Antropocentrismo e suas contestações : o discurso trapaceiro e a toxicopoética em Future home of the living God e A história de Animal

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Gomes, Celina de Oliveira Barbosa

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Resumo

Resumo: Os romances Future Home of the Living God, da escritora ameríndia Louise Erdrich, e A História de Animal, do indiano Indra Sinha, são narrativas pós-coloniais escritas em primeira pessoa e que apresentam reflexos da complexa relação com o colonizador europeu em seus enredos, como o hibridismo cultural e a crise identitária; tópicos comuns em textos desse tipo e na produção de autores caracterizados por um status intersticial, como o são os escritores em questão Porém, mais do que a esperada tensão entre colonizador e colonizado vista nas literaturas de ex-colônias, o primeiro capítulo deste trabalho analisa o estabelecimento da doutrina da razão (PLUMWOOD, 22), do antropocentrismo/humanismo racionalista e do logocentrismo nos contextos dos romances Essas ideologias se apresentam de modo exacerbadamente predatório, distinguindo, pela linguagem, os ditos humanos racionais/listas de humanos subjugados e de não-humanos; o que implicou em um imperialismo ecológico que configurou uma feição pós-natural do mundo característica da própria morte do planeta nas narrativas Valendo-se da retórica apocalíptica, então, os autores indicam nos textos os efeitos da violência racionalista, linguística e ecológica que levou à falência da vida como se conhece Porém, diante da linguagem descontruída e sorrateira das obras, considerada segundo a concepção da Desconstrução de Jacques Derrida, esta mesma investigação coloca em evidência, nos capítulos seguintes, a fragilidade dos constructos hegemônicos linguísticos causadores dessa violência e segregação racionalistas Sob o viés do discurso trapaceiro de Future Home of the Living God e da narrativa picaresca de A História de Animal, a análise desenvolvida neste trabalho enfatiza o caráter meramente representativo da linguagem; esta que, sendo marcada pela indecidibilidade, é incapaz de definir os entes e de promover hierarquizações como as propostas pelo antropocentrismo Em outras palavras, diante das evidências do antropocentrismo e de seus efeitos predatórios para o mundo, ficcionalizados nos romances, buscou-se – por meio da consideração do teor desagregado e instável de sua linguagem – mostrar a suscetibilidade de termos e de arranjos discursivos sobre os quais se apoia o humanismo racionalista Precisamente, foram estabelecidas as hipóteses de que Future Home of the Living God e A História de Animal debilitam o antropocentrismo racionalista por conta de suas narrativas descontruídas e ardilosas; e o fazem, o texto de Indra Sinha, sobretudo, configurando uma toxicopoética, sintomática do próprio discurso trapaceiro de Erdrich Sua comprovação se deu pela constatação da natureza polissêmica dos discursos das obras literárias, a qual embarga sentidos estanques e as “certezas” decorrentes deles, por meio de uma enunciação entorpecente que se difunde por toda a investigação Isso concorre não só para o questionamento das fronteiras que separam os entes, como interroga a legitimidade de conceitos provenientes do antropocentrismo há tempos empregados por outras ideologias hegemônicas como justificativa para o estabelecimento e manutenção de diferentes relações de poder e de opressão

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Palavras-chave

Ficção, História e crítica, Racionalismo, Ideologia e literatura, Desconstrução (Filosofia), Fiction, Rationalism, Ideology and literature, Deconstruction, History and criticism

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