Arte e cuidado em saúde: experienciação do cuidado nos encontros vividos no projeto Sensibilizarte
Data
2021-04-29
Autores
Araujo, Flávia Maria
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Resumo
O cuidado pode ser considerado a base dos serviços de saúde, com diversos modos para a sua efetivação. Pressupõe considerar o usuário como interlocutor válido e incluir seus desejos na atuação profissional. Ele acontece no encontro entre trabalhador e usuário, quando o profissional é afetado pelo usuário e busca atender suas necessidades de saúde. Para operar assim, o trabalhador precisa escutar o usuário e colocá-lo no centro de sua atuação. Entretanto, nem sempre isso ocorre, o cuidado fica empobrecido em meio à várias questões, como as capturas que a indústria médico-hospitalar faz dos serviços, formações em saúde focadas em procedimentos e organização rígida dos serviços. Desse modo, fica aparente a necessidade de uma ferramenta capaz de agenciar a sensibilidade humana e fazer despertar para a necessidade de cuidado. Encontramos essa ferramenta na arte, que tem se mostrado uma potente atividade cuidadora, capaz de sensibilizar. Nessa temática, a Universidade Estadual de Londrina-UEL desenvolve um Projeto de Extensão chamado “Sensibilizarte: Arte Como Instrumento Para Humanização Na Formação E No Cuidado Em Saúde”, que tem por objetivo sensibilizar os discentes dos cursos da saúde para uma formação cuidadora. O projeto faz isso levando os participantes para realizarem atividades artísticas dentro do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná- HU/UEL. São quatro modalidades artísticas: artesanato, contação de histórias, música e palhaço. Nos questionamos sobre como é produzido o cuidado pelo participante do Projeto Sensibilizarte, no encontro que produz vida com o usuário do hospital e, para responder, realizamos uma pesquisa qualitativa na modalidade cartografia com o objetivo: cartografar a produção de corpos sensíveis para o encontro na produção de cuidado, vivenciados na incursão do Projeto Sensibilizarte. Essa cartografia se deu pelo corpo da pesquisadora em campo, que fez uma incursão dentro do projeto, executando todas as atividades dele como uma estudante, tornando-se parte do projeto. O processamento do campo se deu pelo registro em Diário de Campo e pela conversa com autores como Deleuze e Guattari. A pesquisadora tinha um corpo-bailarina anterior, que uniu-se à constituição de seu corpo-cartógrafa, misturando-se na vivência do campo. Ao final, a cartógrafa-bailarina pôde analisar o campo e produzir conhecimentos. Esses resultados foram trazidos em formato de dois artigos, ambos na perspectiva da arte como possibilidade de ferramenta de cuidado. O primeiro: “A arte no agenciamento da produção de cuidado em um hospital público”, traz cenas de cuidado em formato de narrativa, em que trabalhadores do HU foram agenciados pela atuação do projeto. Ao receber o cuidado da arte solicitaram aos estudantes que fossem prestar o mesmo cuidado a determinados usuários. Mostra que cuidar do trabalhador é importante para que ele perceba a necessidade da sensibilidade em seu trabalho. O segundo artigo: “A arte como ferramenta para a formação em saúde: um resgate do encontro de cuidado”, mostra como o projeto possibilita a formação do estudante baseada em tecnologias leves (acolhimento, empatia, vínculo). Ao executar as atividades artísticas o estudante percebe que além das doenças a serem tratadas, há seres humanos que necessitam de acolhimento. Abrem seu corpo para o afeto e percebem o sofrimento junto à doença. Percebem que a ação deles enquanto artistas é capaz de melhorar a experiência de internação, deixando-a mais leve. Essas habilidades podem ser transferidas para a formação profissional, colaborando para uma futura atuação que considere a sensibilidade humana. Ao final, a cartógrafa-bailarina sai de cena levando consigo o conhecimento: o projeto é uma ferramenta potente para a formação de trabalhadores em saúde com corpos sensíveis ao cuidado e marca o corpo do profissional que está atuando no HU, proporcionando encontros de cuidado do qual eles também necessitam.
Descrição
Palavras-chave
Cuidado, Arte, Saúde coletiva, Formação, Sensibilizarte