O telejornalismo e a pauta indígena: o desafio das rotinas produtivas e da interculturalidade

Data

2025-09-10

Autores

Peruzi, Katia Andressa

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Resumo

Nos últimos anos, experenciamos, de forma inédita no Brasil, o maior protagonismo Indígena em cargos políticos e em produções artístico-culturais. Esta dissertação problematiza o tratamento da temática Indígena pelo telejornalismo diário, à medida em que este se vê desafiado pela maior interlocução com fontes Indígenas. A fundamentação teórica apoia-se em autores que criticam a prática jornalística, como Moraes (2022) e Guedes (2024), e em intelectuais Indígenas, como Luciano Baniwa (2006), Munduruku (2010) e McCue (2022), articulando a perspectiva decolonial como eixo central de análise. A pesquisa ouviu seis repórteres da Rede Globo e afiliadas do Sul, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, dentre eles, Indígenas e não Indígenas. Optou-se por escolher, dentre as várias funções no telejornalismo, os repórteres, por terem um contato direto e pessoal com entrevistados Indígenas. O objetivo foi identificar barreiras, facilitadores e estratégias adotadas pelos jornalistas na construção dessas coberturas. Os resultados apontam que a competência cultural dos repórteres não Indígenas é, em grande parte, construída pela experiência acumulada no dia a dia, sem formação adequada ou suporte institucional. Quanto maior a proximidade com comunidades e lideranças Indígenas, maior o nível de compreensão e sensibilidade demonstrado nas entrevistas. Entre as principais barreiras, destacam-se as rotinas produtivas rígidas, marcadas pela pressão do tempo e da dificuldade de criar vínculos - elemento essencial na comunicação intercultural. Constatou-se também que práticas arraigadas na cultura jornalística, como a simplificação das falas e a busca pela chamada “neutralidade”, limitam a pluralidade de perspectivas e dificultam a escuta efetiva das vozes Indígenas. A falta de reflexão dos jornalistas é agravada pelas rotinas produtivas do telejornalismo, que tem sua cultura e modo de operar, sendo que os jornalistas seguem padrões e sistemas que são difíceis de serem alterados. A agilidade e velocidade exigidas pelas emissoras de televisão não permitem que haja flexibilização das rotinas produtivas. Apesar disso, foram identificados caminhos de transformação: ampliar a presença de jornalistas Indígenas nas redações; repensar as etapas de produção, incorporando tempos e modos de fala próprios das comunidades; promover formação intercultural nas universidades e treinamentos contínuos nas empresas de comunicação. A pesquisa conclui que superar a visão ocidentalista e adotar práticas decoloniais no telejornalismo não é apenas uma necessidade ética, mas também uma oportunidade de qualificar a cobertura, tornando-a mais plural e representativa

Descrição

Palavras-chave

Telejornalismo, Povos Indígenas, Repórteres, Competência cultural, Decolonialidade, Comunicação intercultural

Citação