o texto mergulha o leitor/espectador em um jogo de dúvida e desdobramentos, no qual nenhum ponto se torna fixo para que o espectador situe sua percepção do real Desta forma, o texto dramático se torna um discurso crítico por ser o responsável pelo questionamento da instância, até então estável, da ficção, além de questionar, é claro, o que é teatro Para tanto, tomo como corpus para exemplificação dos tipos de autoficção que se percebem nas produções contemporâneas os seguintes textos dramáticos e espetáculos: Luís Antônio-Gabriela, de Nelson Baskerville e Verônica Gentilin (211); Conversas com meu pai, de Alexandre Dal Farra e Janaina Leite (213); Tebas Land (213) e La ira de Narciso (215), ambas de Sergio Blanco Em todas elas, o jogo entre real e ficcional é nítido e consciente, instaurados de forma crítica por meio da dúvida em relação à identidade dos personagens protagonistas Para chegar, porém, até elas, mostro como, desde o momento tido como instaurador de uma crise no drama (SZONDI, 21) uma voz dramática anseia por dizer eu sem máscaras na cena, como o faziam, ou ao menos intentavam, na escrita autobiográfica Transito pelo século XX, da Suécia de Strindberg ao subjetivismo moderno de Jorge Andrade, na tentativa de evidenciar uma mudança no paradigma da representação que dá base para o irrompimento do real na cena, seja subjetivamente ou de forma direta A criação de uma verdade em cena, mesmo que seja uma "verdade inventada", uma possibilidade de Uma versão, mesmo que um pouco turva, de um Real que nunca é alcançadoItem Entre sujeito e objeto : representações femininas em IbsenSilva, Vicentônio Regis do Nascimento; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Álvaro, Mirla Cisne; Rauen, Margarida Gandara; Leite, Suely; Simon, Luiz Carlos SantosResumo: Considerado um dos grandes nomes da dramaturgia moderna, Henrik Ibsen (1828-196) dedicou boa parte de sua obra a explicitar os problemas da família burguesa, concedendo destaque à mulher, que não usufruía da liberdade nem dos benefícios capitalistas destinados ao homem Com a publicação de Casa de bonecas, provoca alvoroço nos palcos e na sociedade Os movimentos conservadores e os progressistas/feministas – tanto os do século XIX quanto os do século XX – combatem ou ratificam suas obras Nossa tese repousa na concepção de que, em sua maioria, suas personagens femininas são sujeitos (históricos e de direito) que se sobrepõem às mulheres (reais) do século XIX A construção da imagem da mulher (silenciada por mecanismos de dominação simbólica, (re)transmitidos e (re)produzidos por meio da Igreja, da Educação e do Trabalho) e a concepção da mulher-sujeito ocorrem pela perspectiva de, entre outros, Michelle Perrot, Michel Foucault, Alain Touraine, Pierre Bourdieu e Simone de Beauvoir A propriedade sobre o corpo e a vida integra o patrimônio do marido/sujeito/proprietário a quem cabe as decisões sobre a mulher/objeto/propriedade Nas obras analisadas – Casa de bonecas (1879), Um inimigo do povo (1882), O pato selvagem (1884), A dama do mar (1888), Hedda Gabler (189), Solness, o construtor (1892), John Gabriel Borkman (1896) – independentemente da condição de protagonista ou de personagem secundária, os modelos femininos opõem-se aos da história: as personagens femininas têm voz (recorrem ao discurso, ferramenta de libertação), vez (instauram espaços) e liberdade (sexual e afetiva, aplicando suas escolhas ao casamento, à família, à maternidade e ao corpo) A emancipação ocorre pelo discurso, trajeto de definição de si por si mesmo e de si pelo, com, para e contra o outro, construindo-se identidades por meio de conflitos internos e externos A definição do sujeito dramatúrgico ocorre pelo modelo actancial de base greimasiana e aprofundado, no âmbito dramatúrgico, por Anne Ubersfeld, acompanhado do referencial teórico da Análise do Discurso e da Semiótica de Linha Francesa A constituição do sujeito histórico erige-se na comparação das práticas e representações da mulher do século XIX, geralmente delineada como mulher-objeto, às das mulheres ibsenianas, construídas como mulher-sujeito cujas ações ainda seriam consideradas ousadas até mesmo após o início da Guerra FriaItem A anatomia da vingança : uma leitura