De gregos a baianos : canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria Bethânia

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Resumo: A tese toma como objeto a obra da intérprete Maria Bethânia, mais especificamente a forma que ela concebeu junto do diretor Fauzi Arap entre os anos 196-197 e refinou ao longo de cinco décadas de trajetória artística, com diferentes encenadores: o “espetáculo de música teatralizado” O roteiro destes shows é pensado a partir da minuciosa organização intertextual de fragmentos literários e canções Tal dramaturgia, feita de quadros sucessivos, dialoga com signos de várias naturezas durante a realização cênica Estes dados nos levam – a despeito da crítica – a destacar a essência teatral da forma e servem de base para nossa principal hipótese: o espetáculo de música teatralizado de Maria Bethânia anuncia no Brasil características da cena contemporânea, que se tornariam paradigmáticas nos palcos a partir dos anos 198 Para comprovar a proposição, analisamos trechos de vários shows da intérprete à luz da teoria do drama, sem perder de vista os estudos de literatura e oralidade Nossa principal base teórica é o francês Jean-Pierre Sarrazac, para quem a “rapsódia” regressa da ancestralidade grega para se transformar em uma das qualidades peculiares do drama moderno e contemporâneo Assim, o texto teatral torna-se um jogo de construção a partir de colagens e montagens, e o autor é uma espécie de engenheiro que organiza esses elementos – exatamente como ocorre na obra de Bethânia Adotamos ainda outros conceitos como o transbordamento, a poeticidade, o teatro dos possíveis, a fragmentação, o drama-da-vida, o íntimo, a (crise da) mimesis, o metateatro e o trágico (do) cotidiano, sempre tendo como norte a pertinência à obra da intérprete baiana Antes, nossas reflexões centram-se sobre o fenômeno da canção popular brasileira Lançamos a possibilidade de compreendê-la como um lugar de reencontro entre filosofia e poesia, estas instâncias segregadas pelo racionalismo de Platão O filósofo condena a textura performativa da palavra poética e a conduz ao silêncio ocidental A partir destes argumentos – e tomando como referência a transformação de um dos primeiros mitos femininos da voz, as sereias –, estabelecemos uma ponte sincrônica entre o Brasil e a Grécia Arcaica (mitopoética, não contaminada pelo logocentrismo insonoro) Nossa proposta é compreender a cultura brasileira a partir da rapsodização, cuja marca é a mistura, a amálgama, a heterogeneidade – na linha da Antropofagia e do Tropicalismo Nossos intérpretes são neorrapsodos: como os antigos poetas gregos, elaboram obras autorais a partir da costura (“rhaptein”, em grego, significa “costurar”) de múltiplos textos-tecidos e realizam-nas plenamente em uma performance interartística

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Palavras-chave

Música e literatura, Música brasileira, Teatro, Rapsódias (Música), Brazilian music, Rhapsodies (Music)

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