Desafios enfrentados por mulheres com lesão medular que realizam cateterismo vesical intermitente : um estudo qualitativo

Data

2025-04-09

Autores

Kasuya, Felipe Vessoni Barbosa

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Resumo

Introdução: A lesão medular (LM) pode causar disfunção neurogênica do trato urinário inferior (DNTUI), impactando significativamente a qualidade de vida (QV) devido a complicações orgânicas e psicossociais. O manejo dessas disfunções requer abordagem multidisciplinar para lidar com os desafios únicos a que os pacientes são submetidos. O cateterismo vesical intermitente limpo (CVIL) é a melhor forma de manejo do esvaziamento urinário quando a DNTUI se instala, entretanto se relaciona com difícil aderência e eventuais complicações. Considerando o limitado conhecimento existente sobre o impacto da DNTUI e do cateterismo em mulheres — devido à predominância de estudos focados no público masculino — optou-se por uma pesquisa qualitativa. Essa escolha foi fundamentada na necessidade de explorar as nuances das experiências femininas, que abordam desde diferenças anatômicas até complexidades sociais e emocionais. A abordagem qualitativa é especialmente adequada para este estudo, pois permite um foco profundo nos aspectos psicossociais, oferecendo uma compreensão abrangente das diferenças de gênero na convivência com a DNTUI e seu tratamento. Diferentemente dos métodos quantitativos, que se concentram em mensurações e dados estatísticos, o método qualitativo facilita uma exploração rica e detalhada das experiências pessoais, subjetivas, e contextuais das participantes, proporcionando reflexões sobre suas percepções e vivências. Objetivos: Compreender as percepções e experiências vividas por mulheres que realizam o CVIL devido a DNTUI de instalação aguda, investigando o impacto dessa prática na QV, autonomia e independências em diversas áreas. Métodos: Estudo qualitativo, conduzido por meio de entrevistas com mulheres usuárias de CVIL em Londrina-Pr, entre junho de 2023 e outubro de 2024. Inicialmente, foram contactadas 19 mulheres, mas a amostra final consistiu em 13 participantes, após desistências e recusas. As entrevistas, conduzidas presencialmente em um consultório médico privado ou por videoconferência, através do aplicativo Zoom®, permitiram que as pacientes expressassem livremente suas experiências e respondessem a 15 perguntas semi-estruturadas. A duração média das entrevistas foi de 47 minutos. As sessões foram gravadas em áudio e vídeo. Para transcrição, utilizou-se a ferramenta Happy Scribe, que possibilitou transcrições automáticas de alta qualidade em português, seguidas de revisões manuais humanas para garantir a exatidão dos conteúdos transcritos. Os dados qualitativos foram analisados por meio do software MAXQDA, aplicado conforme os princípios da análise de discurso. O processo analítico identificou formações discursivas e efeitos de sentido, permitindo a apreciação das complexidades psicossociais e experiências individuais relatadas no contexto do uso do CVIL. Resultados: A análise das entrevistas revelou três formações discursivas principais entre as participantes: 1) Ruptura e Adaptação Inicial, destacando o choque emocional e a perda de controle após a instalação aguda da DNTUI; 2) Aprendizagem e Normalização, onde as mulheres relatam dificuldades iniciais, mas também caminhos para adquirir autonomia e integrar o CVIL em suas rotinas diárias; e 3) Ressignificação e Nova Realidade, mostrando a aceitação gradual e a adaptação às mudanças pessoais, sociais e profissionais impostas pelo uso contínuo do CVIL. As participantes também abordaram desafios em diversas esferas da vida, incluindo o impacto nos relacionamentos amorosos, vida profissional e viagens, salientando a importância das redes de apoio e da adaptação criativa para lidar com as adversidades. Conclusão: O estudo destaca a resiliência das mulheres ao adaptar-se ao CVIL e à DNTUI, enquanto revela a necessidade de abordagens clínicas e sociais mais personalizadas. As experiências compartilhadas pelas participantes sublinham a importância de estratégias de saúde que reconheçam as realidades distintas dessas mulheres, promovendo intervenções mais empáticas e inclusivas que garantam uma melhoria na qualidade de vida, autonomia e integração social. Esta investigação oferece contribuições valiosas, como a necessidade de estruturação em períodos para que a análise seja coerente e organizada, a identificação da necessidade de suporte integrado e multidisciplinar que aborde não apenas as necessidades médicas das pacientes, mas também seus desafios emocionais e psicossociais.

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Palavras-chave

Bexiga urinária neurogênica, Pesquisa qualitativa, Cateterismo urinário, Traumatismos da medula espinhal, Saúde da mulher, Qualidade de vida, Autonomia, Enfermagem

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