da obra romanesca de Moacir JapiassuBatista, Sidinei Eduardo; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de [Orientador]; Martins, Geraldo Vicente; Brito, Luciana; Vieira, Miguel Heitor Braga; Batista, AdilsonResumo: Nosso objetivo, neste trabalho, é propor uma anatomia para a vingança e as suas motivações Pretendemos defender a tese de que as mais variadas paixões podem levar um indivíduo a se vingar, seja pela ambição e pelo sentimento de rejeição, caso de Caim, seja pela motivação passional amorosa e pela defesa da honra, como o faz o prefeito Sizenando Coelho, que inicia uma guerra em um dos romances de Japiassu De modo objetivo, pretendemos apontar algumas das paixões que alteram a psique da personagem, levando-a a uma nova condição social e identitária, principalmente quando isso ocorre como efeito da busca que um sujeito empreende por um determinado objetovalor, e este se torna, de algum modo, inatingível a ponto de o sujeito passar a considerar sua impossibilidade como consequência das ações de outros sujeitos que, ao contrário dele, possuem o objeto-alvo de seu desejo Para realizar essa proposta, adotamos, como suporte teórico, a semiótica de linha francesa, mais precisamente a semiótica das paixões Essa escolha se justifica porque o estudo das paixões tornou-se - nas últimas décadas - ponto destacado nos estudos Semióticos, Sociológicos e Filosóficos, assim como sempre o foi na psicologia A semiótica, portanto, passou a interessar-se pelo que ela define como estados de alma do sujeito: efetivamente, pelo estudo das emoções humanas No entanto, a semiótica define a paixão como um arranjo de elementos linguísticos, vez que essa paixão é vista como uma construção textual, ou uma paixão representada A partir dessa delimitação, a semiótica tornou-se um método analítico dos mais eficazes para a abordagem do texto literário e para os Estudos LiteráriosItem Ecos de esquizolinguagem em Clarice Lispector e Antonin ArtaudSkeika, Jhony Adelio; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Oliveira, Silvana; Silva, Ceres Vittori; Migliozzi, Luiz Carlos; Silva, Marta Dantas daResumo: Esta pesquisa analisa a construção da escrita literária de Clarice Lispector e Antonin Artaud, a fim de sustentar a ideia de que esses dois autores exercitam expressões de uma linguagem experimental, desfragmentada, multifacetada, híbrida, que mistura diversos signos de maneira insólita; dicções literárias daquilo que, a partir dos estudos dos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari, chamo de Esquizolinguagem O trabalho está dividido em 4 partes, as quais têm a pretensão de funcionar pela lógica de platô – “uma região contínua de intensidades, vibrando sobre ela mesma, e que se desenvolve evitando toda orientação sobre um ponto culminante ou em direção a uma finalidade exterior” (BATESON apud DELEUZE; GUATTARI, 1995, p 33) Embora isso seja meio paradoxal, já que uma tese pretende criar um discurso, se não inédito, original sobre um determinado objeto, o que implicaria conceber conclusões, esta pesquisa não pretende estabelecer uma teoria estanque sobre a obra de Artaud e de Lispector, mas antes verificar as zonas de convergência e conexão entre as produções desses autores, procurando delinear traços da estética do discurso artístico-literário exercitado nos textos escolhidos No primeiro platô acompanhamos o passeio do esquizofrênico pela máquina capitalista, procurando refletir sobre as confluências entre a noção de esquizofrenia que norteia este trabalho e o território da linguagem, onde se territorializa o sujeito esquizo O segundo platô é o espaço de intensidades clariceanas, remontando o percurso da linguagem na obra de Clarice Lispector até chegar ao processo doloroso de escritura de Água viva (1973) Procuro conectar as discussões sobre a (in)eficiência da língua humana e seu escape para a pintura, música, linguagem do corpo, silêncio, etc a alguns quadros que foram pintados pela autora, isso na tentativa de perceber um projeto estético-literário acontecendo na produção de Lispector O terceiro platô esboça a dinâmica de escritura de Antonin Artaud e o amadurecimento da proposta chamada de Teatro da Crueldade, também refletindo sobre os diversos