Ecologia trófica, sobreposição alimentar e ecomorfologia de peixes nativos e invasores em dois reservatórios vizinhos, Baixo Rio Paranapanema, Brasil
Data
2024-03-08
Autores
Ferraz, João Daniel
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Resumo
Em rios sob influência de barramentos, a assembleia de peixes sofre drásticas mudanças em composição e estrutura, onde espécies com morfologia e dieta adaptada a ambientes lênticos têm maiores chances de prosperar. Desta forma, o estudo da alimentação e da morfologia é de suma importância para compreender o uso do habitat e dos recursos alimentares em ambientes impactos por reservatórios. O objetivo deste estudo foi avaliar a ecologia alimentar e ecomorfologia da ictiofauna dos reservatórios de Rosana (ROS) e Taquaruçu (TAQ), Baixo Rio Paranapanema, estados de São Paulo e Paraná. Os peixes foram capturados entre setembro de 2018 e setembro de 2020, sendo eutanasiados com eugenol e fixados em formalina. Em laboratório, tiveram o estômago removido e o conteúdo identificado até o menor nível taxonômico possível. Foram analisados 815 indivíduos de 16 espécies, que consumiram 10 categorias de presas. O volume e frequência de ocorrência revelaram que as populações de peixes do reservatório ROS apresentaram maior consumo de recursos alóctones, enquanto as do reservatório TAQ apresentaram maior consumo de recursos autóctones. Os índices de Shannon-Wiener e Pianka demonstraram que as espécies nativas apresentaram menor amplitude de nicho do que as espécies não-nativas, e que a sobreposição de nicho trófico foi maior em TAQ. A PERMANOVA revelou diferenças significativas na composição da dieta da maioria das espécies entre os reservatórios, enquanto a PERMDISP indicou diferenças significativas na amplitude de nicho entre os indivíduos. Duas espécies não-nativas simpátricas foram selecionadas para análises ecomorfológicas (morfologia e dieta), culminando em 84 indivíduos submetidos a 25 medidas morfométricas que foram aplicadas em 23 índices ecomorfológicos. A PERMANOVA revelou diferença significativa entre índices relacionados com as nadadeiras e olhos, além do tamanho da cabeça e da boca. Auchenipterus osteomystax consumiu recursos autóctones e apresentou nicho mais restrito, enquanto Trachelyopterus galeatus consumiu principalmente recursos alóctones e nicho mais amplo, vindo o índice de Pianka a indicar a baixa sobreposição de nicho alimentar. Após as análises morfológicas constatou-se a presença de deformidades morfológicas em indivíduos de T. galeatus, onde radiografias comprovaram as anomalias. Estes resultados nos permitem observar que há uma relação com as alterações ambientais promovidas pelo barramento e o uso e ocupação da área, como alterações fisico-quimicas da água e influxo de poluentes, além da fragmentação populacional que favorece a endogamia resultando em incremento da taxa de anomalias durante a ontogenia dos peixes. Concluímos que, de modo geral, as populações de peixes de ROS tendem ao comportamento alimentar especialista, enquanto as populações de TAQ se comportam como generalistas. A alta sobreposição de nichos alimentares foi impulsionada por espécies não-nativas, pois, todas as espécies mudaram sua dieta entre os reservatórios, porém, espécies não-nativas apresentaram maior flexibilidade. Logo, as populações de ROS apresentam comportamento próximo daquelas em trechos livres de barragem da planície de inundação do Alto Rio Paraná, enquanto as de TAQ corroboraram o padrão alimentar da maioria das populações em reservatórios brasileiros, demonstrando a compartimentalização ambiental. Para a ecomorfologia, conclui-se que as diferenças morfológicas entre os auchinepterídeos pode ser determinante na segregação espacial e divergência alimentar proporcionando a coexistência no ambiente invadido. Em adição, o registro das anomalias é um achado de extrema importância para evidenciar o impacto antrópico nas comunidades aquáticas, uma vez que essas informações podem ser utilizadas nos sistemas de gestão e monitoramento ambiental.
Descrição
Palavras-chave
Amplitude de Nicho, Anomalia morfológica, Barramento, Dieta, Espécies não-nativas, Índices morfológicos