01 - Doutorado - Letras
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Item De coelhos, cães e cavalos : agência e animalidade na obra de Richard Adams(2022-05-26) Saraiva, Jefferson de Moura; Rodrigues, Ângela Lamas; Guida, Angela Maria; Correa, Alamir Aquino; Oliveira, Fábio Alves Gomes de; Fernandes, Frederico Augusto GarciaEste trabalho é uma investigação sobre o papel dos animais dentro da obra produzida pelo escritor britânico Richard Adams (1920-2016) nos seguintes romances: Em Busca de Watership Down (publicado em 1972 com o título Watership Down e traduzido para o português brasileiro em 2017), The Plague Dogs (1977) e Traveller (1988). A tese parte da noção de escritores “animalistas” (MACIEL, 2016b, p. 22-23), os quais produzem representações literárias de animais que buscam um engajamento maior com a animalidade e se opõe a representações mais tradicionais encontradas na fábula, nas quais o animal serve apenas para representar o humano. Ao valorizar a animalidade, Adams cria um texto literário em que diversas questões envolvendo a existência dos animais podem ser debatidas, já que tratam da violência surgida entre humanos e animais. O objetivo, portanto, é investigar como as obras literárias de Adams estabelecem esse espaço de debate. Para tal, discutimos os três conceitos basilares que regem as relações entre humanos e animais: antropocentrismo, antropomorfismo e especismo. O antropomorfismo se mostra um elemento essencial também para se pensar em como a teoria literária pode lidar de maneira adequada com esse modelo animalista de escrita. Ademais, por se tratar de uma literatura estruturada num projeto político de natureza ecologista e antiespecista, nos debruçaremos sobre a agência dos animais, entendida aqui como “a capacidade de agir e também de iniciar (não apenas de responder) e de escolher como responder e expressar sentimentos” (KADYRBEKOVA, 2018, p. 409) e que é expressa tanto a nível de enredo (as ações dos personagens na trama) quanto a nível textual (as escolhas lexicais do narrador). Por consequência, ao agir, o animal frequentemente rompe com o domínio humano, e essas ações são lidas como atos de resistência e expõem a faceta conceitual e estrutural da exploração dos animais em nossa sociedade. Por fim, discutimos sobre a vulnerabilidade poder representar um caminho para uma ética baseada na finitude compartilhada entre todos os animais e como, muitas vezes, a negação dela leva à comportamentos opressores. Constatou-se que os três romances apresentam uma análise bastante crítica das relações entre os humanos e os animais, pontuando como, nos mais diversos contextos, os animais têm seus interesses negados em favor dos interesses dos humanos. No que concerne à representação dos animais, Adams estabelece um modelo interessante no qual a imaginação e as imagens associadas às espécies se misturam com conhecimentos científicos, o que chamamos de antropomorfismo animalista, constituindo um exemplo claro de representação animal que só muito recentemente foi percebido pela teoria crítica literária (COPELAND, SHAPIRO, 2005, p. 345). As análises dos romances mostram que Adams foi um autor pioneiro e visionário no que tange aos chamados textos animalistas, cuja importância segue negligenciada dentro dos estudos literários. Concluindo, demonstramos que os estudos literários estão no início de uma nova fase no que diz respeito à representação dos animais e que Adams é um autor essencial dessa virada.Item Mal, ruína e vestígios da memória do holocausto : uma leitura dos silêncios de Gonçalo M. Tavares(2021-11-07) Curanishi, Fernanda Tonholi Sasso; Silva, Telma Maciel da; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Tofalini, Luzia Aparecida Berloffa; Valentim, Jorge Vicente; Brandini, Laura TaddeiA literatura, tal qual as demais artes, é um terreno de representação sensível da realidade material. Assim, o que a vida apresenta de forma seca e impactante, a literatura ameniza com o poético e o ficcional embebidos em uma verossimilhança que, não raro, transforma o choque em surpresa. Considerando a Segunda Guerra Mundial e os campos de concentração como um crasso exemplo do real, esse estudo intenta investigar, a partir dos romances de Gonçalo M. Tavares Jerusalém (2006) e Uma menina está perdida em seu século à procura do pai (2015), de que formas o autor constrói significados que rememoram esse evento, cuja gravidade é acentuada pela ideia de mal banalizado, cunhado por Arendt enquanto tentava compreender o mecanismo que conduzia as experiências dos campos de extermínio. Dessa forma, pairando sob a conclusão de que o mal outrora aplicado pode surgir novamente em qualquer período após a Segunda Guerra, compreendemos a importância de fixar tal acontecimento na memória coletiva, a fim de que se torne possível uma reflexão crítica ante a iminência de novas aplicações da barbárie. Ao mesmo tempo, demonstramos, ainda, as formas pelas quais Tavares ressignifica o fenômeno da escrita literária, uma vez que se vale dos silêncios e suas implicações para tecer duas narrativas excepcionais, que podem nos dizer mais sobre a realidade de nossos dias do que supomos.Item As paisagens e as “cousas das partes do oriente” em Machado de Assis(2022-05-04) Santos, Cíntia Machado; Alves, Regina Célia dos Santos; Santos, Adilson dos; Wolff, Ana Cristina Fernandes Pereira; Simon, Luíz Carlos Santos; Mello, Maria Elizabeth Chaves deEste trabalho tem por objeto investigar a presença do Oriente na prosa de ficção de Machado de Assis, um problema "ainda virgem na crítica deste autor", para tomar de empréstimo as palavras de Jean-Michel Massa (2000, p. 30). O Oriente machadiano figura em suas crônicas e contos como expediente para dissertar sobre a realidade brasileira, em consonância com a tese defendida pelo escritor no ensaio “Instinto de Nacionalidade” (1873), de que seja possível ao escritor tratar das coisas do