signos evocados em sua pictografia (DERRIDA, 1998) As obras que ganham maior atenção são Les sorts (1937-1939), Artaud le Mômo (1947), Suppôts et suppliciations (1947) e 5 dessins pour assassiner la magie (1948) – textos que estiveram no foco das minhas pesquisas durante o estágio doutoral PDSE na Université Paris X (Nanterre, La Défense, França), que aconteceu entre setembro de 214 e maio de 215 Por fim, o quarto platô procura abordar, a partir da ótica da Esquizoanálise (DELEUZE; GUATTARI, 1995, 21), uma conduta de construção literária a partir de uma linguagem multifacetada, híbrida, deslocada, insólita, etc, e que, em alguns casos, rompe com o sistema da língua – a Esquizolinguagem –, procurando nos textos de Artaud e Lispector algumas características possíveis desse procedimento esquizo de criação Todavia, como indicado no título do trabalho, o que alcanço são apenas vislumbres e ecos dessa expressão de linguagem Portanto, o movimento analítico exercitado no âmbito desta tese é o de territorializar algumas características dessa expressão esquizo que podem ser percebidas na produção desses autores, especificamente, nos textos escolhidosItem Crônica, ensino e masculinidades : articulações possíveisArruda, Renata Beloni de; Simon, Luiz Carlos Santos [Orientador]; Bianchini, Luciane Guimarães Batistella; Sant'Anna, Jaime dos Reis; Godoy, Maria Carolina de; Alves, Regina Célia dos SantosResumo: O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre as articulações possíveis do ensino de literatura, por intermédio de textos de crônica, com as questões de gênero, mais especificamente sobre as masculinidades Para isso, elegemos como foco de análise materiais didáticos dedicados ao primeiro ano do Ensino Médio e recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático, com o intuito de verificar o tratamento dispensado à crônica, presentes nesses materiais, e a inclusão do gênero nos estudos literários As questões relacionadas ao ensino de literatura e à problemática que envolve o assunto tornaram-se fundamentais para a discussão de novas formas de produção e recepção de obras literárias e o papel das instituições de ensino neste novo cenário Junto aos questionamentos sobre leitura e, particularmente sobre a leitura de textos literários, apontamos para as especificidades que o texto literário traz consigo, incluindo, além de questões estéticas e particularidades composicionais, temas como as masculinidades e seus entrelaçamentos na sociedade contemporânea As crônicas selecionadas para este trabalho, todas do escritor brasileiro Fabrício Carpinejar, abordam as configurações das masculinidades e proporcionam ao leitor reflexões sobre os desdobramentos desta temática, além de possuírem características que possibilitam a abordagem do caráter híbrido da crônica, ao transitar entre a literatura e o jornalismoItem A casa-grande de Freyre e suas implicações nas tendas de AmadoShinkawa, Bárbara Poli Uliano; Rio Doce, Cláudia Camardella [Orientador]; Feldman, Alba Krishna Topan; Simon, Cristiano Gustavo Biazzo; Fernandes, Frederico Augusto Garcia; Godoy, Maria Carolina deResumo: Esta tese é um estudo comparativo entre discursos de origens distintas, mas de ideais próximos Discursos produzidos entre autores de áreas diferentes, porém com um mesmo objetivo: exaltar a mestiçagem Jorge Amado, leitor assumido de Freyre, expressou literariamente em Tenda dos Milagres alguns dos conceitos de mestiçagem declarados por Gilberto Freyre Os dois autores foram responsáveis, sem talvez quererem ter sido, pelo ideal ainda hoje alimentado de uma nação unida pela mestiçagem sem barreiras, ou seja, pela mistura de cores e credos sem fim Tal fato desencadeou, como Healey aponta (1996), a partir de meados da década de 194, quase uma peregrinação ao Brasil de pesquisadores curiosos para saber como o país teria resolvido um assunto tão sério quanto a discriminação racial Para mostrar essa aproximação de ideal, praticamente uma crença professada por Freyre e Amado, corroboram para nosso trabalho vários autores como Adolfo, Munanga, Hall, Woodward, Derrida, Bourdieu, Candido, Bosi, DaMatta, Schwarcz, Araújo, entre outros igualmente importantes para trabalhar com as questões de ordem