Descrição dos róticos em ataque silábico na Região Sul do Brasil : um estudo (Geo)sociofonético com dados do projeto ALiB
Data
2024-07-08
Autores
Scabori, Kauana
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Resumo
Na posição de ataque silábico, as variantes róticas comumente realizam-se tanto em configurações silábicas simples ([ˈɦɔ.zɐ]) quanto complexa ([tɾa.ba.ˈʎaɻ]). Semelhante a outros fenômenos linguísticos descritos e mapeados no português falado do Brasil (PB) pelo Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), notou-se que a realização rótica (representada pela abstração simbólica /R/) também se mostra passível de variação em contexto inicial ([ɾeˈmãdʊ]) e medial ([boˈɣaʃɐ]) no léxico oralizado. Nos dados do ALIB, inexiste a investigação para o /R/ em ataque CV atrelado ao contexto dos Discursos Semidirigidos para os três Estados da Região Sul do Brasil. Neste sentido, a presente tese alicerça-se nos postulados da Dialetologia Pluridimensional (Thun, 1998, 2005), Sociolinguística Variacionista Quantitativa (Labov, 1994, 2008 [1972]), por conseguinte na Geossociolinguística (Razky, 2003), e na Fonética Articulatória e Acústica (Barbosa; Madureira, 2015; Silva et al., 2019). Esta tese, ao colocar-se como mais uma contribuição sistemática à questão do multifacetado /R/ em ataque, apresenta como objetivo geral registrar e investigar a produtividade das variantes róticas em posição de ataque silábico no falar de moradores de algumas localidades da Região Sul do Brasil. Para alcançar tal objetivo, os objetivos específicos foram os seguintes: (i) identificar as variantes róticas realizadas em ponto articulatório anterior e posterior no falar de alguns moradores da Região Sul do Brasil; (ii) investigar a atuação dos fatores linguísticos (posição do rótico na palavra, classe morfológica e a vogal da sílaba alvo) e extralinguísticos (sexo, faixa etária, localidade, contexto de produção de fala e a profissão), a partir do favoritismo entre uma ou outra variante rótica contemplada na fala de moradores do Sul brasileiro; (iii) analisar se existem indícios e/ou pistas quanto ao processo de posteriorização – terminologia incorporada ao PB por Callou (1987, 2015) para tratar das realizações no aparelho fonador localizada na parte de trás da cavidade bucal, isto é, depois do palato duro – nas vinte e nove localidades investigadas da Região Sul; e (iv) produzir e verificar se existem vestígios ou marcas de áreas isófonas, a partir de cartas fonéticas, que contemplam as realizações róticas e ilustram se ocorre isoglossia para o fenômeno investigado (/R/ em ataque). A metodologia adotada para esta tese define-se pelo critério de natureza quantitativa da pesquisa descritiva, com a seleção de 29 localidades interioranas do Sul brasileiro, compostas pela participação de 116 entrevistados inquiridos pelos membros do Projeto ALiB. O cômputo para 6.147 ocorrências róticas, recortadas de dados provenientes da fala, referem-se às seguintes partes do Questionário ALiB (COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALIB, 2001): QFF, DSM e Leitura. Para o processo de posteriorização, sugestionado por Brescancini e Monaretto (2008) e demais autores, o resultado aponta que, embora tenha ocorrido a posteriorização na maior parte dos municípios sulistas, persistem realizações expressivas para o tepe alveolar e vibrante múltipla em Cândido de Abreu (PR) e Flores da Cunha (RS), concomitante com as variantes posteriores, como forma de caráter identitário na manutenção de róticos atrelados à construção da cultura étnica de imigrações europeias na região em análise. Revelou-se, portanto, a centralização de variantes anteriores no interior dos estados sul brasileiros, em uma faixa que cobre o Sul do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Norte do Rio Grande do Sul, e o uso mais recorrente das fricativas posteriores nos extremos em direção ao centro desses estados.
Descrição
Palavras-chave
Geossociolinguística, Fonética articulatória, Atlas linguístico do Brasil, Róticos em ataque silábico, Linguagem - Estudo e ensino, Róticos, Fonetica - Brasil, Linguagem - Região Sul do Brasil