seu país e época, ainda quando fale “de assuntos remotos no tempo e no espaço” (CL, 1962, p. 135). Em oposição ao modelo hegemônico que interpreta a paisagem como uma substância (ousia) que é pura exterioridade, a paisagem machadiana segue uma “lógica predicativa”, atrelada às ideias de representação e de uma relação suplementar entre o sujeito e o mundo, operando de forma a ressaltar semelhanças entre realidades opostas e revelar conexões entre elementos dicotômicos. Portanto, como contraponto da figuração idealizada da paisagem e do brasileiro "típicos”, tidos como ícones da representação nacional e de uma literatura genuinamente brasileira, esta “paisagem do Oriente” na ficção do autor vigorará como mecanismo para a contestação do exotismo romântico, do detalhismo e cientificismo naturalistas e das teses do racismo científico. Nestes termos, estruturado em três capítulos, este trabalho volta-se primeiramente para o percurso histórico que leva à instituição da paisagem e do indígena como símbolos brasileiros, recuperando, ainda, a fortuna crítica sobre a paisagem machadiana. O segundo capítulo intenta delinear, a partir da crítica literária e da ficção do escritor, a concepção de machadiana de paisagem e sua censura às estéticas hegemônicas de sua época, particularmente o exotismo tematizado no retrato oriental dos contos “Luís Soares” e “A chinela turca”. Por fim, o terceiro capítulo parte da ideia de uma geografia imaginativa, de Edward Said, para fundamentar o percurso de classificação do brasileiro entre os povos “exóticos” e a atribuição de sentido primitivo e selvagem à paisagem tropical brasileira no discurso europeu, tal qual o desenho do Oriente associado ao orientalismo, elencando os problemas associados a este paradigma sob a ótica machadiana a partir da leitura de suas crônicas e contos, apresentando os artifícios da “paisagem oriental” de Machado de Assis como dispositivo retórico para discorrer sobre as questões brasileiras e promover a literatura do país: a representação de paisagens quiméricas, do flâneur, o intertexto, entre outros recursos que, somados a alusões à geografia e outras “cousas” orientais corroboram a construção deste Oriente, estranhamente “brasileiro”, na obra do escritor.Item Sobrevivendo no inferno: intersecções entre vozes, literatura e masculinidades insurgentes a partir do livro-disco de Racionais MC’s(2023-11-29) Oliveira, Mateus Fernando de; Simon, Luiz Carlos Santos; Félix, Idemburgo Pereira Frazão; Marques, Bárbara Cristina; Ferreira Junior, Nelson Eliezer; Fernandes, Frederico GarciaSobrevivendo no Inferno (1997/2018), do grupo Racionais MC’s, é um clássico da história do rap nacional e marca uma nova era dos estudos do Hip Hop na literatura brasileira. Neste trabalho, as letras do disco de rap são objetos de análises acerca das construções e processos identitários fundadas nas distinções de gênero, mais precisamente voltado às representações literárias das masculinidades e seus marcadores sociais de diferença, além disso, no campo dos estudos literários, o estudo aprofundado do disco de rap contribui para a atualização da lista de encontros entre vozes, ritmo e poesia na cultura literária brasileira, por isso, estimula a verificação da presença da música popular e das vozes na história social das literaturas de língua portuguesa. Nesse sentido, a partir das intersecções entre música e literatura, o direcionamento crítico do trabalho aponta a ficção e a poesia diante do contexto de produção da obra enfatizando a violência enquanto linguagem e comportamento naturalizados, os sujeitos em situação de pobreza diante dos vícios e da criminalidade na década de 1990, além da frustração dos homens e a falta de perspectivas enquanto “máquinas de fazer ladrão”. A investigação é elucidada a partir das relações entre a literatura e a palavra cantada do rap, além de refletir sobre as intermidialidades e as novas formas artísticas da literatura contemporânea, de modo a enfocar a presença da canção popular brasileira na trajetória da literatura, e ainda, da produção de poéticas orais no contexto periférico, enfatizando as interpretações de vozes, ritmo e poesia, a partir de considerações de Zumthor, Finneggan, Fernandes; além de trazer reflexões acerca das produções literárias insurgentes no Brasil contemporâneo, a partir de Dalcastagnè, Candido, Pellegrini, Cevasco, entre outros, verificando assim a construção discursiva das representações literárias das masculinidades na cultura periférica brasileira, as reflexões tecidas foram amparadas nas considerações de sociólogos, antropólogos e críticos literários, tais como: D’Andrea, Rosa, Vieira, Santos, Fonseca, Acauam Oliveira, Schollhammer, Simon e Llosa, a pesquisa se nutre também de entrevistas e depoimentos dos autores da obra, além de considerações de outros artistas e estudiosos. Por fim, o estudo das masculinidades na representação literária da obra confirma o entrelaçamento do livro-disco com a ficção moralizante voltada aos homens periféricos daquele contexto, a sensibilização aos homens ocorre por meio das poéticas orais que buscam fortalecer e nortear o sujeito periférico frente às formas de violências que os indivíduos lidam na vida social, a ficção cantada do disco entoa a coletividade e celebra a união entre as quebradas, na tentativa de selar a paz entre os homens.Item Cura pela palavra: a ressignificação da herança intergeracional em narrativas de filiação brasileiras(2022-11-22) Silva, Taysa Cristina da; Fernandes, Frederico Augusto Garcia; Trevisan, Ana Lúcia; Oliveira, Vanderléia da Silva; Simon, Luiz Carlos; Alves, Regina Célia dos SantosEsta tese pauta-se na seguinte proposição de investigação: parte das narrativas de filiação brasileiras contemporâneas manifestam, por meio da reelaboração literária, a representação de um caminho de cura para os traumas intergeracionais de famílias imigradas no Brasil. As três