As paisagens e as “cousas das partes do oriente” em Machado de Assis
Data
2022-05-04
Autores
Santos, Cíntia Machado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Este trabalho tem por objeto investigar a presença do Oriente na prosa de ficção de Machado de Assis, um problema "ainda virgem na crítica deste autor", para tomar de empréstimo as palavras de Jean-Michel Massa (2000, p. 30). O Oriente machadiano figura em suas crônicas e contos como expediente para dissertar sobre a realidade brasileira, em consonância com a tese defendida pelo escritor no ensaio “Instinto de Nacionalidade” (1873), de que seja possível ao escritor tratar das coisas do seu país e época, ainda quando fale “de assuntos remotos no tempo e no espaço” (CL, 1962, p. 135). Em oposição ao modelo hegemônico que interpreta a paisagem como uma substância (ousia) que é pura exterioridade, a paisagem machadiana segue uma “lógica predicativa”, atrelada às ideias de representação e de uma relação suplementar entre o sujeito e o mundo, operando de forma a ressaltar semelhanças entre realidades opostas e revelar conexões entre elementos dicotômicos. Portanto, como contraponto da figuração idealizada da paisagem e do brasileiro "típicos”, tidos como ícones da representação nacional e de uma literatura genuinamente brasileira, esta “paisagem do Oriente” na ficção do autor vigorará como mecanismo para a contestação do exotismo romântico, do detalhismo e cientificismo naturalistas e das teses do racismo científico. Nestes termos, estruturado em três capítulos, este trabalho volta-se primeiramente para o percurso histórico que leva à instituição da paisagem e do indígena como símbolos brasileiros, recuperando, ainda, a fortuna crítica sobre a paisagem machadiana. O segundo capítulo intenta delinear, a partir da crítica literária e da ficção do escritor, a concepção de machadiana de paisagem e sua censura às estéticas hegemônicas de sua época, particularmente o exotismo tematizado no retrato oriental dos contos “Luís Soares” e “A chinela turca”. Por fim, o terceiro capítulo parte da ideia de uma geografia imaginativa, de Edward Said, para fundamentar o percurso de classificação do brasileiro entre os povos “exóticos” e a atribuição de sentido primitivo e selvagem à paisagem tropical brasileira no discurso europeu, tal qual o desenho do Oriente associado ao orientalismo, elencando os problemas associados a este paradigma sob a ótica machadiana a partir da leitura de suas crônicas e contos, apresentando os artifícios da “paisagem oriental” de Machado de Assis como dispositivo retórico para discorrer sobre as questões brasileiras e promover a literatura do país: a representação de paisagens quiméricas, do flâneur, o intertexto, entre outros recursos que, somados a alusões à geografia e outras “cousas” orientais corroboram a construção deste Oriente, estranhamente “brasileiro”, na obra do escritor.
Descrição
Palavras-chave
Machado de Assis, Paisagens do Oriente, Nacionalidade, Literatura brasileira