sociológica e antropológica, bem como literária, já que nosso trabalho também observa a confluência de áreas e ideais envolvidos na produção amadiana A pesquisa traça no decorrer de sua construção pontos em comum, semelhantes e até divergentes no pensamento de Freyre e Amado, no que tange à mestiçagem, além de analisar como o escritor baiano expressou a influência recebida por Freyre na construção do mestiço (ideal) Pedro Archanjo Entendemos, após o desenvolvimento desta pesquisa, que Jorge Amado recebeu influências de Gilberto Freyre e compartilhou de ideais do escritor pernambucano Todavia, Amado não reproduziu simplesmente as tendências recebidas, ele as releu Assim, a mestiçagem é mais que um tema para Jorge Amado, é um instrumento essencial de sua criação literáriaItem De gregos a baianos : canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria BethâniaForin Junior, Renato; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Silva, Alexandra Moreira da; Matos, Edilene Dias; Celano, Diego Emanuel Giménez; Fernandes, Frederico Augusto GarciaResumo: A tese toma como objeto a obra da intérprete Maria Bethânia, mais especificamente a forma que ela concebeu junto do diretor Fauzi Arap entre os anos 196-197 e refinou ao longo de cinco décadas de trajetória artística, com diferentes encenadores: o “espetáculo de música teatralizado” O roteiro destes shows é pensado a partir da minuciosa organização intertextual de fragmentos literários e canções Tal dramaturgia, feita de quadros sucessivos, dialoga com signos de várias naturezas durante a realização cênica Estes dados nos levam – a despeito da crítica – a destacar a essência teatral da forma e servem de base para nossa principal hipótese: o espetáculo de música teatralizado de Maria Bethânia anuncia no Brasil características da cena contemporânea, que se tornariam paradigmáticas nos palcos a partir dos anos 198 Para comprovar a proposição, analisamos trechos de vários shows da intérprete à luz da teoria do drama, sem perder de vista os estudos de literatura e oralidade Nossa principal base teórica é o francês Jean-Pierre Sarrazac, para quem a “rapsódia” regressa da ancestralidade grega para se transformar em uma das qualidades peculiares do drama moderno e contemporâneo Assim, o texto teatral torna-se um jogo de construção a partir de colagens e montagens, e o autor é uma espécie de engenheiro que organiza esses elementos – exatamente como ocorre na obra de Bethânia Adotamos ainda outros conceitos como o transbordamento, a poeticidade, o teatro dos possíveis, a fragmentação, o drama-da-vida, o íntimo, a (crise da) mimesis, o metateatro e o trágico (do) cotidiano, sempre tendo como norte a pertinência à obra da intérprete baiana Antes, nossas reflexões centram-se sobre o fenômeno da canção popular brasileira Lançamos a possibilidade de compreendê-la como um lugar de reencontro entre filosofia e poesia, estas instâncias segregadas pelo racionalismo de Platão O filósofo condena a textura performativa da palavra poética e a conduz ao silêncio ocidental A partir destes argumentos – e tomando como referência a transformação de um dos primeiros mitos femininos da voz, as sereias –, estabelecemos uma ponte sincrônica entre o Brasil e a Grécia Arcaica (mitopoética, não contaminada pelo logocentrismo insonoro) Nossa proposta é compreender a cultura brasileira a partir da rapsodização, cuja marca é a mistura, a amálgama, a heterogeneidade – na linha da Antropofagia e do Tropicalismo Nossos intérpretes são neorrapsodos: como os antigos poetas gregos, elaboram obras autorais a partir da costura (“rhaptein”, em grego, significa “costurar”) de múltiplos textos-tecidos e realizam-nas plenamente em uma performance interartísticaItem A narrativa insólita de A viagem de Chihiro, de Hayao MiyazakiAndreo, Marcelo Castro; Cézar, Adelaide Caramuru [Orientador]; Limoli, Loredana; Santos, Adilson dos; Demétrio, Sílvio Ricardo; Leite, SuelyResumo: O objetivo deste trabalho é demonstrar e analisar o percurso narrativo no qual o diretor japonês Hayao Miyazaki apresenta a evolução de sua personagem principal, a menina Chihiro, no longa-metragem de animação A Viagem de Chihiro (21) Este percurso apresenta-se em duas ambientações, os