Mães de gêmeos prematuros: a escuta psicanalítica na UTI neonatal

Data

2023-12-13

Autores

Souza, Larissa Osete

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Resumo

A formação da parentalidade diante de uma gestação gemelar é permeada por especificidades, levando em conta a necessidade de a família se haver com o cuidado de dois bebês, que embora fisicamente semelhantes, precisam ser reconhecidos em sua singularidade. Em vista disso, a descoberta de uma gravidez de múltiplos implica em sentimentos ambivalentes e exige uma reorganização da rotina familiar. As mudanças provocadas pela chegada de dois bebês são ainda maiores diante do parto prematuro e a hospitalização das crianças em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) – situação recorrente no nascimento de gêmeos – de modo que a relação materno-infantil passa a ser atravessada pela equipe de saúde e podem surgir entraves no processo de vinculação mãe-bebê, uma vez que o bebê prematuro é pouco responsivo ao contato, há a presença constante dos profissionais de saúde e a possibilidade de óbito infantil, o que pode contribuir para a família não investir afetivamente seus bebês. Assim, é primordial refletir sobre as vivências emocionais das famílias de bebês gêmeos que passaram pela UTIN, para que se construam intervenções psicológicas atentas às especificadas dessa relação e possa, com isso, prevenir potenciais complicações na saúde materno-infantil. Tendo em vista o interesse por estudar a relação materno-infantil diante da gemelaridade e nascimento prematuro, o presente estudo tem por objetivo investigar as experiências emocionais de puérperas, mães de gêmeos prematuros internados em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A coleta de dados ocorreu através de atendimentos em psicoterapia breve, às puérperas com bebês internados na UTIN do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina. Os dados foram analisados a partir da construção de fatos clínicos psicanalíticos, sendo estabelecidas duas categorias de análise: luto no puerpério e sobreviverei à essa monstanha russa? Na primeira verificou-se que em mães de gêmeos prematuros, acrescido ao processo elaborativo esperado no puerpério, há a necessidade de lidar com o luto pela perda do ideal construindo em torno da maternidade e dos bebês durante a gestação, tendo em vista o nascimento prematuro e a presença do hospital como terceiro na relação com os lactentes. Ademais, em situações onde ocorre óbito de um dos bebês, pode o cogêmeo ser colocado no lugar do gêmeo perdido pela mãe e/ou pais. No segundo eixo de análise, foram discutidos os sentimentos vivenciados pelas mães de UTIN e pela própria pequisadora, os quais são marcados pela angústia diante da incerteza e instabilidade do ambiente hospitalar e o uso de defesas primitivas como a projeção da raiva na equipe de saúde. Tais fatos demandam uma escuta qualificada para que os conteúdos afetivos possam ser acolhidos, de modo que tanto o psicológo como os demais profissionais de saúde ao exercer a função de rêverie possam contribuir para que as experiências emocionais sejam ressignificadas e compreendidas.

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Palavras-chave

Gêmeos, Psicanálise, Parentalidade, Psicologia hospitalar, Nascimento prematuro

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