A estética da melancolia em romances de Lúcio Cardoso

Data

2021-07-20

Autores

Hodas, Flávia Aparecida

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Resumo

Nos romances do escritor mineiro Lúcio Cardoso, principalmente naqueles publicados após o ano de 1936, data que marca a publicação de A luz no subsolo (1936) e, ao mesmo tempo, a abertura para a sua vertente mais intimista, pode-se dizer que a melancolia é um dos estados de alma centrais que percorre as suas obras. As personagens cardosianas são sujeitos entregues a um sofrimento incessante e a um doloroso desencanto existencial, fruto de perdas que elas não conseguem transpor. Sem dúvida, o desejo irrealizado, elemento salientado frequentemente pela crítica literária dentro da obra de Lúcio Cardoso, é o pivô que desencadeia o sentimento melancólico em suas narrativas. As personagens que se apresentam em seus romances, indivíduos essencialmente sequiosos, querem estar junto àquilo que desejam, mas, ao defrontarem-se com a impossibilidade de realizar os seus desejos, sentem-se incapazes de lidar com a dor que as domina. A melancolia torna-se tão evidente nas narrativas de Cardoso a ponto de se poder afirmar que existe nelas uma estética da melancolia. A presente tese tem como objetivo investigar como essa estética da melancolia se presentifica nos romances de Lúcio Cardoso. Afinal, como a melancolia se configura discursivamente em seus romances? Como algumas de suas personagens mais emblemáticas, imersas num estado de tormento e de sofrimento constantes, transitam pelos romances de Cardoso, revelando seus estados melancólicos? E, sobretudo, o que está em questão nos conflitos interiores dessas personagens que faz emergir essa estética da melancolia? Para responder a essas questões, três romances do escritor mineiro serão analisados: A luz no subsolo (1936), Dias perdidos (1943) e Crônica da casa assassinada (1959). A melancolia se apresenta na obra cardosiana tanto como um elemento estrutural do texto, assim como uma espécie de cosmovisão sobre a condição humana, que reveste as suas narrativas com imagens peculiares e que desperta nelas a presença pujante do afeto melancólico. Nesse sentido, a análise dos livros abarcará uma investigação discursiva que pretende demonstrar como se organizam os percursos de sentido que fazem com que suas personagens possam ser caracterizadas como sujeitos melancólicos por excelência, como é o caso de Madalena, de A luz no subsolo, de Clara e de Sílvio, de Dias perdidos e de Nina e de Ana, de Crônica da casa assassinada. Além disso, analisar-se-ão as imagens e os topois que revestem esse discurso, permitindo observar que a melancolia, em Lúcio Cardoso, trata-se, na verdade, não somente de um sentimento intrínseco à vida de determinadas personagens, mas se trata, em última instância, de um modo específico de conceber e de enxergar a vida humana, que é vista como um espaço permeado por uma sucessão de perdas irreparáveis, por sofrimentos intermináveis e por lacunas intransponíveis, o que faz emergir uma estética da melancolia em seus romances.

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Palavras-chave

Melancolia, Literatura, Lúcio Cardoso, Ficção brasileira, Melancolia na literatura

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