obras que compõem o corpus de investigação desta pesquisa – A chave de casa (2010), de Tatiana Salem Levy; A imensidão íntima dos carneiros (2015), de Marcelo Maluf; e A resistência (2015), de Julián Fuks – apresentam características convergentes tanto em relação aos elementos estético-discursivos que as estruturam, como ao eixo temático que as compõe. Além de se configurarem como narrativas de filiação (VIART, 2008), as obras em análise não apenas perpassam questões temáticas referentes à imigração de famílias no Brasil, mas utilizam a escrita literária como locus privilegiado de rememoração, compreensão, reelaboração e, sobretudo, ressignificação do passado familiar e da herança intergeracional de seus narradores. Além do deslocamento físico, as obras enfocam, cada uma a seu modo, o deslocamento interior de seus protagonistas. Por meio da fabulação, as personagens mergulham nos recônditos da memória familiar para compreender o presente, se autoconhecer e, assim, dar sentido a sua existência. É por meio dessa conexão realizada através da escrita que o fazer literário pode ser compreendido como um caminho para cura dessas feridas, o qual se manifesta pela palavra. Restringindo-se então a tal proposição, a pesquisa foi dividida em três partes. O primeiro momento se preocupou em delinear um breve panorama das narrativas de filiação no Brasil. Para tanto, foram estabelecidas três categorias estético-discursivas que se manifestam como procedimentos composicionais recorrentes nas produções brasileiras voltadas às questões de filiação. Alinhada a uma concepção psicanalítica, dedico a segunda parte à compreensão de como as heranças genealógicas são ressignificadas a partir das narrativas de filiação. Além disso, o capítulo analisou aspectos relacionados à memória familiar (intergeracional) herança e transmissão. Por fim, o terceiro capítulo, tentou compreender o caráter performativo da literatura, isto é, como a palavra, enquanto linguagem adentra a potência da realização, desempenhando, assim, a representação um ato de cura para os traumas intergeracionais de famílias imigradas no Brasil.Item Percepções do feminino em narrativas orais de mulheres em situação de cárcere(2022-12-06) Barros, Maria Aparecida de; Fernandes, Frederico Augusto Garcia; Vilalva, Walnice Aparecida Matos; Pinheiro, Alexandra Santos; Godoy, Maria Carolina de; Chiari, Gisele GimmiEsta tese se insere no campo dos estudos das narrativas orais de vida, centrando-se na oralidade e na memorialística como processos construtores de sentido. Neste trabalho, a análise das narrativas orais de quatro mulheres em situação de prisão procurou investigar qual percepção de feminino foi representada nas vozes das narradoras e demais personagens presentes nos relatos. Para alcançar este objetivo a tese foi dividida da seguinte maneira: primeiro, trouxemos estudos sobre oralidade e narrativas orais, performance e memória, que foram fundamentais para compreensão dos relatos. Também utilizamos as contribuições da História Oral como procedimento metodológico, pois ela possibilita que, além das experiências únicas e singulares, seja analisado o tempo histórico onde a narradora se insere, despertando o fascínio pelo vivido, agora tornado enredo. Em seguida, discutimos sobre o sistema prisional brasileiro, em especial as prisões femininas, suas estruturas e a forma como elas são tratadas pelo poder público e pela sociedade, possibilitando a compreensão sobre o espaço onde as narrativas foram gestadas. Os conceitos do vocábulo feminino e sua representação social e na literatura possibilitaram compreender, por meio de diversos olhares, a percepção do feminino no decorrer das narrativas, assim como as novas feminilidades e os novos olhares para o feminino. Por fim, analisamos como são as representações sociais e a forma como o feminino se reflete nas narrativas, considerando o espaço prisional, onde elas foram registradas, em seguida, como se deu a percepção do feminino nas falas das narradoras, assim como de que forma outros personagens femininos e masculinos perceberam as narradoras. A análise desse corpus permitiu adentrar com maior profundidade as histórias de vida e a constituição de suas existências em meio aos percalços narrados. Ao final, em nossos resultados, verificamos que as narradoras revelam compreensões diversas do feminino em si e nas demais personagens e que, embora haja conceitos socialmente construídos, cada pessoa tem sua própria maneira de concepção e expressão do feminino, considerando as vivências e singularidades próprias.Item A estética da melancolia em romances de Lúcio Cardoso(2021-07-20) Hodas, Flávia Aparecida; Mello, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de; Panichi, Edina Regina Pugas; Cruz Júnior, Dilson Ferreira da; Vieira, Miguel Heitor Braga; Corrêa, Alamir AquinoNos romances do escritor mineiro Lúcio Cardoso, principalmente naqueles publicados após o ano de 1936, data que marca a publicação de A luz no subsolo (1936) e, ao mesmo tempo, a abertura para a sua vertente mais intimista, pode-se dizer que a melancolia é um dos estados de alma centrais que percorre as suas obras. As personagens cardosianas são sujeitos entregues a um sofrimento incessante e a um doloroso desencanto existencial, fruto de perdas que elas não conseguem transpor. Sem dúvida, o desejo irrealizado, elemento salientado frequentemente pela crítica literária dentro da obra de Lúcio Cardoso, é o pivô que desencadeia o sentimento melancólico em suas narrativas. As personagens que se apresentam em seus romances, indivíduos essencialmente sequiosos, querem estar junto àquilo que desejam, mas, ao defrontarem-se com a impossibilidade de realizar os seus desejos, sentem-se incapazes de lidar com a dor que as domina. A melancolia torna-se tão evidente nas narrativas de Cardoso a ponto de se poder afirmar que existe nelas uma estética da melancolia. A presente tese