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Submissões Recentes
A paisagem em José María Arguedas: por uma heterogeneidade espacial
(2022-12-22) Mendonça, Felipe da Silva; Alves, Regina Célia dos Santos; Maioli, Juliana Bevilacqua; Brito, Luciana
Esta dissertação tem como objetivo analisar a paisagem em Os rios profundos (1958), de José María Arguedas. Para tanto, estabelecemos um diálogo entre Literatura e Geografia por meio do conceito de paisagem, o qual é compreendido como uma expressão humana informada por códigos culturais determinados, ou seja, a paisagem não é natureza, mas é o mundo humano inscrito na natureza ao percebê-la e transformá-la. Ao realizar uma análise espacial com base no referido conceito, precisamos olhar tanto para a materialidade do espaço, quanto para a sua percepção, isto é, examinamos a objetividade e a subjetividade espacial. José María Arguedas, conhecido por ocupar um entrelugar entre o espanhol e o quéchua, o indígena e o ocidental, foi um escritor cujas obras permitiram a parte da crítica refletir a respeito do encontro e conflito de culturas. Dentre as principais ideias resultantes da análise da produção de Arguedas, destacamos a de Antonio Cornejo Polar: a heterogeneidade, que está centrada na convergência conflitiva de universos socioculturais distintos, por isso o crítico peruano pontua que a visão de mundo arguediana não tenta ser totalizadora na direção da conciliação harmônica dos conflitos. Em Os rios profundos, a percepção espacial de Ernesto ao longo de seus deslocamentos por comunidades andinas e durante sua estadia no internato de Abancay é reveladora de sua construção identitária, daí o nosso interesse em investigar a relação do menino com o espaço em que está inserido e quais os sentimentos e significações que podem ser extraídos dessa vivência. Buscamos, portanto, verificar como a paisagem em Os rios profundos expressa uma heterogeneidade espacial, isto é, como a relação de Ernesto com as construções e lugares autóctones e espanhóis exprime o conflito de culturas e a sua condição migrante. Como base teórica nos pautamos em estudiosos cujas reflexões são direcionadas à nação e à identidade: Anderson (2008), Bauman (2005), García Canclini (2019), Hall (2006), Silva (2014); à literatura latino-americana e à produção arguediana: Bareiro Saguier (1979), Candido (1979), Cornejo Polar (1989, 1997, 2000, 2003), Moraña (1997, 1999, 2000), Moreiras (2001), Rama (2001, 2008), Santiago (2000), Uslar Pietri (2007); e ao conceito de paisagem: Alves (2013), Berque (2012, 2018), Bessa (2020), Besse (2014), Collot (2012, 2013), Dardel (2015), Tuan (2012, 2013). Ao final de nossa análise, verificamos como a heterogeneidade, oriunda do conflito de culturas, está presente tanto na materialidade quanto na percepção do espaço, bem como destacamos a importância do corpo e dos cinco sentidos, especialmente da audição, na relação que Ernesto estabelece com o espaço.
O apocalipse maldito do "Filho da Luz": estudo de As revelações do príncipe do fogo de Febrônio Índio do Brasil (1926)
(2021-09-13) Mossambani, Giovane Sgarbossa; Silva, Marta Dantas da; Rio Doce, Cláudia Camardella; Cavalcanti, Jardel Dias
Em 1926, no Rio de Janeiro, foi publicado um livro chamado As Revelações do Príncipe do Fogo. O volume, em suas 68 páginas, apresenta uma série de referências à Bíblia e versa sobre o conteúdo de experiências místicas vividas por quem o escreveu: Febrônio Índio do Brasil. Essa obra única de seu autor abre-se, na presente dissertação, a uma escuta poética de seu conteúdo. Intentou-se interpretar sob um viés simbólico – embasado nas leituras de obras de estudiosos dos simbolismos e das religiões, tais como Mircea Eliade, Gaston Bachelard e Joseph Campbell – essa escritura que se buscou apagar da história. A tentativa de apagamento decorre do fato de que Febrônio Índio do Brasil é considerado responsável por dois assassinatos de estranha natureza ocorridos em agosto de 1927. Ao menos quatro intelectuais importantes para o cenário cultural do Brasil na década de 1920 se interessaram por Febrônio, sua cosmovisão e seu livro, a saber: o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o crítico literário Prudente de Morais Neto, o escritor Mário de Andrade e o poeta suíço Blaise Cendrars. A recepção do livro e da história de seu autor por parte dessas personalidades também se mostrou relevante e foi abordada nesta pesquisa. Febrônio, em seu livro, apropria-se de trechos bíblicos e os ressignifica; destaca-se sua relação com o Apocalipse, intertextualidade aqui estudada. As investigações que resultaram nessa dissertação também apontam para o fato de que As Revelações do Príncipe do Fogo é uma composição mitopoética, uma teia de elementos simbólicos organizados de modo a apresentar uma espécie de mito individual do próprio autor.
Esconder o olhar, reter o afeto: Roland Barthes e Dora Maar
(2020-03-10) Teixeira, Daiane Barbosa; Marques, Bárbara Cristina; Brandini, Laura Taddei; Lima, Ricardo Augusto de
Figura singular a flanar pelas ruas de Paris nos anos 1930, a fotógrafa francesa Dora Maar foi umas das raras mulheres a transitar com desenvoltura no meio surrealista, terreno no qual sua obra floresceu. Suas fotos, principalmente aquelas a mostrar cenas de rua, são resultado de um olhar perspicaz que fragmenta e captura a realidade de modo a suscitar uma série de provocações concernentes à problemática do olhar. As experimentações e a ironia impressa em muitas de suas fotos revelam a sensibilidade de uma artista que acabou por construir um interessante percurso imagético a ser revisitado. Cerca de quase cinquenta anos depois, Roland Barthes, escritor francês, publicou A câmara clara, fruto de sua busca pela essência da fotografia somado ao enlutamento pela morte de sua mãe. O que essas duas obras têm em comum para além da fotografia? Barthes, ao lidar, não sem dor, com os vestígios fotográficos da mãe, desenvolve dois conceitos, punctum e studium, que passam a figurar os ensaios teóricos de inúmeros estudiosos no século XX. Esta dissertação pretende discutir as fotografias de Dora Maar em consonância ao pensamento barthesiano quanto à teoria da imagem fotográfica. Em linhas mais gerais, a obra de Barthes, especialmente aquela a refletir sobre o caráter afetivo, estético e político da imagem, conduzirá nossa leitura da obra de Dora Maar.