Variações genéticas, níveis cervicais e plasmáticos de TGFB1: implicações na infecção pelo HPV e no câncer cervical

Data

2020-04-03

Autores

Trugilo, Kleber Paiva

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Resumo

O papilomavírus humano (HPV) é o principal agente causador das lesões intraepiteliais cervicais e do câncer cervical. Entretanto, a resposta imune apresenta um impacto considerável no desfecho da infecção. Neste contexto, o fator de transformação do crescimento ß 1 (TGFB1) parece desempenhar um papel dual, atuando como supressor ou favorecendo a progressão das lesões e do câncer. Como variações genéticas podem influenciar a produção de TGFB1, o presente estudo teve como objetivo verificar o papel das variações genéticas c.–1638G>A, c.–1347T>C, c.29C>T e c.74G>C de TGFB1 e suas estruturas haplotípicas na suscetibilidade à infecção pelo HPV e no desenvolvimento das lesões cervicais e do câncer, além de analisar se os haplótipos influenciam os níveis cervicais e plasmáticos de TGFB1. Um total de 402 mulheres participaram do estudo. Amostras de muco cervical e sangue periférico foram coletadas de 351 mulheres submetidas a exame citológico e amostras de tecido tumoral embebidas em parafina de 51 pacientes foram fornecidas pelo Hospital do Câncer de Londrina. As participantes foram estratificadas com base na presença ou ausência de DNA do HPV, testada pela reação em cadeia da polimerase (PCR), e de acordo com o status cervical, conforme determinado por análise citológica ou biópsia cervical [sem lesão cervical, lesões de baixo e alto grau (LIEBG e LIEAG) e câncer]. Dados clínicos e histopatológicos de pacientes com câncer e dados sociodemográficos de todos as participantes também foram coletados. Os genótipos das variações de TGFB1 foram determinados por PCR seguida de digestão enzimática e as estruturas haplotípicas foram inferidas pelo software PHASE 2.1.1. Os níveis cervicais e plasmáticos de TGFB1 foram medidos por ensaio imunofluorimétrico. As análises caso-controle foram realizadas por regressão logística ajustada para possíveis fatores de confusão e por testes de Mann-Whitney e Kruskal Wallis. Para a primeira produção científica (artigo 1), foram incluídas 190 mulheres não infectadas por HPV (controles) e 161 infectadas. Entre as infectadas (com exclusão de cinco pacientes), 80 (51,3 %) não apresentavam lesão cervical, 23 (14,7 %) possuíam LIEBG e 53 (34,0 %) tinham LIEAG. A análise das variantes genéticas mostrou que os alelos –1347T (P = 0,028) e 29C (P = 0,006) e o genótipo 29CC (P = 0,023) foram proporcionalmente mais frequentes nas mulheres infectadas do que nas não infectadas (40.1%, 50.0%, 24.8% e 32.1%, 39.7%, 17.4%, respectivamente), enquanto não houve diferença entre os grupos de lesão. Considerando os haplótipos, oito estruturas foram inferidas. Dessas, GCTG, aqui denominado *4, foi mais frequente no grupo infectado do que no não infectado (P = 0,003). A análise por regressão logística mostrou que mulheres –1347TT e – 1347CT+TT foram mais suscetíveis à infecção pelo HPV do que –1347CC (OR = 2,16; IC95 % = 1,10 – 4,25 e OR = 1,62; IC95 % = 1,03 – 2,54). Da mesma forma, 29CT, 29CC e 29CT+CC aumentaram a suscetibilidade ao HPV quando comparados com 29TT (OR = 1,77; IC95 % = 1,06 – 2,97; OR = 2,31; IC95 % = 1,23 – 4,34 e OR = 1,92; IC95 % = 1,18 – 3,12, respectivamente). Por outro lado, portadoras do haplótipo *4 (que contém os alelos –1347C e 29T) em homozigose foram menos suscetíveis ao HPV do que as não portadoras de *4 (OR = 0,39; IC95 % = 0,21 – 0,72). Por fim, comparando os dois haplótipos mais frequentes, *3 (GTCG) com *4, mulheres *3/*3 e *3/*4 foram mais suscetíveis ao HPV do que mulheres *4/*4 (OR = 2,13; IC95% = 1,13 – 4,00 e OR = 2,81; IC95% = 1,29 – 6,10, respectivamente). As pacientes infectadas pelo HPV apresentaram níveis maiores de TGFB1 no plasma [4575,19 (IQR = 4392,34) pg/mL] e no muco cervical [53,17 (IQR = 56,46) pg/mg de proteínas] comparadas com as não infectadas [2964,80 (IQR = 3091,45) pg/mL e 32,57 (IQR = 54,49) pg/mg de proteínas, respectivamente] (P = 0,001 e P = 0,008, respectivamente). Maiores níveis também foram observados no plasma do grupo LIEBG [6653,45 (IQR = 5098,44) pg/mL] do que no grupo sem lesão [3689,4 (IQR = 3383,8) pg/mL] (P = 0,010). Com relação aos haplótipos, mulheres infectadas portando *3/outros (heterozigotas) apresentaram níveis menores de TGFB1 plasmático do que mulheres infectadas não portadoras (outros/outros) [3067,13 (IQR 4200,20) pg/mL e 4836,23 (IQR 4313,38) pg/mL, respectivamente, P = 0,03]. Da mesma forma, mulheres infectadas *3/*3 + *3/outros [3993,99 (IQR = 4173,05)] tiveram níveis mais baixos de TGFB1 plasmático (P = 0.04) do que as infectadas não portadoras [4836,23 (IQR = 4313,38)]. No segundo artigo, foram incluídas apenas pacientes infectadas (n = 130) e distribuídas nos grupos sem lesão (79/60,8 %) e câncer (51/39,2 %). Inicialmente, nenhuma das variações genéticas enquanto marcadores isolados foi associada com o câncer. No entanto, o haplótipo GTCG nos modelos dominante e recessivo aumentou a suscetibilidade ao câncer cervical (OR = 2,48; IC95% = 1,05 – 5,83 e OR = 4,73; IC95% = 1,18 – 19,02; respectivamente). Com base nos resultados dos artigos 1 e 2, esta é a primeira vez que haplótipos de TGFB1 foram associados com a infecção pelo HPV e com o câncer cervical, sugerindo as estruturas haplotípicas de TGFB1 (c.–1638G>A, c.–1347T>C, c.29C>T e c. 74G>C) como potenciais loci candidatos de suscetibilidade para estas doenças.

Descrição

Palavras-chave

Polimorfismo, SNP, Câncer de colo do útero, rs1800468, rs1800469, rs1800470, rs1800471, Vírus do papiloma, Papilomavírus humano (HPV), HPV - Vírus, Câncer cervical

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