Patologização do luto : uma análise genealógica do DSM

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Oliveira, Thais Fernanda Roberto

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Resumo

Resumo: O DSM-5 foi muito criticado, pois vários aspetos da vida cotidiana passam por um processo de patologização e medicalização O luto é um processo da vida cotidiana, diferente dos demais por ser algo inerente à existência humana e uma experiência estruturante pois, ao se deparar com a morte, o homem se depara com a impossibilidade Esta pesquisa surge da questão: como os processos de luto são citados nos DSMs e como se construiu o processo de psicopatologização desta experiência? É uma pesquisa descritiva qualitativa, documental Teve como foco a descrição dos processos de luto no DSM-5, porém foi realizado um mapeamento das incidências deste termo nas outras edições Antes o luto era compreendido como uma dor cuja manifestação era legítima e necessária, atualmente a sociedade exige dos enlutados um autocontrole Pode-se pensar nas estratégias de classificação dos manuais diagnósticos como dispositivos biopolíticos A biopolítica tem como alvo o homem como ser vivo e como espécie; tem como objeto de intervenção, os processos biológicos; pretende estabelecer sobre os homens uma espécie de regulamentação A medicina social diz respeito a uma sucessão de estratégias biopolíticas para controle e gestão da população, visando uma atuação preventiva contra qualquer possibilidade de perigo A população passa a ser um problema biopolítico e por isso se estabelece uma classe de medicalização A psiquiatria abdica de sua função de cura, concentrando-se no papel de proteção e ordenação social e biológica, tornando as fronteiras entre o normal e o patológico cada vez mais ambíguas, naturalizando a medicalização de comportamentos, estendendo-se a todos os domínios da existência O movimento psicopatologizante das experiências cotidianas aparece ao longo das edições do DSM, tendo seu ápice no DSM-5 Isto ocorre com diversos transtornos O luto foi retirado dos critérios de exclusão do diagnóstico do Transtorno Depressivo Maior, portanto, alguém que está passando por um processo de luto pode ser diagnosticado com depressão caso os sintomas persistam por mais de duas semanas; isto pode incentivar o diagnóstico prematuro de depressão na sequência ao luto Há uma preocupação de que pacientes em luto possam ser prescritos com antidepressivos para administrar as reações esperadas ao luto Houve uma diminuição no período de tempo em que as reações ao luto são consideradas esperadas, sendo três meses no DSM-III, dois meses no DSM-IV e duas semanas no DSM-5 O DSM-5 propõe o “Transtorno do Luto Complexo Persistente”, sendo a primeira edição que sugere o luto patológico como uma categoria diagnóstica Este manual continua patologizando e permitindo uma medicalização da vida cotidiana e do processo de luto Para Han os principais mecanismos de controle não incidem mais sobre a matéria e sim sobre a psique Ele descreve a sociedade do século XXI como uma sociedade de desempenho Pode-se dizer que alguns dos transtornos apresentados no DSM são determinados por um excesso de positividade Qualquer aspecto relativo à negatividade é descartado, porém este é um dos aspectos que nos torna humanos A sociedade já não faz pausas, o homem se torna uma máquina de desempenho a serviço do neoliberalismo

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Palavras-chave

Psicologia, Luto, Biopolítica, Psychology, Bereavement, Biopolitcs, Diagnostic and statistical manual of mental disorders

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