Explorando a terapêutica da resolução do processo inflamatório na artrite gotosa: efeito analgésico da resolvina D1, um mediador lipídico pró-resolução, e do TPPU, um inibidor de epóxido-hidrolase solúvel em camundongos
Data
2022-11-28
Autores
Zaninelli, Tiago Henrique
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
A resolução da inflamação é um processo ativo e altamente regulado por mediadores lipídicos pró-resolução (SPMs). SPMs são lipídeos derivados dos ácidos graxos ômega-3 ou ômega-6, os quais são divididos em quatro principais famílias “lipoxinas, resolvinas, maresinas e protectinas”. Na presente tese, inicialmente buscamos estabelecer uma relação dos níveis de SPMs e as características clínicas de doenças reumáticas. Por meio de um artigo de revisão discutimos a relação entre os níveis endógenos de SPMs e os sinais e sintomas de doenças reumáticas intermitentes, como a artrite reumatoide e gotosa. Baixos níveis de SPMs estão relacionados com uma percepção elevada da dor, por exemplo. Ademais elencamos os estudos pré-clínicos demonstrando os efeitos farmacológicos dos SPMs, e a importância dos SPMs para o monitoramento da eficácia de drogas modificadoras de doenças (DMARDs) que são potentes aliadas no tratamento e controle da progressão de doenças reumáticas. Por fim, vislumbramos quatro possíveis abordagens terapêuticas utilizando SPMs para o tratamento de artrites. Nos demais trabalhos investigamos os efeitos da Resolvina D1 (RvD1) e do inibidor de epóxido-hidrolase solúvel (sEH), TPPU, em um modelo de artrite gotosa induzido por cristais de urato monossódico (MSU, estímulo intra-articular no joelho) em camundongos Swiss. A gota afeta aproximadamente 10% da população mundial e é caracterizada por ataques agudos intercalados por fases assintomáticas. Dor articular excruciante, recrutamento de leucócitos e edema são os principais sintomas, e os mais desafiadores no tratamento. As terapias disponíveis para o tratamento da gota comummente oferecem efeitos colaterais severos, alto custo, e eficácia analgésica limitada em muitos pacientes. Portando além de contribuir na investigação dos efeitos e mecanismos de ação de novos fármacos para modulação dos sinais e sintomas, baseados na literatura atualizamos os mecanismos patofisiológicos da artrite gotosa, assim como as novas perspectivas para o tratamento dessa doença em uma segunda revisão. Em nosso segundo artigo pautamos a discussão na lacuna existente entre uma vasta quantidade de dados pré-clínicos e a medicina translacional, além de revisamos os efeitos benéficos de produtos naturais, drogas com múltiplos alvos e os SPMs como perspectivas futuras no controle da doença. Os dois artigos de revisão reiteram que o papel dos SPMs para doenças reumáticas e a necessidade no desenvolvimento de novas terapias. Portanto para o terceiro artigo, os camundongos foram tratados com RvD1 em dois protocolos experimentais, utilizando duas vias de administração (intraperitoneal [i.p.] e intratecal [i.t.]). A dose e o tempo de pré-tratamento foram selecionados baseado nos dados de redução da hiperalgesia mecânica (versão eletrônica dos filamentos do von Frey) e edema articular (paquímetro). O efeito analgésico da dose de 3 ng (72 horas antes do estímulo) foram confirmados pela distribuição do peso das patas traseiras do animal (ensaio com o Static weight bearing), um método não reflexivo de análise de dor. Dessa forma, a dose de 3 ng e pré-tratamento de 72 horas foram selecionados para os próximos experimentos. Tratamentos com RvD1 local (i.t.) ou sistêmico (i.p.) reduziram o recrutamento de leucócitos (contagem no lavado articular) e os níveis de IL-1? no tecido articular por ELISA. Em cultura de macrófagos derivados da medula óssea, o tratamento in vitro com RvD1 reduziu a fosforilação e translocação do fator de transcrição NF-?B para o núcleo, diminuiu a expressão da molécula adaptadora ASC e a maturação da citocina pró-inflamatória IL-1??avaliados por imunofluorescência e ELISA, respectivamente. Estes resultados demonstram que a RvD1 bloqueia a ativação de macrófagos, que são células chave na fisiopatologia da doença. Além disso, nós demonstramos que o tratamento i.t. com RvD1 reduz a expressão de mRNA para canais iônicos (Trpv1 e Nav1.8) e neuropeptídios (substância P e Cgrp) no gânglio da raiz dorsal (DRG) através do RT-qPCR. RvD1 também reduz a ativação de neurônios peptidergicos (CGRP+) no DRG, e bloqueia a liberação de CGRP in vitro (determinado por EIA, em cultura de neurônios do DRG) e in vivo (por imunofluorescência). Por fim, nós também demonstramos que o CGRP aumenta a fagocitose de cristais de MSU por macrófagos, e consequente aumenta os níveis de IL-1? maturada, fenômenos que são reduzidos com o tratamento com RvD1. Portanto, neste estudo, além de demonstrar o importante efeito farmacológico da RvD1, nós também revelamos um mecanismo neuroimune nunca estudado na artrite gotosa. Em conclusão, nossos achados sugerem que RvD1 é um forte candidato para o controle da dor e inflamação na artrite gotosa, e que a comunicação entre nociceptor e células imunes são também alvo para abordagens terapêuticas. Para o quarto artigo nos propusemos a investigar os efeitos farmacológicos do inibidor de epóxido-hidrolase solúvel (sEH), TPPU, no mesmo modelo experimental. Durante o metabolismo do ácido araquidônico, via citocromo P450, são originados os ácidos epoxieicosatrienoicos (EETs) que exercem atividade protetiva e são moléculas precursoras na geração de SPMs, como a lipoxina A4, por exemplo. Embora esses mediadores apresentem atividades biológicas protetivas eles são rapidamente metabolizados em compostos não ativos através da ação de epóxi hidrolases solúveis (sEH). Portando, utilizando o tratamento com TPPU, é possível avaliar indiretamente os efeitos endógenos dos EETs na dor induzida por cristais de MSU. Neste estudo demonstramos que o tratamento com TPPU reduz a hiperalgesia mecânica (versão eletrônica dos filamentos do von Frey) e térmica (placa quente e Hargreaves), edema (paquímetro), e restabelece as mudanças na distribuição de peso nos membros traseiros (ensaio com o Static weight bearing), indicando que o TPPU reduz a dor e inflamação na artrite gotosa. Em conclusão, neste trabalho demonstramos o papel analgésico de duas moléculas explorando a resolução do processo inflamatório. Além disso, desvendamos um eixo de comunicação neuroimune na artrite gotosa, contribuindo na compreensão de novos mecanismos fisiopatológicos e novos alvos terapêuticos
Descrição
Palavras-chave
RvD1, Interação neuroimune, CGRP, TPPU, Specialized proresoling mediators (SPMs), Ácido epóxi-eicosatrienóico (EETs), Inflamação, Artrite gotosa (Gota), Artrite gotosa (Gota) - Inflamação, Mediadores lipídicos pró-resolução (SPMs), Reumatologia, Artrite reumatóide