Bortoletto, Maira Sayuri SakayDuarte, Luiz Gustavo2024-10-152024-10-152024-02-22https://repositorio.uel.br/handle/123456789/18065Este estudo foi produzido a partir de uma vivência de um pesquisador autista em um Consultório na Rua (CnaR) em um município de grande porte no sul do país. Foi realizada uma sismografia, derivada da cartografia apresentada por Deleuze e Guattari. Para a produção do estudo, foram utilizados métodos e técnicas de pesquisa, que funcionaram como equipamentos e ferramentas, permitindo abranger os segmentos de discussão que as linhas de fuga produziram. Tais equipamentos são a cartografia e a genealogia, e as ferramentas de suporte e manutenção incluem diários cartográficos, processamentos coletivos, vivências, participação em reuniões, entrevistas e investigações em documentos. A partir de linhas de ruptura, denominadas epicentros, foram discutidos os mapeamentos produzidos. Os epicentros incluem os chamados: liberação de ondas, megamáquinas pandêmicas, máquinas de morar, investigações genealógicas sobre um CnaR. No primeiro epicentro, denominado "Liberação de ondas", examinou-se a construção do pesquisador ao longo do mestrado e doutorado, destacando a continuidade entre esses dois momentos e o diagnóstico tardio de transtorno do espectro autista. Isso promoveu uma ressignificação e autoanálise da cartografia até o momento, destacando como esse território produz abalos que direcionam as investigações subsequentes. Em “Megamáquinas pandêmicas” o pesquisador presenciou, durante a pandemia de COVID-19, como a equipe se organizou e produziu cuidado entre as fissuras da cidade, compreendida na pesquisa como uma megamáquina. Ele também observou como os modos de vida das multidões da rua escapam da racionalização da cidade e só podem ser acessadas por um serviço que produz outros territórios além dos estabelecidos tradicionalmente em serviços de saúde. Além disso, durante o período pandêmico, foi possível presenciar como a produção de morte gerou sofrimento e angústia, não somente entre a população em situação de rua, mas também na equipe do CnaR. O terceiro epicentro, “Máquinas de morar”, se refere a outros funcionamentos maquínicos no ambiente urbano, neste caso relacionados à moradia. Este abalo se estabeleceu ao encontrar uma vivente da rua que, em suas linhas de fuga, questiona, com seu modo de vida, as definições tradicionais de domicílio e casa racionalizadas pelo aparelho de captura do Estado. Este modo de habitar, leva a subversão do conceito de Le Corbusier a respeito do lar como máquinas de morar modernistas, voltado apenas para seus aspectos funcionais, e traz à máquina de morar como expressão da subjetividade produzida através das linhas de fuga, como potência imanente, da vivente de rua. Por fim, ao realizar tais cartografias, outra linha de ruptura que foi perseguida, direcionou-se para a compreensão de questões surgidas ao longo da vivência, trilhando um caminho pela análise das pistas genealógicas, a fim de compreender como as produções de regimes de verdade do CnaR se estabeleceram. Com a elaboração desta sismografia, foi possível perceber que a produção urbana atua continuamente num estriamento dos modos de vida daqueles que a habitam, impulsionada pelo Estado moderno capitalista, onde a própria cidade funciona como axioma, na produção de desejo, buscando esquadrinhar os modos de vida. Ao se deparar com um modo de vida que atua como um corte, uma linha de fuga, nas concepções preestabelecidas de casa, percebe-se que a moradia, ou o viver, não diz respeito apenas a um espaço físico, mas sim, que funciona numa maquinação própria, em máquinas de morar que podem ser maquinadas como potencializadores de vida, mesmo em indivíduos que têm, muitas vezes sua condição de existência ignorados. Estes apontamentos fizeram emergir aspectos de condições que não caminham em acordo com o direcionamento de políticas públicas que, muitas vezes, podem visar o controle e assimilação do vivente de rua pelo Estado, não considerando sua subjetividade. O fato de a vivência ter ocorrido em um período de pandemia da COVID-19 permitiu constatar como a equipe do CnaR se relacionava com a cidade de maneira diferenciada dos serviços de saúde tradicionais, conseguindo se aproximar das redes vivas dos viventes da rua.porPessoas em situação de ruaViventes da ruaConsultório na ruaCartografiaGenealogiaSaúde coletivaAbalos sísmicos : cartografias a partir de um consultório na ruaSeismic shocks : cartographies from a clinic on the streetTeseCiências da Saúde - Saúde ColetivaCiências da Saúde - Saúde ColetivaHomeless peopleStreet dwellersClinic in the streetsCartographyGenealogy