mundos primário e secundário, aqui chamados de mundo-aqui e outro-mundo Serão historiados os filmes de Miyazaki produzidos no Studio Ghibli, com protagonistas femininas, e, especialmente, seus traços que remetem ao maravilhoso e ao fantástico, partindo-se previamente das definições destes termos dadas pelo crítico Tzvetan Todorov, seguidas por outras visões neste campo nos trabalhos das teóricas Irène Bessière e Maria Nikolajeva Tendo essas definições em mente, será analisada a inserção do modo fantástico e das modalidades de interpretação nos filmes selecionados de maneira a presentar o trajeto do diretor rumo ao fantástico que resultou no longa-metragem A viagem de Chihiro Para examinar o filme escolhido, utilizar-se-á um processo indutivo de análise do longa-metragem de animação sequência a sequência, tendo como ferramentas de análise principais os estudos sobre funções e esferas de ação desenvolvidas pelo folclorista russo Vladímir Propp na década de 192, na obra Morfologia do conto maravilhoso O acompanhamento do processo de maturação da heroína será observado através da evolução de algumas funções de Propp e da sua relação com outros personagens, pertencentes a outras esferas de ação proppianas As sequências da animação, objetos desta observação, serão comparadas com o conceito de rito de passagem do antropólogo Arnold Van Geenep Paralelamente, serão estudadas as fontes religiosas, mitológicas e folclóricas japonesas nas quais o diretor Hayao Miyazaki inspirou-se, por meio dos trabalhos das antropólogas Gergana Petkova, Birgit Staemmler e Carmen Blacker, da crítica literária Noriko Reider e do psicólogo Hayao Kaway Espera-se, assim, observar as múltiplas leituras que se podem extrair da narrativa de A Viagem de Chihiro sem a necessidade de se ater a uma distinção reducionista de realidade ou fantasia, aproveitando as modalidades narrativas miméticas e simbólicas como os fatores que propiciam a movimentação entre as interpretações da obra, vendo seus aspectos paralelos de narrativa maravilhosa e fantásticaItem Intersecções literárias entre a narrativa noir e as fotonovelas policiaisSilva, Daniela Maria Nazaré da; Joanilho, André Luiz [Orientador]; Guimarães, Valéria dos Santos; Prado, Márcio Roberto do; Silva, Telma Maciel da; Leite, SuelyResumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar as fotonovelas como suporte intermídias Pensando em sua estrutura impura, entende-se esse material de leitura como o resultado da conjugação de variadas expressões artísticas Assim, por meio da união de fotografias, elementos próprios do cinema, com componentes emprestados das histórias em quadrinhos (HQS), originam-se as fotonovelas, um meio de leitura autêntico, cujo papel essencial é representar as mais variadas narrativas Em geral, associa-se as fotonovelas às histórias românticas, cujos protagonistas são um casal apaixonado que enfrenta os mais penosos obstáculos para a concretização do amor No entanto, pretende-se demonstrar no decorrer desse trabalho, as diferentes histórias que percorreram o mercado editorial Sendo assim, circularam nas Editoras de revistas, fotonovelas religiosas, góticas, de terror, de ficção científica, policiais, entre outras, sendo as últimas, objeto de estudo dessa tese Ao se fazer uma análise desse material, almeja-se demonstrar como as narrativas policiais foram bem adaptadas pelas fotonovelas Levando em conta a presença de diálogos como principal elemento estrutural de romances e contos noir, o suporte intermídias aqui estudado, propicia suas adaptações, possibilitando, dessa forma, que as fotonovelas policiais publicadas pelas Revistas da Editora Vecchi, pudessem adentrar no “cânone” de narrativas noir Partindo dessa assertiva, destacar-se-á a construção narrativa dessas fotonovelas em relação com alguns romances e/ou contos noir, evidenciando o diálogo existente entre seus detetives, suas aventuras, bem como considerando suas divergências, pelo fato de as narrativas sofrerem adaptações conforme a estrutura e características dos veículos onde são divulgadas Levando em conta a dinamicidade que permeia essas aventuras detetivescas, as fotonovelas funcionam, harmoniosamente, como um suporte intermídias das narrativas noir