Uma sangria em performance: a reescrita da história do Brasil pela poética feminista decolonial do Slam
Data
2025-07-30
Autores
Rosa, Érica Alessandra Paiva
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Resumo
Nesta pesquisa, analiso um recorte da poesia produzida por mulheres e pessoas não binárias no circuito brasileiro de slams (campeonatos de poesia falada), com interesse pela tematização da violência de gênero e pela proposta de reescrita da história do Brasil. Para demonstrar que tal proposta é elaborada de forma coletiva no cenário, realizo leituras dos poemas A menina que nasceu sem cor (2019), de Midria, Era uma vez um país conservador (2019), de Bell Puã, e da obra Sangria (2017), de Luiza Romão, essa última reescreve a história do Brasil pela perspectiva de um útero, colocando o corpo feminino como narrador dos fatos em 28 poemas e 28 fotos. A poética do slam denuncia a atuação da colonialidade na constituição da sociedade brasileira e demonstra como as violências se atualizam assumindo outras dinâmicas, mas sempre com o objetivo de manter o controle do poder nas mãos do patriarcado opressor. Portanto, muitos poemas refletem sobre as relações de dominação, de resistência e de re-existência, bem como sobre a influência da colonialidade na representação das mulheres e em nossos processos de construção identitária. Discuto a presença de posicionamentos decoloniais no movimento de slams e identifico a expressão de uma estética literária regida por elementos que a caracterizam uma literatura feminista decolonial, como o contexto de produção de conhecimentos localizados expressos em uma poesia popular, composta pela subjetividade, experiência, corpo e identidade de quem escreve. Essa poesia aborda temas urgentes às mulheres brasileiras que são expressos pela violência da palavra. Na investigação, também contemplo o contexto de desenvolvimento do slam no Brasil com as elaborações de D’Alva (2011, 2014, 2022, 2019), Freitas, Peregrino e Patrocínio (2022, 2023) e Romão (2023), além da relação do movimento com a construção identitária da juventude, considerando os assuntos dos poemas e a expectativa do público a partir de Somers-Willett (2009, 2022) e Ferrara (2020). Já Moraes e Silva (2021), bem como, Pimentel, Souza e Costa (2023) auxiliam na análise sobre as relações entre o slam, a crítica e as dinâmicas de poder do campo literário. Questões relacionadas à poesia, à oralidade e à performance são discutidas a partir de Zumthor (1997, 2005) e de Aguilar e Cámara (2017). Leone (2014) colabora nas reflexões sobre a produção poética em contextos de coletividade e afetividade. Discuto as relações entre o slam e a literatura marginal no Brasil com as contribuições de Ferréz (2005) e de Nascimento (2009). Também delineio um panorama sobre a publicação no cenário do slam e o alcance de sua poética a espaços de legitimação literária. A colonialidade e a decolonialidade são abordadas a partir de Mignolo (2017), Restrepo e Rojas (2010), Maldonado-Torres (2007) e Quijano (2000, 2002). Já o feminismo decolonial é pensado com Lugones (2008, 2014), Curiel (2017, 2020), Vergès (2017, 2020) e Gomes (2018). Assim, a pesquisa contempla reflexões sobre uma poética feminista decolonial que relê, revisa e reescreve a história do Brasil, comprometida com um projeto político de liberdade e de justiça.
Descrição
Palavras-chave
Campeonatos de poesia falada, Colonialidade, Violência de gênero, Literatura marginal, História do Brasil, Mulher, Slam, Poesia, Feminismo decolonial, Brasil