tem como objetivo investigar como essa estética da melancolia se presentifica nos romances de Lúcio Cardoso. Afinal, como a melancolia se configura discursivamente em seus romances? Como algumas de suas personagens mais emblemáticas, imersas num estado de tormento e de sofrimento constantes, transitam pelos romances de Cardoso, revelando seus estados melancólicos? E, sobretudo, o que está em questão nos conflitos interiores dessas personagens que faz emergir essa estética da melancolia? Para responder a essas questões, três romances do escritor mineiro serão analisados: A luz no subsolo (1936), Dias perdidos (1943) e Crônica da casa assassinada (1959). A melancolia se apresenta na obra cardosiana tanto como um elemento estrutural do texto, assim como uma espécie de cosmovisão sobre a condição humana, que reveste as suas narrativas com imagens peculiares e que desperta nelas a presença pujante do afeto melancólico. Nesse sentido, a análise dos livros abarcará uma investigação discursiva que pretende demonstrar como se organizam os percursos de sentido que fazem com que suas personagens possam ser caracterizadas como sujeitos melancólicos por excelência, como é o caso de Madalena, de A luz no subsolo, de Clara e de Sílvio, de Dias perdidos e de Nina e de Ana, de Crônica da casa assassinada. Além disso, analisar-se-ão as imagens e os topois que revestem esse discurso, permitindo observar que a melancolia, em Lúcio Cardoso, trata-se, na verdade, não somente de um sentimento intrínseco à vida de determinadas personagens, mas se trata, em última instância, de um modo específico de conceber e de enxergar a vida humana, que é vista como um espaço permeado por uma sucessão de perdas irreparáveis, por sofrimentos intermináveis e por lacunas intransponíveis, o que faz emergir uma estética da melancolia em seus romances.Item O novo lugar do fenômeno fantástico em contos finalistas ao Prêmio Hugo entre 1990 e 2020(2022-07-22) Soares, Márcio Henrique de Almeida; Santos, Adilson dos; Volobuef, Karin; Pierini, Fábio Lucas; Vieira, Miguel Heitor Braga; Ferreira, Claúdia CristinaEste trabalho resulta, inicialmente, de uma pesquisa bibliográfica, na qual foram lidos 159 contos finalistas a um dos principais prêmios do mundo para literaturas de fantasia e ficção científica, o Hugo Awards, entre os anos de 1990 e 2020. A partir de uma análise preliminar, considerou-se que 45 narrativas desse total poderiam ser classificadas como pertencentes ao gênero fantástico, de forma integral ou híbrida, conforme perspectiva genológica apresentada por Chandler (1997). Em 11 desses contos, destacou-se uma abordagem inovadora: a narração da história a partir da perspectiva do fenômeno fantástico, tornando-se esse o foco do nosso estudo. Percebendo-se a relação das transformações nos procedimentos narrativos do fantástico com mudanças sociais e culturais inerentes ao contexto histórico contemporâneo, por alguns classificado como pós-moderno, estabeleceu-se uma metodologia para a análise desses contos com base na articulação entre algumas teorias do fantástico (TODOROV, 2004 [1970]; BESSIÈRE, 1974; FURTADO, 1980; MALRIEU, 1992) e o conceito de “inconsciente político”, proposto por Frederic Jameson (1992 [1981]). Desta maneira, em um primeiro capítulo teórico, temos um processo de apresentação do fantástico e de explicação acerca da metodologia empregada. Segue-se, a este, um outro capítulo no qual comentamos e levantamos alguns pontos chave para todos os 11 contos nos quais se identifica essa presença da perspectiva do fenômeno fantástico, sempre correlacionando diferentes narrativas. Por fim, temos 5 capítulos nos quais se realiza a análise detalhada de 5 desses 11 contos, de modo a verificar e compreender em maior profundidade o emprego dessa perspectiva e sua articulação com os contextos sócio-históricos e culturais em que esses textos se inserem. Nossas conclusões apontam para a comprovação de um novo lugar ocupado pelo fenômeno fantástico em alguns textos contemporâneos e que procede das transformações sociais e intelectuais ocorridas no ocidente a partir do pós-modernismo. Esses achados apontam um campo fértil para pesquisas futuras que visem compreender o texto fantástico na contemporaneidade.Item Ecos da tragédia shakespeariana em Macário E Noite na taverna, de Álvares de Azevedo(2024-01-30) Vale, Miréia Aparecida Alves do; Corrêa, Alamir Aquino; Cunha, Patrícia Josiane Tavares da; Figliolo, Gustavo Javier; Leite, Suely; Vieira, Miguel Heitor BragaUtilizar o estudo comparado como forma de relacionar autores pertencentes a diferentes épocas, é uma prática que tem sido utilizada com sucesso na busca pelo estabelecimento de possíveis aproximações entre obras pertencentes a diferentes épocas, gêneros e idiomas. A investigação, a partir da ideia de influência, torna-se objeto de pesquisa, tomando como base os ecos presentes em uma produção, a partir das leituras e compreensões das mesmas, feitas pelo autor de uma nova criação. Dentre os caminhos que conduzem à reflexão de temas, personagens e estilos, autores pertencentes ao grupo de imortais na Literatura universal merecem atenção pela forma como podem inspirar gerações futuras, ainda que com grande distanciamento no tempo e espaço. Harold Bloom, em Anatomia da influência (2013), aborda o modo como a obra de William Shakespeare serviria como impulso criativo para escritores ao longo dos séculos, pois, de acordo com o teórico, uma vez lidas as peças shakespearianas, o leitor não é mais o mesmo e as sutilezas recebidas em sua percepção do texto, irão ecoar em sua escrita. Nesse sentido, a presente pesquisa toma como ponto de partida a busca pelas nuanças do bardo inglês nas obras Macário (1855) e Noite na taverna (1855), de Álvares de Azevedo. Para direcionar a busca dos reflexos de Shakespeare na produção azevediana, foram escolhidas quatro das grandes tragédias do dramaturgo: Hamlet (1601), Otelo, o