O discurso eucarístico ao longo do tempo: uma abordagem foucaultiana

Resumo

As discussões sobre a Eucaristia permearam os longos anos do cristianismo até os dias atuais. Durante a antiguidade e a Idade Média, até a Reforma Protestante, a contendas foram muito sérias, pois tocar em doutrinas da Igreja Católica poderia significar excomunhão e, em alguns momentos, morte por heresia. No início da era cristã, os seguidores de Jesus se baseavam nos relatos que ouviam de outros cristãos de que Jesus ceou com seus discípulos na noite em que foi traído e preso. Nesta ocasião, na celebração da Páscoa judaica, ele afirmou que o pão era seu corpo e o vinho seu sangue, e que os presentes deveriam comer e beber e repetir essa prática. Esse episódio está relatado em quatro livros diferentes do Novo Testamento da Bíblia cristã (Mateus 26:26-28; Marcos 14:22-24; Lucas 22:19-20; 1 Coríntios 11:23-25), passagens que são a base para instituição da ceia como uma celebração a ser repetida pelos seguidores de Jesus. Esses textos, juntamente com João 6:51, para alguns, são as bases bíblicas para as formulações teológicas desde então. Nos primeiros quatro séculos de cristianismo já é possível observar muitos embates teológicos, principalmente sobre o pão e o vinho representarem ou se transformarem em corpo e sangue de Jesus à mesa, com a consagração pelo sacerdote. Essas discussões perpassaram os séculos, prevalecendo a compreensão de que os elementos se transformavam em corpo e sangue, o que resultou na doutrina da transubstanciação, posteriormente. Apesar disso, interpretações simbólicas da Eucaristia continuavam aparecendo, de teólogos influentes, bispos da igreja, mas não foram aceitas pela igreja oficial, pois contrariavam a vontade de verdade de quem estabelecia as relações de poder. Na Reforma Protestante, com outras conjunturas políticas (condições de possibilidade), posições contrárias à transubstanciação apareceram e não foram derrubadas pela Igreja Católica, afinal, era outro momento, um período de ruptura política e eclesiástica. Este é o corpus deste trabalho, o qual tem como objetivo refletir sobre a Eucaristia a partir da noção foucaultiana de genealogia (FOUCAULT, 2022) e de sua teoria sobre o ordenamento do discurso (FOUCAULT, 2009). Por meio desse dispositivo analítico, é possível observar que o discurso oficial, devido às relações de poder, prevaleceu enquanto as condições de possibilidades permitiam. Contudo, quando tais condições se modificaram, outro discurso pôde ocupar um lugar impossível, até aquele momento.

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Palavras-chave

Análise do discurso, Linguagem, Ideologia e comunicação, Discurso eucarístico

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