Gírias do sistema prisional paranaense: a linguagem dos presídios ultrapassando seus muros
Data
2014-07-16
Autores
Silva, William Fernandes Rabelo da
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Resumo
A linguagem não é apenas produto cognitivo, de caráter estritamente subjetivo, uma vez que é instrumento de ação e mudança no mundo exterior, recebendo deste os principais estímulos para sua efetivação, podendo, pois, ser compreendida como atividade absolutamente social. O vocabulário gírio, diante da dinâmica social e estrutural da língua, pode representar a máxima da relação indivíduo e corpo coletivo, pois é conhecida como linguagem hermética de grupos específicos, os quais a utilizam como construto simbólico do pertencimento e identidade, e também como instrumento de exclusão e segregação. Seguindo esse raciocínio, procuramos demonstrar, entre outros, que as gírias, advindas do Sistema Prisional Paranaense, não têm espaço de circulação delimitado. Nossa hipótese é que a gíria, enquanto língua falada, é dotada de contínuo movimento que não compreende espaços físicos, mas sociais, culturais, étnicos e políticos, de modo a servir de variante social a inúmeros grupos, acompanhando indivíduos e passando a constituir não somente suas personalidades, mas como estes sujeitos observam e descrevem seus mundos. Logo, se as variantes linguísticas, em eterno devir, tornam-se independentes dos estímulos e lugares de sua criação, emancipando-se, podemos observar esta ação de adoção de linguagem criptológica por meio da análise e descrição do comportamento linguístico em diferentes comunidades, comparandoas, i. é, de vocábulos gírios utilizados seja por detentos seja por moradores, necessitando, pois, do cruzamento de fatores sociais que comprovem este fenômeno. Para tanto, conciliamos as orientações teórico-metodológicas da sociolinguística de Labov (2008) com as práticas e fundamentos geolinguísticos de Cardoso (2010; 2012) resultando em procedimentos e instrumentos que nos permitiram a produção das células dos informantes, a coleta de dados significativos e a análise das variantes sociais com bases estatísticas; ademais, as considerações sobre vocábulos gírios são derivadas dos trabalhos de Cabello (1991; 2002) e Preti (1997; 2007). Entre os objetivos da dissertação, destacamos: (i) descrever o uso ou reconhecimento de vocábulos gírios dos presídios pela comunidade selecionada; (ii) verificar principais recorrências destes vocábulos restritos em relação direta com fatores sociais específicos; (iii) identificar o perfil social de quem faça uso das gírias. Por fim, as conclusões destacam: o resultado do perfil do informante que reconhece/utiliza as gírias; a obtenção das recorrências conforme cada fator extralinguístico e por campo semântico; a extensa possibilidade de análise futura de ocorrências em outras comunidades e a contribuição aos estudos da gíria e à Sociolinguística.
Descrição
Palavras-chave
Gíria, Linguagem de grupo, Comunidade de fala, Sociolinguística