mouro de Veneza (1604), Rei Lear (1606) e Macbeth (1607). Os pontos de contato abordados, concentram-se nos temas e tipos de personagem, tendo como pano de fundo a presença do Mal e do diabólico em ambos os autores, bem como as relações existentes entre as heroínas frágeis ou desvairadas e os homens marcados pela maldade, elencando de que modo a experiência de Álvares de Azevedo, leitor, estaria presente em seu trabalho enquanto escritor.Item Para uma história do insólito na literatura brasileira : algumas contribuições(2024-08-20) Silva, Rhuan Felipe Scomação da; Corrêa, Alamir Aquino; Santos, Adilson dos; Souza, Gustavo Ramos de; Ferreira, Claudia Cristina; Brandini, Laura TaddeiEste trabalho tem como intenção central demonstrar a estruturação da literatura fantástica brasileira durante o século XX. Para alcançar esse objetivo, o organizei em quatro blocos. O primeiro bloco trabalha com as referências teóricas do gênero. No segundo, abordo a constituição da nossa literatura fantástica. O terceiro capítulo é dedicado aos autores do gênero no Brasil. O quarto capítulo traz um levantamento das obras publicadas no Brasil durante o século XX, as capas dessas narrativas, os suplementos literários que ajudaram a expandir o fantástico e, por fim, um aparato dos trabalhos acadêmicos sobre o gênero publicados durante o mesmo período. A partir desses levantamentos, construí quatro anexos: três quadros com os dados colhidos sobre as obras e sobre as pesquisas, e um anexo com todas as capas das primeiras edições dessas narrativas. Esses dados permitiram mapear um grande número de obras e autores brasileiros, além de localizar o lugar da crítica especializada, principalmente em suplementos literários e textos acadêmicos, como artigos, dissertações e teses. A pesquisa das capas também revelou uma fortuna paratextual do gênero, abrindo espaço para investigações futuras que possam utilizar esse material como referência. Por fim, acredito que esta pesquisa se mostrou próspera no resgate histórico do nosso fantástico, servindo como um ponto de partida para pesquisas futuras e para a contínua restauração do apagamento literário e histórico que nosso país sofreu durante a ditadura militar.Item Amores irregulares e o “homem de verdade” : homossexualidades e masculinidades no romance de 30(2024-04-17) Pellizzari, Thamiris Yuri Silveira; Simon, Luiz Carlos Santos; Camargo, Fábio Figueiredo; Godoy, Maria Carolina de; Lima, Ricardo Augusto de; Leite, SuelyO presente trabalho tem por objetivo analisar a maneira como as temáticas das masculinidades e das homossexualidades masculinas são exploradas no Romance de 30. Considerando as diversas expressões das masculinidades, isto é, tendo em vista a pluralidade desse conceito que reverbera e reflete na esfera da sexualidade, esta pesquisa encontra nos textos de Connell alicerce para discorrer a respeito de um ideal hegemônico de masculinidade em contraponto com o que a autora chama de masculinidades subordinadas. No que se refere ao aparato literário, a escolha do romance de 30 envolveu, sobretudo, a pressuposição de uma abordagem profícua e extensa das masculinidades subordinadas e das homossexualidades, seja por se tratar de um momento de inigualável produção e publicação romanesca, seja em razão da maior representação dos marginalizados e levando em consideração a atmosfera dos ideais modernistas. Mantendo diálogo com textos de teoria, crítica e história literária, tanto sobre o período quanto sobre o escopo temático em questão, como os de Luís Bueno, João Silvério Trevisan, Luciana Stegagno-Picchio, Sócrates Nolasco e Michel Foucault, esta tese desnuda as variadas expressões das masculinidades em obras de diversos autores, tais quais Oswald de Andrade, José Lins do Rego, Jorge Amado e Octávio de Faria, com reflexões que chamam a atenção para a maneira como se dá a representação das homossexualidades masculinas em romances publicados ao longo da década de 1930. Nesse sentido, embora assuma uma perspectiva quantitativa, ao promover uma sistematização de obras que exploram as homossexualidades, este estudo não se abstém do viés analítico, mergulhando nas narrativas em que há território fértil para ponderações sobre masculinidades e homossexualidades, o que se dá de maneira mais concentrada ao longo do terceiro capítulo, voltado à análise dos romances Usina, de José Lins do Rego e Mundos mortos, de Octávio de Faria, sob os vieses das homossexualidades e do fracasso da masculinidade.Item Nas trilhas de Lobo Antunes : um estudo das cartas da guerra e seus romances iniciais(2024-06-25) Baccarin-Costa, Eduardo Luiz; Silva, Telma Maciel da; Alves, Silvio Cesar dos Santos; Ferreira, Sandra Aparecida; Godoy, Maria Carolina de; Curanishi, Fernanda Tonholi SassoAinda que seja considerada por muitos como um “gênero menor” da literatura, as cartas podem ter um papel importante no sentido de descrever caminhos que percorreram a obra de arte e, por extensão, páginas literárias. Numa missiva, mesmo as de caráter íntimo, um artista ou autor pode acabar por revelar os meandros de um processo criativo em andamento ou mesmo submeter sua criação à análise crítica do destinatário. De 1961 a 1973, milhares de jovens portugueses foram à África defender o país contra os ideais libertários das suas colônias, e a experiência vivida foi, em boa parte traduzida em aerogramas, minúsculas formas de cartas, franqueadas pelo governo. Um desses jovens que foi a Angola cuidar dos feridos: António Lobo Antunes. Levava na bagagem não apenas a saudade, mas o desejo e um projeto de desenvolver sua escrita literária. As cartas, de conteúdo íntimo, que se transformaram no livro Deste viver aqui neste papel descripto, organizado pelas filhas de Lobo Antunes - Maria José e Joana - em 2005, e é um dos objetos da tese, relatam minuciosamente como a experiência da África o transformou no autor crítico do seu tempo. No prefácio