Corpo e castelo em Sade e Kafka
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Gheti, André
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Resumo
Resumo: Esta tese objetiva compreender relações efetuadas entre corpo e castelo a partir de duas obras literárias, Os cento e vinte dias de Sodoma do Marquês de Sade, e O Castelo de Frank Kafka Nelas, os castelos exercem, cada um à sua maneira, o seu poder sobre os personagens envolvidos em relações de dominação que produzem determinados corpos A partir da análise dessas obras, a tese aponta que houve uma gradual transformação nos mecanismos de controle sobre os corpos Os referidos castelos apresentam certas características que remetem às origens desse tipo de construção Castelos são imponentes, localizam-se no alto e são uma defesa eficaz contra inimigos estrangeiros Essas características estão presentes tanto no castelo sadiano como no kafkiano Os corpos, por sua vez, são considerados em sua materialidade O protagonista de Assim falou Zaratustra (218) oferece a possibilidade de compreender a corporeidade enquanto grande razão, constituído de uma multiplicidade de forças que procuram domínio O castelo de Silling, da obra de Sade, pertence a um libertino que, junto de três amigos, envia quarenta e duas pessoas para dentro dessa construção Não existe a possibilidade de ninguém entrar ou sair do castelo de Silling Dentro dele prevalecem regras inflexíveis propícias à libertinagem O castelo, que é uma escola da libertinagem, efetua o domínio sobre os corpos por meio do regulamento elaborado pelos quatro amigos e ensina os personagens sobre o modo de viver libertino Qualquer infração a uma das regras resulta em um castigo doloroso sobre o corpo infrator Com a contribuição de Vigiar e Punir (212) é possível observar que no castelo de Silling existem, simultaneamente, tanto a presença de um modo de punição atrelado ao Antigo Regime, os suplícios, como ao do mundo pós-revoluções burguesas, o modelo prisional Foucault também auxilia esta tese na medida em que consegue fornecer ferramentas que auxiliam tanto na compreensão desses dois modelos punitivos, como no desenvolvimento de saberes e poderes responsáveis pela transformação dos sistemas penais realizadas nas sociedades europeias a partir do século XVIII As instituições sociais passam a adotar o modelo prisional para um melhor controle sobre os corpos que se tornam dóceis mediante a disciplina, os exercícios e a vigilância Essa maneira de exercício do poder sobre os corpos está presente no castelo da obra de Kafka No castelo kafkiano a administração disciplina os corpos dos personagens mediante leis, regulamentos, inquéritos, ofícios etc O castelo vigia os corpos incessantemente e os personagens são obedientes às autoridades Max Weber auxilia a compreensão de alguns aspectos da obra a partir de noções como o desencantamento do mundo e a compreensão da burocracia enquanto um tipo ideal de dominação legal-racional No castelo de Kafka, o controle sobre os corpos não ocorre a partir da força física, mas do controle do tempo, espaço e mentalidade dos personagens
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Palavras-chave
Ficção, História e crítica, Corpo humano, Castelos, Fiction, Human body, Castles, History and criticism