As multifaces de Anne Frank : um estudo sobre a formação e a transformação identitária representada nos quadrinhos
Data
2024-10-08
Autores
Jesus, Natália Marques de
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Resumo
Em 1939, iniciou-se a Segunda Grande Guerra Mundial e, com ela, o massacre dos judeus: o Holocausto. Anne Frank tinha somente doze anos quando, em busca de proteção, se refugiou em um esconderijo (Anexo Secreto), com mais sete pessoas. Lá, eles permaneceram até 1944, quando foram descobertos e capturados pelos nazistas. Anne e outros seis milhões de judeus não sobreviveram à barbárie antissemita. Refugiada, por dois anos no esconderijo, Anne anotou seu dia a dia em um diário, a melhor amiga que ela sempre desejou ter, Kitty. Objetivamos, nesta tese de doutorado, mostrar como as identidades de Anne Frank são formadas e transformadas em O diário de Anne Frank em quadrinhos (Folman; Polonsky, 2018). Partimos da tese de que as identidades da jovem judia se formam e transformam-se ao longo da narrativa, esboçando uma representação multifacetada. Inicialmente realizamos uma busca por trabalhos já feitos sobre o diário de Anne Frank (em prosa e em quadrinhos) e elaboramos uma concepção de representação (Borges, 2004; Hall, 2012; Rajagopalan, 20003; Silva, Tomaz 2012; Woodward, 2012). Em seguida, contextualizamos sócio-historicamente o diário em quadrinhos quanto às duas Grandes Guerras Mundiais, com destaque ao Holocausto e ao antissemitismo (Carneiro, 2005; Coggiola, 2015; 2017; Rodrigues, 1988; Visentini, 2003). Depois, executamos uma pesquisa bibliográfica sobre gêneros discursivos (Bakhtin, 2016), diário (Lejeune, 1998), novela gráfica (Borges, 2020; García, 2012; Ramirez, 2012; Ramos, Figueira, 2014) e linguagem quadrinística (Acevedo, 1990; Cagnin, 1975/2014; Ramos, 2010). Analisamos fragmentos do diário em quadrinhos para mostrar como Anne Frank foi caracterizada por meio da linguagem quadrinística: legendas; balões; personagens, expressões faciais e gestuais; vinhetas; tempo e espaço (planos e ângulos de visão). Realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre as identidades (Bauman, 2005; Hall, 2012; 2015; Silva, Tomaz 2012; Woodward, 2012). Verificamos, a partir de análises de fragmentos do diário em quadrinhos, como se constituiu a formação e a transformação identitária de Anne na narrativa. Por fim, apontamos os princípios do feminismo (Alves, Pitanguy, 1985; Auad, 2003; Beauvoir, 1970/1980; Butler, 2019; Perrot, 2007), relacionando-os com a formação e a transformação identitária feminina de Anne. A análise interpretativista do diário em quadrinhos ocorreu por amostragem (36 fragmentos). Concluímos que a linguagem quadrinística contribuiu para a construção da narrativa, revelando as identidades de Anne sendo formadas e transformadas mediante influências diversas, por exemplo, o contexto sócio-histórico onde ela estava inserida e as marcações de diferenças existentes entre ela e outras personagens. Entre as identidades de Anne, evidenciou-se a feminina. A formação e transformação identitária dessa jovem mulher sobressai-se como sendo conflitante: ela estava em conflito entre o que era e o que esperavam que ela fosse. Isso reflete um duplo aprisionamento da protagonista, física e simbolicamente proporcionado pelo Anexo Secreto e por imposições simbólicas de padrões sociais. Todas as influências sobre a formação e transformação identitária de Anne resultaram na representação de identidades multifacetadas, quer dizer, as multifaces representadas de uma jovem mulher, judia, irmã, filha, perseguida pelos nazistas, diversamente aprisionada, porém sempre a questionar, lutar, resistir, sobreviver, a começar pelos registros no diário...
Descrição
Palavras-chave
Identidades, Representação, Antissemitismo, Mulher, O diário de Anne Frank em quadrinhos