da obra, informam que as cartas do pai à mãe podem ser lidas sob qualquer perspectiva, inclusive sob a ótica literária e histórica. Este é o recorte que pretendemos dar à nossa tese, e a partir dele responder às perguntas que se constituem o objetivo do trabalho: demonstrar como as cartas de guerra se estabelecem num importante documento literário e revelam o projeto de escrita que Lobo Antunes pretendia e desenvolveu a partir da experiência em Angola. Além disso, como essa partilha exposta nas cartas à companheira aparecem em seus romances, especialmente na trilogia inicial do autor que abarcam os romances Memória de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e Conhecimento do Inferno (1980). Ao final da tese espera-se contribuir com os estudos em torno não só da obra de Lobo Antunes como da literatura portuguesa contemporânea, descrevendo percursos percorridos pelo autor e apontando meandros para a compreensão da sua produção literária.Item Tendas nômades e máquinas de guerra : o RAP em tempo de golpes(2024-01-24) Carvalho, João Paulo Toledo de; Godoy, Maria Carolina de; Feldman, Alba Krishna Topan; Andrade, Lucas Toledo de; Chiari, Gisele Gemmi; Fernandes, Frederico GarciaEsta tese apresenta o mapeamento da mais recente produção audiovisual, disponível na plataforma virtual Youtube e em livro, de diversos artistas do movimento Hip-hop brasileiro, a fim de organizar o repertório apreciado em três eixos temáticos gerais, sugeridos por recortes pautados em três arcanos do Tarot de Marselha. Objetivou-se, por meio de uma pesquisa cartográfica, engendrar um texto/tese/máquina de guerra (utilizando o léxico deleuziano), e um texto/tese/TAZ (para dizer em uma linguagem de Hakin Bey), ativando-se, assim, um circuito de links e videoclipes na web, para contar parte da recente história do Rap. Apresenta-se uma máquina, organizada em três Tendas – nove Varais e vinte e um Folhetos – e um pós-escrito, que propõem um ritual de imersão, escuta e reflexão, tanto sobre a linguagem no RAP em meios virtuais, quanto sobre o sentido histórico do tempo no qual estas obras foram produzidas, esse tempo de golpes, sons e imagens. O resultado de tal aventura – poética, alquímica, mágica, científica e de guerrilha – quando se observa as produções que foram sendo lançadas pelos artistas mapeados, durante o período da pesquisa, e a confluência destas obras com as sugestões dos arcanos escolhidos, bem como das leituras teóricas de apoio, foi o registro privilegiado de obras de arte que são, sobretudo, documentos históricos riquíssimos que guardam a memória de um dos períodos mais complexos e delicados da história social do país.Item Experiência(s) na contramão da colonialidade: as performances de Flávio de Carvalho em diálogo com escritas insurgentes(2024-09-27) Ribeiro, Ana Carolina; Silva, Marta Dantas da; Ponge, Robert Charles; Gomes, Adriane Maciel; Doce, Claudia Camardella Rio; Fernandes, Frederico GarciaEste é um estudo sobre as performances Experiência nº2, o Teatro da Experiência e a Experiência nº3, que foram realizadas pelo artista brasileiro Flávio de Carvalho (1899-1973). Ao investigar os registros de escritas e imagens dessa tríade de trabalhos, considerando o seu contexto, os modernismos, na primeira metade do século XX, e as influências de ideias do surrealismo e da antropofagia nas propostas do artista, compreendi que, em Flávio de Carvalho, a detecção da colonialidade e a tentativa de combatê-la permeiam suas ações, proposições e enfrentamentos. Este combate também se relaciona ao trânsito entre territórios expressivos, que borra seus limites, e à transversalidade, pois perpassa os campos da arte, da filosofia, da psicologia, da história e da sociologia, fundindo a arte e a vida ao ponto de que essa possa ser observada como um grande experimento, como um amplo território de possibilidades. As Experiências são, aqui, entendidas como acontecimentos de relevância em seu caráter experimental e de exercício de crítica contra as forças coloniais. A atualidade dessa crítica está no fato de que as ações por ele propostas são como experiências de um fim não havido, uma vez que elas permanecem reverberando e o combate à colonialidade continua sendo necessário e urgente.Item Diálogos com o gótico: uma análise de produções brasileiras do século XIX(2022-07-26) Tarran, Fernanda Martinez; Santos, Adilson dos; Pereira, Julio Cesar França; Markendorf, Marcio; Silva, Telma Maciel da; Ferreira, Cláudia CristinaApós a publicação de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, várias narrativas similares foram produzidas pelo território nacional. Por suas características, esse conjunto de textos pode ser considerado o auge da literatura da perversidade e da transgressão no Brasil oitocentista. Em cinco contos, publicados em periódicos entre os anos de 1852 e 1862, encontramos bandidos sanguinários, patriarcas terríveis e vilões hediondos. Suas ações ora encontram guarida em um passado árduo, ora são justificadas pelas condições sócio-econômicas – e ora pelas convenções culturais do período, que buscavam atender à demanda por uma literatura macabra que dialogasse com os heróis-vilões recém-chegados do continente europeu em traduções do inglês e do francês. Buscando os antepassados desses personagens, encontramos uma longa linhagem de nobres fora da lei, anjos caídos e monstros impiedosos, cujas trajetórias buscamos examinar para, então, melhor compreendermos os caminhos percorridos por seus sucessores brasileirosItem De Abdias à cena negra contemporânea: semelhanças e peculiaridades do teatro negro das regiões nordeste e sul do Brasil(2022-08-02) Oliveira, Maria Júlia Werneck de; Godoy, Maria Carolina de; Crispim, Amanda; Cerqueira, Gustavo Melo; Franceschini, Marcele Aires; Fernandes, Frederico GarciaEsta tese busca traçar um olhar para o teatro ritualístico negro contemporâneo, a partir de Abdias Nascimento e de seu Teatro