Efeitos do tratamento isolado e combinado de aspirina e benznidazol sobre lesões neuronais mioentéricas observadas no modelo murino da doença de Chagas
Data
2020-04-27
Autores
Dionisio, Joyce Hellen Ribeiro
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Resumo
A Doença de Chagas (DC) é a manifestação clínica causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. As manifestações clínicas da DC são características da fase crônica. Dos indivíduos infectados pelo T.cruzi, de 30- 40% evoluem para a fase crônica, podendo apresentar manifestações cardíacas ou digestivas. O megaesôfago e o megacólon são as maiores causas de morbidade na forma clínica digestiva da DC crônica. A forma digestiva da DC é caracterizada por alterações na função motora, secretória e absortiva do trato gastrointestinal, resultante de lesões no plexo mioentérico, um dos principais componentes do Sistema Nervoso Entérico (SNE). Para que ocorram as lesões no plexo mioentérico e desenvolvimento das manifestações digestivas, estudos indicam a existência de mecanismos mistos, com participação direta do parasita e reações autoimunes. Existem no mercado dois fármacos para o tratamento da DC: Benznidazol (BZN) e Nifurtimox. O BZN é o fármaco de primeira escolha para o tratamento da DC. Esse medicamento apresenta eficácia limitada dependendo da fase da doença, além de apresentar efeitos adversos, que muito frequentemente, levam à interrupção do tratamento pelo paciente. A ação desse fármaco está relacionada a danos em macromoléculas do parasito, como o DNA. Durante a fase crônica da DC, os danos teciduais observados no hospedeiro são decorrentes da resposta inflamatória, e não da presença do parasito nas lesões, sendo a utilização de anti-inflamatórios uma estratégia para controle das alterações crônicas na DC. Neste sentido, estudos têm demonstrado que a utilização de baixas doses de anti-inflamatórios, como a aspirina (ASA), tem apresentado bons resultados no controle do parasito, além de neuropreservação. O objetivo desse estudo foi avaliar a eficácia do tratamento isolado e combinado do BZN e ASA sobre neurônios do plexo mioentérico de camundongos infectados com T. cruzi. Para isso, camundongos machos BALB/c foram distribuídos em cinco grupos (n=5): controle, infectado sem tratamento, infectado+ASA, infectado+BZN e infectado+ASA+BZN. Os camundongos foram infectados por via intraperitoneal, com 5x102 formas tripomastigotas sanguíneas da cepa Y de T. cruzi (CEUA/UEL nº03/2019). Quarenta e oito horas após a infecção, os tratamentos foram iniciados e tiveram duração de trinta dias. A dose de ASA e BZN foi de 25mg/kg/dia via gavagem. A parasitemia foi avaliada em dias alternados a partir 2º dia pós infecção, por um período de 31 dias. Os animais foram submetidos a eutanásia 180 dias após a infecção e, durante esse período, a taxa de sobrevida foi avaliada. Foram avaliados o comprimento e largura do cólon dos camundongos, para posterior cálculo da área do órgão. As amostras de cólon foram submetidas a técnica de imunofluorescência para marcação da população neuronal mioentérica geral (PGP9.5+), colinérgica (ChAT+) e nitrérgica (nNOS+). Contou-se o número total de células presentes em 32 imagens microscópicas advindas de cada animal. A área do cólon de todos os animais infectados pelo T.cruzi encontrava-se maior quando comparada a de camundongos não infectados. A parasitemia comprova a infecção pelo T.cruzi. A ASA administrada de forma isolada não foi capaz de controlar de forma eficiente a parasitemia, pois apresentou comportamento semelhante aos animais infectados sem tratamento. O grupo infectado+BZN e infectado+ASA+BZN apresentaram parasitemia semelhante, com baixo pico parasitêmico ao 7º dia pós infecção. Os animais dos grupos infectados+BZN e infectados+ASA+BZN apresentaram taxa de sobrevida semelhantes ao grupo sem infecção. A densidade populacional de neurônios gerais e colinérgicos estava diminuída nos animais infectados sem tratamento, mesmo após aplicar fator de correção devido ao aumento da área colônica. Essa mesma redução foi observada nos grupos infectados+ASA e infectados+BZN, quando comparados ao grupo controle. Os animais infectados+ASA+BZN apresentaram preservação para população neuronal geral e subpopulação colinérgica. A subpopulação nitrérgica apresentou redução numérica nos animais infectados sem tratamento e infectados+BZN, quando consideradas as amostras avaliadas. Os grupos infectados+ASA e infectados+ASA+BZN se mostrou preservada nessas amostras. Porém quando aplicamos o fator de correção para a área do órgão, observou-se que a subpopulação nitrérgica não foi alterada em nenhum dos grupos avaliados. Durante a infecção ocorreu alteração morfológica nos corpos celulares dos neurônios. A subpopulação neuronal nitrérgica dos camundongos pertencentes aos grupos infectados sem tratamento, infectados+ASA e infectados+ASA+BZN encontrava-se hipertrofiada quando comparada a do grupo controle. Já nos camundongos infectados tratados com BZN, observou-se atrofia do corpo celular. Em relação aos neurônios colinérgicos, somente o grupo infectado+ASA apresentou alteração morfométrica (hipertrofia) do corpo celular. A neuropreservação promovida pela combinação ASA+BZN se mostrou superior aos tratamentos administrados de forma isolada, também sendo capaz de promover sobrevida dos camundongos BALB/c infectados com T. cruzi.
Descrição
Palavras-chave
Doença de chagas, Megacolón, Neuroproteção