Mulheres invisibilizadas: a experiência afetiva de entrega de um filho para adoção
Data
2023-07-28
Autores
Santos, Gisele Castanheira dos
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Resumo
A entrega de um filho para adoção passou a ser mediada pelo Poder Judiciário a partir da implementação da lei 12.010 de 2009, que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa alteração legislativa visou garantir segurança às crianças, em oposição ao seu abandono ou comercialização. Ainda que o procedimento seja previsto em lei, as mulheres que entregam os filhos para adoção são expostas a julgamentos e censuras advindos do meio social que silenciam e abafam os afetos envolvidos nessa experiência. Diante disso, a presente pesquisa teve como objetivo dar voz e visibilidade aos afetos, investigando de que maneira as mulheres vivenciaram a experiência da entrega de um filho para adoção. Para tanto, utilizou como embasamento teórico os pressupostos da Psicologia Social, abordando os processos sociais, culturais e históricos que impuseram uma disciplina aos corpos femininos, contribuindo para a invisibilização e a desqualificação das mulheres que optam por entregar os filhos para adoção. Para alcançar o objetivo traçado, foi escolhida a metodologia qualitativa, com uso da estratégia da história oral, levantada por meio de entrevistas semiestruturadas e análise de documentos, sendo consultadas legislações e processos judiciais. A unidade de análise foi composta por quatro mulheres que entregaram os filhos para adoção, cujo procedimento ocorreu na Vara da Infância e da Juventude em uma comarca do interior do Paraná após a implementação da lei 12.010 de 2009. Os dados foram organizados e analisados em articulação com o referencial teórico a partir de três eixos temáticos: 1) a instituição maternidade, formulada a partir de uma construção histórica e social que impôs à mulher a função idealizada de procriar e prover cuidados aos filhos; 2) o controle exercido diante da decisão das mulheres que entregam os filhos para adoção, em intervenções das equipes da Saúde, da Assistência Social e do Poder Judiciário; 3) a invisibilidade da experiência das mulheres que entregam seus filhos para adoção e a noção de sustentabilidade afetiva. Como resultado, foi possível compreender que as participantes vivenciaram a experiência da entrega de um filho para adoção em um estado de desalento e aprisionamento subjetivo. A falta de apoio e suporte do meio social no período gestacional foi seguida de intervenções dos familiares e profissionais envolvidos nesse processo que, algumas vezes, ganharam contornos rudes e violentos diante da intenção da entrega dos filhos para adoção, repercutindo em uma atitude de silenciamento como forma de autoproteção das mulheres. Os afetos vivenciados pelas participantes nessa experiência são múltiplos: arrependimento, sofrimento e autocensura, mas há também inclinações potencializadoras, como alegria, amor e esperança por um futuro encontro com o filho. Ao final do estudo, compreendemos que sustentar a diversidade de afetos manifestos em uma experiência tão delicada como a entrega de um filho para adoção requer a formação de profissionais atentos e sensíveis à diversidade humana expressa em afetos que, por vezes, são difíceis de ser expressos, sustentados e elaborados em um cenário que tende muito mais a convicções normativas
Descrição
Palavras-chave
Entrega, Filho, Adoção - Aspectos psicológicos, Mulheres - Adoção, Infância, Juventude