Experimental do Negro (TEN). Abdias foi o primeiro autor que comecei a ler e a conhecer, sua trajetória na arte, na militância e na vida política muito me interessaram. E se inicio a tese a partir dele, de sua vida, do TEN e da trajetória política é porque vejo o quanto isso reverbera nos grupos contemporâneos, em especial, nos grupos que selecionei para este doutoramento. A presença de pessoas negras na arte foi ignorada e estereotipada por muito tempo (e infelizmente ainda é recorrente nos espaços de poder). Somos um país diverso em cores e cultura, mas noto o quanto o padrão branco europeu se mantém ainda forte e atua de forma perversa na tentativa de excluir pessoas negras ou utilizá-las somente quando for conveniente. Apesar da realidade se mostrar tão dura, muito tem se transformado na arte negra neste país, e vejo boas perspectivas. A partir dessas considerações, meu objetivo geral é traçar um olhar para o teatro ritualístico negro contemporâneo, a partir de Abdias Nascimento e de seu Teatro Experimental do Negro (TEN). Como objetivo específico pretendo, a partir das análises das peças do TEN, verificar em que medida as semelhanças e peculiaridades dos teatros negros do nordeste e sul do país dialogam com as ideias propostas no TEN. O delineamento das regiões nordeste e sul como foco de análise da cena negra atual, que proponho para estudo, dá-se em virtude do ineditismo de se elaborar uma análise que busque observar como regiões distantes geograficamente produzem suas cenas negras de forma resistente, diversa e também com correspondências.Item Materialidades do cinema na literaturaSouza, Gustavo Ramos de; Simon, Luiz Carlos Santos [Orientador]; Marques, Bárbara Cristina; Pereira, Volmir Cardoso; Machado, Rosemeri Passos Baltazar; Martoni, Alex SandroResumo: Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as relações entre cinema e literatura sob a perspectiva das materialidades das mídias Tal aproximação teórica permite repensar tanto os meios de transmissão quanto a especificidade midiática A tese que proponho é que essa materialidade se baseia nas relações, isto é, trata-se de uma materialidade relacional Em vez de analisar a literatura no cinema, como sói nas pesquisas entre essas duas mídias, opto pelo caminho inverso: são analisados dois romances do escritor norte-americano Paul Auster: The Book of Illusions e Man in the Dark, a fim de verificar de que maneira as materialidades do cinema se atualizam no objeto literário Com o intuito de comprovar essa hipótese, divido este trabalho em três momentos: no momento teórico, baseando-me sobretudo na obra de Hans Ulrich Gumbrecht, apresento os estudos das materialidades em oposição ao modelo hermenêutico que impera nos estudos literários; em seguida, a partir de Jacques Derrida e Gilles Deleuze, procedo a uma crítica ao conceito de presença gumbrechtiano e intento uma reconfiguração do campo das materialidades, pensando-o não a partir da presença, mas segundo a relação No momento crítico, primeiramente realizo uma revisão do estado da arte dos estudos sobre literatura e cinema, enfatizando as contribuições de Sergei Eisenstein, Walter Benjamin, Claude Edmonde-Magny, entre outros; depois, empreendo uma discussão sobre o específico fílmico, desde a teoria da montagem dos soviéticos até os debates mais recentes em torno do dispositivo Por fim, no momento analítico, observo as diversas formas que o cinema assume nos dois romances de Auster – porém, sempre considerando que não existe uma definição única de cinema, isto é, as relações que caracterizam os muitos cinemas possíveis variam não só de um romance ao outro, mas também dentro de cada romanceItem Ao belo cabe prender o cisco : a cronista perceptora na parresía de Clarice LispectorAlves, Joyce; Corrêa, Alamir Aquino [Orientador]; Limberti, Rita de Cássia Aparecida Pacheco; Godoy, Maria Carolina de; Nolasco, Edgar Cézar; Silva, Telma Maciel daResumo: Essa tese caracteriza Clarice Lispector como cronista perceptora, a partir do estudo e da análise de suas crônicas reunidas na coletânea A descoberta do mundo (1981) Observo de modo particular as crônicas cujos temas estão relacionados à fome, à miséria, ao lugar da mulher pobre na sociedade carioca, entre outros assuntos de ordem social e que me permitem apontar na proposta da cronista certo engajamento no que tangem as causas sociais Nesse sentido, apresento o momento histórico no qual as crônicas foram produzidas com o intuito de entender o que é que se havia de perceber naqueles tempos Chamo a atenção, sobretudo, para a evidente desigualdade social que acometia especialmente a cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 196 e 197, período no qual as crônicas foram escritas Na época, o Brasil sofria com a ditadura militar e com as ações opressoras por meio da censura que limitava as manifestações artísticas, o que não intimidou Clarice Lispector A ousadia tímida da cronista transforma-se em parresía literária graças ao caráter denunciativo de seus textos Baseio-me, ainda, em arcabouço teórico que gira em torno da crônica enquanto gênero literário de origem jornalística, bem como nas teorias que me permitem explicar a apurada percepção da cronista Michel Foucault, em O governo de si e dos outros (21), e Gilles Deleuze e Félix Guattari, em Kafka por uma literatura menor (215), são autores essenciais para a concatenação deste raciocínio a que me proponho Entretanto, Walter Mignolo, em Histórias locais/Projetos globais (23), constitui um dos principais fios condutores da presente tese, sobretudo no que diz respeito ao que o autor chama de pensamento liminar A perceptora Clarice Lispector promove rupturas com as propostas do projeto cultural moderno conduzindo o leitor a uma mudança de lugar epistêmico A percepção da cronista volta-se para o marginal e a partir daí o leitor é direcionado sem, no entanto, fixar-se num único ponto de vista, o que denota a liminaridade do pensamentoItem Intersecções entre autoficção cênica e metateatro no teatro contemporâneo : zonas crepuscularesLima, Ricardo Augusto de; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Monteiro, Gabriela Lírio; Flory, Alexandre; Gimenéz, Diego; Simon, Luiz Carlos SantosResumo: Meu objetivo neste estudo é analisar a produção teatral contemporânea sob um dos aspectos que, a meu ver, são mais frequentes: a autoficção Utilizo-me desse termo e não de autobiografia devido à impossibilidade de um teatro autobiográfico nos moldes de Philippe Lejeune (28), conforme escreve Patrice Pavis (28, p 375), em seu Dicionário de teatro, visto tratar-se de uma ficção presente assumida por personagens imaginários Desta forma, recorro ao conceito de Serge Doubrovsky (1977) para verificar em qual medida, na realização cênica, o hibridismo de ficção e realidade na criação alcança outros níveis de significação e representatibilidade que não seriam percebidos na ficção em prosa É, portanto, justamente o mesmo ponto que impossibilita o teatro autobiográfico que será a manifestação dessa ambiguidade: o corpo, a voz e o espaço cênico como instâncias sempre duplas no teatro, parte ficção e parte referencial, que multiplicam os níveis de enunciação e promovem novas leituras e estruturas críticas para o teatro e sua relação com a realidade e, portanto, com ele mesmo Por isso, o reconhecimento ou sinalização da autoficção no texto dramático promove no espectador um rompimento da ilusão teatral similar a outros recursos metadramáticos, como quebra da quarta parede, teatro dentro do teatro, intertextualidade e personagens com consciência dramática A partir do momento em que a ambiguidade é instaurada, o texto mergulha o leitor/espectador em um jogo de dúvida e desdobramentos, no qual nenhum ponto se torna fixo para que o espectador situe sua percepção do real Desta forma, o texto dramático se torna um discurso crítico por ser o responsável pelo questionamento da instância, até então estável, da ficção, além de questionar, é claro, o que é teatro Para tanto, tomo como corpus para exemplificação dos tipos de autoficção que se percebem nas produções contemporâneas os seguintes textos dramáticos e espetáculos: Luís Antônio-Gabriela, de Nelson Baskerville e Verônica Gentilin (211); Conversas com meu pai, de Alexandre Dal Farra e Janaina Leite (213); Tebas Land (213) e La ira de Narciso (215), ambas de Sergio Blanco Em todas elas, o jogo entre real e ficcional é nítido e consciente, instaurados de forma crítica por meio da dúvida em relação à identidade dos personagens protagonistas Para chegar, porém, até elas, mostro como, desde o momento tido como instaurador de uma crise no drama (SZONDI, 21) uma voz dramática anseia por dizer eu sem máscaras na cena, como o faziam, ou ao menos intentavam, na escrita autobiográfica Transito pelo século XX, da Suécia de Strindberg ao subjetivismo moderno de Jorge Andrade, na tentativa de evidenciar uma mudança no paradigma da representação que dá base para o irrompimento do real na cena, seja subjetivamente ou de forma direta A criação de uma verdade em cena, mesmo que seja uma "verdade inventada", uma possibilidade de Uma versão, mesmo que um pouco turva, de um Real que nunca é alcançadoItem Entre sujeito e objeto : representações femininas em IbsenSilva, Vicentônio Regis do Nascimento; Pascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]; Álvaro, Mirla Cisne; Rauen, Margarida Gandara; Leite, Suely; Simon, Luiz Carlos SantosResumo: Considerado um dos grandes nomes da dramaturgia moderna, Henrik Ibsen (1828-196) dedicou boa parte de sua obra a explicitar os problemas da família burguesa, concedendo destaque à mulher, que não usufruía da liberdade nem dos benefícios capitalistas destinados ao homem Com a publicação de Casa de bonecas, provoca alvoroço nos palcos e na sociedade Os movimentos conservadores e os progressistas/feministas – tanto os do século XIX quanto os do século XX – combatem ou ratificam suas obras Nossa tese repousa na concepção de que, em sua maioria, suas personagens femininas são sujeitos (históricos e de direito) que se sobrepõem às mulheres (reais) do século XIX A construção da imagem da mulher (silenciada por mecanismos de dominação simbólica, (re)transmitidos e (re)produzidos por meio da Igreja, da Educação e do Trabalho) e a concepção da mulher-sujeito ocorrem pela perspectiva de, entre outros, Michelle Perrot, Michel Foucault, Alain Touraine, Pierre Bourdieu e Simone de Beauvoir A propriedade sobre o corpo e a vida integra o patrimônio do marido/sujeito/proprietário a quem cabe as decisões sobre a mulher/objeto/propriedade Nas obras analisadas – Casa de bonecas (1879), Um inimigo do povo (1882), O pato selvagem (1884), A dama do mar (1888), Hedda Gabler (189), Solness, o construtor (1892), John Gabriel Borkman (1896) – independentemente da condição de protagonista ou de personagem secundária, os modelos femininos opõem-se aos da história: as personagens femininas têm voz (recorrem ao discurso, ferramenta de libertação), vez (instauram espaços) e liberdade (sexual e afetiva, aplicando suas escolhas ao casamento, à família, à maternidade e ao corpo) A emancipação ocorre pelo discurso, trajeto de definição de si por si mesmo e de si pelo, com, para e contra o outro, construindo-se identidades por meio de conflitos internos e externos A definição do sujeito dramatúrgico ocorre pelo modelo actancial de base greimasiana e aprofundado, no âmbito dramatúrgico, por Anne Ubersfeld, acompanhado do referencial teórico da Análise do Discurso e da Semiótica de Linha Francesa A constituição do sujeito histórico erige-se na comparação das práticas e representações da mulher do século XIX, geralmente delineada como mulher-objeto, às das mulheres ibsenianas, construídas como mulher-sujeito cujas ações ainda seriam consideradas ousadas até mesmo após o início da Guerra Fria